Marcelo Leite, Folha de São Paulo, ‘falou e disse’ muita bobagem sobre a evolução

domingo, novembro 30, 2008

Eu não vou entrar em detalhes sobre o artigo “Criacionismo no Mackenzie” [via JC E-Mail] de Marcelo Leite, publicado no caderno Mais!, Folha de São Paulo, 30/11/2008, e nem vou defender o direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, uma instituição de ensino confessional ensinar o credo de sua religião.

Eu sou muito suspeito para escrever neste blog sobre Marcelo Leite ou qualquer outro jornalista científico da Folha de São Paulo: há uma década eu denuncio as insuficiências epistêmicas fundamentais das atuais teorias da origem e evolução do universo e da vida, e que a editoria de ciências e o caderno Mais! da FSP não praticam jornalismo científico objetivo e nem seguem o Manual de Redação da Folha de São Paulo que tem por objetivo “produzir um jornalismo crítico, moderno, pluralista e apartidário.” [1] Nada mais falso!

NEM MEIA DÚZIA DE JORNALISTAS SE PRONUNCIOU!

Por que sou suspeito? Eu sou suspeito porque não contemporizo com jornalistas assim, e denuncio há uma década a relação incestuosa entre a Grande Mídia e a Nomenklatura científica quando a questão é Darwin. A máxima da censura na FSP a la Marcelo Leite é: “Não damos espaço”. [2]

NEM MEIA DÚZIA DE JORNALISTAS SE PRONUNCIOU!

Ironia do destino: a FSP que lutou recentemente contra uma ditadura e pela liberdade de pensamento e expressão, não “ouve o outro lado”, violenta a nossa cidadania quando sonega informações atualizadas aos seus leitores não-especializados que a teoria geral da evolução de Darwin através da seleção natural está nos seus estertores de capacidade heurística no contexto de justificação teórica, e que logo após as cerimônias de louvaminhice, beija-mão e beija-pé de Darwin, será discutida uma nova teoria da evolução: a Síntese Evolutiva Ampliada que, contrariando a Darwin e seus discípulos pós-modernos como Marcelo Leite, não será selecionista.

NEM MEIA DÚZIA DE JORNALISTAS SE PRONUNCIOU!

Do alto de sua torre de marfim, Marcelo Leite pontificou “ex-cathedra”:

1. “Inúmeras observações comprovam postulados centrais do darwinismo, como a ascendência comum (todas as espécies provêm de um ancestral único).”

Marcelo Leite só não informou aos seus leitores de onde ele tirou esta afirmação. Como jornalista renomado e com doutorado pela Unicamp, ele deve se informar melhor a respeito dessa questão de “ascendência comum”, pois a situação nesta área é de muita controvérsia, i. e., as observações não comprovam este postulado central do darwinismo [muito obrigado, Marcelo Leite por esta pérola: os darwinistas fundamentalistas dizem que somente os oponentes e críticos é que usam o termo “darwinismo” e de forma pejorativa]. A Árvore da Vida de Darwin está mais para gramado do que árvore!

Ernst Mayr, onde você estiver, muito obrigado por afirmar que a Biologia evolutiva não é uma "ciência dura" como a Física que tem leis com que trabalhar: tem apenas um princípio - a seleção natural. A Biologia evolutiva é uma teoria científica de longo alcance histórico, e fica muito difícil "comprovar " o fato, Fato, FATO da evolução - descendência com modificação (ancestral comum) porque não temos como pontuar cada uma dessas etapas. É um fato, Fato, FATO aceito a priori, quando a ciência baconiana preconiza "Empirica, empirice tratanda"! [As coisas empíricas são empiricamente consideradas] Darwin não fecha essa conta!

NEM MEIA DÚZIA DE JORNALISTAS SE PRONUNCIOU!

2. “O fato de o DNA ser a molécula da hereditariedade em todas elas é a melhor prova desse princípio. Os primeiros seres vivos da Terra “inventaram” [SIC ULTRA PLUS: teleologia] essa maneira de transmitir características de uma geração a outra, há cerca de 4 bilhões de anos, e ela se perpetuou desde então.”

Marcelo Leite mostra aqui que precisa se atualizar urgentemente na literatura especializada, pois o código genético não é universal: desde 1985 os biólogos moleculares descobriram pelo menos 18 códigos genéticos diferentes em várias espécies. [3] Muitos deles são significativamente diferentes do código genético padrão. [4]

NEM MEIA DÚZIA DE JORNALISTAS SE PRONUNCIOU!

Do alto de sua torre de marfim, Marcelo Leite ficou “indignado” porque “a direção do Mackenzie não nega os avanços da biologia trazidos pelo darwinismo, mas acredita que é preciso opor-lhe o contraditório.”

Marcelo Leite sabe, mas finge não saber, não existe “Theoria perennis” em ciência. Muito menos uma teoria elaborada no século 19 que até os mais próximos de Darwin como Thomas Huxley, Charles Lyell, Joseph Hooker e St. George Jackson Mivart duvidavam do poder criativo da seleção natural. Em pleno século 21, Marcelo Leite “evangelicamente” aceita a evolução por meio da seleção natural pela fé!

O Mackenzie, enquanto instituição confessional, tem sim o direito de apresentar aos seus alunos “que há outra explicação” para o "Mysterium tremendum" da origem das espécies.

NEM MEIA DÚZIA DE JORNALISTAS SE PRONUNCIOU!

Marcelo Leite, que traduziu um dos livros de Ernst Mayr, deveria saber qual foi a opinião do “Darwin do século 20” a respeito do livro “Origem das Espécies”: a “grande obra” de Darwin era um livro confuso, e não explicou o que se propôs explicar: a origem das espécies! Será que o Marcelo Leite não sabe disso? Sabe, mas como é Darwin, e tutti cosa nostra, capice?

NEM MEIA DÚZIA DE JORNALISTAS SE PRONUNCIOU!

Marcelo Leite tentou “demonizar” a teoria do Design Inteligente [sinais de inteligência são empiricamente detectados na natureza] equiparando a TDI com o criacionismo na seguinte afirmação:

“A coleção utilizada com crianças de 6 a 9 anos se chama Crescer em Sabedoria. Na capa do volume do terceiro ano estava estampado ‘Ciências - Projeto Inteligente’. É uma alusão ao argumento do “design inteligente”: a natureza é tão complexa e os organismos tão perfeitos que só o desígnio de um arquiteto (Deus) pode ter sido responsável por sua criação.

A TDI como teoria científica não pode lidar com aspectos ontológicos. Nós somente propomos que todas as vezes que encontrarmos nos objetos bióticos sistemas de complexidade irredutível [Michael Behe, “A Caixa Preta de Darwin”, Rio de Janeiro, Zahar, 1998] e informação complexa especificada [William Demsbki, “The Design Inference”, Cambridge, Cambridge University Press, 1998], são indicações de “design inteligente”.

NEM MEIA DÚZIA DE JORNALISTAS SE PRONUNCIOU!

Eu vou fazer aqui o papel de “Advogado do Diabo” da direção do Mackenzie: ela está plenamente justificada da omissão da evolução por seleção natural, porque até a Nomenklatura científica não aceita mais esta tese do século 19. Nem Darwin acreditava nisso: era o mecanismo mais importante, mas não era o único. O fato, Fato, FATO da evolução é explicada assim: “Se não for X, então Y, se não for Y então Z, se não for Z, então todo o ABC”. E tome transferência lateral e horizontal de genes, y otras cositas mais!

NEM MEIA DÚZIA DE JORNALISTAS SE PRONUNCIOU!

Eu vou fazer agora o papel de “Promotor do Diabo” contra o Mackenzie: Não deveria ter excluído, se é que excluiu a Darwin. Antes, o ensino da evolução deveria receber o tratamento científico que não acontece em nenhuma sala de aula de escolas públicas brasileiras dos ensinos fundamental, médio e superior: ensinar as evidências a favor e contra a evolução.

Isso, Marcelo Leite, deveria sim fazê-lo corar de vergonha, pois é excluído dos PCNs, em detrimento a uma formação acadêmica adequada de nossos alunos.

NEM MEIA DÚZIA DE JORNALISTAS SE PRONUNCIOU!

NENHUM JORNALISTA SE PRONUNCIOU!!!

NOTAS:

1. Manual de Redação. Folha de São Paulo, 2ª. ed., São Paulo, Publifolha, 2001, p. 10.

2. Declaração de Marcelo Leite na mesa-redonda da V Sao Paulo Research Conference, Auditório da Faculdade de Medicina da USP, 20 de maio de 2006. Naquela conferência este blogger apresentou um pôster diferente de todos os outros pôsteres: “Uma iminente mudança paradigmática em biologia evolutiva?”.

3. Aqui. Digite genetic codes para pesquisar os diferentes códigos genéticos.

4. Vide Christine Fenske, Gottfried J. Palm e Winfried Hinrichs, “How unique is the genetic code?, Angewandte Chemie International Edition 42 (2003):606-610.

Glenn Miller Orchestra – Moonlight Serenade

sábado, novembro 29, 2008

Uma das músicas que eu mais gosto de Glenn Miller e orquestra:

Flagelo bacteriano: design inteligente ou design não-inteligente?



Flagelo bacteriano


Aqui e ali na literatura especializada nós encontramos declarações como a de David DeRosier na renomada publicação científica Cell: “Muito mais do que outros motores, o flagelo se parece com uma máquina planejada por um ser humano.” DeRosier D.J., “The Turn of the Screw: The Bacterial Flagellar Motor”, Cell, Vol. 93, 1998, p.17.

A tese da complexidade irredutível dos sistemas biológicos de Behe ainda não foi “falseada” como alardeiam falsamente os meninos e meninas da Galera de Darwin, e alguns darwinistas inescrupulosos na Nomenklatura científica.

Se Darwin não fecha a conta epistêmica para explicar a história evolutiva de uma “simples” bactéria, o que dirá a Grande Proposição: um Australopithecus se transmutar em antropólogo...

Um pouco de ceticismo localizado a respeito da Grande Proposição é bem-vinda, mas causa muito mal-estar na Nomenklatura científica...

Células-tronco embrionárias: fanáticos religiosos na Europa impedem o avanço da ciência

sexta-feira, novembro 28, 2008

Seria uma notícia que a Grande Mídia tupiniquim teria o maior prazer em publicar. Só que o impedimento aqui não foi provocado por esses fanáticos religiosos fundamentalistas, mas por autoridades científicas européias competentes: algumas pesquisas com células-tronco embrionárias envolve a destruição do embrião.

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Embryonic Stem Cell Method Denied Patent in EU Due to Embryo Destruction

No European patent for WARF/Thomson stem cell application


27 November 2008

The Enlarged Board of Appeal (EBoA) of the EPO has made a ruling in an appeal connected to the so-called WARF/Thomson stem cell application.

The ruling contains clarifications to questions posed by a Technical Board of Appeal dealing with the patentability of the WARF application. This application describes a method for obtaining embryonic stem cell cultures from primates, including humans, and was filed by the Wisconsin Alumni Research Foundation (WARF) in 1995.

No patent due to human embryo destruction



In 2006, the Technical Board competent for the case referred legal questions to the EBoA, in order to obtain clarity on a number of points.

Decisive in the EBoA ruling was the application's claim regarding human stem cell cultures. The EBoA decided that under the EPC it is not possible to grant a patent for an invention which necessarily involves the use and destruction of human embryos. The EBoA stressed, however, that its decision does not concern the general question of human stem cell patentability.

