Interações avançadas

sexta-feira, março 12, 2010

12/3/2010

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – A equipe paulista envolvida com o experimento Alice – um dos seis que compõem o acelerador de partículas LHC (Large Hadron Collider, ou “grande colisor de hádrons”) – participou de um momento histórico para a ciência: a produção do primeiro artigo proveniente de pesquisas realizadas no LHC, publicado na edição de janeiro da The European Physical Journal C.



Formação de pessoal de alto nível é maior ganho para equipes brasileiras envolvidas com grandes colaborações internacionais, segundo professor da Unicamp que participou do primeiro artigo científico do LHC (Foto: Cern)

Mas, de acordo com um dos autores do estudo, Jun Takahashi, professor do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mais do que o marco histórico da primeira publicação, o verdadeiro benefício da participação da comunidade científica paulista no experimento Alice tem sido a formação de recursos humanos de alto nível.

A participação brasileira no experimento Alice, segundo o cientista, restringe-se ao Estado de São Paulo, com equipes da Unicamp e do Instituto de Física (IF) da Universidade de São Paulo (USP).

Além de Takahashi, a equipe da Unicamp contou com os pós-doutorandos Gustavo Valdiviesso e Bernardo Mattos Tavares e com os doutorandos Mauro Consentino e David Chinellato – este último com bolsa da FAPESP.

A equipe da USP contou com os professores do Departamento de Física Nuclear do IF-USP Alejandro Szanto Toledo, Marcelo Gameiro Munhoz e Alexandre Suaide, o professor do Departamento de Física Experimental do IF-USP Airton Deppman, o pós-doutorando Alberto Lozéa Feijó Soares e os doutorandos Marcel Figueiredo e Gabriel de Barros.

“O principal ganho na nossa participação no experimento Alice, assim como em outras grandes colaborações, tem sido o acesso a uma formação de alto nível para nossos alunos”, disse Takahashi à Agência FAPESP.

Segundo ele, o artigo não trouxe novas descobertas científicas, mas foi importante para atestar o funcionamento correto do equipamento. Ao comparar os resultados obtidos aos de outros aceleradores de partículas de menor porte, os cientistas puderam comprovar a eficiência do Alice.

“O experimento mostrou que o acelerador produz as colisões que esperávamos, além de determinar que o detector funciona e que sabemos operá-lo. Mas o principal, para nós, foi mesmo a oportunidade de verificar o intenso envolvimento da nossa equipe e oferecer uma experiência única de formação para nossos alunos”, afirmou.

De acordo com Takahashi, todos os alunos envolvidos já adquiriram ampla experiência internacional na interação com os outros centros de pesquisa envolvidos no experimento. “Eles participam de até três reuniões semanais, discutindo as análises que estão fazendo, argumentando sobre seus resultados e provando suas conclusões”, contou.

Periodicamente, os estudantes têm acesso direto aos laboratórios do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern) – responsável pela construção do LHC – e ali dialogam de igual para igual com os pesquisadores dos grupos internacionais. Segundo ele, os brasileiros vêm se destacando e assumindo posições de liderança.

“Alguns dos nossos alunos são responsáveis por funções fundamentais, como calibração e alinhamento de detectores. Evidentemente, a cobrança a que estão submetidos é proporcional à responsabilidade que assumiram. Eles trabalham em ritmo acelerado”, disse.

Atuação em grandes projetos

Takahashi conta que a participação brasileira é direta e ativa: os estudantes fazem parte das principais análises da colaboração. “Passou a época em que tínhamos uma participação periférica nesse tipo de projeto”, disse.

A atuação internacional dos grupos da Unicamp e da USP não se restringe ao experimento Alice. As mesmas equipes atuam diretamente em grandes projetos como a Colaboração Star, que reúne 584 cientistas de 54 instituições em 12 países diferentes.

Há uma semana, os cientistas paulistas foram coautores de artigo na revista Science que descrevia a primeira evidência experimental de que núcleos atômicos compostos de antimatéria "estranha" podem ser produzidos pela colisão de íons de ouro em alta energia.

O estudo foi realizado pela Colaboração Star, com participação dos brasileiros, no Colisor Relativístico de Íons Pesados (RHIC, na sigla em inglês). “Nossos alunos têm viajado com frequência tanto para o Cern, na fronteira entre a Suíça e a França, como para o Laboratório Nacional de Brookhaven, onde fica o RHIC”, disse Takahashi.

Além dos grupos da Unicamp e da USP que participam do experimento Alice, brasileiros da Universidade Estadual Paulista (Unesp), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) atuam no LHC, no experimento CMS (sigla em inglês para “Solenoide de Múon Compacto”).

Em fevereiro, o grupo que atua no CMS também publicou na Journal of High Energy Physics (JHEP) seu primeiro artigo científico, conforme noticiado pela Agência FAPESP.

O artigo apresentou a primeira medida de distribuição em momentum transverso e pseudo-rapidez (análoga à medida de distribuição angular) das partículas observadas nas colisões próton-próton ocorridas em altas energias, a eraelétron-volts (TeV).