A Universidade é o local mais adequado para o debate de idéias, mas Berlinck e Varela (UFSCar) são contra o que temos de mais precioso na Academia: a liberdade de expressão e de discussão de pontos de vistas contrários aos paradigmas vigentes.
O artigo de Berlinck e Varela no JC E-Mail pedindo o banimento global da discussão da plausibilidade científica da teoria do Design Inteligente é prova mais do que evidente que a Nomenklatura científica está desesperada e não sabe mais o que fazer, a não ser demonizar e desqualificar seus críticos e oponentes, e chamar a TDI de pseudociência ou equipará-la ao criacionismo.
Berlinck e Varela, a Universidade do discurso único coube muito bem na antiga URSS!
No dia 14 de fevereiro de 2009 nós iremos celebrar um dia muito diferente do que será celebrado pela Nomenklatura científica: o "Dia da Liberdade Acadêmica". Nós nos lembraremos da "Proposição Berlinck-Varela" como uma tentativa de amordaçar a discussão das insuficiências epistêmicas fundamentais das atuais teorias da origem e evolução do universo e da vida, e de novas teorias científicas.
Por que Berlinck e Varela têm medo da discussão sobre a teoria do Design Inteligente nas universidades???
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JC e-mail 3649, de 26 de Novembro de 2008
14. “Design Inteligente”: o retorno, artigo de Roberto G. S. Berlinck e Hamilton Varela
“Invocar um ‘design inteligente’ para explicar o ‘aparentemente inexplicável’ é uma tarefa cômoda, que não requer muita elaboração, tampouco esforço intelectual”
Roberto G. S. Berlinck e Hamilton Varela são professores do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo. Artigo enviado pelos autores ao “JC e-mail”:
Recentemente várias palestras foram apresentadas em diversos eventos realizados em universidades públicas e particulares, tendo sua temática direcionada para a discussão sobre o “o inexplicável”: a complexidade da vida, dos componentes bioquímicos e celulares e até mesmo do universo. Consoante o “argumento” dos palestrantes, a única possível razão para esta complexidade seria o tal do “design inteligente”, termo cunhado para atribuir feições científicas ao criacionismo, mito bíblico da criação.
As palestras, ministradas na Universidade Federal de Uberlândia, na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, campus de Presidente Prudente, na Universidade Federal de Minas Gerais, na Universidade Presbiteriana Mackenzie e na Universidade de São Paulo revelam o enorme equívoco em conceder espaço ao “renascimento” do criacionismo revestido de pseudociência e batizado de “design inteligente”.
Termo criado por William Paley em 1801, e redefinido por Michel Behe em seu best seller intitulado “A Caixa Preta de Darwin”, o design inteligente propõe uma forma falaciosa para explicar o que chama de “complexidade irredutível”. O “design inteligente” jamais foi aceito pela comunidade científica por se basear em pressupostos e argumentos não científicos. Os argumentos que, supostamente, dão guarida ao “design inteligente” têm sido amplamente discutidos e refutados por Richard Dawkins e muitos outros cientistas sérios.
Reza a idéia da “complexidade irredutível”: “um sistema irredutivelmente complexo possui diversos componentes, todos necessários para tal sistema permanecer completamente operacional”. Como a remoção de quaisquer de seus componentes tornaria o sistema não-operacional, argumenta-se que tal sistema não poderia surgir a partir de um processo evolutivo gradual. Logo, tal sistema deveria, necessariamente, surgir na íntegra, com todos seus componentes, de uma só vez, refutando, portanto, a evolução baseada em seleção natural, através de processos de variação, mudança e adaptação.
Para surgir na íntegra, de uma só vez, seria necessária a intervenção de uma entidade não humana, um designer inteligente! De acordo com os devotos, a existência do designer serviria de curinga a ser utilizado na explicação de questões científicas aparentemente sem respostas. Do ponto de vista lógico e metodológico, qualquer argumentação que tenha como premissa a existência de algo não passível de prova não pode ser considerada uma teoria, uma vez que não pode ser refutada. Assim, o conceito do “design inteligente” não se sustenta nas suas próprias estruturas, ou pela falta delas.
Um dos argumentos corriqueiramente utilizados para sustentar o conceito de “complexidade irredutível” diz respeito à segunda lei da termodinâmica e ao processo de auto-organização.
Henry Morris, criacionista convicto, afirma que “evolucionistas forjaram a estranha crença de que tudo se insere em um processo de progresso, de partículas caóticas que deram origem aos seres humanos. (...) processos reais da natureza jamais sobem montanhas por si só, mas tendem a descê-las. Logo, a evolução é impossível” (1974, The Troubled Waters of Evolution, San Diego, Creation Life, p. 111). Indubitavelmente, a contradição entre as tendências à evolução e ao caos é apenas aparente.
Por exemplo, células são unidades complexas e constituídas de inúmeros componentes e sub-componentes que interagem entre si e com o ambiente. Tais sistemas são delimitados do meio por membranas de permeabilidade seletiva e a auto-organização ocorre devido à exportação de entropia, através de trocas de energia e matéria com as vizinhanças. Para que tais processos ocorram é necessária a presença de mecanismos de interação molecular, denominados mecanismos de acoplamento local, além de fluxos de energia e matéria, os quais fornecem meios para que os processos bioquímicos transcorram.