The EBoA based its ruling on relevant provisions of the European Patent Convention (EPC) and on the EU Biotechnology Directive (98/44/EC), which was implemented in the EPC in 1999.

The board also rejected the request for a preliminary ruling on the issue by the European Court of Justice, for lack of any legal and institutional link between the EPO appeal boards and the EU.

Ruling based on EPC and EU directive

The EPC does not allow patenting inventions whose commercial exploitation would be contrary to public order ("ordre public") or morality. Furthermore, the Convention prohibits patenting on uses of human embryos for industrial or commercial purposes.
The EBoA is responsible for ensuring uniform application of patent law. Like all other appeal boards, it is independent from the Office in its decisions and bound only by the EPC. Its rulings are legally binding for all instances at the EPO, including the Technical Board of Appeal competent in the WARF case.

Further information

Board of appeal decisions: text of decision G 2/06 PDF gratuito.

News of 17.6.2008: Enlarged BoA to review WARF stem cell case

Appeals: Decisions

About us: Boards of appeal

Os blogs vieram para iluminar a sombra!

Eu sou apenas um usuário em informática, mas aprendi muito com a neswletter do Carlos Nepomuceno sobre este assunto. Não o conheço pessoalmente, e nem sei se advoga as teses deste meu blog, mas aqui vai um link de um artigo dele bastante interessante que tem muito a ver com uma das funções dos blogs: ILUMINAR A SOMBRA!

É o que fazemos aqui no blog "Desafiando a Nomenklatura científica": iluminamos a sombra das insuficiências epistêmicas fundamentais das atuais teorias da origem e evolução da vida e do universo, que não são abordadas publicamente pela Nomenklatura científica e nem pela Grande Mídia internacional e tupiniquim.

E ainda dizem que a Idade das Trevas já foi há muito tempo, e que o Iluminismo nem se compara com as luzes que temos no Século 21! Cruz credo, que trevas tenebrosas vivemos!!!

Fui, feliz da vida, porque “Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir.” (Sêneca) [Tirei de lá!]

A USP democratiza o conhecimento

USP lança Portal de Revistas

27/11/2008

Agência FAPESP – A Universidade de São Paulo (USP) lançou um serviço que dá acesso, por meio da internet, ao texto completo das revistas produzidas pela universidade e credenciadas pelo Programa de Apoio às Publicações Científicas Periódicas da instituição.

Trata-se do Portal de Revistas da USP, uma biblioteca eletrônica com acesso gratuito. Segundo a USP, a iniciativa tem como objetivos ampliar a facilidade de acesso dos usuários ao texto completo das publicações e possibilitar a obtenção de indicadores da produção científica, como relatórios de índices de citação e de co-autoria, além de ampliar a visibilidade desses periódicos nacional e internacionalmente.

O Portal de Revistas da USP disponibiliza inicialmente acesso a 30 títulos e prevê a inclusão dos demais títulos já credenciados e de outros à medida que atenderem aos critérios de credenciamento do programa.

A iniciativa conta com parceria do Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme), por meio do SciELO (Scientific Electronic Library Online), programa de biblioteca eletrônica virtual de revistas científicas brasileiras mantido pela Bireme e FAPESP.

Mais informações.

Darwin levou as marcas do Brasil e do Rio

quinta-feira, novembro 27, 2008

JC e-mail 3650, de 27 de Novembro de 2008.

8. Brasil e Rio deixaram sua marca em Darwin

Opinião é do tataraneto do cientista britânico, o conservacionista Randal Keynes, que está pela primeira vez no Brasil, refazendo os passos de seu tataravô pelas florestas tropicais fluminenses

Herton Escobar escreve para “O Estado de SP”:

Imagem: Instituto Sangari

Charles Darwin ficaria horrorizado com a destruição da mata atlântica brasileira, que ele conheceu quase intocada, em 1832, e que hoje está reduzida a apenas 7% de suas florestas originais. Também ficaria chocado com a segregação social do Rio de Janeiro, ainda que se sentisse aliviado - e muito - com o fim da escravidão.

A opinião é de seu tataraneto, o conservacionista Randal Keynes, que está pela primeira vez no Brasil, refazendo os passos de seu tataravô pelas florestas tropicais fluminenses - ou o que sobrou delas. Darwin passou três meses no Rio de Janeiro, entre abril e julho de 1832, e fez uma expedição de 15 dias sobre sela de cavalo e lombo de mula até Conceição de Macabu, no norte do Estado. No caminho, coletou plantas, animais, insetos e se impressionou - da pior maneira possível - com o tratamento dos escravos nos engenhos e cafezais. “Ele odiava o escravagismo”, relata Keynes. “Essa foi sua outra grande experiência no Brasil, além da biodiversidade.”

[NOTA IMPERTINENTE DESTE BLOGGER: É paradoxal em Darwin “odiar o escravagismo” e predizer o “holocausto” das raças inferiores, manu militari, pelas raças superiores (os europeus). Está lá no “The Descent of Man”, mas o tataraneto de Darwin acho que nunca leu. Se leu, sabe que seu ilustre ancestral (eu não pude resistir) era racista e pregava o genocídio.]

Keynes conversou com o Estado em meio a uma festa com feijoada na Fazenda Itaocaia, em Maricá, um antigo engenho escravocrata, no qual Darwin também almoçou e descansou.

- Qual foi a importância do Brasil e do Rio de Janeiro para Darwin?

Foi imensa. O Brasil foi o primeiro lugar em um continente que ele visitou na expedição do Beagle. Foi aqui, no Rio, que ele viveu sua primeira experiência em uma floresta tropical ‘completa’. Ele adorava ir e voltar da mata, mergulhar no seu silêncio, na sua incrível diversidade de plantas, insetos e animais.

- Ele já pensava sobre a teoria da evolução quando estava aqui?

Não. Naquela época ele ainda acreditava na ‘verdade literal’ do Gênese. Ele não tinha a menor idéia de que poderia desenvolver uma teoria na qual as espécies mudam no tempo.

- Ele era um criacionista, então?

De certo modo, sim. Ele teve uma experiência muito importante no Brasil, que foi presenciar, de fato, a riqueza e a diversidade da vida nas florestas tropicais - coisa que ele só conhecia dos livros. Isso lhe deu um novo senso sobre a força criativa da natureza, que é o que dá origem à biodiversidade e que, mais tarde, se tornaria a base de sua teoria.

- Pelo que o senhor está vendo aqui, qual seria a reação dele hoje, fazendo a mesma expedição?

Ele certamente ficaria chocado com o tanto da mata atlântica que foi perdido e com a biodiversidade reduzida que existe nas matas secundárias que substituíram as plantações de café e cana-de-açúcar. Ele também prestaria muita atenção na segregação entre ricos e pobres, e ficaria muito preocupado com isso. Porém, ficaria muito satisfeito ao saber que a escravidão foi abolida e que as pessoas de origem africana se integraram plenamente à sociedade. Ficaria certamente muito contente de ver essas pessoas aqui hoje, não mais vivendo como escravos, mas dançando sua capoeira para nós e se orgulhando dessa tradição.

- O senhor esperava uma recepção tão calorosa e numerosa aqui?

Confesso que não. Estou emocionado com as boas-vindas, com o interesse das pessoas por Darwin e com o orgulho que elas sentem pelo fato de ele ter estado aqui. É muito bom ver os professores ensinando seus alunos sobre a evolução e sobre o mundo natural. Estou muito impressionado com a visão positiva que as pessoas têm de Darwin aqui.

- Ainda assim, o embate entre criacionismo e evolução continua forte. O senhor acredita que essa discussão se resolverá um dia?

Tomara que sim, mas não tenho esperanças reais de que isso aconteça. Isso mostra o quão difícil ainda é para os seres humanos aceitarem suas raízes animais e sua relação com o mundo natural.
(O Estado de SP, 27/11)

Seguindo os passos de Darwin no Brasil, menos os do racismo, é claro!

JC e-mail 3650, de 27 de Novembro de 2008.

7. Começa expedição que vai refazer os passos de Darwin

Parente do naturalista inaugura placa no Jardim Botânico

Paulo Roberto Araújo escreve para “O Globo”:

Cento e setenta e seis anos depois de o naturalista britânico Charles Darwin se encantar com as belezas naturais do Rio, seu tataraneto, o cientista e escritor Randal Keynes, está trilhando os mesmos caminhos do seu antepassado. Ele faz parte do grupo que participa da expedição “Caminhos de Darwin”, que partiu ontem do Jardim Botânico do Rio com destino ao interior.




Imagem do Wired

Keynes inaugurou, no Jardim Botânico, a primeira das 12 placas comemorativas, mostrando o trajeto de Darwin e exibindo observações do seu diário. A expedição vai percorrer todos os pontos de 12 municípios que o britânico visitou, terminando no domingo, em Niterói. Participam dela cientistas, professores, estudantes e jornalistas. Hoje, haverá uma almoço com quilombolas na Fazenda Campos Novos, em Cabo Frio, que foi visitada por Darwin, um defensor da abolição da escravatura.

[NOTA IMPERTINENTE DESTE BLOGGER: No seu livro menos lido e pesquisado, “The Descent of Man”, Darwin predisse que um dia as raças superiores [os europeus, é claro!] ‘eliminariam’ [manu militari, é claro!] as raças inferiores. Mas, em se tratando de Darwin, e tutti cosa nostra, ninguém fala nada, capice?]

- Eu tinha uma grande expectativa sobre o Rio, mas o que encontrei aqui é ainda muito melhor do que eu esperava. Estou muito animado por estar nesta expedição e muito feliz por encontrar todas as pessoas que dela participarão. Algumas são descendentes das pessoas que Darwin conheceu, disse Keynes.

A expedição é organizada pela Casa da Ciência e pelo Departamento de Recursos Minerais (DRM), com participação das prefeituras.
(O Globo, 27/11)

Como outra Nomenklatura eliminou seus oponentes: sem vestígios!

A Nomenklatura científica, como toda Nomenklatura, é antropofágica par excellence e elimina seus críticos e oponentes destruindo suas carreiras acadêmicas ou cerceando a liberdade acadêmica de se debater livremente idéias e teorias científicas que se contrapõem ao paradigma vigente. Houve outra Nomenklatura no Brasil que eliminou seus oponentes de modo diferente: não deixou vestígios!

Como Taís Morais, sou filho de militar. Só que naqueles anos de chumbo, eu lutei contra os ideais de meu pai.

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Esclarecimento do editor

No ano de 2003, fui procurado pelo jornalista Josemar Gimenez, diretor do jornal Correio Braziliense, que me apresentou a dois repórteres. Um deles, Eumano Silva, que trabalhava naquele jornal, e outra, Taís Morais, que então terminava seu curso de jornalismo e era assessora do Ministério de Minas e Energia. Eles pretendiam escrever um livro sobre a guerrilha do Araguaia.

Eumano fora convidado por Taís Morais, filha de um militar, para trabalhar com ela, em razão de o repórter ter ido à região e feito uma série de reportagens sobre os mateiros que na época da guerrilha tinham ajudado o Exército na caçada aos guerrilheiros do Partido Comunista do Brasil, PcdoB.

Taís possuía cerca de 1.000 folhas de documentos, cópias fiéis dos documentos oficiais da guerrilha. Esses documentos serviram de base para o livro Operação Araguaia – os arquivos secretos da guerrilha, que a Geração publicou em 2005, tornou-se um dos mais vendidos na época e ganhou o prestigiado Prêmio Jabuti para livros de reportagem.

A obra reúne parte do trabalho de Eumano, uma pesquisa impressionante conduzida por Taís e, sim, os documentos, cuja íntegra, com mais de mil páginas, está hoje, para quem quiser ver, no web site de nossa editora.

