JC e-mail 3977, de 26 de Março de 2010.
18. Mapa genético do paraíso
Catálogo inédito de espécies da Mata Atlântica começa pela Ilha Grande
A Ilha Grande e o Jardim Botânico do Rio serão alvo de um levantamento genético pioneiro, que incluirá dados de todas as espécies de animais e plantas que vivem nesses locais. À frente do projeto estão a Uerj e a Universidade do Porto, que dividem estudos de genética forense há 10 anos.
As instituições assinaram convênio nesta quinta-feira (25/3), mas os trabalhos já começaram na Costa Verde. Segundo os pesquisadores, a Ilha Grande tem 200 animais de pequeno porte ameaçados de extinção. Estas espécies serão as primeiras a terem amostras de DNA coletadas.
A Ilha Grande será o ponto de partida para uma iniciativa mais ambiciosa: fazer a "carteira de identidade" da Mata Atlântica. A equipe multidisciplinar quer incluir análises biogeográficas ao material genético. Assim, além de conhecer uma determinada espécie, os pesquisadores detalhariam o ecossistema em que ela foi encontrada.
- Depois de uma tragédia ambiental, quando uma área é despovoada, podemos levar os animais que a habitavam de volta para lá - explica Elizeu Fagundes de Carvalho, diretor do Laboratório de DNA da Uerj. - Saberemos como intervir no ambiente sem alterar o seu equilíbrio. Quando concluirmos o trabalho na Mata Atlântica, podemos expandi-lo para outros biomas, como o Pantanal.
Criador do laboratório, há 15 anos Elizeu colhe amostras úteis para investigações criminais. Agora, o biólogo quer ver o censo das espécies também usado no combate ao contrabando de animais: - Esta é uma das contribuições possíveis do mapeamento para proteger o ecossistema.
Acadêmicos portugueses vão se juntar aos pesquisadores da Uerj, já envolvidos em projetos na Ilha Grande desde 1998. As instituições estudam uma forma para que os formandos das carreiras envolvidas no projeto recebam diploma das duas instituições.
O reforço será bem-vindo: pelo menos 400 espécies, entre mamíferos e vegetais, terão amostra de DNA coletada nos próximos dois anos. A expectativa é encontrar espécies típicas da ilha, o que seria possível graças à sua distância do resto do continente.
- Por ser um local isolado, a Ilha Grande tem um bioma protegido da entrada e saída de espécies invasoras - explica Elizeu. - Certamente existem espécies nativas, mas ainda não temos ideia de quantas são.
A Uerj montará um novo laboratório em seu Centro de Estudos Ambientais, sediado em Vila dos Rios, na Ilha Grande. As amostras coletadas ali serão levadas ao Maracanã para sequenciamento e identificação.
Desmatamento mundial caiu na última década
O mapeamento das espécies, depois de concluído, será entregue ao governo federal. Durante assinatura do convênio entre as universidades participantes, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, propôs que o projeto fosse expandido para o Jardim Botânico do Rio. A Uerj aceitou a sugestão, por já conduzir estudos com plantas do parque. O cronograma dos trabalhos, porém, ainda será definido.
Outra vitória da biodiversidade foi constatada por um relatório divulgado nesta quinta-feira pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO): a derrubada de florestas, embora ainda alarmante, diminuiu acentuadamente na última década.
O Brasil registrou a maior perda de áreas verdes, seguido por Austrália e Indonésia. Ainda assim, os projetos do país mereceram elogios da coordenadora do levantamento, Mette Loyche Wilkie: - A queda do desmatamento foi espetacular, e isso se deve a uma meta política, apoiada pelo presidente, de reduzir em 80% o corte de árvores até 2020.
Na década passada, o planeta perdeu 13 milhões de hectares de floresta por ano. Ao todo, esta área equivale a duas vezes o estado de São Paulo. Nos anos 90, este índice foi de 16 milhões de hectares anuais.
(Renato Grandelle)
(O Globo, 26/3)