Nós sabemos que a maioria dos livros-texto de Biologia do ensino médio e superior brasileiros “doura a pílula” na abordagem das atuais teorias da origem e evolução da vida e em aspectos históricos relativos a Darwin. Alguns como Amabis e Martho já retiraram as duas fraudes − as mariposas de Manchester (melanismo industrial) e os embriões de Haeckel da nova edição, mas não mencionaram para os alunos porque o fizeram.
Este problema, que eu chamo de desonestidade acadêmica porque os autores se comunicam, têm acesso às publicações científicas, e aos parâmetros curriculares, não é só nosso. Também é de americanos e britânicos. Vide o abstract abaixo [download gratuito] desta situação lesando a educação dos alunos:
A evolução das interpretações incorretas sobre Darwin
Paul A. Rees
Journal of Biological Education, 41(2), Spring 2007, 53-55.
Abstract: Os livros-texto GCE do Nível Avançado de Biologia têm fornecido relatos simplificados demais e inexatos da contribuição de Charles Darwin para o estudo da evolução ao longo de um período de muitas décadas [SIC ULTRA PLUS!!!]. Eles creditaram a Darwin com habilidades de campo e insight que ele não possuía, e repetiram várias inexatidões históricas. O poder de Darwin foi o de um sintetizador de informação, pelo menos no começo de sua vida, ele não foi particularmente um observador ou biólogo de campo cuidadoso. Os espécimes coletados na sua viagem no HMS Beagle foram amplamente identificados e analisados por outros, mas isto raramente é reconhecido. Este artigo critica a exatidão histórica do tratamento de Darwin e de suas idéias numa série de livros-texto do nível A, e destaca uma ausência preocupante de referências a Darwin nas atuais especificações de Biologia do nível A e em alguns textos. [1]
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Se tem uma coisa boa em tudo isso, é que nós forçamos esta turma a ser mais objetiva e atualizada nos conhecimentos de biologia evolutiva, e a largar a manutenção desses erros e exageros de várias décadas. Esses autores de livro didáticos ainda vão abordar a teoria geral da evolução considerando as evidências a favor e contra.
Quem viver, verá...
NOTA
[1] The evolution of textbook misconceptions about Darwin Paul A. Rees Journal of Biological Education, 41(2), Spring 2007, 53-55.
Abstract: Textbooks for GCE Advanced Level Biology have provided over-simplified and inaccurate accounts of Charles Darwin’s contribution to the study of evolution over a period of many decades. They have credited him with field skills and insight that he did not possess, and repeated several historical inaccuracies. Darwin’s strength was as a synthesiser of information but, at least in his early life, he was not a particularly observant or careful field biologist. The specimens collected on his voyage on HMS Beagle were largely identified and analysed by others, but this is rarely acknowledged. This article criticises the historical accuracy of the treatment of Darwin and his ideas in a range of A-level textbooks, and notes a worrying absence of references to Darwin in current A-level Biology specifications and some texts.