O JC E-Mail3255, de 03 de Maio de 2007, publicou a seguinte nota do jornal O Estado de São Paulo:
A Evolução de Darwin: Mostra no Masp chega ampliada
Com mais peças que a americana, a exposição inclui um ciclo de palestras
No ano de 2000, o Masp exibiu a mostra Freud: Conflito e Cultura, preparada pela Biblioteca do Congresso Americano, sobre o pai da psicanálise.
Para o atual curador-geral do museu brasileiro, Teixeira Coelho, é oportuno que a instituição também se volte para as questões da ciência e não apenas as da arte - e é inevitável também pensar que esta seja uma iniciativa que vai atrair grande público para o Masp.
Por isso, abrigar agora a mostra Darwin, uma reprodução da maior exposição já feita sobre o cientista britânico, autor da Teoria da Evolução das Espécies, é apresentar no mesmo museu mais um dos grandes nomes que formaram o trio que abalou, com seus conceitos, a imagem que o homem tinha de si, suas crenças.
'Galileu atestou que homem não era o centro do universo e foi um baque; Darwin mostrou que o homem não era criação de Deus, mas descendente da vida orgânica; e Freud, que o homem nem sabe o que pensa porque há muito por detrás do inconsciente', diz Teixeira Coelho.
Hoje será inaugurada para convidados e amanhã para o público exposição Darwin, trazida do Museu Americano de História Natural de Nova York.
As negociações para que isso ocorresse de sua importante teoria: uma seção trata do conceito de evolução nos dias de hoje, da genética e biodiversidade. Há, também, partes interativas com jogos para as crianças.
Ainda ocorrerá um ciclo de palestras no auditório do Masp durante a mostra. A primeira vai ser realizada segunda-feira, às 20 horas, com o curador da exposição. Biólogos e pensadores falarão sobre temas da ciência, mas a arte e evolução também serão discutidas com o público.
O Brasil que o cientista conheceu em sua viagem de navio
Como um interessante diferencial, o Masp preparou para o primeiro andar uma mostra paralela com 30 obras, entre pinturas, aquarelas e gravuras, que retratam o Brasil do século 19, da época que Charles Darwin por aqui passou.
'É uma aproximação com o tempo de Darwin, algo que apenas poderia ser feito por causa da coleção do Masp', diz o curador-geral da instituição, Teixeira Coelho.
Essa exposição será inaugurada na terça-feira - importante dizer que nesse dia a entrada no Masp é gratuita e ainda reforçar que o horário de funcionamento do museu foi estendido para que o público possa ver a mostra Darwin.
O naturalista britânico esteve no Brasil em 1832, durante passagens a bordo do navio Beagle em expedições pela América do Sul e Austrália, mas a exposição complementar do Masp percorre o século 19 inteiro.
'A cena urbana não mudava tanto no século 19 como foi no 20', diz Teixeira. As 30 obras selecionadas do acervo do Masp são as feitas pelos artistas-viajantes, que retratavam a paisagem e os povos do chamado Novo Mundo, e por pintores que também viviam aqui.
'A representação do Brasil dessa época é, na maioria, a de cenas bucólicas e idílicas. A estética dominante era a de mostrar o País e as pessoas no melhor de seu momento', afirma o curador.
Nesse sentido, um dos grandes destaques é a enorme aquarela de 5,20 m feita por Emeric Essex Vidal, Panorama da Baía de Guanabara, que não era exibida havia mais de 30 anos.
Mas, como reforça Teixeira, há peças que mostram 'o outro lado da moeda', como uma litografia de Rugendas sobre um violento confronto entre índios e europeus e uma obra de Debret que representa um caçador de escravos.
Preste atenção...
...no ambiente com a recriação do gabinete de Charles Darwin, uma curiosidade sobre a intimidade do naturalista. É uma réplica idêntica de seu local de trabalho na Inglaterra do século 19, que apresenta seu modo de vida, seus instrumentos pessoais - um destaque é a lupa -, seus móveis, e ainda exibe manuscritos e edições originais de seu livro publicado em 1859. Ao mesmo tempo, há também uma recriação do ambiente do navio Beagle. Revoada de pássaros, o horizonte do mar e até o som da viagem pelos oceanos do Sul foram pensados para que o visitante 'sinta-se como ele se sentiu', diz Bianca Rinzler.
...na seção dedicada aos animais vivos. Na mostra em Nova York havia duas tartarugas jabuti, uma iguana verde e dois sapos, mas a remontagem no Brasil ganhou mais animais: duas jabutis, três iguanas (uma delas laranja), sapos e cinco tartarugas aquáticas (o aquário para elas foi trazido do Museu Americano de História Natural). Segundo a diretora de exposições do Sangari, os animais pertencem ao Instituto Butantã e ao Instituto Pró-Répteis, ambos de São Paulo. O Ibama autorizou a presença dos bichos vivos no espaço do museu. 'O sistema de ar-condicionado não os atinge', afirma Bianca.
...no segmento dedicado aos fósseis (animais petrificados) e no de animais empalhados (taxipermizados), com vários exemplares, entre eles, de pombos e águia.
...na última parte da exposição, uma grande instalação com 60 orquídeas da América do Sul, muitas delas exóticas. Como conta Bianca Rinzler, na mostra em Nova York havia apenas 18 flores. As plantas, exibidas graças à parceria feita com o Orquidário Morumbi, serão sempre renovadas ao longo da exposição no Masp. 'Um dos últimos trabalhos de Darwin foi relacionado às orquídeas. Por meio delas ele observou o processo da polinização e evolução das plantas', diz a diretora. (Camila Molina)
(O Estado de SP, 3/5)