Eu venho expondo neste blog as insuficiências fundamentais da teoria geral da evolução baseado na literatura científica especializada bem recente, e afirmando que a Nomenklatura científica é antropofágica e destruidora de carreiras acadêmicas de críticos e oponentes do darwinismo. Além disso, eu venho denunciando a relação incestuosa da Grande Mídia Tupiniquim (GMT) com aquela quando a questão é Darwin, relação carinhosamente apodada de ‘síndrome ricuperiana’ — “O que Darwin tem de bom, a gente mostra; o que Darwin tem de ruim, a gente esconde”.
Eu afirmei neste blog que 2009 seria um “Darwin nos acuda” com as muitas celebrações e homenagens a Darwin desproporcionais ao que hoje sabemos sobre o status epistêmico de sua teoria científica em um contexto de justificação teórica: com a descobertas da ciência moderna, Darwin não fecha a conta. Em vez de ouvirem as vozes dissonantes, a Nomenklatura científica e a GMT reagiram de maneira global, massificante nesta semana, incensando a Darwin e polarizando mais uma vez a questão como sendo ciência (discurso racional e verdade) versus religião (discurso irracional e ilusão).
A questão é científica, mas ciência a Nomenklatura científica e a GMT se recusam discutir Darwin publicamente e de modo civil. Elas se articularam de maneira bem estruturada e sólida nos seus esforços titânicos junto à opinião pública de silenciar os oponentes e críticos: em todas as bancas de jornais e revistas o discurso era bem stalinista —Darwin locuta, evolutio finita— e os criacionistas e proponentes do Design Inteligente demonizados como pessoas ignorantes, desconhecedores do que é ciência, inimigos da educação e da democracia.
Interessante, um dos pilares do jornalismo moderno é a descrição dos fatos de maneira objetiva, imparcial e ouvindo os dois lados. Muito mais interessante é que muitos veículos midiáticos tem manuais de redação que recomendam “ouvir o outro lado”. Não foi o que ocorreu nesta semana festiva de Darwin.
Eu afirmei neste blog que Darwin, apesar de estar errado em muitos aspectos fundamentais de sua teoria, era mais liberal do que seus atuais discípulos. Ele, se voltasse às celebrações de louvaminhice, beija-mão e beija-pé que ocorreram em todo o mundo, ficaria horrorizado e até constrangido na sua fleuma britânica vitoriana diante de tanta subserviência intelectual. Darwin sabia que sua teoria tinha dificuldades e que seus críticos e oponentes trariam objeções: ele dedicou 30% de sua obra tentando responder às objeções, não de fanáticos religiosos, mas de seus pares científicos a quem ele deplorou não terem aceito suas teses transformistas.
Eu vou contrapor aqui o convite liberal de Darwin e a sugestão ditatorial da Nomenklatura científica. Darwin era a favor do livre exame de sua teoria. A Nomenklatura científica é contra. Ele sabia que sua teoria tinha dificuldades. A Nomenklatura científica esconde essas dificuldades. Darwin afirmou no Origem das Espécies:
“Estou bem a par do fato de existirem neste volume pouquíssimas afirmativas acerca das quais não se possam invocar diversos fatos passíveis de levar a conclusões diametralmente opostas àquelas às quais cheguei. Uma conclusão satisfatória só poderá ser alcançada através do exame e confronto dos fatos e argumentos em prol deste ou daquele ponto de vista, e tal coisa seria impossível de se fazer na presente obra.” [1]
Contrariando o espírito liberal de Darwin por uma educação objetiva sobre evolução, a Nomenklatura científica persegue e destrói carreiras acadêmicas dos seus críticos e oponentes, e propõe o ensino da teoria da evolução sem críticas. Exemplo mais despudorado de atitude ditatorial de se ensinar assim veio da Scientific American Brasil, uma das maiores revistas de divulgação científica popular. Vide o editorial de Ulisses Capozzoli para ter uma idéia de como foi o matiz do conteúdo desta edição especial desta revista (p. 6).
Eu disse neste blog que a Scientific American Brasil iria macaquear sua congênere dos Estados Unidos, mas eu não pensei que eles iriam à raia do absurdo de importar uma situação americana para o Brasil. Quando a questão é Darwin, nós não temos no Brasil uma Kulturkampf como a existente nos Estados Unidos. Agora nós já temos, e quem a estabeleceu foi a própria Nomenklatura científica.
