Aqui neste blog eu menciono a Nomenklatura científica como sendo um bloco monolítico dos ardentes defensores dos paradigmas vigentes. Seriam os cientistas que praticam a “ciência normal” [Kuhn]. Depois eu chamo os revisores [peer-reviewers é mais chique] de KGB ou “guarda-cancelas” da Nomenklatura científica. São eles que garantem a “ortodoxia” dos paradigmas impedindo a publicação de artigos, pesquisas ou trabalhos que apresentem novas idéias ou contestem as teorias aceitas consensualmente [mesmo que as evidências digam o contrário]. Pensando fazer ciência, eles estão promovendo uma agenda ideológica: a do materialismo filosófico.
Por essas e outras, eu me tornei um nome maldito na Academia tupiniquim. E na boca dos meninos e meninas de Darwin. Especialmente pela desconstrução epistêmica de Darwin que faço aqui neste blog. Se o seu trabalho, pesquisa, artigo ou palestra não constar o que ironicamente chamo de “beija-mão” e “beija-pé” de Darwin, você é considerado um fora do ninho. Um apátrida epistêmico. Pior: alguém que não entende o que é e nem como se faz ciência.
Invoquei aqui outro dia a Feyerabend [aquele de “Contra o Método”]. Invoco sempre a Kuhn e Popper. São neles que me olho no espelho para fazer ciência. Dizem que sou um anarquista, um guerrilheiro vietcongue epistemológico. Se sou tudo isso o que dizem, uma pergunta impertinente deveria ser feita ― por que ele faz isso? Haveria pelo menos uma nesga de verdade no que ele tão ousada e corajosamente afirma? Por que colocar em risco uma pós-graduação?
Esta reação negativa da Nomenklatura científica é esperada [Kuhn]. O paradigma tem que ser defendido com unhas e dentes. A nova geração de cientistas vai continuar apontando as anomalias que o paradigma consensual não responde. Eles não terão vez nas publicações, seminários, conferências e palestras científicas. O que nos resta é esperar pacientemente a “solução biológica” kuhniana: a velha geração de cientistas morre, uma nova geração surge, e as novas idéias revolucionárias, controversas e polêmicas poderão ser finalmente debatidas. Livremente, sem medo de sanções e destruições de carreiras acadêmicas. Sei do que estou falando.
E quando o público leigo, não-especialista, começa a se interessar por essas coisas? Começa a “ouvir o outro lado” e a simpatizar com esses “revolucionários” e suas “idéias esdrúxulas”? O que deve ser feito? Chamem Maquiavel? Não! Chamem o Super-Homem? Não. Chamem quem então? ORWELL 1984!!! Aquele da Novilíngua... Você não leu isso na Grande Mídia tupiniquim. Talvez nem leia. O que a Nomenklatura científica tem de bom, eles mostram. O que ela tem de ruim, eles escondem...
A revista Science de 6 de abril de 2007, na seção Policy Forum [Fórum de Políticas], Science and Society [Ciência e Sociedade], foi publicado o artigo “Framing Science” [Estruturando a Ciência] de Matthew C. Nisbet e Chris Mooney.
Leia o artigo cum granum salis. Você vai se indignar.
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Questões na interseção da ciência e política, tais como a mudança climática, evolução, pesquisa com células-tronco, recebem atenção pública considerável, o que provavelmente aumentará, especialmente nos Estados Unidos assim que esquentar a eleição presidencial de 2008. Sem mal representar a informação científica sobre questões altamente controversas, os cientistas devem aprender a “estruturar” [N. do Blogger: frame em inglês pode também ser traduzido como ― dizer com outras palavras, dourar a pílula] a informação ativamente tornando-a relevante para audiências diferentes. [SIC] Alguns na comunidade científica têm sido receptivos a esta mensagem (1).
Todavia, muitos cientistas retêm a crença bem-intencionada de que, se o leigo melhor entender as complexidades técnicas da cobertura jornalística, os pontos de vista deles [leigos] seriam mais parecidos com os dos cientistas, e a controvérsia terminaria.
Na realidade, os cidadãos não usam a mídia noticiosa como os cientistas pressupõem. Pesquisa revela que as pessoas raramente são bem informadas ou motivadas o suficiente para considerar as idéias e argumentos competidores. Sendo expostos com uma torrente diária de notícias, os cidadãos usam as suas predisposições de valores (tais como as crenças políticas ou religiosas) como telas de percepção selecionando as agências noticiosas e websites cujos pontos de vista concordem com os seus (2).
Tal selecionar reduz as escolhas do que prestar atenção e aceitar como válido (3).
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[N. do Blogger 1: Como não poderia faltar, aqui segue a “demonização” gratuita da Teoria do Design Inteligente]
Com outro exemplo, a teoria científica da evolução tem sido aceita dentro da comunidade de pesquisas há décadas. Mas assim que o debate sobre o “design inteligente” foi lançado, os antievolucionistas promoveram os rótulos da “incerteza científica” e do “ensinem a controvérsia”, que os cientistas rebateram com respostas científicas intensivas. Contudo, a maioria do público provavelmente se desliga dessas mensagens técnicas. Em vez disso, rótulos de “prestar contas para com o público” que focaliza no mau emprego dos dólares dos impostos, o “desenvolvimento econômico” que destaca as repercussões negativas para as comunidades envolvidas em batalhas sobre a evolução, e o “progresso social” que define a evolução como um bloco edificador para os avanços médicos, são mais prováveis de obter muito maior apoio.
