Entre os vários autores de livros-texto de Biologia do ensino médio com quem dialogamos na elaboração da análise crítica da abordagem das atuais teorias da origem e evolução da vida enviada ao MEC/SEMTEC, apenas um foi sincero: “Enézio, eu não sabia de tudo isso que vocês estão abordando” e que seu pai o advertira solenemente: “Filho, veja lá o que você vai escrever. Não escreva mentiras sobre isso.” A honestidade dele sobre esta fala de seu pai, e do desconhecimento que tinha do status epistêmico do neodarwinismo, mas que os biólogos se comunicam entre si, me deixou com uma baita pulga na orelha.
Como é que esse “simples professorzinho do ensino médio” [será?] levanta essas questões, se nem biólogo ele é? Tenho más notícias para vocês: este tipo de raciocínio eliminaria Darwin do cenário como autor da teoria geral da evolução: academicamente ele era apenas teólogo de formação [Christ College], naturalista para passar o tempo, mas que se esforçou em aprender e saber mais com os outros cientistas.
É o que faço aqui neste blog: sou estritamente darwinista neste sentido: olho por cima dos ombros de gigantes. E levanto questões que outros estão proibidos terminantemente de abordar em Pindorama: apontar as insuficiências epistêmicas do neodarwinismo sem a nefanda ‘inquisição sem fogueiras’, oops, sanções akadêmicas. Liberdade acadêmica? Ás favas com isso. O que vale é o Konsenso.
Bem, já que os biólogos se comunicam entre si, creio que eles também já saibam disso desde 2000. Especialmente o Amabis, da USP, autor do livro-texto de Biologia do ensino médio par excellence:
“O objetivo final dos estudos de famílias de genes é um entendimento de como que os genes duplicados assumiram novas funções bioquímicas e organismais. Deixando de lado a mudança de domínio, permanece um mistério [SIC ULTRA PLUS] como o processo não direcionado da mutação, combinado com a seleção natural, resultou na criação de milhares de novas proteínas com funções extraordinariamente diversas e bem otimizada.
Este problema é particularmente agudo para os sistemas moleculares bem integrados que consistem de muitas partes interagindo, tais como os “ligands”, os receptores, e os fatores regulatórios para baixo com os quais eles interagem.
Nesses sistemas, não está claro como uma nova função para qualquer proteína possa ser selecionada a menos que os outros membros do complexo já estejam presentes, criando uma versão molecular do antigo quebra-cabeça evolucionário da galinha e do ovo.” [1]
Uau, mas aonde foi parar o tal fato, Fato, FATO da evolução, se ainda “permanece um mistério como o processo não direcionado da mutação, combinado com a seleção natural, resultou na criação de milhares de novas proteínas com funções extraordinariamente diversas e bem otimizada”?
Origem e evolução das espécies: o Mysterium tremendum que Darwin pensou ter resolvido, continua, apesar da retórica fundamentalista dos darwinistas, mais Mysterium tremendum do que nunca! Darwin, o que é in em biologia no século 21 é a informação. A biologia é uma ciência de informação, complexa, e especificada. Empiricamente detectada. Sinais de causas inteligentes.
P.S.:
Conversei outro dia com uma candidata a doutorado, que fez mestrado em Biologia em eminente universidade pública. Ele tinha sido minha aluna no ensino médio. Uma aluna mais do que brilhante.
Sabendo de sua formação em Biologia, fiz a seguinte pergunta: “Você sabia que estamos à beira de uma mudança paradigmática em biologia evolutiva?”. Carinhosamente, ela me respondeu: “Mestre, desde 1999 na universidade xyz onde eu fiz o mestrado, nós não acreditamos mais em Darwin.”
Serenamente, eu disse para ela: “Desde 1998 eu tento convencer a Academia e a Grande Mídia sobre esta questão científica, mas em vão.”
Ela apenas sorriu, e eu fui apresentar um seminário sobre a subjetividade filosófica de Darwin ao elaborar a sua teoria da evolução pela seleção natural numa universidade privada.
Parece que novos ares de liberdade acadêmica já estão soprando em Pindorama quando a questão é Darwin. Que não seja apenas um leve sopro de liberdade como foi na Praça Tiananmen na China em 1989...
[1] Joseph W. Thornton e Rob DeSalle, “Genomics Meets Phylogenetics,” Annual Review of Genomics and Human Genetics, 2000. Vol. 1: 41–73.
“The ultimate goal of gene family studies is an understanding of how duplicated genes have taken on novel biochemical and organismal functions. Domain shuffling aside, it remains a mystery how the undirected process of mutation, combined with natural selection, has resulted in the creation of thousands of new proteins with extraordinarily diverse and well-optimized functions.
This problem is particularly acute for tightly integrated molecular systems that consist of many interacting parts, such as ligands, receptors, and the downstream regulatory factors with which they interact.
In these systems, it is not clear how a new function for any protein might be selected for unless the other members of the complex are already present, creating a molecular version of the ancient evolutionary riddle of the chicken and the egg.”