A simulação in vitro de propriedades emergentes de sistemas bioquímicos foi comprovada inúmeras vezes, tornando possível a observação experimental do surgimento e formação de sistemas extremamente complexos, auto-organizados e autopoiéticos (Pier Luisi Luigi, The Emergence of Life, Cambridge University Press, 2006).
Os defensores do ‘design inteligente’ são intransigentes: “sistemas bioquímicos são irredutivelmente complexos, e não podem funcionar se uma de suas partes for removida. Logo, são fruto de um design inteligente”. Tal idéia é defendida por Michael Behe (em ‘A Caixa Preta de Darwin’). Tal questão foi abordada pelo notório bioquímico A. G. Cairns-Smith, uma década antes de Behe (em Seven Clues to the Origins of Life: A Scientific Detective Story, Cambridge University Press, 1986).
Cairns-Smith chegou às seguintes conclusões: “Podemos construir uma máquina planejando-a, fazendo uma lista de seus componentes, comprando seus componentes, e construindo tal máquina. Porém, a evolução não funciona desta maneira. Não existe planejamento. Não existe uma previsão do sistema final. Não se sabe de antemão quais peças serão relevantes. Somente os sistemas complexos têm sentido, não os seus componentes” (op. cit.).
E ainda: “Constitui-se em um estratagema estéril inserir milagres para explicar o desconhecido. (...) Quem poderia imaginar a idade da Terra ou o tamanho de um átomo cerca de 100 anos atrás? (...) É infantil argumentar que, pelo fato de não poder-se explicar um fenômeno natural com o conhecimento disponível, é necessário se invocar o sobrenatural. (...) Com tantos quebra-cabeças científicos do passado agora esclarecidos, é necessário obter-se razões muito claras para não se presumir causas naturais para fenômenos naturais” (op. cit.).
De qualquer maneira, os argumentos de “complexidade irredutível” de sistemas bioquímicos tais como o ciclo de Krebs, ou o ciclo do ácido cítrico, os quais seriam (presumivelmente) inoperantes sem uma de suas partes, são atualmente refutados por inúmeros experimentos com sistemas auto-organizados e que apresentam propriedades emergentes, amplamente discutidas por Luigi (op. cit). Exemplos clássicos de sistemas químicos simples que apresentam comportamento auto-organizado quando suficientemente afastados do estado de equilíbrio termodinâmico incluem a célebre reação de Belousov-Zhabotinsky e vários osciladores heterogêneos.
Além disso, o conceito de “redundância bioquímica”, introduzido por Gerhart e Kirschner (1997, Cells, Embryos and Evolution: Toward a Cellular and Developmental Understanding of Phenotypic Variation and Evolutionary Adaptability, Oxford, Blackwell) possui função essencial na explanação de como sistemas bioquímicos evoluíram. Fundamentalmente, segundo os autores, “a complexidade bioquímica é observada no fenômeno de evolução bioquímica convergente, nos quais sistemas com diferentes histórias evolutivas, tendo se iniciado a partir de diferentes substratos e produtos, apresentam funções bioquímicas similares”.
Ou seja, processos evolutivos naturais deram origem à complexidade redundante observada em sistemas bioquímicos. Tais redundâncias fornecem as estruturas moleculares e bioquímicas que são a base da evolução gradual dos sistemas vivos, os quais eventualmente parecem apresentar uma “complexidade irredutível” quando qualquer de suas partes é retirada.
Tais sistemas bioquímicos exercem funções resultantes da integração de inúmeros componentes. A seleção natural resulta na “retenção” (ou “preservação”) de alguns destes sistemas bioquímicos sujeitos a posteriores modificações e adaptações, enquanto outros são eliminados. Logo, sistemas irredutivelmente complexos simplesmente são “casos especiais” de sistemas complexos redundantes.
Invocar um “design inteligente” para explicar o “aparentemente inexplicável” é uma tarefa cômoda, que não requer muita elaboração, tampouco esforço intelectual. Ao longo de sua história, a ciência construiu a base do conhecimento da humanidade fundamentada em fatos comprovados ou refutáveis. O ”design inteligente” não é nem um fato e nem pode ser refutado. Logo, constitui-se em um argumento falso e enganoso, sem qualquer sombra de base científica. Ao contrário do postulado, não há uma teoria a ser contraposta à evolução darwinista, o criacionismo se fundamenta em dogmas, não constitui em uma teoria.
Mais grave do que defender tais idéias, porém, é ter a oportunidade de apresentá-las como sendo uma “verdade” a leigos e estudantes em fase de formação intelectual, cujo espírito crítico está em desenvolvimento. Tal atitude é extremamente danosa, considerando-se que estas idéias trazem em seu bojo uma ideologia religiosa, de fundo subjetivo e sentimental.
Consideramos que a apresentação do “design inteligente” deve ser sistematicamente refutada por educadores, pela comunidade científica, pelos meios de comunicação, de todas as formas, pois constitui uma ideologia medieval e ultrapassada. A discussão recente sobre a realização de pesquisas com células-tronco mostrou como a visão anuviada de incautos pode ser danosa ao debate científico sério, tão necessário à sociedade.
Dada a urgência do avanço científico experimentada recentemente, questões como esta serão cada vez mais presentes. A educação dos cidadãos brasileiros, com conhecimento sólido e bem fundamentado, deve ser o objetivo de todos aqueles que encaram a ciência como um dos principais patrimônios da civilização, capaz de libertar o homem do obscurantismo de mitos e crenças.