O pequeno diálogo de B16 e Hawking: o samba do crioulo doido metafísico

segunda-feira, novembro 03, 2008

Hoje eu vou ser “o promotor do Diabo” contra a Nomenklatura científica e os de concepções religiosas. Os católicos que me perdoem, mas eu não vou contemporizar com o papa Bento 16. E olha que eu sou fã dele.

A Nomenklatura científica é antropofágica e destruidora de carreiras dos que ousam contestar as teorias e paradigmas aceitos consensualmente. Sei do que estou falando. A Nomenklatura científica, em muitas ocasiões, é eticamente pragmática e situacional, i.e., vale-tudo para corroborar as posições reputadas como científicas, mesmo se for necessário lançar mão de expedientes fraudulentos e capciosos. Sei do que estou falando: a História da Ciência registra muitos casos assim. A Nomenklatura científica sabe disso. Aqui e ali reverbera sua indignação. Depois que outras vozes denunciam...

Há décadas, a Grande Mídia Internacional [GMI] e a Grande Mídia Tupiniquim [GMT] vivem uma relação incestuosa com a Nomenklatura científica. Especialmente quando a questão é sobre as origens e evolução do universo e da vida. Como toda amante que se preza, a GMI e a GMT ficam publica e convenientemente em silêncio sobre os podres de seu amante. Por que falar de suas muitas fraquezas teóricas fundamentais?

A quem interessaria saber dos podres de seu amante? À ciência enquanto ciência, mas isso é muito perigoso. Há muita coisa em jogo, e eles sabem muito bem do que estão falando: não é a ciência que iria acabar se os podres do amante vierem à tona, mas que a Nomenklatura científica seqüestrou o naturalismo metodológico em prol do naturalismo filosófico, e mercadeja este último como se fosse ciência. Nada mais falso como uma nota de R$ 3.00. Os racionais seriam demonstrados irracionais. Perda de status: os únicos que descrevem a realidade estariam agora do lado dos astrólogos e alquimistas. Quem diria, cruz credo!

De vez em quando, a GMI e a GMT, resvalam no cumprimento deste obsequioso, mas imposto “voto de silêncio”, e aproveitam para enaltecer as relações do seu amante com algumas figuras importantes no mercado das idéias. Para enaltecer as virtudes do seu amante e cooptar os seguidores de subjetividades religiosas ao discurso do naturalismo filosófico vendido como se fosse ciência. Produto do Paraguay, capice?

Foi o que aconteceu com a reportagem de Phil Stewart, da Agência Reuters sobre o encontro do papa Bento 16 com o físico Hawking em evento sobre evolução.


Foto: Reuters

Na cidade do Vaticano o papa Bento 16 disse para um grupo de cientistas, incluindo o cosmólogo britânico Stephen Hawking, que não há contradição entre acreditar em Deus e na ciência. Até aqui nada escatológico ou que cause espanto. Aliás, ninguém precisa que B16 diga isso. É o óbvio ululante. Não há nenhuma contradição em desacreditar em Deus e acreditar na ciência. A ciência, não é uma questão de crenças, mas descrever COMO as coisas são e funcionam. A ciência é questão apenas de cognição e não de subjetividades ideológicas.

Eu não estou lembrado o nome do cientista intolerante que impediu a fala do papa Bento 16 num evento recente da Academia Pontifícia de Ciências: a presença e a fala de B16 foram canceladas. A notícia correu mundo como mais um exemplo da razão vencendo a irracionalidade. Desta vez a tropa de choque da Nomenklatura científica internacional agiu rapidamente e impôs “silêncio mais do que obsequioso” a este Torquemada secularista mequetrefe: fique calado, pois é preciso cooptar o maior número possível dos de concepções religiosas para o nosso naturalismo filosófico mascarado de ciência.

Na divulgação da notícia sobre este encontro pela GMI e GMT que se percebe a estratégia orwelliana dessas amantes em dourar a pílula a favor da Nomenklatura científica: vamos comprometer um pouco a natureza do que é ciência para depois replicar mostrando a superioridade ímpar do naturalismo filosófico como se fosse a própria ciência. Vale até distorcer fatos históricos. Especialmente aqueles que favoreçam a Nomenklatura científica. Não importa que estejam bem lá atrás no passado. O que vale é o expediente capcioso em favor da causa. Tutti cosa nostra, capice?

Neste evento com físicos e outros cientistas na Academia Pontifícia de Ciências, B16 descreveu a ciência como uma busca pelo conhecimento da criação de Deus: “Não há oposição entre o entendimento pela fé e a prova da ciência empírica. Galileu viu a natureza como um livro cujo autor é Deus”.

Gente, imagine a cena, e se o Torquemada secularista mequetrefe estivesse presente nesta reunião? Ele teria mandado queimar imediatamente a Bento 16 em plena Academia Pontifícia de Ciências para servir de exemplo a quem ousar redefinir agora o que é ciência: um livro cujo autor é Deus. Durma-se com um barulho desses, e ainda teve a ousadia de mencionar Galileu Galilei para corroborar agora o discurso de sua irracionalidade?

É aqui que entra em cena a Novilíngua orwelliana e a “síndrome de Göebbels” na distorção dos fatos históricos — dizer uma mentira muitas vezes até que ela vire verdade — e seja aceita até pelos que foram vencidos:

“No século 17, a Igreja Católica acusou o astrônomo Galileu de heresia por insistir que a terra girava em torno do sol. E não reconsiderou a acusação até 1992.”

