JC e-mail 3918, de 28 de Dezembro de 2009.
8. O novo vestibular da Unicamp, artigo de Renato Hyuda de Luna Pedrosa
"O novo modelo de vestibular mostra que a Unicamp vem renovar seu diálogo com a educação básica"
Renato Hyuda de Luna Pedrosa é professor do Departamento de Matemática da Unicamp e coordenador-executivo da Comvest (Comissão Permanente para os Vestibulares). Artigo publicado na "Folha de SP":
O novo modelo para o Vestibular Nacional Unicamp, aprovado em 3/12/09, a ser implantado no próximo ano, mostra que a Unicamp vem renovar seu diálogo com a educação básica. Esta, 24 anos depois que a Unicamp colocou sua proposta original de vestibular, indicando novos caminhos para a formação dos jovens, continua apresentando péssimos resultados em diversas avaliações, nacionais ou internacionais.
São péssimos resultados tanto no que diz respeito ao desenvolvimento das habilidades básicas de compreensão e leitura, de expressão, de análise de informações e de abstração quanto naquilo que se refere ao domínio dos conteúdos das áreas do conhecimento desenvolvidas ao longo da formação escolar.
Além disso, o novo modelo teve como meta, em razão do aumento do número de candidatos e da alta competição para diversos de seus cursos, o aprimoramento da qualidade seletiva da primeira fase do vestibular. A universidade desenvolveu e debateu, ao longo de mais de um ano, em todas as instâncias institucionais, estudos e alternativas que levaram ao novo modelo.
A primeira fase compõe-se de 48 questões de múltipla escolha e de uma prova de redação, na qual o candidato será instado a redigir três textos. A segunda fase, de três provas contemplando quatro áreas: língua portuguesa/literatura; matemática; ciências humanas, artes, humanidades e língua estrangeira; ciências da natureza. O novo modelo aproxima o vestibular das práticas vigentes no ensino médio.
A precisão seletiva da primeira fase foi ampliada significativamente, principalmente por causa da mudança na prova de redação, mas também devido ao maior número de questões.
Avaliar três textos na prova de redação torna essa prova próxima, em termos de qualidade seletiva, da prova atual de primeira fase. Com as 48 questões consideradas, apresenta índice de consistência classificatória ótimo para a função que desempenha.
A duração da prova da primeira fase será de cinco horas, metade para cada parte. Cada proposta de redação terá 50 minutos para a elaboração, a duração de uma aula na formação básica. Portanto, não procedem os comentários iniciais sobre a proposta, indicando que seriam solicitados textos curtos. A Unicamp nunca estabeleceu o número de linhas para a redação e não passará a fazê-lo agora.
Sobre as questões de múltipla escolha, ressalte-se que a função da primeira fase não muda: é nela que as habilidades básicas são avaliadas, com os conteúdos do ensino médio como pano de fundo para sua formulação.
O aumento do número de questões permite tornar a avaliação mais abrangente e ampliar a variedade dos níveis de dificuldade das questões sem modificar o grau médio de dificuldade da prova nem as suas características acadêmicas.
O novo modelo propõe que as habilidades e os conteúdos sejam tratados de forma integrada, associados à contextualização em problemas concretos. Porém, conteúdos não se reduzem a fatos e propriedades isolados, memorizáveis. Antes, incluem construções que se desenvolvem do particular para o geral. Portanto, contextualização, para fins de avaliação, se apresenta também no outro sentido, transitando do imediato e concreto para o conceitual e abstrato.
Outro ponto relevante é que foi ampliada a participação, na nota final, da avaliação da linguagem e da matemática. Essa decisão tem origem na constatação de que as habilidades e proficiências nos conteúdos dessas áreas são fundamentais para a construção do conhecimento pleno nas diversas áreas do saber. E são aquelas com que as crianças e os jovens têm, desde o início do ensino fundamental, maior contato (mas não, necessariamente, maior sucesso em termos de aprendizagem).
Sobre a nova prova de redação, sua formulação e permanência na prova de primeira fase também demonstram que a Unicamp reafirma a importância da avaliação direta da escrita. E, pela própria formulação da proposta, indica que não basta o treinamento em um modelo específico de escrita e que a proficiência em produzir bons textos de diferentes gêneros deve ser decorrência da boa formação escolar do jovem.
Finalmente, o desenvolvimento do modelo do novo vestibular demonstrou, na Unicamp, que a universidade, instada a responder a desafios -e não são poucos os desafios envolvidos numa reforma ampla do processo de seleção dos estudantes-, apresenta os mecanismos institucionais e a vitalidade acadêmica necessária para o bom desempenho de sua missão como instituição que valoriza o conhecimento e a cultura.
(Folha de SP, 28/12)