A esquizotimia de André Petry e o Mackenzie

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

“Eu não tenho escrúpulos. O que é bom, a gente fatura; o que é ruim, a gente esconde”. Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda, setembro de 1994.

Moto da Nomenklatura científica e da Grande Mídia Tupiniquim: “O que Darwin tem de bom, a gente mostra; o que Darwin tem de ruim, a gente esconde.”



Petry intitulou assim o seu artigo: “Lembra-te de Darwin...”. Há rumores de anjos na epistemologia, oops, no texto — eu li em algum lugar de um livro sábio oriental antigo: “Lembra-te do teu criador...” Qualquer semelhança com aquele texto milenar com o título do artigo do Petry não é mera coincidência.

Eu não sou psiquiatra, mas ultimamente André Petry, VEJA, ateu posmoderno, xiita, fundamentalista, chique e perfumado a la Dawkins, vem apresentando sinais de esquizotimia. Segundo o Aurélio, a esquizotimia é o temperamento não patológico a partir do qual se desenvolve a esquizofrenia. A esquizotimia se caracteriza por maior ou menor grau de reações inapropriadas às situações e tendência ao idealismo. O pequeno texto de Petry está eivado de reações inapropriadas e uma forte tendência ao idealismo na defesa da ciência.

Eu não tenho procuração dos evangélicos brasileiros, nem tampouco dos criacionistas, e muito menos do Mackenzie, mas contra Petry, eu vou fazer novamente o papel de advogado do Diabo dessas pessoas e das instituições de concepções religiosas. Não é de hoje que Petry, do alto de sua torre de marfim, oops, de sua coluna semanal da VEJA reverbera seu ódio e veneno contra os evangélicos brasileiros e suas crenças. Haja objetividade em um jornalista de uma grande revista como a VEJA.

Evangélicos de todo o Brasil, uni-vos, nada tendes a perder a não ser a leitura de uma revista: deixem de comprá-la!

Petry, simplesmente pelo fato de o Brasil ser um país laico, eu estou com você e não abro: é ilegal ensinar criacionismo nas aulas de ciência das escolas públicas. Quanto a ensiná-lo em aulas de ciência nas escolas confessionais eu diria que não é assim “assustador” como você pintou. O Mackenzie e as escolas adventistas estão agindo dentro da legalidade educacional. Repare no adjetivo petryano “assustador”. Adjetivo pinçado intencionalmente para chocar a opinião pública e lançá-la contra o Mackenzie, uma instituição educacional confessional (cristã) de renome.

Assustador, Petry, “às vésperas do bicentenário do nascimento de Charles Darwin, pai da teoria da evolução [SIC ULTRA PLUS: não existe isso de ‘pai de tal e tal teoria’, mas ‘construtores’, ‘elaboradores’. Se Darwin é o ‘pai’, Alfred Russel é o quê? Padrasto?], é que nas escolas brasileiras ainda estejam ensinando a teoria geral da evolução [Repare que eles nunca definem evolução] nas aulas de ciências sem nenhuma análise ou crítica.

O mais assustador em tudo isso Petry, é o aval dado pelo MEC/SEMTEC/PNLEM que aprova livros didáticos de Biologia do ensino médio contendo duas fraudes e várias evidências científicas distorcidas a favor do fato, Fato, FATO da evolução, conforme notificado em análise crítica entregue ao MEC em 2003 e 2005. A Grande Mídia Tupiniquim e a Nomenklatura científica sabem disso desde 1998.

Ainda assustador, Petry, é a sua tremenda ignorância histórica quanto à robustez das hipóteses de Darwin explicar a origem e evolução da vida na sua diversidade e complexidade. Desde 1859 o mecanismo evolutivo de Darwin, a seleção natural, não fecha as contas epistêmicas. O próprio Darwin foi diluindo esse poder criativo ao longo de sucessivas revisões. Huxley, Hooker e Lyell não acreditavam nela. Na sexta edição do Origem das Espécies, Darwin era mais lamarckista do que Lamarck. Historiadores de ciência não me deixam mentir. Aliás, as fontes primárias não me deixam mentir.

Em 1909, nas celebrações dos 50 anos do Origem das Espécies, mais uma vez houve louvaminhice, beija-mão, beija-pé de Darwin, mas novamente os cientistas questionaram o papel da seleção natural neste processo transformista: um Australopithecus afarensis se transformar em jornalista, oops em Homo sapiens sapiens. Em 1959, no Centenário do Origem das Espécies, mais uma vez os cientistas não deixaram de criticar o fato, Fato, FATO da evolução.

