JC e-mail 3750, de 28 de Abril de 2009.
17. A divulgação do conhecimento, artigo de Eloi S. Garcia
“É uma obrigação de o cientista contagiar a população pela paixão das ideias e inovações, e pela busca de algo que tem que ver com alguma forma de beleza e poesia”
Eloi S. Garcia é ex-presidente e pesquisador da Fiocruz, membro da Academia Brasileira de Ciência e assessor da Presidência da Inmetro. Artigo enviado pelo autor ao “JC e-mail”:
Até a pouco mais de 50 anos atrás, a sociedade avançava quase de forma lenta e imperceptível. Já nos inícios do século XXI, o processo de transformação na ciência e tecnologia é o mais vertiginoso de toda a história da humanidade.
As evidências são claras, notáveis, temos que entendê-las, aceitá-las e dominá-las. Nesta nova sociedade, as distâncias estão desaparecendo.
Se na sociedade industrial as distâncias eram fundamentais e levavam as possibilidades de desenvolvimento, na nova sociedade significam pouco ou mesmo nada. Com os novos sistemas de comunicações o tempo já é um fator quase inexistente. É o que chamamos comunicação em tempo real. O tempo já não se mede em segundos e sim em nanosegundos.
Neste novo mundo, as mudanças se realizam rapidamente, e estamos em uma época em que cada dia os produtos tem ciclos mais curtos, onde o que hoje é uma inovação rapidamente deixa de sê-la, não em 5 ou 10 anos com antes, e sim em um ano, ou mesmo meses.
Hoje, algo que é inovador, desaparece quase na mesma velocidade com que foi desenvolvido. Criar e inovar: estas são as premissas da ciência moderna. Estas palavras vêem sempre entrelaçadas e é difícil separá-las.
Ser eficiente é pouco, já não basta. O importante é ser diferente e, se possível, único. Se no século XX a ciência era um estigma, no século XXI ela está democratizando.
Estamos deixando de lado a imagem elitista da ciência, tornando-a popular graças aos trabalhos de algumas poucas pessoas e da mídia interessada em sua divulgação. A sua sobrevivência passa, sem dúvida, pela ciência chegar a maior número possível de pessoas de todas as classes sociais através dos múltiplos caminhos que brinda a tecnologia do século XXI.
Programas de TV e rádio, museus fixos e/ou itinerantes, internet, exposições pelo país afora, sites institucionais etc são válidos para a ciência e tecnologia chegar ao público.
O importante é transferir os conhecimentos gerados pelas universidades e institutos de pesquisas para as empresas e para as ruas, para os espaços públicos, para as escolas públicas e privadas. É uma obrigação de o cientista contagiar a população pela paixão das ideias e inovações, e pela busca de algo que tem que ver com alguma forma de beleza e poesia.