Esta é uma verdade entremeada com mentira. A Igreja Católica é sempre mostrada pela GMI e GMT e até por alguns historiadores “mainstream” [é mais chique do que atuais] como a vilã nesta história de “ciência [razão] versus “religião” [irracionalidade]”. Vamos esclarecer essa história? Quem verdadeiramente condenou Galileu? Quem o entregou para ser julgado e condenado pela Igreja Católica? Quem? Quem mesmo?

Foi a Nomenklatura científica da época, aristotélica na sua Weltanschauung científica, que viu em Galileu um poderoso inimigo epistemológico demonstrando a irracionalidade da “posição científica konsensual”. Eu racho de rir todas as vezes que alguém fala em “consenso científico”. Eu chamo isso carinhosamente de “síndrome-dos-soldadinhos-de-chumbo”, todo o mundo pensando igual e ninguém pensando em nada...

Sem argumentos científicos, a Nomenklatura científica buscou uma relação incestuosa com a Igreja Católica para condenar Galileu Galilei por heresia. E procura por todos os meios reescrever a história dos fatos da condenação de Galileu: adeptos de um paradigma demonstrado falso lançaram mão do expediente político para condenar seus críticos e oponentes, e jogam agora bosta na Geni, oops na Igreja que “sacramentou” a condenação desejada pelos cientistas de então. Nada diferente dos dias atuais. Sei do que estou falando, pessoalmente.

E aqui entra em cena, Hawking, depois de Darwin, o ídolo mor da atual Nomenklatura científica. Ele é um dos convidados para a longa semana de eventos que irão explorar o tema: “Compreensões Científicas para Evolução do Universo e da Vida”. Hawking é a ciência [razão] versus B16, religião [irracionalidade]. Hawking e os demais vão explicar o “Mysterium tremendum”: a origem e evolução do universo e da vida. Uau!!!

Como Hawking vai explicar, eu não sei. Há como se repetir o evento único do surgimento do universo e da vida? Não! O que eu sei é: questões de origem não são questões científicas. São metafísicas. Especulativas. E a ciência enquanto ciência nada tem a dizer sobre as origens. Aliás, a ciência nada diz. Quem diz são os cientistas. E aqui é preciso um pé atrás de desconfiança, de ceticismo localizado e salutar, pois nem tudo que os cientistas dizem é ciência. Muitas vezes é ideologia e metafísica. Naturalismo filosófico desbragadamente mascarado de ciência.

Revirando o fundo do baú, a Reuters relembrou que Hawking disse numa entrevista em 2007 que ele não é religioso no senso comum, mas que acredita que o universo é governado por leis da ciência, e que elas podem ser divinamente decretadas, mas Deus não intervém para quebrá-las. Gente, alguém me belisque. Cadê o Dawkins pra dar um puxão de orelhas no Hawking? Ele deve estar ficando gagá pra dizer uma coisas dessas igual ao Antony Flew, ex-ateu. O chefe de cerimônias da Nomenklatura científica para este evento, deve ter “barrado” o nome do Apóstolo do neo-ateísmo fundamentalista, xiita, chique e perfumado, por isso ninguém “puxou as orelhas” de Hawking por esta heresia.

Por que “samba do crioulo doido metafísico”? Porque a Reuters destacou que a Igreja Católica ensina a “evolução teísta” e reconhece a evolução como teoria científica. Adeptos dessa doutrina acreditam que não há razão para Deus não usar um processo evolutivo na formação das espécies humanas [SIC ULTRA PLUS]. Eu sempre pensei que fosse “espécie humana”...

“Samba do crioulo doido metafísico” porque agora o papa B16 é evolucionista, a Igreja Católica é evolucionista e, pasmem, a Nomenklatura científica não enxerga nenhuma incompatibilidade que alguém acredite ser a evolução um processo “guiado” por Deus, quando o autor da teoria geral da evolução, Charles Robert Darwin afirmou que se sua teoria precisasse de alguma “ajuda externa” a sua teoria seria “bullshit” [titica de galinha].

“Samba do crioulo doido metafísico” porque a metafísica do darwinismo [eles “juram” de pés juntos que não existe metafísica nenhuma em ciência], mas a metafísica de Darwin [O “Origem das Espécies” é um longo argumento teológico...] exige: o processo evolutivo é aleatório, não guiado e ateleológico. Por ser aleatório, nem Deus é capaz de guiar o processo evolutivo. Darwin que o diga.

Darwin, você que teve a maior idéia que toda a humanidade já teve [o Dennett foi convidado???], eu lhe prometi neste blog: não irei permitir que seus discípulos pós-modernos corrompam a ortodoxia do seu pensamento e nem que os de concepções religiosas sejam cooptados para este esdrúxulo compatibilismo epistêmico, caiam no canto da sereia, oops no “samba do crioulo doido metafísico”, e cometam o “sacrilégio” de corromper a teoria geral da evolução, a teoria científica mais corroborada como a lei da gravidade.

QED: O “samba do crioulo doido metafísico” é DOIDO pra dedéu porque para “corroborar” o fato, Fato, FATO da evolução, a Nomenklatura científica joga sorrateira e capciosamente para debaixo do tapete sua metafísica, e não fica nenhum pouco indignada com o fato de a crença em Deus [irracionalidade] ser agora compatível com a crença na teoria da evolução [acaso, necessidade]. Situação Catch-22. “Samba do crioulo doido metafísico” pra lá de Marrakesh!!!

Fui, sem entender mais nada de ciência [razão]. Nem de religião [irracionalidade].