JC e-mail 3735, de 03 de Abril de 2009.
2. C. Pavan – Lá se vai o contestador, artigo de Aldo Malavasi
“Sua principal característica era a contestação: atacava toda afirmação que fosse minimamente controversa. E trate de se defender! Provocava a todos, dos garçons que o serviam aos ministros de estado, como uma forma de induzir o raciocínio do oponente e fazê-lo enxergar uma outra faceta da questão”
Aldo Malavasi é livre-docente da USP, diretor presidente da Biofábrica Moscamed Brasil, secretário-geral da SBPC, já tendo sido aluno de Crodowaldo Pavan. Artigo escrito pelo autor para o Jornal da Ciência:
C. Pavan, como assinava, por não gostar do seu primeiro nome - o estranho Crodowaldo - tinha 88 anos, nasceu em Campinas, SP, e se formou em História Natural na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.
Desde jovem se destacou pela sua audácia, criatividade e espírito altamente provocador. Dentro da genética brasileira, seu nome está escrito indelével, sendo considerado um dos iniciadores da genética no Brasil e formador várias gerações de pesquisadores.
Foi um dos mais jovens professores catedráticos da USP, onde comparecia às reuniões do Conselho Universitário montado numa reluzente motocicleta – isso na década de 1960.
Nessa mesma década, criou no Oak Ridge National Laboratory, em Oak Ridge, EUA, um laboratório para estudos de um fenômeno por ele descrito (amplificação gênica) em uma mosca brasileira.
Após esse período, volta ao Brasil e em seguida é convidado para a Universidade do Texas em Austin, nos Estados Unidos, onde atingiu o mais alto nível, o de Full Professor.
Ficava pendulando entre S. Paulo e Austin até que não aceitando os convites para que se radicasse nos EUA, voltou em definitivo ao Brasil, onde após se aposentar do Departamento de Biologia do Instituto de Biociências, USP, foi para a Unicamp, onde ajudou a consolidar o Instituto de Biologia.
Ele adorava fazer excursões de campo, para coleta de material biológico, oportunidade que divertia a todos com seu comportamento tipo um Indiana Jones da genética. Sua principal característica era a contestação: atacava toda afirmação que fosse minimamente controversa. E trate de se defender! Provocava a todos, dos garçons que o serviam aos ministros de estado, como uma forma de induzir o raciocínio do oponente e fazê-lo enxergar uma outra faceta da questão.
Como professor, tinha uma didática extraordinária, provocava o raciocínio e não se importando apenas com o conteúdo em si. Suas apresentações e aulas eram muito comentadas e na Universidade do Texas ficaram famosas como exemplo de originalidade e criatividade.
Um exemplo: mostrava um slide com uma célula-ovo (época pré-powerpoint) falava do fenômeno da ontogênese e diferenciação e em seguida concluía: daquela célula podemos chegar a isso – e mostrava um slide da Claudia Cardinale. A plateia de estudantes ficava boquiaberta.
Sua forte atuação política se iniciou na diretoria da SBPC em 1975 como vice-presidente. De 1981 a 1986 foi presidente da Sociedade e a deixou para assumir a presidência do CNPq a convite do então ministro de Ciência e Tecnologia, Renato Archer. Destacando apenas um tópico, durante sua gestão no CNPq o número de bolsas foi aumentado em mais de dez vezes!
Como cientista brilhante, foi o primeiro no mundo a propor o fenômeno de amplificação do DNA. Como inovador, iniciou inúmeras linhas de pesquisa, destacando-se como formador de cientistas e organizador de instituições, membro de várias Academias de Ciência e da Academia de Ciências do Terceiro Mundo, em Trieste, Itália. Como administrador público eficiente e honesto, o Prof. Pavan é motivo de orgulho para toda a comunidade cientifica brasileira.
Pavan foi homenageado na ultima reunião anual da SBPC em Campinas em julho de 2008, onde ainda nos contou o que andava pesquisando. Desde então seu estado de saúde sofreu uma deterioração muito rápida, o impedindo de deslocar e de fazer o que tanto gostava: pesquisa.