[N. do Blogger 2: Primeira vez que vejo Daniel Dennett, Richard Dawkins, Sam Harris et caterva levarem um puxão de orelhas por membros da Grande Mídia, e douram a realidade para os de concepções religiosas. Matthew Nisbet é professor de “comunicação” e Chris Mooney é correspondente da revista para ateus “Seed”. Os dois são defensores ardentes do darwinismo e críticos ferrenhos do Design Inteligente. Será por isso que a American Association for the Advancement of Science [a SBPC dos gringos], que publica a revista Science achou que eles são qualificados para “estruturar” a ciência?]
A questão da evolução também salienta outro ponto: as mensagens devem ser positivas e respeitar a diversidade. Como o filme Flock of Dodos [Bando de Dodos] demonstra penosamente, muitos cientistas não somente fracassam em como pensar estrategicamente em como comunicar sobre a evolução, mas menosprezam e insultam as crenças religiosas de outras pessoas (8).
Na questão das células-tronco embrionárias, por comparação, os defensores pacientes têm entregue uma mensagem focalizada para o público, usando os rótulos de “progresso social” e “competitividade econômica” para argumentarem que as pesquisa oferece esperança para milhões de americanos. Essas mensagens ajudaram aumentar o apoio público para o apoio financeiro governamental entre 2001 e 2005 (9, 10). Todavia, os oponentes do aumento de apoio financeiro governamental continua a rotular o debate sobre as implicações morais da pesquisa, argumentando que os cientistas estão “brincando de Deus” e destruindo vida humana. A ideologia e a religião podem impedir a exibição até de narrativas positivas dominantes sobre a ciência, e alcançar alguns segmentos do público vai permanecer como um desafio (11).
Alguns leitores podem considerar as nossas propostas orwelliana demais, preferindo em segurança ficar preso aos fatos. Mesmo assim, os cientistas devem entender que os fatos serão repetidamente mal aplicados e distorcidos na proporção direta à sua relevância para o debate político e na escolha de decisão. Resumindo, tão anormal quanto possa parecer, em muitos casos, os cientistas devem estrategicamente evitar enfatizar os detalhes técnicos da ciência quando tentar defendê-la.
[N. do Blogger 3: Orwell foi suplantado por esta dupla de facínoras científicos peçonhentos. Ciência qua ciência é a busca da verdade, e seguir as evidências aonde elas forem dar. Nada de “esconder” a verdade para o público que paga os salários e financia as pesquisas desses Barnabés. Aqui eu invoco “o consenso democrático” de Feyerabend: nós pagamos, nós queremos saber. Há implicações éticas? O cientista não está além da lei vigente na terra]
Fui, indignado porque a boa metodologia naturalista está no cativeiro do materialismo filosófico. Uma ideologia que destruiu mais de 100 milhões de pessoas no século 20. Fui, indignado com essas cobras epistêmicas peçonhentas que dominam hoje a ciência. Quando a verdade em ciência, nada mais do que a verdade, e somente a verdade é jogada pela janela, pobre ciência...
NOTA:
[1] Science 6 April 2007, Vol. 316. no. 5821, p. 56, DOI: 10.1126/science.1142030
Policy Forum
SCIENCE AND SOCIETY:
Framing Science
Matthew C. Nisbet and Chris Mooney
Issues at the intersection of science and politics, such as climate change, evolution, and embryonic stem cell research, receive considerable public attention, which is likely to grow, especially in the United States as the 2008 presidential election heats up. Without misrepresenting scientific information on highly contested issues, scientists must learn to actively "frame" information to make it relevant to different audiences. Some in the scientific community have been receptive to this message
(1). However, many scientists retain the well-intentioned belief that, if laypeople better understood technical complexities from news coverage, their viewpoints would be more like scientists', and controversy would subside.
In reality, citizens do not use the news media as scientists assume. Research shows that people are rarely well enough informed or motivated to weigh competing ideas and arguments. Faced with a daily torrent of news, citizens use their value predispositions (such as political or religious beliefs) as perceptual screens, selecting news outlets and Web sites whose outlooks match their own (2). Such screening reduces the choices of what to pay attention to and accept as valid (3).
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As another example, the scientific theory of evolution has been accepted within the research community for decades. Yet as a debate over "intelligent design"
was launched, antievolutionists promoted "scientific uncertainty" and "teach-the-controversy" frames, which scientists countered with science-intensive responses. However, much of the public likely tunes out these technical messages. Instead, frames of "public accountability" that focus on the misuse of tax dollars, "economic development" that highlight the negative repercussions for communities embroiled in evolution battles, and "social progress" that define evolution as a building block for medical advances, are likely to engage broader support.
The evolution issue also highlights another point: Messages must be positive and respect diversity. As the film Flock of Dodos painfully demonstrates, many scientists not only fail to think strategically about how to communicate on evolution, but belittle and insult others' religious beliefs (8).
On the embryonic stem cell issue, by comparison, patient advocates have delivered a focused message to the public, using "social progress" and "economic competitiveness" frames to argue that the research offers hope for millions of Americans. These messages have helped to drive up public support for funding between 2001 and 2005 (9, 10). However, opponents of increased government funding continue to frame the debate around the moral implications of research, arguing that scientists are "playing God" and destroying human life. Ideology and religion can screen out even dominant positive narratives about science, and reaching some segments of the public will remain a challenge (11).
Some readers may consider our proposals too Orwellian, preferring to safely stick to the facts. Yet scientists must realize that facts will be repeatedly misapplied and twisted in direct proportion to their relevance to the political debate and decision-making. In short, as unnatural as it might feel, in many cases, scientists should strategically avoid emphasizing the technical details of science when trying to defend it.