Muito mais assustador, Petry, é que em 2009, à véspera dos 200 anos de Darwin e dos 150 anos do Origem das Espécies, a Grande Mídia tupiniquim, da qual você é parte, e a Nomenklatura científica se compactuaram em não divulgar nenhuma linha sobre as dificuldades fundamentais do darwinismo no contexto de justificação teórica para não destoar as muitas celebrações secularistas de louvaminhice, de beija-mão e beija-pé de Darwin que serão celebradas nas universidades públicas brasileiras à custa do suado dinheirinho dos evangélicos e de outros brasileiros que pagam impostos.

Interessante este sinal de esquizotimia de Petry: ele afirmou que era sabido que “as escolas adventistas fazem isso”, mas o bicho pega porque “o negócio está se propagando” até em instituições tradicionais de São Paulo, como o Mackenzie. Ué, por que esta reação inapropriada sobre o Mackenzie? Não é o Mackenzie uma escola confessional cristã? O Deus deles não é o Criador ex nihilo? Eles não podem inventar o seu método próprio de ensino?

Gente, se o criacionismo sendo ensinado como ciência da pré-escola à 4ª série causou faniquitos parisienses em Petry, imagina se isso avança em outras séries lá no Mackenzie. Ia ser um Darwin que nos acuda e Petry ia pedir seus sais para não desmaiar.

Petry não vê problema nenhum com o criacionismo sendo ensinado nas aulas de religião, mas ensiná-lo em aulas de ciências é deseducador, pois o criacionismo é a explicação bíblica para a origem da vida. Deus teria criado tudo: o homem, a mulher, os animais, as plantas, há 6 000 anos. O pedagogo Petry cautelosamente recomenda e adverte: “Quem estuda religião precisa saber disso. É uma fábula encantadora, mas não é ciência.”

Árvore da vida por árvore da vida, eu acho que o Petry sabe, mas finge não saber, há uma árvore da vida que está mais para fábula do que ciência. Aliás, a ciência já reconheceu: Darwin acertou no varejo, e errou no atacado nesta questão de árvore da vida. Vide a edição de janeiro de 2009 da The New Scientist: “Darwin was wrong”. E o Petry, dândi, não sabia disso? Vá ser jornalista assim tão desinformado em Marrakesh.

Petry, o ateu posmoderno, xiita fundamentalista, chique e perfumado a la Dawkins, considera inaceitável que o criacionismo seja ensinado em biologia para explicar a origem das espécies. E a especulação transformista de Darwin explica? Existe lei em biologia evolutiva? Nenhuma. Tem só o tal princípio de seleção natural. A teoria da evolução é uma teoria de longo alcance histórico, e como toda teoria de longo alcance histórico, tem muitas dificuldades de corroboração no contexto de justificação teórica. Petry está certo e está errado: em biologia o que vale é a teoria geral da evolução e não o “evolucionismo” de Darwin.

Petry sabe, mas escorregou aqui, as palavras terminadas em –ismo denotam ideologias. A especulação transformista de Darwin de um ancestral comum [origem monofilética] está errada, pois a Árvore da Vida de Darwin está mais para gramado [origem polifilética] do que árvore de um tronco só. Não desconsidero o fator temporal de bilhões de anos, mas afirmar que nós “chegamos até aqui porque passamos no teste da seleção natural” é uma tremenda asneira jornalística, pois a seleção natural está cada vez mais sendo questionada pelos cientistas na sua capacidade criativa. Petry já ouviu falar do “Dilema de Haldane”? E a relação custo-benefício para uma mutação se instalar numa população? 300.000?

Petry, você não sabe nada sobre os 16 de Altenberg, que se reuniram na Áustria em julho de 2008 considerando a necessidade de uma nova teoria geral da evolução não selecionista? Se a atual teoria da evolução é “a melhor (e por acaso a mais bela) explicação que a ciência encontrou sobre a aventura humana na Terra”, eu acho que vale sim, Petry apoiar o ensino da evolução com análise e crítica pelos alunos, pois é isto que os cientistas fazem desde 1859.

Chamem a Polícia Federal de São Paulo, pois o Mackenzie, segundo Petry, “contrabandeou” o criacionismo para as aulas de biologia em respeito à “liberdade de pensamento” e “mostrando os dois lados” aos alunos. Segundo o Aurélio contrabando é a introdução clandestina de mercadorias estrangeiras sem pagamento de direitos; comércio ou tráfico proibido; ato mau praticado às ocultas. Petry, terrible enfant e maligno: a palavra “contrabando” foi intencionalmente escolhida por você para sugerir ilícito educacional da parte do Mackenzie. Sugere ato mau praticado à revelia das leis de ensino confessional. Aqui, Petry, você está em flagrante descompasso com a verdade sobre o Mackenzie e as escolas confessionais.