Os militares continuam afirmando que estes documentos nunca existiram ou foram destruídos. Agora eles vão ter que negar o conteúdo espantoso deste livro, mais uma vez escrito por Taís Morais. Foi, sem dúvida, porque ela escreveu “Operação Araguaia” e nossa editora o publicou que, um dia, como naqueles romances de séculos passados, uma pasta volumosa chegou a nós pelo correio, endereçada por uma mulher que pedia segredo para seu nome.

Ela telefonou dias depois, para confirmar o recebimento, e pediu para marcar um encontro, o que foi feito. Tivemos um único encontro fugaz e tenso, no qual ela falou com justificada preocupação sobre os papéis, dos quais parecia mesmo querer se livrar — diante de condições, a principal delas sendo, claro, o total sigilo a respeito de sua autoria. Ela tinha razões para o medo.

A pasta continha um conjunto de papéis manuscritos em forma de diário e alguns capítulos do que pretendia ser um livro. Havia também algumas poucas fitas e recortes de jornais. O material parecia ter sido escrito até o início dos anos 90, em razão de um manuscrito que contém essa data e aparecia como a página inicial de toda a documentação.

O material era impressionante, pela qualidade terrível das revelações. Um ex-agente secreto, que parecia ter morrido recentemente, deixara aquilo para a ex-mulher, com a recomendação de mandar publicar. Mas não era um livro. Precisava de pesquisa para preencher lacunas, precisava de confirmações. Precisava ser checado, informações graves precisavam ser confirmadas, o texto pedia, mais que revisão, tratamento de reportagem. Os documentos eram um ponto de partida.

Chamei Taís Morais para cuidar do assunto, e o resultado é este “Sem vestígios”. Um relato impressionante do que foi a guerra suja entre as forças de repressão e os grupos de esquerda, do final dos anos 60 a meados dos anos 70 em nosso país, mais alguma coisa sobre a ação dos agentes militares até meados dos anos 80, quando a ditadura militar entregou o poder para os civis. Sem que estes agentes parassem de bisbilhotar a vida dos cidadãos até hoje, como se poderá saber.

O trabalho de Taís foi doloroso. Boa parte de suas fontes — as mesmas que lhe possibilitaram escrever Operação Araguaia — surpreenderam-se com o conteúdo do novo livro e no início recusaram-se a colaborar. Tocar em feridas do passado não é coisa que convinha à maior parte deles. No entanto, era preciso confirmar não só a veracidade das revelações como do próprio autor delas.

Todas as informações foram, de uma forma ou outra, confirmadas por outros ex-agentes que conviveram com o autor destas memórias e que também, por razões óbvias, pediram para continuar no anonimato. Hoje elas levam sua vida de aposentados, com outras identidades, e preferem, claro, continuar assim. Um deles, envolvido com o jogo do bicho no Rio, não foi ouvido. Outro, o coronel Lício Augusto Maciel, que participou ativamente da guerrilha no Araguaia, forneceu informações exclusivas, que estão em Anexo, no final deste livro.

Pelo menos duas das fontes de Taís levaram à certeza de que o ex-agente morto tivera papel muito importante nas ações narradas. Uma das fontes nos leva a crer que o autor destas memórias morreu misteriosamente, no Rio de Janeiro, com uma machadada na cabeça, dentro de seu barco. Estava aposentado havia vários anos e andava próximo de um grupo traficante de drogas — não sabemos se como interessado ou como infiltrado. Sua morte, estranhamente, jamais foi investigada.

Esse atormentado agente recomendou que seu relato fosse aberto com a chocante história da morte e esquartejamento do comunista David Capistrano. Eu e Taís decidimos manter o relato em sua forma cronológica. O resumo que o agente deixou escrito, por si só — o resumo que abre o depoimento reconstituído por Taís — já é de um impacto avassalador. Melhor que a história flua ao correr dos dias, como a própria vida.

O Editor

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Entrevista com Taís Morais

Depois de ficar tanto tempo na pesquisa sobre a Guerrilha Araguaia, você esperava ter em mãos um material tão carregado quando o diário do agente Carioca?

Não. Eu sempre esperei terminar as investigações sobre o Araguaia. Queria que as Forças Armadas assumissem a responsabilidade e que as ossadas retiradas do cemitério de Xambioá fossem identificadas. A pesquisa, por eu ser filha de militar, causa muito sofrimento para mim e minha família.

O que mais te surpreendeu, chocou, durante a leitura dos textos reveladores deste militar oprimido?

Acho que a força dele para contar os fatos, em momentos tão delicados emocionalmente. Nota-se que ele sabia que morreria, ou se mataria. No entanto, teve lucidez para relatar o que o Brasil sempre quis saber.

Teve medo de dar continuidade ao trabalho, verificar as informações que ele expôs? Quais os tipos de repressão que recebeu?

Tive receio. Não por mim, mas sim pela minha família. Tenho filhos, pai, mãe, irmãos. Sei que há pessoas que ainda gostam de assustar quem declara a verdade sobre os fatos. Não só da ditadura, mas qualquer fato que envolva, principalmente o poder, como foi o caso de um amigo jornalista ameaçado de morte há pouco tempo, por revelar o caso sanguessugas.

Mas sabe? Eu quero que a história seja esclarecida, doa a quem doer. De esquerda, de direita, ou de qualquer lado. Chega de hipocrisia. Chega de gente querendo se valer das mortes para se manterem ligadas ao poder...

Você sentiu-se na obrigação de saber como realmente era a vida dos militares? Há uma estimativa de quantos foram mortos por terem recusado exercer alguma ordem dos superiores, governo?

Sim. Saber, conhecer, e principalmente, entender. No entanto há um pacto de silêncio. Eles não contam. Se houve mais mortes além de Carioca, não me disseram. Mas tenho certeza que ninguém se recusou a cumprir ordens. Aquilo era uma lavagem cerebral...

Se fosse para resumir, como descreveria o agente Carioca?

Não sei... Pelo que percebi, um sedutor... Frio e calculista. Mas um homem amoroso com a família e companheiro dos amigos. No entanto, um bitolado com o trabalho. Alguém que não media esforços para realizar uma missão.

Como enxerga o Brasil na esfera política?

Está crescendo. No entanto, o nosso povo ainda está longe de se tornar uma nação. Parafraseio Nelson Rodrigues que dizia que o Brasil não tem nação, tem paisagem. Vejo, com desgosto, a falta de indignação com os atos do governo. Vejo com tristeza a corrupção e a falta de vontade política para tornar o Brasil um grande País.

Para você o tempo da “censura” já foi? Ou acredita que ainda há outras formas de repressão nesta sociedade democrática?

De certa forma já se foi. Acabou para a mídia que não é censurada pela imoralidade mostrada em seus programas. No entanto, os próprios meios de comunicação censuram artigos que falam a verdade. Hoje a censura é outra. Ela segue mais para o “calar a boca” de quem se rebela contra a falta de ética e outros crimes.

Na sua opinião, o que de mais grave esconde o período da ditadura militar?

O silêncio. A falta de responsabilidade com os atos cometidos. Nunca entendi a razão pela qual os militares mentem e escondem o que todo mundo sabe. Mataram. Executaram covardemente pessoas que queriam a liberdade do país. Ora, então porque não assumem logo o que fizeram? A União já “pagou” mesmo as indenizações para as famílias dos desaparecidos e dos mortos, e também para os que foram presos (um absurdo, diga-se de passagem).

Quero que os fatos da ditadura sejam esclarecidos. De verdade. Mas temo que os fatos graves que estão ocorrendo no país debaixo dos nossos olhos estejam sendo esquecidos.

Berlinck e Varela (UFSCar) são contra o livre debate de idéias na universidade

quarta-feira, novembro 26, 2008

A Universidade é o local mais adequado para o debate de idéias, mas Berlinck e Varela (UFSCar) são contra o que temos de mais precioso na Academia: a liberdade de expressão e de discussão de pontos de vistas contrários aos paradigmas vigentes.

O artigo de Berlinck e Varela no JC E-Mail pedindo o banimento global da discussão da plausibilidade científica da teoria do Design Inteligente é prova mais do que evidente que a Nomenklatura científica está desesperada e não sabe mais o que fazer, a não ser demonizar e desqualificar seus críticos e oponentes, e chamar a TDI de pseudociência ou equipará-la ao criacionismo.

Berlinck e Varela, a Universidade do discurso único coube muito bem na antiga URSS!

No dia 14 de fevereiro de 2009 nós iremos celebrar um dia muito diferente do que será celebrado pela Nomenklatura científica: o "Dia da Liberdade Acadêmica". Nós nos lembraremos da "Proposição Berlinck-Varela" como uma tentativa de amordaçar a discussão das insuficiências epistêmicas fundamentais das atuais teorias da origem e evolução do universo e da vida, e de novas teorias científicas.

Por que Berlinck e Varela têm medo da discussão sobre a teoria do Design Inteligente nas universidades???

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JC e-mail 3649, de 26 de Novembro de 2008

14. “Design Inteligente”: o retorno, artigo de Roberto G. S. Berlinck e Hamilton Varela

“Invocar um ‘design inteligente’ para explicar o ‘aparentemente inexplicável’ é uma tarefa cômoda, que não requer muita elaboração, tampouco esforço intelectual”

Roberto G. S. Berlinck e Hamilton Varela são professores do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo. Artigo enviado pelos autores ao “JC e-mail”:

Recentemente várias palestras foram apresentadas em diversos eventos realizados em universidades públicas e particulares, tendo sua temática direcionada para a discussão sobre o “o inexplicável”: a complexidade da vida, dos componentes bioquímicos e celulares e até mesmo do universo. Consoante o “argumento” dos palestrantes, a única possível razão para esta complexidade seria o tal do “design inteligente”, termo cunhado para atribuir feições científicas ao criacionismo, mito bíblico da criação.

As palestras, ministradas na Universidade Federal de Uberlândia, na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, campus de Presidente Prudente, na Universidade Federal de Minas Gerais, na Universidade Presbiteriana Mackenzie e na Universidade de São Paulo revelam o enorme equívoco em conceder espaço ao “renascimento” do criacionismo revestido de pseudociência e batizado de “design inteligente”.

Termo criado por William Paley em 1801, e redefinido por Michel Behe em seu best seller intitulado “A Caixa Preta de Darwin”, o design inteligente propõe uma forma falaciosa para explicar o que chama de “complexidade irredutível”. O “design inteligente” jamais foi aceito pela comunidade científica por se basear em pressupostos e argumentos não científicos. Os argumentos que, supostamente, dão guarida ao “design inteligente” têm sido amplamente discutidos e refutados por Richard Dawkins e muitos outros cientistas sérios.

Reza a idéia da “complexidade irredutível”: “um sistema irredutivelmente complexo possui diversos componentes, todos necessários para tal sistema permanecer completamente operacional”. Como a remoção de quaisquer de seus componentes tornaria o sistema não-operacional, argumenta-se que tal sistema não poderia surgir a partir de um processo evolutivo gradual. Logo, tal sistema deveria, necessariamente, surgir na íntegra, com todos seus componentes, de uma só vez, refutando, portanto, a evolução baseada em seleção natural, através de processos de variação, mudança e adaptação.

