Fósseis peruanos motivam contrabando

segunda-feira, dezembro 20, 2010

JC e-mail 4161, de 20 de Dezembro de 2010.


Antes banhado pelo mar, deserto entre os Andes e o Pacífico, no sul do Peru, é rico em restos de animais marinhos pré-históricos

Entre os Andes e o Pacífico, o deserto de Ocucaje, no sul do Peru, parece ser um dos locais mais isolados do mundo. Montanhas nuas se erguem a partir de vales castigados pelo vento.

Mas, para os caçadores de ossos que rumam todos os dias para lá, os terríveis ventos da região expuseram uma amostra da evolução: um cemitério pré-histórico onde monstros marinhos vieram repousar definitivamente há 40 milhões de anos. Essa terra seca, um dia banhada pelo mar, guarda um dos mais cobiçados conjuntos de fósseis marinhos conhecidos pela paleontologia.

Entre as descobertas feitas no local estão os dentes fossilizados de um tubarão de 15 metros chamado megalodonte, os ossos de um gigantesco pinguim de penas coloridas e os fósseis da Livyatan melvillei, uma baleia cujos dentes eram maiores do que os do tiranossauro.

"Esta é provavelmente a melhor região do mundo para a pesquisa de mamíferos marinhos", disse Christian de Muizon, de 58 anos, paleontólogo do Museu de História Natural de Paris e líder de uma expedição que foi ao local em novembro. Ele compara o Ocucaje a algumas das áreas mais promissoras da exploração paleontológica, como a Província de Liaoning, na China, onde cinzas preservaram fósseis de dinossauros com penas [sic, MADE IN CHINA!].

Mas as descobertas atraíram a atenção de outra classe de caçadores de fósseis: os contrabandistas. Representantes do governo dizem que os casos de fósseis ilegalmente coletados estão se tornando mais frequentes.

A perda de tesouros nacionais para colecionadores do exterior desperta preocupações quanto à soberania, cujo melhor exemplo talvez seja a disputa entre o governo peruano e a Universidade Yale envolvendo artefatos incas subtraídos por Hiram Bingham, explorador americano comumente associado à revelação da existência da cidade perdida de Machu Picchu para o restante do mundo, há mais de um século.

Por enquanto, o Ocucaje permanece aberto a todos que desejem procurar fósseis. A lei peruana classifica os fósseis como patrimônio nacional e exige que eles sejam mantidos no Peru, exceto em caso de permissão especial. Mas a fiscalização e a preservação no local parecem ser um sonho. O governo controla o deserto, mas licencia sua exploração a mineradoras, o que pode danificar ou destruir fósseis.

Prejuízo. Saqueadores acabaram com sítios arqueológicos na orla. A polícia pouco visita a região. Os únicos veículos de quatro rodas atravessando o deserto são caminhões transportando trabalhadores que passam semanas na costa apanhando algas, que vendem a intermediários que as exportam para a Ásia. "Este deserto é horrível", diz Yolanda Gutierrez, de 35 anos, coletora de algas. "Por aqui só há poeira, rochas e ossos."

Caçadores de fósseis têm suas opiniões sobre como o Ocucaje deve ser administrado. Uma delas é de Roberto Cabrera, de 54 anos, oficial reformado da Marinha que atua como guia tanto para mochileiros quanto para paleontólogos.

"Sou um peruano patriota e meus pés estão pisando em patrimônio do país", disse ele, sugerindo que parte dos fósseis de Ocucaje seja deixada no local. Ele disse que outra opção seria a criação de um museu - não em Lima e muito menos em Berlim ou Paris, mas em Ica, cidade próxima do deserto.

Nas ruas de Ica e das demais cidades da região, os visitantes podem ver e comprar fósseis. Mercadores vendem dentes fossilizados de tubarão, aproximadamente do tamanho da mão de um homem, por US$ 60 a US$ 100 cada peça. Dizem que outros fósseis podem ser comprados por quantias mais expressivas.

Enquanto isso, as apreensões de fósseis obtidos ilegalmente já ultrapassaram os 2,2 mil casos neste ano. Em 2009 foram 800 apreensões, em sua maioria no aeroporto internacional de Lima, disse Jose Apolin, do ministério Cultura. Rodolfo Salas, curador de paleontologia do Museu de História Natural de Lima, diz que esse comércio é apoiado por saqueadores de sítios arqueológicos.

Os paleontólogos que trabalham no local temem que suas descobertas sejam roubadas. Após encontrar um fóssil que pode ser um crânio de baleia de 35 milhões de anos, a equipe de Muizon camuflou o achado. Independentemente do debate envolvendo contrabando, paleontólogos dizem que os fósseis do Ocucaje seguem vulneráveis a outro fator: a erosão. "Se forem deixados no deserto", disse Muizon, "eles morrerão pela segunda vez".

(The New York Times. Tradução de Augusto Calil)

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PERGUNTA INQUIETANTE DESTE BLOGGER:

Se aquela região de terra seca já foi um dia mar, de que altitude estamos falando? De onde veio este mar, e aonde foi toda a água??? 

Eu visitei a Chapada do Araripe, e o geólogo responsável também disse que a terra seca onde nos encontrávamos já tinha sido mar. Observei para ele que nós estávamos a 450 m acima do nível do mar em relação a Fortaleza, e de onde veio e para onde foi toda aquela água. Apesar de científica a minha pergunta, o geólogo disse: "Eu sei onde você quer chegar. Mas este canyon já foi mar um dia há milhões e milhões de anos."

Não entendi a resposta dele...

(O Estado de SP, 19/12)