A história de Darli Lima

quarta-feira, março 16, 2011

Uns tempos atrás um jovem nordestino encafifado com o sentido da vida, resolveu fazer uma peregrinação espiritual em busca de uma resposta que satisfizesse sua angústia existencial: qual é o sentido da vida? 

Catou uma trouxinha com poucos pertences, um pouco de rapadura e farinha, muita fé, e saiu a pé, mundo a fora. Chegando em Juazeiro do Norte, enfrentou uma grande fila de romeiros, e perguntava pra um e pra outro: “Qual é o significado da vida?”. Recebeu várias respostas, mas nenhuma lhe satisfez, a não ser a recomendação de que fizesse uma peregrinação espiritual no exterior porque sua pergunta exigia isso. Padim Ciço nem lhe ouviu as rezas, pois santo de casa não faz milagres. 

Cansado, empoeirado, mas disposto a enfrentar tudo para chegar no lugar que ele tinha entendido ser Caminhão de São Tiago de Cão Pustela, e que tinha de atravessar o mar pra chegar. Foi para Fortaleza, conversa com um e com outro, até que lhe disseram o nome correto para a sua peregrinação: Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. 

Como chegar lá nas Europas? Sem um tostão no bolso, mas muita fé e coragem, resolveu ser clandestino em um navio para Espanha. Moço corajoso, enfrentou viagem de 7 dias, só comendo rapadura e farinha. Não me pergunte como resolveu seus ‘problemas’ durante esses dias, pois o nordestino é antes de tudo um forte!!! 

Chegando em Espanha, nosso aventureiro espiritual, conseguiu descer do navio sem ser notado. Pergunta pra um e pra outro: “Onde é que fica este Caminho de Santiago de Compostela?” Disseram, e lá se foi nosso peregrino cabra da peste. Cajado em punho, um pouco de rapadura e farinha, mas muita fé, perguntou para os peregrinos se sabiam qual era o verdadeiro significado da vida. Quase chegando na França, as muitas respostas que lhe deram não satisfez seu coração. 

Todavia, uma sugestão não lhe saía da mente: vá peregrinar na Índia, e quem sabe um daqueles gurus poderiam lhe dizer qual é o significado da vida. Lá se foi nosso peregrino cruzando a Europa de trem em direção à Índia. Chegando na Índia, a mesma história: “Alguém sabe me dizer qual é o verdadeiro significado da vida?” Muitos gurus, muitas respostas, mas nenhuma delas satisfez o nosso peregrino do agreste do Cariri. Contudo, uma recomendação calou fundo sua alma: vá ao Tibet e ali, sem dúvida, lá no topo do mundo, você terá a resposta para o que tanto aflige sua alma. 

Cansado, com os pés cheios de bolhas, pois peregrinou a pé na Índia, nosso peregrino corajoso e destemido, foi para o Tibet. À medida em que subia, seu peito arfava buscando respirar. Foi se acostumando, mas os pulmões ardiam, e se acostumou enquanto subia e descia as montanhas tibetanas. Chegou no monte Everest, e aquela fila que não tinha mais tamanho de gente buscando aconselhamento com o guru considerado o mais iluminado de todos os gurus de todas as reencarnações. 

Depois de uma semana chegou a sua vez. Nosso peregrino muito cansado e faminto, pois sua pouca farinha e pouca rapadura estava acabando, criou forças necessárias para chegar diante do guru iluminado do Tibet. O guru lhe dirigiu a palavra: “O que lhe trouxe até aqui pequeno gafanhoto?” Ele respondeu respeitosamente: “Mestre, qual é o significado da vida?” O guru ficou em silêncio tibetano profundo, e respondeu: “O significado da vida, pequeno gafanhoto, é um longo rio caudaloso que corre”. 

Diante desta resposta, o peregrino nordestino ousou dizer ao guru: “Mestre, eu peregrinei em Juazeiro do Norte, atravessei um oceano, andei no Caminho de Compostela, fui à Índia onde perguntei a vários gurus esta pergunta, me recomendaram que viesse até aqui, e o Mestre me diz que o significado da vida é apenas um longo rio caudaloso que corre?” 

O guru respondeu: “E né não?” Nosso peregrino reconheceu a pronúncia e a voz de um amigo seu lá do sertão do Ceará: Derli Lima. Não era o Dalai Lama.

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NOTA DESTE BLOGGER:

Ouvi esta estória de um amigo meu nordestino, assessor do Senado, e a modifiquei um pouco, mas preservei sua originalidade sobre o peregrino e Darli Lima (fictícios).