Para surgir na íntegra, de uma só vez, seria necessária a intervenção de uma entidade não humana, um designer inteligente! De acordo com os devotos, a existência do designer serviria de curinga a ser utilizado na explicação de questões científicas aparentemente sem respostas. Do ponto de vista lógico e metodológico, qualquer argumentação que tenha como premissa a existência de algo não passível de prova não pode ser considerada uma teoria, uma vez que não pode ser refutada. Assim, o conceito do “design inteligente” não se sustenta nas suas próprias estruturas, ou pela falta delas.

Um dos argumentos corriqueiramente utilizados para sustentar o conceito de “complexidade irredutível” diz respeito à segunda lei da termodinâmica e ao processo de auto-organização.

Henry Morris, criacionista convicto, afirma que “evolucionistas forjaram a estranha crença de que tudo se insere em um processo de progresso, de partículas caóticas que deram origem aos seres humanos. (...) processos reais da natureza jamais sobem montanhas por si só, mas tendem a descê-las. Logo, a evolução é impossível” (1974, The Troubled Waters of Evolution, San Diego, Creation Life, p. 111). Indubitavelmente, a contradição entre as tendências à evolução e ao caos é apenas aparente.

Por exemplo, células são unidades complexas e constituídas de inúmeros componentes e sub-componentes que interagem entre si e com o ambiente. Tais sistemas são delimitados do meio por membranas de permeabilidade seletiva e a auto-organização ocorre devido à exportação de entropia, através de trocas de energia e matéria com as vizinhanças. Para que tais processos ocorram é necessária a presença de mecanismos de interação molecular, denominados mecanismos de acoplamento local, além de fluxos de energia e matéria, os quais fornecem meios para que os processos bioquímicos transcorram.

A simulação in vitro de propriedades emergentes de sistemas bioquímicos foi comprovada inúmeras vezes, tornando possível a observação experimental do surgimento e formação de sistemas extremamente complexos, auto-organizados e autopoiéticos (Pier Luisi Luigi, The Emergence of Life, Cambridge University Press, 2006).

Os defensores do ‘design inteligente’ são intransigentes: “sistemas bioquímicos são irredutivelmente complexos, e não podem funcionar se uma de suas partes for removida. Logo, são fruto de um design inteligente”. Tal idéia é defendida por Michael Behe (em ‘A Caixa Preta de Darwin’). Tal questão foi abordada pelo notório bioquímico A. G. Cairns-Smith, uma década antes de Behe (em Seven Clues to the Origins of Life: A Scientific Detective Story, Cambridge University Press, 1986).

Cairns-Smith chegou às seguintes conclusões: “Podemos construir uma máquina planejando-a, fazendo uma lista de seus componentes, comprando seus componentes, e construindo tal máquina. Porém, a evolução não funciona desta maneira. Não existe planejamento. Não existe uma previsão do sistema final. Não se sabe de antemão quais peças serão relevantes. Somente os sistemas complexos têm sentido, não os seus componentes” (op. cit.).

E ainda: “Constitui-se em um estratagema estéril inserir milagres para explicar o desconhecido. (...) Quem poderia imaginar a idade da Terra ou o tamanho de um átomo cerca de 100 anos atrás? (...) É infantil argumentar que, pelo fato de não poder-se explicar um fenômeno natural com o conhecimento disponível, é necessário se invocar o sobrenatural. (...) Com tantos quebra-cabeças científicos do passado agora esclarecidos, é necessário obter-se razões muito claras para não se presumir causas naturais para fenômenos naturais” (op. cit.).

De qualquer maneira, os argumentos de “complexidade irredutível” de sistemas bioquímicos tais como o ciclo de Krebs, ou o ciclo do ácido cítrico, os quais seriam (presumivelmente) inoperantes sem uma de suas partes, são atualmente refutados por inúmeros experimentos com sistemas auto-organizados e que apresentam propriedades emergentes, amplamente discutidas por Luigi (op. cit). Exemplos clássicos de sistemas químicos simples que apresentam comportamento auto-organizado quando suficientemente afastados do estado de equilíbrio termodinâmico incluem a célebre reação de Belousov-Zhabotinsky e vários osciladores heterogêneos.

Além disso, o conceito de “redundância bioquímica”, introduzido por Gerhart e Kirschner (1997, Cells, Embryos and Evolution: Toward a Cellular and Developmental Understanding of Phenotypic Variation and Evolutionary Adaptability, Oxford, Blackwell) possui função essencial na explanação de como sistemas bioquímicos evoluíram. Fundamentalmente, segundo os autores, “a complexidade bioquímica é observada no fenômeno de evolução bioquímica convergente, nos quais sistemas com diferentes histórias evolutivas, tendo se iniciado a partir de diferentes substratos e produtos, apresentam funções bioquímicas similares”.

Ou seja, processos evolutivos naturais deram origem à complexidade redundante observada em sistemas bioquímicos. Tais redundâncias fornecem as estruturas moleculares e bioquímicas que são a base da evolução gradual dos sistemas vivos, os quais eventualmente parecem apresentar uma “complexidade irredutível” quando qualquer de suas partes é retirada.

Tais sistemas bioquímicos exercem funções resultantes da integração de inúmeros componentes. A seleção natural resulta na “retenção” (ou “preservação”) de alguns destes sistemas bioquímicos sujeitos a posteriores modificações e adaptações, enquanto outros são eliminados. Logo, sistemas irredutivelmente complexos simplesmente são “casos especiais” de sistemas complexos redundantes.

Invocar um “design inteligente” para explicar o “aparentemente inexplicável” é uma tarefa cômoda, que não requer muita elaboração, tampouco esforço intelectual. Ao longo de sua história, a ciência construiu a base do conhecimento da humanidade fundamentada em fatos comprovados ou refutáveis. O ”design inteligente” não é nem um fato e nem pode ser refutado. Logo, constitui-se em um argumento falso e enganoso, sem qualquer sombra de base científica. Ao contrário do postulado, não há uma teoria a ser contraposta à evolução darwinista, o criacionismo se fundamenta em dogmas, não constitui em uma teoria.

Mais grave do que defender tais idéias, porém, é ter a oportunidade de apresentá-las como sendo uma “verdade” a leigos e estudantes em fase de formação intelectual, cujo espírito crítico está em desenvolvimento. Tal atitude é extremamente danosa, considerando-se que estas idéias trazem em seu bojo uma ideologia religiosa, de fundo subjetivo e sentimental.

Consideramos que a apresentação do “design inteligente” deve ser sistematicamente refutada por educadores, pela comunidade científica, pelos meios de comunicação, de todas as formas, pois constitui uma ideologia medieval e ultrapassada. A discussão recente sobre a realização de pesquisas com células-tronco mostrou como a visão anuviada de incautos pode ser danosa ao debate científico sério, tão necessário à sociedade.

Dada a urgência do avanço científico experimentada recentemente, questões como esta serão cada vez mais presentes. A educação dos cidadãos brasileiros, com conhecimento sólido e bem fundamentado, deve ser o objetivo de todos aqueles que encaram a ciência como um dos principais patrimônios da civilização, capaz de libertar o homem do obscurantismo de mitos e crenças.

Alfred Russel Wallace: no seu devido lugar histórico como co-construtor da teoria da evolução

Uau, já não era sem tempo! Finalmente a Nomenklatura científica se rende aos fatos históricos e Alfred Russel Wallace ganha espaço e destaque nessas comemorações infantis de louvaminhice, de beija-mão e beija-pé de Darwin, como se ele tivesse tido “a maior idéia que a humanidade já teve”.

Wallace, pena que você não teve coragem de tornar público e “detonar” a ação entre amigos de Hooker, Lyell e Darwin na apresentação do seu trabalho em conjunto com o que Darwin vinha rascunhando. É que você não tinha "QI" [Quem indicasse] junto às sociedades científicas... Eu ainda não li e nem comparei os dois, mas já ouvi falar que o seu trabalho é superior ao de Darwin.

Engraçado, só agora reparei que Huxley não se envolveu neste "imbroglio". Por quê? Isso merece uma pesquisa historiográfica. Nenhum dos três acreditava no poder criativo da seleção natural. Por que foi apresentado na Linnean Society (sociedade científica então obscura???) e não na Royal Society (sociedade científica proeminente)??? Estranha, mas muito estranha mesmo esta "ação entre amigos". Muy amigos...

Wallace, este amazonense aqui ficou muito orgulhoso e feliz de ver isto sobre você veiculado no Agência FAPESP. Eu só vou dar uma mãozinha para esparramar ainda mais a notícia que merece ser comemorada: Alfred Russel Wallace foi quem construiu a teoria da evolução através da seleção natural antes de Darwin.

Se não fosse a sua pesquisa, o guru de Down não teria escrito o “Origem das Espécies”...

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Jornada evolucionária

26/11/2008

Por Michelle Portela, de Manaus

Agência FAPESP – O fotógrafo inglês Fred Langford Edwards está em meio a uma jornada, não somente em busca da realização de uma idéia, mas também para tentar mudar o pouco conhecimento que se tem de Alfred Wallace (1823-1913), em comparação com Charles Darwin (1809-1882), quando se fala da Teoria da Evolução das espécies pela seleção natural.

Exposição e viagem pelos rios Negro e Uapés resgatam a trajetória pela Amazônia de Alfred Wallace, que, independentemente de Darwin, propôs uma teoria para a evolução por meio da seleção natural (foto: divulgação/F.Edwards)

Edwards realiza uma viagem fotográfica que terminará no fim do mês e que tem como objetivo refazer a trajetória de Wallace, registrando a vida ao longo dos rios Negro e Uapés, na região do município de São Gabriel da Cachoeira, a 852 quilômetros de Manaus.

Edwards é também o idealizador da exposição Alfred Wallace – O evolucionista esquecido, que homenageia os 150 anos da Teoria da Evolução, formulada a partir dos trabalhos de Darwin e Wallace. A exposição, inaugurada em julho no País de Gales, ficará no shopping Millenium Center, em Manaus, até dezembro, para depois ser exibida em Brasília e São Paulo, em locais a serem definidos.

A exposição de 50 fotografias veio de Londres com apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), da Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia do Amazonas (SECT) e do Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Ela é resultado da primeira fase de um projeto de três anos para tentar trazer a memória de Wallace à história, desenvolvido com apoio do Museu de História Natural de Londres.

As fotografias foram produzidas a partir de gravuras de peixes e palmeiras, feitas por Wallace, que de 1848 a 1852 percorreu trechos do rio Negro e Uapés. O naturalista coletou espécimes e registrou dados sobre a geografia, flora, fauna, linguagens e pessoas que encontrou pelo caminho.

No retorno da sua expedição para a Inglaterra, o navio no qual viajava se incendiou e passageiros e tripulantes foram obrigados a abandoná-lo. Poucas anotações e gravuras foram salvas. Mesmo com o grande prejuízo, Wallace conseguiu publicar nos anos seguintes seis artigos acadêmicos e dois livros sobre a região que conheceu, Palmeiras da Amazônia e seus usos e Viagens na Amazônia.

“Não por acaso, tenho muita identificação com Wallace, sobre quem me interessei quando li a biografia de Darwin, por volta de 1968. Assim como ele, percorri um longo caminho em busca de financiamento para realizar esse projeto, que é uma releitura do que foi documentado por ele. São trabalhos próximos em épocas distintas”, disse Edwards, que é mestre em teoria da arte, com graduação em química e fotografia.

Edwards destaca que grande parte dos estudos de Wallace sobre a evolução foi embasada na viagem que realizou à Amazônia, quando a região ainda era considerada um "novo mundo”. “Ele acreditou que na Amazônia encontraria a resposta para o problema da evolução das espécies”, disse.

