O silêncio dos ETs

segunda-feira, março 15, 2010

JC e-mail 3968, de 15 de Março de 2010.

24. O silêncio dos ETs

Há 50 anos o homem tenta captar sinais de vida inteligente em outro planeta sem sucesso

Em 8 de abril de 1950, o astrônomo Frank Drake estava decidido a tentar por um fim à toda especulação sobre a existência de extraterrestres. Homenzinhos verdes e cabeçudos povoavam a imaginação da população, capitaneados por escritores de ficção científica como H. G. Wells e Edgar Rice Bourroughs, e desafiavam cientistas.

Fascinado com a perspectiva de encontrar vida inteligente alienígena, Drake, pela primeira vez, apontou uma antena para uma estrela próxima com o objetivo de captar sinais. Mas tudo o que ouviu foi o silêncio.

E vem sendo assim há 50 anos. O projeto Seti (Search for Extraterrestrial Inteligence ou busca por inteligência extraterrestre), criado por Drake, é a mais séria iniciativa lançada para a detecção de vida inteligente em outros planetas, mas nunca conseguiu nenhum indício concreto de sua existência.

- O fato de nunca termos feito contato, de nunca termos achado vida, não quer dizer que ela não exista - sustenta a astrônoma Duília de Mello, do Goddard Space Flight Center, da Nasa, especialista no Telescópio Hubble. - Acho a iniciativa importante e acho que faz parte da ciência investir em projetos diferentes, ter curiosidade, fazer perguntas e responder a questões fundamentais, como "estamos sozinhos"?

A ideia da existência de ETs inteligentes começou a ganhar força e a povoar o imaginário da população em geral e de escritores de ficção científica em particular a partir de observações feitas pelo astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli, em 1877, de um telescópio recém-construído.

Schiaparelli notou que a superfície do planeta vermelho era marcada por linhas e sulcos intrincados, que chamou de canais. Ainda no século XIX, o astrônomo americano Percival Lowell retomou a ideia dos canais marcianos - ele chegou a criar um centro para estudá-los - popularizando-a.

Tais canais, sustentava Lowell, só poderiam ter sido construídos por uma inteligência superior. A coisa chegou a tal ponto que ele chegou a localizar a região onde seria a capital de Marte, numa confluência de canais.

Livros como "A guerra dos mundos", de H.G. Wells, e a posterior transmissão radiofônica de Orson Welles, em 1939, às vésperas da invasão nazista da Europa, só contribuíram para o clima reinante.

É curioso notar, como aponta o astrônomo Carl Sagan - um dos pioneiros do projeto Seti e também um dos críticos mais ferrenhos a ufólogos em geral e crendices envolvendo aliens -, no livro "O mundo assombrado pelos demônios", que os supostos avistamentos de discos voadores e contatos com criaturas alienígenas só começam a surgir neste período, justamente quando são popularizados pela indústria científica e cultural. A conclusão de Sagan é que os ETs substituíram demônios, bruxas e santos no topo da lista dos mais avistados - ou seja, são simplesmente frutos da imaginação.

Um bilhão de anos à nossa frente

Mas nem o próprio Sagan conseguiu escapar completamente ao fascínio dos marcianos.

- Eu me recordo de uma conversa que tive com Larry Haskin (professor da Universidade de Washington, falecido em 2005) sobre a expectativa de cientistas como Carl Sagan momentos antes do pouso da primeira nave Viking (1976-1977) em solo Marciano. Eles esperavam ver um arbusto, uma forma qualquer de vida e tudo o que se viu foi um deserto - conta Paulo de Souza, integrante da missão Mars Explorer Rover, da Nasa, que há seis anos mantém dois robôs explorando a superfície do planeta vermelho. - A percepção dos próprios cientistas mudou consideravelmente. Os ETs da década de 60 estão disponíveis nas locadoras. Os de hoje não são mais sofisticados. Se estão próximos, são menos evoluídos, se são evoluídos estão distantes.

O primeiro trabalho científico sobre o uso de ondas de rádio para transmitir informações a distâncias estrelares foi publicado na "Nature", em 1959, pelos físicos Phillip Morrison e Giuseppe Cocconi. Um ano depois, Drake já dava início à sua busca por sinais do espaço. Inicialmente, o projeto incluía também o envio de dados em ondas. Mas dadas as distâncias - uma transmissão para uma estrela muito próxima levaria dezenas de anos - optou-se por priorizar o recebimento.

A ideia é captar sinais de alguma sociedade contemporânea mais avançada - detentora de tecnologia capaz de enviar sinais mais rapidamente - ou de alguma sociedade similar à nossa de um passado distante.

E, apesar de nunca ter se chegado a um indício consistente, a pesquisa avança. Nos últimos 15 anos, conseguiu-se identificar nada menos que 430 planetas que orbitam estrelas parecidas com o Sol fora do Sistema Solar.

Já se conseguiu, inclusive, detectar a existência de planetas bem parecidos com a Terra. Embora as dificuldades sejam enormes, os cientistas não parecem dispostos a desistir tão cedo. Mesmo que supostos ETs não tenham interesse em se comunicar conosco.

- Se existirem, o mais provável é que sejam mais avançados do que nós por, talvez um bilhão de anos (vale lembrar que nós somos uma civilização tecnológica por cerca de 100 anos apenas e a probabilidade de outra civilização estar no mesmo estágio é extremamente remota) - afirma o astrofísico Mario Livio, do instituto responsável pelo Telescópio Hubble. - Para tais sociedades, nós seríamos como micróbios. Eles podem não ter nenhum interesse em nós (nós, aqui na Terra, não estamos tentando nos comunicar com micróbios). Eles podem, inclusive, estar impedindo que nós os descubramos. Além do mais, a possibilidade de recebermos um sinal que consigamos entender também é muito baixa. Entretanto, nunca saberemos as respostas, se não fizermos a experiência.

(Roberta Jansen)

(O Globo, 13/3)

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NOTA CAUSTICANTE DESTE BLOGGER:

Buscar sinais de inteligência extraterrestre é CIÊNCIA, mas buscar sinais de inteligência em sistemas de complexidade irredutível de sistemas bióticos e a informação complexa especificada não é CIÊNCIA.

O que é ciência então cara-pálida? Eu conheço várias definições do que seja CIÊNCIA...