O último ancestral. Será???

quinta-feira, julho 15, 2010

JC e-mail 4053, de 15 de Julho de 2010.

21. O último ancestral

Geólogo descobre na Arábia Saudita uma espécie de primata que antecedeu os grandes símios, de quem os homens descendem. O Saadanius hijazensis, como foi batizado, já é considerado peça fundamental no quebra-cabeça evolutivo

Em 17 de fevereiro do ano passado, o geólogo Iyad Zalmout, da Universidade de Michigan, levou um agradável susto nas proximidades da montanhosa cidade saudita de Al Hijaz. Era o segundo dia de uma expedição organizada pela instituição norte-americana e pelo Centro de Pesquisas Geológicas da Arábia na formação geológica de Harrat Al Ujayfa.


Logo após o almoço, ele notou que havia algo incrustado nos platôs avermelhados que estava escalando. "Eu não tinha ido muito longe, e então aconteceu de ver algo junto a um pequeno dente quadrado. Me ajoelhei e me aproximei, então gritei em árabe: "É um primata, é um macaco!'", contou Zalmout ao Correio.

A empolgação do geólogo se justifica. Ele acabava de encontrar uma nova de espécie de primata, que tem tudo para ser uma peça fundamental no quebra-cabeça da evolução. A descoberta de Zalmout, capa da edição de hoje da revista especializada Nature, é considerada nada menos que o último ancestral comum entre os símios, dos quais descende o homem, e os cercopithecoides, como são chamados os macacos do mundo antigo (espécies que existiram há milhares de anos).

Segundo o pesquisador, já se sabe há muito tempo que os macacos do mundo antigo e os símios possuem um mesmo ancestral. "Mas exatamente quando ocorreu a divisão entre eles ainda não está claro", diz. Esse primata daria origem aos hominídeos, família à qual pertencem os grandes símios - como gorilas e chimpanzés - e o homem. Tanto os macacos do mundo antigo quanto os símios fazem parte de um mesmo grupo de primatas, os catarrinos.

"Os mais antigos fósseis dessa linhagem já encontrados, criaturas que não eram nem macacos nem símios, datam do Eoceno tardio ao início do Oligoceno, entre 35 milhões e 30 milhões de anos atrás", explica Zalmout.

De acordo com ele, fósseis mais recentes, com cerca de 23 milhões de anos, indicavam que a divisão ocorreu por aquele tempo. Porém, a descoberta do pesquisador, batizada de Saadanius hijazensis, data de 29 milhões a 28 milhões de anos atrás e "possui as características próprias que distinguem os modernos símios dos macacos do velho mundo, sugerindo que aquela divisão ainda não havia ocorrido".

As análises do fóssil levaram o grupo de pesquisadores a acreditar que as características físicas do Saadanius, um primata de caninos pequenos mas fortes, cérebro de volume discreto e com cerca de 15kg, são muito próximas do último ancestral comum dos símios e dos macacos do velho mundo.

Evolução

Embora os fragmentos do primata sejam poucos, foi possível comparar o Saadanius hijazensis com os demais catarrinos. Ele compartilha características com os primeiros animais do grupo e difere-se bastante dos símios do período Mioceno, que tinha face mais pronunciada, dentes maiores e um corpo mais robusto.

"Isso condiz com a hipótese de que os símios daquele período eram hominídeos e que a evolução inicial do grupo envolveu mudanças na região craniofacial", diz o artigo publicado na Nature. "A significativa adaptação desses traços está provavelmente correlacionada com as mudanças na função mastigatória, na dieta e no comportamento social."

Quando achou os ossos encobertos por uma camada de calcário, Zalmout não podia saber, ainda, que estava diante do possível elo perdido entre antigos macacos e os símios. Mas ele tinha certeza que não seria apenas mais um fóssil. No dia anterior, ele já havia encontrado um dente.

"Mas quando vi o fóssil, sabia que ficaríamos loucos. Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Era apenas o segundo dia em campo e já tínhamos encontrado um segundo esqueleto."

(Paloma Olivetto)

(Correio Braziliense, 15/7)

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