“Em minha viagem, pretendo fotografar, filmar e registrar a vida na região dos rios Negro e Uapés, para tentar compreender suas dificuldades e interesses. Sinto que esse é um projeto muito urgente, maior que a realização de um projeto pessoal, porque posso ajudar no reconhecimento de Wallace”, disse o artista antes do início da viagem.

O reconhecimento também é almejado por pesquisadores. “É uma grande polêmica a questão da Teoria da Evolução. Mas é fato que Wallace merece um maior reconhecimento”, disse Hugo Mesquita, pesquisador do Inpa.

Para Mesquita, Wallace, além de ser autodidata, era socialista e espírita, posições que poderiam ajudar a explicar, quem sabe, uma omissão histórica. “Era um homem que não aceitava as respostas fáceis sobre a origem de vida e que teve uma trajetória impressionante. Se não estamos falando de um herói, sabemos que, pelo menos, foi alguém muito especial”, disse.

Após retornar de sua viagem à Amazônia, Edwards partirá para uma nova fase de sua jornada “wallaciana”. Será a vez da Malásia e Indonésia, percorrendo os caminhos de Wallace, que lá esteve entre 1854 e 1862. Em 1858, Wallace escreveu a Darwin, expondo suas idéias sobre a evolução das espécies, o que levou à divulgação conjunta dos trabalhos.

Em 1º de julho de 1858, as teorias dos dois foram apresentadas na Linnean Society, em Londres, com o título duploOn the Tendency of Species to form Varieties; and on the Perpetuation of Varieties and Species by Natural Means of Selection. No ano seguinte, Darwin publicaria A origem das espécies.

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Dois sites (em inglês) sobre Alfred Russel Wallace que não seguem de perto a historiografia "mainstream" sobre Darwin e Russel:

http://wallacefund.info/ e http://www.wku.edu/~smithch/index1.htm

Janet Browne “mordeu e assoprou” em Darwin na Nature

segunda-feira, novembro 24, 2008

O especial da capa “Darwin 200” da revista Nature, trouxe alguns artigos disponibilizados gratuitamente para os leitores. Por que esta súbita generosidade da revista Nature? Um ditado popular brasileiro reza assim: “Quando a esmola é grande, até cego desconfia”. Gente, é preciso alardear as comemorações de louvaminhice, beija-mão e beija-pé a Darwin em escala mundial.

Eu não vou fazer o papel de advogado do Diabo dos criacionistas. Eles são bem crescidos e têm gente muito mais competente do que eu para defendê-los. Destaco, porém a nuance anticriacionista do editorial da Nature, “Beyond the Origin”. Logo na abertura do editorial foi usada uma frase de Theodosius Dobzhansky, um deísta evolucionista famoso que sempre serve de látego nas mãos da Nomenklatura científica contra os costados dos renitentes criacionistas incrédulos do fato, Fato, FATO da evolução.

Em seguida, o editorial da Nature teceu loas sobre a teoria da evolução de Darwin sendo a maior de todas as idéias que a humanidade já teve [vejo aqui o dedo e as garatujas do menino Dennett usando as teclas Ctrl + Alt + loas], mas deu uma derrapada no final: a biologia sintética vai permitir a origem da vida por design inteligente. Gente, eu quase caí pra trás, mas logo em seguida, levei uma ducha fria: a combalida e defunta “lei [SIC ULTRA PLUS 1] da seleção natural de Darwin” continuará a reinar na biologia:

“Por ocasião em que os 200 anos do livro Origem das Espécies forem celebrados, a vida estudada pela ciência pode muito bem não ser mais unida pela ancestralidade comum do modo como é hoje toda a vida. Nesse sentido, a visão de Darwin do mundo terá sido suplantada. Mas se aquela vida existir ao redor de outra estrela ou num biorreator, ela ainda assim evoluirá, se for dada permissão, de acordo com os algoritmos simples e formidáveis da seleção natural [SIC ULTRA PLUS 2: como ler isso à luz da nova teoria geral da evolução, a Síntese Evolutiva Ampliada, que não será selecionista?].

O ensaio de Dobzhansky citado antes traz agora o título famoso “Nada em biologia faz sentido a não ser à luz da evolução” [SIC ULTRA PLUS 3: Contrariando a Dobzhansky, nada em biologia faz sentido a não ser à luz das evidências!!!]. Isso é tão próximo de ser uma verdade analítica — uma implicação necessária do que a vida é em si mesma — que nós podemos ter certeza de que continuará a ser verdade no futuro. Mas essa certeza de modo algum limita a diversidade e simples admiração do que nós encontraremos na viagem que Darwin começou [SIC ULTRA PLUS 4: Verdade analítica da “lei da seleção natural”? Desde quando esse princípio evolutivo foi promovido ao status de “lei” científica??].”[1]

Agora vem a melhor e mais interessante parte, mas esta a Nature, para não estragar a festa “Darwin 200” não disponibilizou gratuitamente para galera do andar de baixo. Você só pode acessá-la se for assinante, ou professor, pesquisador e aluno em universidades públicas e privadas através do site da CAPES.

Gente, o artigo de Janet Browne, historiadora da ciência na Universidade Harvard, especialista em Darwin, jogou um balde de água fria no editorial “louvaminhice, beija-mão, beija-pé de Darwin” da Nature. Para poder passar pelo garrote [literal e figurativo – vide Aurélio ou Houaiss] dos revisores por pares [peer-reviewers é mais chique], Browne chamou a teoria de Darwin de uma “magnificente realização” oferecendo um “poder explanatório extraordinário por 150 anos.”

Agora eu posso entender por que o artigo de Browne não foi disponibilizado gratuitamente para a choldra ignara que nada entende de ciência: ela “mordeu e soprou” em Darwin, ao lavar um monte de roupa suja da história política do darwinismo há muito conhecida pela Nomenklatura científica e a historiografia da ciência “mainstream”. [2] Eu sou um historiador da ciência em formação à margem deste grupo porque dizem que eu não sou “objetivo” em relação a Darwin e sua teoria. E eles são “objetivos” em relação à verdade?

Na minha caminhada eu sei pessoalmente o quão difícil é escrever e publicar dissertações, teses, artigos, pôsteres e dar palestras sobre as insuficiências fundamentais da teoria geral da evolução de Darwin no contexto de justificação teórica, e sobre este comportamento político sórdido e abjeto dos darwinistas desde 1859.

Eu estava elaborando um artigo sobre as celebrações de louvaminhice, beija-mão e beija-pé a Darwin que foram realizadas ao longo do tempo. Era sobre o que foi discutido na ocasião (geralmente a incapacidade da seleção natural como mecanismo evolutivo), mas Browne me tirou este privilégio.

Historiadora da ciência de renome, e professora na Universidade Harvard, Browne lida com fontes primárias, e sabe que nada pode contra a verdade, a não ser a favor da verdade dos fatos históricos. E é aqui que Browne “morde e assopra” em Darwin. No seu artigo, ela salientou que “vale a pena lembrar que os aniversários científicos também fornecem uma possibilidade de levar adiante uma agenda, e até adaptar o passado, assim nos dizendo o que nós gostamos melhor de ouvir”.

Como eu estava pesquisando, Browne revisitou essas celebrações a Darwin em 1882 (eu não iria abordar o que ocorreu no ano da morte de Darwin), 1909 e 1959. Ela “viu” o que aconteceu nessas ocasiões, e descobriu um fenômeno interessante: a louvaminhice, o beija-mão e o beija-pé a Darwin tenderam ser tentativas motivadas por agendas políticas interessadas em “escorar” uma teoria em crise (até aqui Browne) que não é corroborada pelas evidências encontradas na natureza (minha visão):

1. O funeral de Darwin em 1882: Pouca gente sabe, mas quando Darwin morreu, seus defensores usaram de forma surrealista o “seu funeral como propaganda”. Razão? Thomas Huxley e outros, preocupados na ocasião com a hostilidade das idéias de Darwin contra a religião, numa sacada magistral se empenharam para enterrá-lo na Abadia de Westminster, contrariando o desejo de Darwin de ser enterrado em sua casa em Down. Por que o “buldogue de Darwin” fez isso?

“O funeral e muitos obituários enfatizaram que Darwin não era ateu. Antes, ele foi descrito como um homem bom, comprometido com a verdade e a honestidade. Isso era verdade, mas era também propaganda valiosa numa época quando as relações entre a ciência e a religião eram intensivamente tensas. Os homens da Royal Society usaram o funeral de Darwin como uma maneira de tranqüilizar seus contemporâneos de que a ciência não era uma ameaça aos valores morais, mas antes estava se tornando cada vez mais importante no mundo moderno.

2. O Cinqüentenário do livro Origem das Espécies em 1909: Pouca gente sabe, até historiadores da ciência, mas o cinqüentenário do Origem das Espécies pegou a teoria geral da evolução de Darwin em declínio. Em História da Ciência este período é nomeado como “Eclipse de Darwin”. Novos pontos de vista em genética, fósseis e ortogênese estavam minando os pontos de vista de Darwin sobre mudança gradual, implicando em vez disso uma linha de objetivo direcionado de descendência e, pasmem os mais ortodoxos e seus pruridos epistêmicos, até de teleologia. “As comemorações de 1909, organizadas por um pequeno grupo de naturalistas e membros da família da Universidade de Cambridge, proporcionaram uma maneira de reafirmar a primazia da seleção natural contra outras teorias evolutivas rivais.”

3. O Centenário de Darwin em 1959: Esta festa do arromba de louvaminhice realizada na Universidade de Chicago, segundo Browne, foi outra tentativa de encobrir as insuficiências da teoria da evolução de Darwin.

“Este aniversário de Darwin foi celebrado na Universidade de Chicago em Illinois, num simpósio que celebrou abertamente a integração da genética e a estatística das populações com a teoria da seleção. Dez anos antes, esta integração tinha quase assumido a forma de um tratado político. Dizendo isso sem rodeios, os naturalistas de campo estavam ansiosos em restabelecerem seus valores num mundo cada vez mais baseado no laboratório. Naturalistas proeminentes como Ernst Mayr lograram no seu intento de fazer com que os geneticistas e estatísticos concordassem que a evolução poderia ocorrer em três níveis: nas moléculas; no fluir dos genes através das populações; e no mundo ambiental dos organismos passando por competição e seleção natural. Em 1942, Julian Huxley inventou a frase ‘síntese moderna’ para combinar a genética com a seleção natural, e a principal obra de Mayr dentro desta síntese, Systematics and the Origin of Species from the Viewpoint of a Zoologist (Columbia Univ. Press), foi publicada.”

Browne destacou no seu artigo que, além disso, os darwinistas “na verdade, criaram o darwinismo moderno ao rejeitarem enfaticamente qualquer forma de lamarckismo” no contexto da guerra fria:

“Em 1959, a Rússia socialista tinha então recentemente se afastado do lamarckismo em genética, e a idéia que era fortemente associada nas mentes americanas com a luta da guerra fria. Os representantes também rejeitaram a idéia de que o registro fóssil mostre sinais de evolução dirigida, e expandiram o pensamento darwiniano para cobrir a evolução da mente e do comportamento. Durante a conferência, Julian Huxley, bisneto de Thomas Henry Huxley, pronunciou um sermão secular no estilo de seu bisavô, e declarou provocadamente que a crença religiosa era meramente uma característica biológica da humanidade evoluída.

Isso foi quase que ao mesmo tempo, ao contrário das impressões de muitas pessoas, que a estória do Tentilhão de Darwin se tornou um suporte para a teoria evolutiva. Mayr e Huxley encorajaram David Lack a passar um tempo nas ilhas Galápagos observando os tentilhões. Foi somente após isso... que os tentilhões desenhados por Darwin se tornaram conhecidos coletivamente como os tentilhões de Darwin, e foram mostrados como a primeira e mais extraordinária evidência da evolução em organismos reais num ambiente natural.”