O Manual de Guerra de Guerrilhas Kulturkampf da SAB é texto adaptado de “Defending the teaching of evolution: strategies and tactics for activists”, de Glenn Branch, e de “Not in our classrooms: why intelligent design is wrong for our schools, editado por Eugenie C. Scott e Glenn Branch (Beacon, 2006). A SAB propôs que “caso a controvérsia sobre o ensino da evolução surja em sua região utilize algumas das ações a seguir:
• A solução da discussão depende de pensamento político, ou seja, forme coalizões, junte-se aos educadores, cientistas, membros de igreja (sic) e outros cidadãos que compartilhem de seus pensamentos para convencer os políticos a não obedecer as propostas criacionistas. [Nós do DI entendemos que sendo o Brasil um país laico, privilegiar a posição de subjetividade religiosa nas escolas públicas fere nossos preceitos constitucionais].
• Lembre-se que o objetivo não é apenas manter o criacionismo fora das aulas de ciências, como também assegurar que a evolução seja ensinada de forma correta — sem rótulos como “apenas uma teoria” ou sem o incorreto “evidência contra a evolução”. [Isso fere frontalmente os preceitos exarados na LDB 9394/96 e nos atuais PCNs que pretendem formar estudantes críticos e independentes e o entendimento de que as teorias científicas são construtos humanos passíveis de revisão e até o simples descarte e até a substituição por uma teoria científica mais robusta apoiada pelas evidências].
• Esteja pronto a rebater as afirmações de que a evolução é uma teoria em crise [sic. A atual teoria da evolução é uma teoria em crise, e em 2010 deve ser substituída pela Síntese Evolutiva Ampliada que deverá relegar a seleção natural a um papel inferior ao atual ], que a evolução é uma ameaça à religião, à moralidade e à sociedade; e que não passa de questão de justiça ensinar os “dois lados” da questão [Nada mais pedagogicamente correto de ocorrer em aulas de ciência, mas a Nomenklatura científica se esqueceu que esta é a proposta liberal de Darwin acima mencionada].
• Combine com os defensores da evolução escrever cartas aos editores e editoriais; compareça a encontros de secretarias de educação ou assembléias legislativas; e trabalhe para derrubar votações no dia das eleições [Eu sugiro que os criacionistas e proponentes do DI sigam ad litera essas sugestões].
Nós proponentes do Design Inteligente entendemos: a ciência enquanto ciência se resolve mediante análise das evidências e segui-las aonde elas nos levarem. Ciência não se resolve em tribunais, e nem com ações e táticas de guerra de guerrilhas como estas propostas pela Scientific American Brasil. Contudo, diante da situação de confronto beligerante imposta pela Nomenklatura científica, eu sugiro a mesma articulação por parte dos críticos e oponentes do ensino unilateral da evolução.
Primeira convocação: solicitar urgentemente à Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados que convoque os analistas do MEC/SEMTEC/PNLEM para uma audiência pública e ouvir os dois lados das visões extremas da evolução. Pedir explicações ao MEC/SEMTEC/PNLEM do por que da aprovação de livros didáticos de Biologia do ensino médio contendo duas fraudes e distorções de evidências científicas a favor do fato da evolução. Nomear uma comissão democraticamente composta de especialistas para acolher, examinar e dar parecer para aquela Comissão de Educação e Cultura sobre a literatura científica atual demonstrando as dificuldades fundamentais do neodarwinismo. Solicitar a obediência à LDB 9394/96 e os atuais PCNs, e sua implementação orientada por uma educação através das evidências.
Eu, enquanto cidadão político, e não como coordenador do Núcleo Brasileiro de Design Inteligente – Campinas, é que estou propondo isto. Eu dou um boi para não entrar numa briga, mas eu dou uma boiada para não sair de uma boa briga. Eu lutei nos anos 60 contra a ditadura militar. Esta é uma boa briga.
Nomenklatura científica, tigre de papel, a gente se vê em Brasília.
Alea jacta est!
NOTAS:
1. Charles Darwin. Origem das Espécies. Tradução de Eugênio Amado. Belo Horizonte, Villa Rica, 1994, p. 36.
2. Scientific American Brasil, p. 89.