Das muitas louvaminhices, beija-mão e beija-pé de Darwin que eu já encontrei em uma década, a maior sem dúvida é a de que Darwin “teve a maior idéia que toda a humanidade já teve [Daniel Dennett, um filósofo ateu evolucionista, em “A idéia perigosa de Darwin”]. Nada mais falso!
Engraçado, por que Dennett, filósofo ateu tem ampla aceitação, livro de cabeceira, é bíblia entre os evolucionistas, quando outros filósofos de renome acadêmico, por serem teístas são desprezados e a Filosofia é considerada como não conhecimento? Non capice? Então aprenda, no mundo darwinista quem não é por nós é contra nós. Darwin é tutti cosa nostra, capice?
Darwin era teísta [deísta?] quando viajou no “Beagle”. Terminou a vida agnóstico [um tipo de cético que diz não poder afirmar a existência ou inexistência de Deus]. Para mim, o agnóstico é um ateu “enrustido” que se recusa “sair do armário”. É rejeição elegante e polida a Deus, mas é rejeição voluntária. No íntimo, o agnóstico é antes de tudo um ateu pragmático que sabe tirar vantagem dos dois lados.
Quem diria, Darwin, um ateu pragmático, oops agnóstico, foi enterrado na Abadia de Westminster bem próximo a Isaac Newton, um teísta unitarista [este sim poderia ser afirmado como sendo o homem que teve a maior idéia que toda a humanidade já teve: a gravidade].
Eu já li várias vezes o “Origem das Espécies” na primeira e sexta edições em inglês e português. A maior idéia, nas palavras de Darwin, é na verdade a maior crendice naturalista que alguém já imaginou. Eu vou deixar em inglês, pois quem quiser que consulte a obra original e ache o “Credo quia absurdum” de Darwin.
Ironia do destino, Darwin, o ateu enrustido, oops agnóstico nos legou a sua “Confissão de Westminster”. Os presbiterianos que me perdoem, mas eu não pude resistir a analogia.
Parte do "Credo quia absurdum":
“ I think it can be explained… I believe… I do not doubt… if we in imagination… as I believe… supposing… may have… must formerly have… will have… must assuredly have… it seems to me… therefore I see no difficulty… I can see no difficulty in supposing that… we cannot doubt that… nor can I see any insuperable difficulty in further believing it possible… it is conceivable that… we may conclude… thus, to return to our imaginary illustration… I can see no difficulty… we might expect… yet reason tells me… the difficulty of believing can hardly be considered real… I can see no very great difficulty in believing… he who will go thus far ought not to hesitate to go further… we ought in imagination… we must suppose… may we not believe… no doubt… we should be extremely cautious in concluding that an organ could not have been formed by numerous gradations of some kind… I can indeed hardly doubt… but it is conceivable… now I think no one will dispute… therefore I do not doubt… we are far too ignorant to argue that no transition of any kind is possible — we may attribute… I dare say… I have no doubt… no doubt… thus we may hardly believe… we may further venture to believe… therefore we may infer… we may also believe…”
Notaram a incidência do verbo “believe”? É acreditar em português. Dennett, explique agora para nós − Darwin teve a maior idéia que toda a humanidade já teve ou teve a maior crendice naturalista que toda a humanidade já teve?
O linguajar “religioso” [argh, isso é como cometer assassinato] do “Origem das Espécies” faz inveja a qualquer catecismo: crer, não duvidar, a dificuldade de crer, sem dúvida, etc. Darwin disse ser sua teoria “um longo argumento”. Eu afirmei neste blog que o livro dele é “um longo argumento teológico”. Essas poucas citações fazem lembrar catecismos de certas comunidades religiosas onde, se você ajoelhou, tem que rezar. Ajoelhar e rezar a Darwin.
No darwinismo também é assim: ajoelhou sem questionar Darwin, tem que rezar a “Confissão de Westminster” secularista. Ajoelhar diante do homem que teve a maior crendice naturalista que toda a humanidade já teve. Não é possível ser agnóstico de Darwin: é pecado mortal acadêmico, é blasfêmia contra o Espírito de Down, imperdoável nesta vida.
Fui, nem sei por que pensando, mas a seleção natural parece muito uma forma de “providência naturalista” que age diariamente em prol da existência e manutenção de suas criaturas em sua diversidade e complexidade. Tal qual a providência divina calvinista.
Cruz credo, João Calvino, oops Charles Robert Darwin, pereça tal pensamento...