O que se percebe no artigo de Browne, e pasmem, passou pelos revisores da Nature [os guarda-cancelas, oops, peer-reviewers é mais chique], é que estas celebrações de louvaminhice, beija-mão, beija-pé de Darwin [e aqui eu acho que David Berlinski tem razão: é só da boca pra fora e só pra inglês ver...], em vez de serem ocasiões espontâneas de reconhecimento de um herói da ciência reconhecido internacionalmente, o que se vê são articulações políticas de defensores com uma agenda já pronta na manga.

Gente, catatau, será que isso se repetirá em fevereiro de 2009? Quem viver, verá!

Deixemos que Browne continue “mordendo e assoprando” em Darwin:

“Mas os biólogos certamente irão usar também a ocasião, mais uma vez, para afirmar a verdade e a elegância do darwinismo diante da crítica, desta vez da parte daqueles que preferem uma visão criacionista do mundo. A evolução através da seleção natural subitamente [SIC ULTRA PLUS 5, Browne, aqui você renomada historiadora da ciência, pisou na bola, e pisou feio: Huxley, Hooker, Lyell, Mivart, não acreditavam no poder criativo da seleção natural] se tornou uma idéia altamente contenciosa, especialmente nos Estados Unidos.

Os proponentes criacionistas abundam no sistema das juntas de educação dos Estados Unidos [SIC ULTRA PLUS 6: ou Browne está mal informada, e eu duvido, ou está mal intencionada com uma agenda [no que eu acredito], mas os darwinistas ortodoxos fundamentalistas xiitas também “abundam” nessas juntas de educação], as pesquisas de opinião pública salientam a crença do público numa origem divina para a humanidade, e as idéias sobre o design inteligente [Oia nois na fita outra veiz!!!] são amplamente circuladas.

Contra isso, Darwin se tornou a personalidade central a favor da ciência racional e secular, e o darwinismo o principal alvo do movimento fundamentalista que se esparrama pelo mundo inteiro. Os ataques se estendem além dos argumentos da Bíblia. Criticar o darwinismo é uma maneira poderosa de expressar ansiedades sobre o poder crescente da ciência moderna e o percebido declínio dos valores morais da sociedade. Tentar achar furos no argumento de Darwin é expressar desgosto não somente pela teoria evolucionária, mas também desgosto pela própria ciência."

[SIC ULTRA PLUS 6: Eu acho que Browne assistiu ao professor Amabis – USP afirmar isso em 2006. Ouso discordar da eminente historiadora, assim como discordei publicamente de Amabis naquela conferência: achar furos na teoria da evolução de Darwin não é desgosto por ela, e muito menos pela ciência. Como historiadora da ciência Browne deveria saber que isso é salutar em ciência: o avanço somente se dá mediante as críticas. Os oponentes gostam da ciência qua ciência. O que nós não gostamos é dessa agenda política que posa como se fosse ciência.]

“Há alguma ironia nesta situação. Olhando-se retrospectivamente para o funeral de Darwin em 1882, as qualidades cristãs de Darwin [SIC ULTRA PLUS 7: Darwin morreu agnóstico, e esta posição, apesar de elegante, é uma rejeição de Deus consciente e voluntariosa], sua estatura como homem da verdade e honestidade, foram trazidas em primeiro plano.

Ele foi celebrado como um homem cujas dúvidas religiosas foram parte integrais de sua sabedoria e insight; poucos críticos fizeram ataques pessoais de suas virtudes sociais [SIC ULTRA PLUS 8: Browne, menina, menos. Assim, você termina dizendo, Louvado seja Darwin!!!].

Agora, o seu heroísmo na ciência moderna é visto por muitos como uma ofensa aos valores religiosos. Isso mostra quão diversamente Darwin e sua teoria [SIC ULTRA PLUS 9: Browne, de Wallace também!!!] têm sido percebidos e usados ao longo dos anos.”

Browne, eminente historiadora da ciência na Universidade Harvard, concluiu “mordendo e assoprando”:

“Darwin sem dúvida que ficaria maravilhado quão diferentemente nós escolhemos celebrar seus aniversários.”

No dia 12 de fevereiro de 2009, em vez da louvaminhice nauseabunda, dos beija-mão e beija-pé a Darwin, eu vou celebrar o “Dia da Liberdade Acadêmica”.

Darwin locuta, evolutio finita? Pero no mucho, hay mucha controvérsia...

NOTAS:

1. Nature 456, Issue no. 7220, p. 281, 20/11/2008. “By the time the 200th birthday of On the Origin of Species is celebrated, the life under study by science may well no longer be united by common ancestry in the way that all life is today. In that sense,Darwin’s view of the world will have been superseded. But whether that life exists around another star or in a bioreactor, it will still evolve, if given leave to, according to the simple and awe-inspiring algorithms of natural selection.

The essay of Dobzhansky’s quoted earlier bears the now-famous title “Nothing in biology makes sense except in the light of evolution”. That is so close to being an analytical truth – a necessary implication of what life itself is – that we can be certain it will continue to be true into the future. But that certainty in no way limits the diversity and sheer wonder of what we will find on the voyage that Darwin began.”

2. “Birthdays to remember,” Nature 456, 324-325 (20 November 2008) | doi:10.1038/456324a. O acesso ao artigo requer assinatura ou pagamento.

Os Chumbawamba cantam loas a Charlie

Tirando o chapéu para PZ Myers, o blogger científico [???] # 1 do mundo.



All of nature in its place
By hand of the designer
Comes our Charlie spins the world
From here to Asia Minor
In between the Platypus
And perfect Aphrodite
Charlie come with opposing thumb
To question the Almighty
Over the river and over the sea
Through holy storm and thunder
Steer a course for a brave new world
Of common sense and wonder

See the dancing President
The congressman and teacher
Jumpin’ to the music of
The wealthy Midwest preacher
Charlie come with a brand new dance
Get on the floor and follow
Find yourself a partner and
We’ll swing into tomorrow

Over the river and over the sea
Through holy storm and thunder
Steer a course for a brave new world
Of common sense and wonder

Armed with truth we’re stepping out
Come join the worldwide party
Charge your glass and face the world
We’ll drink a toast to Charlie

Over the river and over the sea
Through holy storm and thunder
Steer a course for a brave new world
Of common sense and wonder.

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A singalong for Charles darwin based on a traditional tune.

O machado epistêmico já foi posto à raiz da Árvore da Vida imaginária de Darwin

domingo, novembro 23, 2008

Questionando a Árvore da Vida: Série de Workshops Internacionais

Paul Nelson

Uma causa (de muitas) atrasando a finalização da minha monografia On Common Descent, examinando a teoria da ancestralidade comum da vida na Terra — a Árvore da Vida de Darwin, monofilética, baseada no LUCA (Last Universal Common Ancestor – Último Ancestral Comum Universal) — tem sido a explosão de publicação sobre o tópico. Em 1998, quando eu entreguei a minha tese de doutorado, apenas poucos pesquisadores duvidavam abertamente da monofilia, e somente os geralmente conhecidos como filósofos da ciência doidos como eu, é que sem importavam com isso.

Agora uma série de workshops internacionais sobre a questão foi organizado, e que vai terminar com uma reunião importante em Londres em julho de 2010. O primeiro workshop da série ocorreu em 7 de novembro de 2008, na Conferência Bienal da Philosophy of Science Association em Pittsburgh. Massimo Pigliucci fornece um resumo proveitoso do muito que foi discutido.

Para as pessoas que gostam de pensar sobre tudo isso, eis uma experiência mental para ser tentada. Imagine dois ou mais lugares na Terra primitiva onde a vida estava começando a ser, contemporaneamente [i.e., ao mesmo tempo]. Suponha, além disso, que aqueles lugares estão distantes uns dos outros: digamos, nos hemisférios norte e sul. A distância física entre as localidades garante que não haja interações causais diretas entre eles.

Bem — as biomoléculas que estão sendo formadas naqueles ambientes independentes serão “iguais” ou “diferentes”? O que a sua resposta faz, seja qual for, para o entendimento pós-darwiniano de “homologia” significando “descendente de um ancestral comum?”

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COMENTÁRIO IMPERTINENTE DO BLOGGER:

Fui, nem sei por que, pensando que a Árvore da Vida está mais para um "gramado" e que nesta área os cientistas estão mais perdidos do que cego em tiroteio.

Alguém tem na manga uma nova teoria para "a descendência com modificação" e livrar assim a cara de Darwin?

Alguém se habilita?

Alô Dr. Júlio César Pieczarka, UFPA, você sabe qual é a saída???

George Palade e a moderna biologia celular

sábado, novembro 22, 2008

JC e-mail 3646, de 21 de Novembro de 2008.

21. George Palade e a moderna biologia celular, artigo de Wanderley de Souza

Guardo de Palade, com quem me encontrei várias vezes em congressos científicos e em visita a seu laboratório na Yale University, a imagem de um pesquisador entusiasmado e conferencista brilhante”

Wanderley de Souza é professor titular de Biologia Celular da UFRJ, membro das academias Brasileira de Ciências e Nacional de Medicina e diretor de Programas do Inmetro. Artigo publicado no “Monitor Mercantil”:

No século XX, até o início da década de cinqüenta, os estudos sobre a célula, unidade básica de todos os seres vivos, eram de natureza morfológica. Utilizavam-se o microscópio óptico tradicional e corantes pouco específicos, mas que permitiam a distinção entre o núcleo e o citoplasma. Vivia-se então o período do surgimento da Citologia, disciplina que surgia ligada à Histologia, esta amplamente difundida e componente básico dos cursos de Medicina.

Foi principalmente a partir dos laboratórios do Instituto Rockefeller, em New York, que iniciaram-se estudos com dois objetivos principais. Primeiro, proceder a uma análise mais detalhada da organização celular, lançando mão da microscopia eletrônica, que dava os seus primeiros passos. Segundo, aplicar ao estudo da célula, métodos bioquímicos já existentes.

Dois pesquisadores desempenharam papel importante nesta fase inicial: Albert Claude e Keith Porter. Foi neste ambiente que ingressou, em 1946, o médico George Emil Palade, então estagiando na New York University.

Palade nasceu em 19 de novembro de 1912 em Jassi, antiga capital da Moldavia, na Romênia. Graduou-se em Medicina em 1930 em Bucareste, defendendo uma tese em que descreveu a estrutura do nefro de cetáceos. Durante a segunda guerra serviu nas forças armadas. Somente em 1946 emigrou para os Estados Unidos e foi estagiar na New York University.

Após ingressar no Instituto Rockefeller trabalhou intensamente no sentido de associar a bioquímica à microscopia eletrônica, o que foi fundamental para o surgimento de uma nova disciplina, a Biologia Celular, a qual deu contribuições fundamentais. Vejamos apenas algumas dessas contribuições, as que considero mais relevantes. No seu conjunto levaram à obtenção do Prêmio Nobel de Medicina em 1974, dividindo-o com os seus colegas de departamento: Albert Claude e Christian de Duve.

No seu primeiro trabalho, publicado no Journal of Experimental Medicine em 1951, associou a morfologia à bioquímica para caracterizar o que hoje conhecemos como lisossomos, que foi posteriormente aprofundado por de Duve. O segundo trabalho, publicado em 1952, descreve o uso do tetróxido de ósmio como agente fixador, substância utilizada ainda hoje e com intensidade crescente.