Petry, o pedagogo, não é bobo não, ele morde e assopra o Mackenzie e as escolas adventistas (e católicas também) e até os pais dos alunos: “Afinal, são escolas religiosas, confessionais, e os pais podem ter escolhido matricular seus filhos ali exatamente porque o criacionismo é visto como ciência. Pode ser, errar é livre, mas que embrutece não há dúvida.”

Segundo Petry, ensinar que Deus cria ex nihilo torna o aluno estúpido porque desde cedo ele passa a confundir “crença e superstição com razão e ciência”. Para Petry, um ateu posmoderno, xiita fundamentalista, chique e perfumado a la Dawkins, crer na existência objetiva e real de Deus é irracional e desnecessário. E alfineta o Mackenzie e as demais escolas confessionais: “Que cientistas saem de escolas que embrulham o racional com o místico?” Ele disse que isso “é cascata” é mentira, “porque se fosse verdade, a turma estaria ensinando numerologia em matemática.”

Realmente Petry tem razão: não cabe ensinar numerologia em matemática, nem alquimia em química em nome da “liberdade de pensamento”, mas deixar de ensinar as dificuldades fundamentais do darwinismo, informações intencionalmente omitidas pelos autores de livros didáticos, e sancionados com o aval do MEC/SEMTEC/PNLEM não enrubesce o nosso Don Quijote de la Mancha, defensor da integridade da ciência em nossas escolas. Dois pesos e duas medidas não cabem em um jornalista de renome que se preze.

Outro sinal de esquizotimia de Petry é reação dele em relação à defesa do estudo do criacionismo na educação básica da Inglaterra feita por um cura anglicano, ex-diretor de educação da Royal Society, que queria colocar Deus no laboratório da escola: “Cortaram-lhe o pescoço.” Cruz credo, Petry, vou invocar Freud aqui para explicar, mas você quer cortar o pescoço de quem no Mackenzie? Do reitor? Duvido. Do diretor? Sem chance. Do chanceler? Não duvido.

Petry intencionalmente não fez a distinção do caso da Inglaterra: era para lecionar nas escolas públicas, e não nas confessionais.

Realmente, e acertadamente no meu entender, a Suprema Corte americana proibiu o ensino do criacionismo nas escolas públicas, mas não mandou o criacionismo de volta às aulas de religião como erroneamente reportou o jornalista dândi de VEJA. O avanço do ensino do criacionismo nas escolas confessionais no Brasil, terra do paradoxo, é atraso que incomoda Petry, mas duela a quien duela: é prerrogativa legal daquelas escolas.

Petry, como a maioria dos jornalistas da Grande Mídia Tupiniquim, afirma exageradamente que Darwin foi um gênio. O próprio guru de Down reconhecia suas limitações intelectuais. Quem fazia cálculos simples de matemática era um de seus filhos.

A ilação de Petry de que no seu tempo ninguém “sabia como as características hereditárias eram transmitidas de pai para filho... que a Terra tem 4,5 bilhões de anos e que os continentes flutuam sobre o magma” e que isso se encaixa à perfeição com a teoria da evolução nas descobertas genéticas, na datação radioativa e da geologia moderna, é discurso retórico grandioso, mas vazio: no contexto de justificação teórica, Darwin não fecha as contas. Ponto final. Kaput!

Eu estou com Petry e não abro: somente um cérebro poderosamente equipado, conjugado com muito estudo, pode ir tão longe. Um pouco de história da ciência para ilustrar a ignorância de Petry: Darwin é confundido com criacionismo porque “o longo argumento” do Origem das Espécies é na verdade um longo argumento teológico. Darwin tentou derrubar a idéia de Deus por trás da criação, e se Darwin parece um macaco tolo, não tem nada de assustador nisso, pois ele mesmo questionava se devíamos acreditar em uma mente que evoluíra de ancestrais tão primitivos.

Extremamente assustador, Petry, é você servir de guarda-cancelas da Nomenklatura científica e tolher os direitos educacionais de instituições confessionais ensinarem as suas crenças, e de não ter a coragem de pugnar pelo ensino objetivo e honesto da evolução com análise e crítica em salas de aulas de ciências.

Vade retro, Petry!

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NOTA IMPERTINENTE DO BLOGGER:

O meu artigo é desproporcional ao texto do Petry por várias razões. Eu vou declinar apenas uma: é preciso mostrar que Darwin está nu e há algo de podre na relação incestuosa da Nomenklatura científica e da Grande Mídia tupiniquim, pois para eles, quando a questão é Darwin, é tutti cosa nostra, capice? O que Darwin tem de bom, a gente mostra; o que Darwin tem de ruim, a gente esconde.