Ironia do destino: 2009 foi o Ano Darwin 200, mas foi também o ano em que finalmente 'morreu' a Síntese Evolutiva Moderna.
O artigo que 'pregou' os pregos epistêmicos no caixão desta teoria científica já considerada morta por Stephen Jay Gould em 1980, foi a análise primorosa de Eugene Koonin publicada em fevereiro de 2009 sobre o impacto da genômica sobre o pensamento evolutivo: “Darwinian evolution in the light of genomics”, in Nucleic Acids Research, 2009, 37(4), 1011-1034).
Nesta análise, Koonin destacou que a celebração do centenário do Origem das Espécies em 1959 Origins foi “marked by the consolidation of the modern synthesis” [marcado pela consolidação da síntese moderna], mas os anos subsequentes testemunharam grandes mudanças que solaparam a sua credibilidade teórica em explicar a evolução no contexto de justificação teórica. A Síntese Evolutiva Moderna foi elaborada nos anos 1930s e 1940s trazendo evidência aparentemente conflitante da seleção natural, genética de população, citologia, sistemática, botânica, morfologia, ecologia e paleontologia na formação de uma teoria moderna de evolução neodarwiniana.
Na literatura especializada podem ser notadas a ocorrência de três revoluções distintas na metade do século 20 solapando a robustez epistêmica da teoria da Síntese Moderna: a molecular, a microbiológica, e a genômica. Koonin tentativamente identifica duas teorias candidatas para preencher o vácuo epistêmico deixado pelo descarte da Síntese Moderna. A primeira teoria parece enfatizar o papel do acaso; a segunda parece enfatizar o papel de lei.
Sem dúvida que muitos na comunidade científica ainda se agarrarão com unhas e dentes à Síntese Evolutiva Moderna, por muitos anos, o que é muito bom e até significativamente bem-vindo é que artigos assim como o de Koonin estão aparecendo na literatura com revisão por pares [peer-reviewing é très chic, chéri, très chic]declarando, NOTA BENE, declarando que a teoria precisa ser abandonada porque ela já não responde aos dados moleculares, microbiológicos e genômicos.
Gente, como é bom ser vindicado por um cientista evolucionista diante da Galera dos meninos e meninas de Darwin: vocês se lembram que desde o início deste blog eu afirmei no meu perfil que vinha aí uma eminente e iminente mudança paradigmática em biologia evolutiva??? Eu seguia os passos de Gould de 1980 quando afirmou que a Síntese Evolutiva Moderna era uma teoria científica morta que posava como ortodoxia somente nos livros didáticos, e agora Koonin que não me deixa mentir: que venga la nueva teoría de evolución - a SÍNTESE EVOLUTIVA AMPLIADA que não pode e nem deve ser selecionista.
O artigo de Koonin foi eleito por este blogger como O MELHOR ARTIGO DE 2009 escrito por um evolucionista honesto.
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Nucleic Acids Research Advance Access originally published online on February 12, 2009
Nucleic Acids Research 2009 37(4):1011-1034; doi:10.1093/nar/gkp089
Darwinian evolution in the light of genomics
Eugene V. Koonin*
National Center for Biotechnology Information, National Library of Medicine, National Institutes of Health, Bethesda, MD, USA
*To whom correspondence should be addressed. Tel: 301 496 2477 (Ext 294); Fax: 30 480 9241; Email: koonin@ncbi.nlm.nih.gov
Received January 9, 2009. Revised January 30, 2009. Accepted February 4, 2009.
Comparative genomics and systems biology offer unprecedented opportunities for testing central tenets of evolutionary biology formulated by Darwin in the Origin of Species in 1859 and expanded in the Modern Synthesis 100 years later. Evolutionary-genomic studies show that natural selection is only one of the forces that shape genome evolution and is not quantitatively dominant, whereas non-adaptive processes are much more prominent than previously suspected. Major contributions of horizontal gene transfer and diverse selfish genetic elements to genome evolution undermine the Tree of Life concept. An adequate depiction of evolution requires the more complex concept of a network or ‘forest’ of life. There is no consistent tendency of evolution towards increased genomic complexity, and when complexity increases, this appears to be a non-adaptive consequence of evolution under weak purifying selection rather than an adaptation. Several universals of genome evolution were discovered including the invariant distributions of evolutionary rates among orthologous genes from diverse genomes and of paralogous gene family sizes, and the negative correlation between gene expression level and sequence evolution rate. Simple, non-adaptive models of evolution explain some of these universals, suggesting that a new synthesis of evolutionary biology might become feasible in a not so remote future.
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FREE PDF GRÁTIS [OPEN ACCESS]
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Fui, nem sei por que, rindo e querendo ver a cara da turma que participou das nauseabundas celebrações de louvaminhices, beija-mão e beija-pé de Darwin, Brasil a fora e no mundo inteiro...