A partir de 1954, publica com Keith Porter ou sozinho, trabalhos importantíssimos, descrevia várias estruturas novas: o retículo endoplasmático, os ribossomos, os grânulos de secreção, as vesículas pinocíticas e o complexo de junções. Cada um destes tópicos é hoje objeto de um ou mais capítulos dos modernos livros de Biologia Celular utilizados rotineiramente pelos alunos de graduação dos cursos na área da saúde.

As informações obtidas por Palade e seus colaboradores também são encontradas nos livros de Biologia usados por milhões de alunos do ensino médio em todo o mundo. Palade foi um dos introdutores da técnica de fracionamento celular e o primeiro a utilizar o gradiente de sacarose para obtenção de frações sub-celulares como a nuclear e a microsomal.

Após permanecer por 27 anos no Instituto Rockefeller, posteriormente transformado em Universidade Rockefeller, Palade aceitou o desafio de criar o Departamento de Biologia Celular da Faculdade de Medicina da Yale University, uma das mais importantes escolas médicas do Estados Unidos da América do Norte.

Por lá permaneceu até 1990, quando então foi desenvolver atividade semelhante na Universidade da Califórnia, em San Diego. Após uma vida de intensa atividade, com publicações científicas importantes até 1996, Palade faleceu em 7 de outubro último, aos noventa e cinco anos.

Guardo de Palade, com quem me encontrei várias vezes em congressos científicos e em visita a seu laboratório na Yale University, a imagem de um pesquisador entusiasmado, sempre disposto a discutir os resultados dos mais jovens e apresentar sugestões, e o conferencista brilhante, que atraía a atenção de todos pelas informações novas que apresentava em cada conferência.

Em 1977, quando presidia a American Society for Cell Biology, teve papel fundamental na organização do primeiro Congresso Internacional de Biologia Celular. Deixou dezenas de discípulos espalhados por todo o mundo que, certamente, estão dando continuidade a seus trabalhos.
(Monitor Mercantil, 17/11)

O fato, Fato, FATO da evolução... há controvérsias

sexta-feira, novembro 21, 2008

Um pouco de humor que cientista não é de ferro.



Uma das coisas que nos devolve à realidade, é rir um pouco de nós mesmos!

Sorry, periferia, mas o vídeo está em inglês.

O incorrigível Berlinski ‘falou e disse’: a louvaminhice a Darwin é só da boca pra fora...

quinta-feira, novembro 20, 2008

David Berlinski, Ph. D. em matemática pela Princeton University, judeu, agnóstico, “bon-vivant”, reside atualmente em Paris, França, faz parte do Design Inteligente. Berlinski é um crítico cáustico dos neo-ateus pós-modernos, fundamentalistas, chiques e perfumados à la Dawkins, bem como outros darwinistas fundamentalistas [Obrigado, Stephen Jay Gould por esta pérola lingüística que descreve tão bem alguns desses discípulos de Darwin].

Ainda há pouco li algo do Berlinski sobre como os biólogos realmente consideram Darwin. Ele parece discordar de minha opinião de que há muita louvaminhice, beija-mão e beija-pé de Darwin por parte da Nomenklatura científica. Eis o que ele escreveu:

“Eles (os biólogos) de certo modo consideram a teoria de Darwin como um tio velhinho convidado para um jantar da família. O velho menino não tem cabelo, não tem dentes, está surdo, e freqüentemente fala muita bobagem. À mesa, ao se dirigir até aos membros mais velhos como ‘Filhinho’, ele está desmedidamente desejoso em contar a mesma estória muitas vezes. Mas ele é da família. O que é que você pode fazer?”

Gente, isso me fez lembrar uma conversa que tive com uma brilhante aluna que tive no ensino médio, sobre uma iminente ruptura paradigmática em biologia evolutiva. Ela fez mestrado em Biologia na USP, e me respondeu: “Mestre, nós não damos mais importância a Darwin”.

Catatau, gente! Na ocasião, surpreso e de queixo caído, eu fiquei sem entender nada. Hoje, lendo Berlinski, entendo melhor a resposta desta aluna. Lamentavelmente, ela não aceitou minha recomendação para fazer um doutorado em Biologia na USP.
Louvaminhice, beija-mão, beija-pé de Darwin, é só pra inglês ver [eu não pude resistir...]. é só da boca pra fora???

Fui, não sei por que, cantando “Singing in the rain...” com Gene Kelly




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1. “They (biologists) rather regard Darwin’s theory as an elderly uncle invited to a family dinner. The old boy has no hair, he has no teeth, he is hard of hearing, and he often drools. Addressing even senior members at the table as Sonny, he is inordinately eager to tell the same story over and over again. But he’s family. What can you do?”

A Grande Mídia Tupiniquim: diagnóstico inútil, a paciente está morta, mas ainda "transa"...

Há uma década este “simples professorzinho do ensino médio” [Ex-professor do ensino médio, mas me orgulho de tê-lo sido] denunciou a relação incestuosa entre a Grande Mídia Tupiniquim e a Nomenklatura científica sobre as insuficiências epistêmicas fundamentais das atuais teorias da origem e evolução do universo e da vida.

Insisti junto às editorias de ciência de nossos maiores veículos de informação como a Folha de São Paulo, Veja, Galileu, Superinteressante de que estávamos a caminho de uma mudança paradigmática em biologia evolutiva. Foi tanta a insistência dos pedidos para um jornalismo científico mais objetivo e que “ouve o outro lado”, que me tornei “persona non grata” em algumas redações. Especialmente na Folha de São Paulo.

A propósito: já estamos a caminho de uma nova teoria geral da evolução: a Síntese Evolutiva Ampliada que, contrariando as hipóteses transformistas de Darwin, não será selecionista. Você leu alguma linha na GMT sobre isso? Nem lerá, pois eles estão bastante ocupados com as futuras celebrações de louvaminhice, beija-mão e beija-pé de Darwin em 2009, que sequer atinam para coisas mais sérias: uma teoria científica sendo julgada no contexto de justificação teórica. Darwin não fecha as contas. Não existe mais robustez epistêmica na Síntese Moderna, mas mesmo assim vão empurrar com a barriga até 2010...

Nada melhor do que se ver vindicado na sua análise de um jornalismo chinfrim e abjeto, com seu beija-mão e beija-pé a Darwin, e por um grande jornalista: Alberto Dines. Ele não comunga a minha visão de confronto à Nomenklatura científica, mas põe o dedo na ferida pustulenta do que hoje são as nossas editorias de ciência no seu brilhante artigo.

Destaco abaixo um trecho que pincei deste grande jornalista que me incentivou ainda mais a confrontar a GMT, denunciando a sua condição de vestal-prostituta a serviço dos mandarins do naturalismo filosófico que posa como se fosse ciência:

“A sociedade finge que precisa da mídia e a mídia finge que serve a sociedade. O resultado é esta geléia cívica baseada em meias verdades, meias mentiras e uma colossal hipocrisia” (Alberto Dines).

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LEITURAS DO ECONOMIST

Diagnóstico inútil, o paciente está morto


Por Alberto Dines em 18/11/2008

Clinicamente morto. Nosso paciente é a mídia (conjunto de meios de comunicação), a intermediária entre sociedade e realidade.

Enquanto a realidade muda com velocidade cada vez maior, a sociedade brasileira oferece claros indícios de entorpecimento. Não se surpreende, não enxerga o insólito, não se importa, não se indigna nem se deixa convocar para coisa alguma. Só se mexe movida por lances passionais, condicionada há décadas pela estrutura narrativa dos folhetins televisivos.

Nossa mídia não discute a mídia e, com isto, descumpre sua obrigação maior de servir à sociedade porque a discussão sobre a mídia é essencial para definir os seus padrões de discernimento.

Preço das mudanças

Nossa sociedade participa das eleições porque é obrigada a votar, de outra forma abdicaria completamente da faculdade de questionar ou intervir. Prefere ser conduzida por narradores medíocres e tramas banais do que experimentar enredos diferenciados. Entusiasmou-se com a vitória de Barack Obama porque esta não se deu aqui, não precisará bancar o preço das mudanças.

Desde os tempos da autocensura não se vê tamanha letargia, tamanho tartufismo: a sociedade finge que precisa da mídia e a mídia finge que serve a sociedade. O resultado é esta geléia cívica baseada em meias verdades, meias mentiras e uma colossal hipocrisia.

Nossa mídia não media, enrola e se enrola. Como não se sente cobrada nem exigida, como se considera livre de responsabilidades e compromissos, ajeita-se a uma pauta sabidamente neutra, composta de "ondas" rigorosamente inofensivas para vender a imagem de arauto da transformação.

Há cerca de um mês, o influente semanário Economist (edição de 23/10) colocou o Brasil na berlinda ao denunciar a existência de duas falhas na nossa mídia. Errou: são três. A omitida é mais importante: considerar-se acima do bem e do mal, desobrigada de discutir-se e prestar contas.

Crítica de mídia é tabu

A Folha tem, em média, doze colunas assinadas nas edições dos dias úteis, o Estadãoe o Globo têm dez – são mais de trinta profissionais, recrutados entre os melhores, altamente remunerados e que, não obstante, resignam-se às imposições empresariais sobre o que podem ou não podem escrever. E escrever sobre mídia na grande imprensa é tabu. Trata-se do único setor da vida brasileira proibido de buscar excelência porque só pode fazê-lo na clandestinidade. Ou no circo.

O Economist identificou duas grandes falhas na mídia e na sociedade brasileira: a obrigatoriedade do diploma para o exercício profissional do jornalismo e a farta distribuição aos congressistas de concessões de radiodifusão.

Ao tratar do diploma nomeia os sindicalistas como os maiores interessados na reserva do mercado profissional. Errou novamente: a maior interessada em manter a obrigatoriedade do diploma é a própria indústria do diploma – as universidades privadas, nelas compreendidos seus donos, hoje milionários, e os corpos docente e discente, ingenuamente a seu serviço.

Mas quem sustenta esta pretensão é a própria mídia, que jamais tentou policiar efetivamente a qualidade do ensino superior privado, temerosa de perder seus anúncios. Apenas com os rankings anuais dos melhores e piores cursos não se corrige uma aberração destas proporções.

As empresas jornalísticas, aferradas à balela de que são as únicas autorizadas a empunhar a bandeira da liberdade de expressão, consideram a obrigatoriedade do diploma como um impedimento ao acesso à informação, mas não querem arriscar o seu faturamento.

O redator da Economist elogia a qualidade do jornalismo brasileiro (se comparado com o mexicano e argentino), mas não consegue perceber as nuances e sutilezas dos problemas que apontou. A questão não é linear – ser a favor ou contra o licenciamento de jornalistas ou a obrigatoriedade do diploma –, o simplismo aqui será sempre pernicioso, qualquer que seja a posição assumida.

A sociedade brasileira precisa de uma mídia capaz de manter-se como assunto de um debate nacional. Isso requer humildade, decência, transparência e, principalmente, espírito público.

Os mini Berlusconis

O redator do Economist acertou ao constatar que o maior defeito (the biggest flaw) da mídia brasileira é a concessão de canais de radiodifusão a parlamentares. Tem razão: é o pecado original, nele embutem-se todas as distorções e desvios que comprometem a mídia brasileira.

Mas os culpados não são esses "mini Berlusconis", como os designa a revista. A mídia os aceita e convive com eles, legitima-os ao resignar-se à flagrante ilegalidade. Com exceção da Folha de S.Paulo, que há anos acompanha o aumento destas concessões.

