Segundo o nosso bom dicionário Aurélio, ‘mandarim’ era um alto funcionário na antiga China com grandes privilégios. O feminino é ‘mandarina’. A palavra é usada figuradamente como ‘mandachuva’. Os ‘mandarins’ conseguiam seus cargos mediante concurso de aptidões e a principal função deles era zelar pelo bem-estar do estado chinês.
Esta ‘nova classe’ privilegiada (Milovan Djilas) se instalou no poder e exerceu grande influência nas decisões. Ai de quem ousasse desafiar um ‘mandarim’ na China. As pessoas pensam que os mandarins foram apenas figuras políticas, ditatoriais e truculentas de um passado distante e que nada disso ocorre em ciência. Ledo engano dos que assim pensam. Existem sim muitos ‘mandarins’ também na ciência.
Quem usou primeiro esta expressão em relação a alguns cientistas foi Phillip E. Johnson. A princípio eu considerei o termo muito pejorativo, pois há cientistas que não se configuram nesta caricatura mordaz. O tempo passou e demonstrou mais uma vez que o professor de Direito da Universidade da Califórnia – Berkeley estava certo. Existe sim um ‘mandarinato’ na Nomenklatura científica atuante que intimida, poda brilhantes carreiras acadêmicas, subverte resultados de pesquisas e propostas para que o novo pesquisador não consiga financiamentos ou seja promovido academicamente, os revisores por pares que engavetam trabalhos e pesquisas para que não sejam publicadas, alguns editores de publicações de divulgação científica que não publicam nada contra o dogma central. Enfim, os ‘mandarins’ que mandam nos departamentos e nas comissões universitárias não abrem mão dos privilégios políticos até aqui conseguidos e aí de quem ‘bater de frente’ com eles na Academia. Kaput!
Estes são pequenos exemplos do ‘mandarinato’ da atual Nomenklatura científica. Eu fiquei surpreso ao saber que estes ‘mandachuvas’ já estão há muito tempo no pedaço da Akademia (com ‘k’ mesmo!) – desde 1585. Isso mesmo, desde o século 16. O conde R. Bostocke atacava a falsa filosofia natural (como era então conhecida a ciência) e a medicina ensinadas nas universidades (qualquer semelhança com o DI atacando hoje o ensino e a falsa ciência da Teoria Geral da Evolução não é mera coincidência não, é real mesmo).
No seu livro de longo título “The difference betwene the auncient Phisicke, first taught by the godly forefathers, consisting in vnitie peace and concord: and the latter Phisicke proceedings from Idolaters, ethnickes, and Heathen: as Gallen, and such other consisting in duality, discorde, and contrarieties”, o conde Bostocke descreve o modus operandi daquela Nomenklatura científica que nada difere da atual:
(…) nas escolas nada pode ser recebido ou permitido que não soe como Aristóteles, Galeno, Avicena e outros étnicos, cuja doutrina os jovens iniciantes ou não chegam a conhecer, ou é transmitida de modo a causar aversão. E no exterior, da mesma maneira, os galenistas estão tão armados e defendidos pela proteção, privilégios e autoridades dos príncipes, que nada que estes proíbam virá a ser permitido, e nada será transmitido e recebido sem que esteja de acordo com a sua doutrina e seja do seu agrado”. Citado por Allen G. Debus, “Ciência e história: o nascimento de uma nova área”, in “Escrevendo a História da Ciência: tendências, propostas e discussões historiográficas”, Ana Maria Alfonso-Goldfarb e Maria Helena Roxo Beltran, organizadoras, São Paulo: EDUC, 2004, p. 16,17.
Allen G. Debus, professor emérito de História da Ciência e de Medicina do Centro Morris Fishbein para o Estudo da História da Ciência da Universidade de Chicago. Debus é um dos maiores historiadores de ciência e responsável pelas grandes transformações historiográficas. O que ocorre hoje em escala mundial para a blindagem das críticas à Teoria Geral da Evolução, mesmo as exclusivamente científicas, é ação desses ‘mandarins’ e ‘mandarinas’ da Nomenklatura científica.
Mas eu tenho uma má notícia para eles: os ‘mandarins’ na China não existem mais. A ciência é a busca incessante pela verdade. Ciência e mentira não podem andar de mãos juntas. A verdade das evidências encontradas na natureza haverá de derrubar esse ‘mandarinato’ nefasto porque confunde a filosofia materialista com o naturalismo metodológico. O primeiro é ideologia, o segundo é ciência, mas esta se encontra atualmente no cativeiro esperando ser libertada dessa instituição espúria de mandarinato acadêmico.
Abaixo a Nomenklatura científica! Cientistas oprimidos de todo o mundo, uni-vos. Vocês nada têm a perder a não ser os grilhões da falsa epistemologia e um paradigma morto há um quarto de século!