Então, por que se cala o resto da mídia impressa? Porque mídia impressa e mídia eletrônica no Brasil não são entidades separadas, com interesses divergentes, estão interligadas, reforçam-se, fazem parte do mesmo sistema.

O senador José Sarney (PMDB-AP) é um desses "mini Berlusconis": tem emissoras de rádio, TV e tem jornal. Em cada estado e região do território brasileiro há sub-Sarneys, mini-mini Berlusconis que nenhum governo teria a coragem de enfrentar.

O Economist está teoricamente certo, Na prática, seu diagnóstico é deletério porque ignora os desdobramentos do problema. Basta lembrar que em 25 de outubro de 2005, o Instituto Projor (mantenedor do projeto Observatório da Imprensa) entregou à Procuradoria Geral da República (PGR) um minucioso cruzamento de dados comprovando que mesmo integrantes da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados (CCTCI), encarregada de verificar as concessões, são concessionários de radiodifusão. A Procuradoria recebeu a contribuição, agradeceu, examinou o estudo ao longo de dois anos e... arquivou. Promete usá-lo oportunamente.

Quando? O Economist não sabe.

A “blitzkrieg” da Nature antecipa o festival de louvaminhices a Darwin

quarta-feira, novembro 19, 2008


A revista Nature desta semana deu destaque à reportagem especial sobre Darwin.

Os PDFs dos artigos abaixo podem ser baixados gratuitamente.

Sem comentários, mas isso nos dá uma idéia de como será esta nauseabunda louvaminhice e idolatria secularista por todo o mundo.

Pobre ciência que agora tem ídolos e dogmas: Darwin-ídolo e a teoria geral da evolução.

Será que a Nature rendeu homenagens a Alfred Russel Wallace e a sua Lei de Sarawak???

Os idólatras secularistas fundamentalistas não cometeriam tal sacrilégio: Darwin locuta, evolutio finita!!!

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Beyond the origin

As Nature anticipates next year's bicentenary of Darwin's birth and the 150th anniversary of On the Origin of Species, we begin our coverage with a look 50 years into the future.
19 November 2008

The needs of the many
The idea that natural selection acts on groups, as well as individuals, is a source of unending debate. Marek Kohn reports on what the two sides disagree about — and why it matters to them.
19 November 2008

Let's make a mammoth
Evolution assumes that extinction is forever. Maybe not. Henry Nicholls asks what it would take to bring the woolly mammoth back from the dead.
19 November 2008

Darwin: Heading to a town near you
The theory of evolution challenges artists and philosophers as much as scientists. Joanne Baker rounds up the many forthcoming events worldwide that examine Darwin's life, his work and reactions to it.
19 November 2008

Filosofia, não do jeito que faz e quer a USP


JC E-Mail 3645, de 19 de Novembro de 2008.

18. 20 de novembro, dia mundial da Filosofia - Uma reflexão necessária: a formação acadêmica

“Filosofia e história da filosofia não se separam. Não se separam não porque não queremos, mas porque não podem. Seria a própria destruição da filosofia”

Paulo Ghiraldelli Jr. é filósofo e diretor do Centro de Estudos em Filosofia Americana (http://www.filosofia.pro.br). Artigo enviado pelo autor ao “JC e-mail”:

Há uma falsa contraposição nas discussões sobre como fazer filosofia. Particularmente no Brasil, a polêmica em torno dessa contraposição tem durado mais tempo que em outros lugares. Segundo tal contraposição, uns acham que estamos nos afastando da história da filosofia, e que isso é ruim. Outros acham que ainda estamos só fazendo história da filosofia, e isto seria uma triste tendência uspiana; deveríamos trabalhar com “temas e problemas” ou com a “tarefa do pensamento”.

Mas, na verdade, não é isso que ocorre e nem poderia ocorrer. Filosofia com “temas e problemas” (ou qualquer outra coisa) e história da filosofia não se separam. Não se separam não porque não queremos, mas porque não podem. Seria a própria destruição da filosofia.

Não há como investigar “temas e problemas” em filosofia ou mesmo em filosofia aplicada sem estar integrado no âmbito da história da filosofia. Não há como estar integrado no âmbito da história da filosofia sem se estar em alguma polêmica do interior desta e, portanto, sempre que se está aí integrado se está envolvido com algum problema.

Quem separa história da filosofia e discussão de temas e problemas não entendeu como é que a filosofia se faz e caminha. Há dois modos de não entender isso. Um primeiro é acreditando que a história da filosofia é algo como que um filme que passa na nossa frente, e nos conta algo que ocorreu.

Isso nunca acontece com a filosofia. A história da filosofia chama os filósofos para seu interior, de modo a convidá-los para o debate com filósofo do passado ou de presente. Chama também o iniciante em filosofia ou mesmo aquele que não é filósofo nem quer sê-lo, mas que é inteligente e consegue ler e ouvir de forma participativa. Caso o convidado não aceite o convite, ele nunca conseguirá compreender história da filosofia. A história da filosofia é diferente de todo outro tipo de história cultural. Ou se está no seu interior contribuindo com sua própria construção ou não se é alguém capaz de compreendê-la.

É claro que cada participação tem um grau de profundidade. Nossa capacidade de participar da história da filosofia vai da participação que serve só para nós mesmos até a participação que é altamente criativa e que acaba por servir a muitos outros. Os protagonistas deste segundo caso podem, então, integrar a historiografia da além de pertencer à história da filosofia.

Outro modo de não entender as coisas é acreditar que alguém pode filosofar, ou seja, pode dar conta de problemas filosóficos ou problemas cotidianos que podem ser abordados filosoficamente, sem que se tenha feito isso já no interior de uma com filósofos do passado e do presente, ou seja, já no âmbito da história da filosofia. Não há como fazer tal coisa.

Um tema e um problema, por mais inédito que seja, tem um pé em algo que vai ser sua tradição. Os filósofos mais alheios ao chamado conteúdo “histórico” sempre foram grandes historiadores da filosofia. Às vezes nos enganamos e achamos que um bom filósofo que escreve ensaios não históricos não é historiador da filosofia, mas, em geral, ele é um historiador da filosofia.

O estilo do ensaio que coloca para o público omite isso explicitamente, mas ele, na hora de escrever, sabia o que estava falando do ponto de vista histórico e sabia muito bem como que o debate o levou a escrever do modo que escreveu. Ele estava de fato integrado na história da filosofia.

Portanto, cada vez mais o filósofo atual é acadêmico, e isso no sentido de que ele precisa passar por um período de formação que envolve treinamento dado em universidades. É claro que esse treinamento, no Brasil, tem deixado a desejar.

A graduação em filosofia e nossos mestrados e doutorados padecem dos males gerais do nosso ensino, adicionados aos males específicos de uma falta de tradição filosófica mais substancial. Mas, ruim com a universidade, pior sem ela. Quem se recusa a dar crédito para a universidade, em geral faz algo bem pior do que o que se faz na universidade.

Poderíamos melhorar nosso treinamento para formar filósofos e professores de filosofia. Minha sugestão é que as escolas ficassem atentas para esses elementos abaixo.

1) A graduação não deveria privilegiar especializações precoces; a amor a todo tipo de filósofo e a todo tipo de área filosófica e cultural deveria ser uma regra. Na graduação não há razão para se gostar mais de Descartes que de Heidegger ou Sade. Muito menos há razão para se desprezar filosofia medieval diante de filosofia moderna. Cada professor de curso de filosofia, uma vez que em geral é um scholar de um filósofo, um estudioso (dado seu mestrado e doutorado), deveria ficar atento para saber que o que ele tem de mostrar na graduação é a filosofia em geral, e não o “seu” filósofo. Deveria, inclusive, se perguntar se essa idéia de “seu” filósofo já não é uma formação equivocada dele mesmo, que o faz incapaz de criar e de poder dar melhor consistência para seus estudantes.

2) A formação na graduação deveria insistir no filósofo escritor, ou seja, em alguém que deve ter capacidade de escrever corretamente, de modo elegante e, em alguns casos, de modo jornalístico. Para tal é necessário que o próprio professor escreva corretamente e corrija os alunos. Qual a razão de não mais se corrigir aluno? Nenhuma! Ainda mais na filosofia, onde a produção do texto é algo primordial.

3) A formação na graduação não pode descuidar de uma língua estrangeira. Ou se sabe uma língua estrangeira já na graduação em filosofia ou se estará condenado a ser um profissional de terceira categoria. Nesse caso, não há razão para insistir na prioridade do alemão e do francês. O inglês deveria ser algo tão básico quanto o português nos nossos dias.

4) Todas as principais abordagens filosóficas deveriam ser incentivadas – neste caso, deveríamos pensar a filosofia a partir das grandes correntes. Não se trata da “filosofia a partir dos ismos”, e sim da filosofia a partir das grandes concepções sobre como filosofar e o que é o objeto da filosofia. O exemplo abaixo, no qual tomo a filosofia moderna e contemporânea, deve servir para que o leitor compreenda o que quero dizer.

Quando Bacon abre a modernidade propondo uma teoria do erro, a crítica dos “ídolos”, ele traça um panorama geral que diz que nos equivocamos a partir de defeitos de fabricação que todos nós possuímos. São problemas da nossa natureza humana (ídolos da tribo) ou de nossa situação individual (ídolos da caverna); são também as dificuldades dadas a partir de nossa associação que é feita através da linguagem, sendo esta, por sua própria origem vulgar, imprecisa (ídolos do foro); e, por fim, também erramos pela filosofia e ciência (ídolos do teatro).

Podemos levar a sério esse panorama prospectivo de Bacon e ver que a filosofia, depois dele, veio como que um detetive tentando encontrar o responsável pelo equívoco ou erro na razão (século XVII e XVIII), na história e sociedade (século XIX), na linguagem (século XIX e XX) e, enfim, na ciência e filosofia (XX e XXI). Ao brincarmos de ler esse grande conto de detetive vamos eleger esses suspeitos do crime – do erro – como objetos da filosofia e, então, teremos de nos envolver com cada um deles. Sem nos envolver com cada um desses objetos não acompanharemos a investigação do detetive – a filosofia.

Agora, devemos pensar também que para cada objeto aparecem detetives auxiliares e competidores que fazem uma investigação particular e de modo diferente. Assim, para cada século apontado acima, temos vários tipos de investigação – elas criam os “ismos”. Mas eles são secundários em relação ao objeto. É a partir do objeto que nos envolvemos com os filósofos e os acompanhamos no processo de ver se o apontado culpado é mesmo o culpado.

Esse exemplo serve apenas se aceitamos, de ponto de partida, a visão de Bacon sobre a modernidade. Mas, o leitor deve considerar, trata-se apenas de um exemplo, para que se entenda onde quero chegar, que o mostrar que uma visão global da filosofia passa pelos objetos eleitos e vice-versa, e que um curso de graduação deveria dar conta disso.

Essa é uma forma gostosa de lidar com a filosofia. Depende de erudição e competência do professor de graduação, que não pode ser mero professor, tem de ser filósofo. Mas, se não sonharmos grande e se não acreditarmos que podemos fazer isso, nada conseguiremos.

Bem, volto aos quatro itens citados. Nenhum deles é mais ou menos importante. Eles devem ser levados em consideração no conjunto. Há um modo de fazer isso? Claro que há. Bastaria começar a pensar em uma faculdade particular gratuita e com alojamento para alunos que pudesse, com essa estrutura e essa autonomia de base, criar esse tipo de ensino. E não é impossível de fazermos isso no Brasil. Talvez um modelo assim pudesse arrastar outros, em outras faculdades.