Agência FAPESP – O par de sapatos de couro mais antigo de que se tem notícia está descrito em artigo publicado nesta quarta-feira (9/6) na revista científica de acesso livre PLoS ONE.
Em notável estado de preservação, os calçados têm cerca de 5,5 mil anos e foram encontrados em uma caverna na Armênia. Feitos a partir de um corte único de couro, os sapatos foram feitos no tamanho exato para envolver os pés do dono e empregam cadarços.
Os calçados de couro mais antigos do mundo são descobertos em caverna na Armênia. Em notável estado de conservação, peças mantêm cadarços e recheio para manter a forma (foto: divulgação)
Com 24,5 centímetros de comprimento (equivalente ao tamanho 36 no Brasil), as peças podem ter sido usadas por mulheres ou mesmo homens, uma vez que se encaixam nos tamanhos dos representantes do período Calcolítico, segundo o grupo internacional de arqueólogos responsável pela análise.
Os cientistas encontraram resíduos de grama no interior dos calçados, que poderiam ter servido para que as peças não perdessem seu formato ou para manter os pés aquecidos.
A caverna onde foram encontrados está situada na província de Vayotz Dzor, próxima à fronteira com o Irã e com a Turquia. As condições da caverna – seca, fria e com ambiente estável – permitiram a conservação de diversos registros de interesse arqueológico.
Além disso, o chão da caverna foi coberto por uma camada espessa de fezes de ovelha, que “selaram” as peças, ampliando ainda mais suas condições de preservação.
“Pensamos inicialmente que os sapatos e outros objetos ali encontrados tivessem entre 600 e 700 anos, por conta de suas excelentes condições. Somente quando o material foi datado por radiocarbono e espectrometria em dois laboratórios – em Oxford (Reino Unido) e na Califórnia (Estados Unidos) – é que soubemos que eles eram mais antigos até do que o Ötzi, o Homem de Gelo”, disse Ron Pinhasi, da Universidade de Cork, primeiro autor do artigo.
Ötzi é uma múmia masculina bem conservada, com cerca de 5,3 mil anos, encontrada em 1991 em uma geleira dos Alpes de Ötztal perto do monte Similaun, na fronteira da Áustria com a Itália.
Os sapatos foram encontrados em 2008 por Diana Zardaryan, do Instituto de Arqueologia e Etnologia da Armênia, quando fazia seu pós-doutorado. “Fiquei impressionada por ver como até mesmo os laços estavam tão bem preservados”, disse Diana, outra autora do artigo.
Outro detalhe interessante, segundo os cientistas, é que os calçados de couro se assemelham bastante aos modelos que eram usados comumente até a década de 1950 nas ilhas Aran, no oeste da Irlanda.
“Há enormes semelhanças entre a técnica de manufatura dos sapatos encontrados na caverna na Armênia com outros usados por toda a Europa posteriormente, o que indica que esse tipo de calçado foi usado por milhares de anos em regiões de climas e ambientes bem distintos”, disse Pinhasi.
O artigo First Direct Evidence of Chalcolithic Footwear from the Near Eastern Highlands, de Ron Pinhasi e outros, publicado na PLoS ONE (5(6): e10984. doi:10.1371/journal.pone.0010984), pode ser lido em http://dx.plos.org/10.1371/journal.pone.0010984.
Os cientistas encontraram resíduos de grama no interior dos calçados, que poderiam ter servido para que as peças não perdessem seu formato ou para manter os pés aquecidos.
A caverna onde foram encontrados está situada na província de Vayotz Dzor, próxima à fronteira com o Irã e com a Turquia. As condições da caverna – seca, fria e com ambiente estável – permitiram a conservação de diversos registros de interesse arqueológico.
Além disso, o chão da caverna foi coberto por uma camada espessa de fezes de ovelha, que “selaram” as peças, ampliando ainda mais suas condições de preservação.
“Pensamos inicialmente que os sapatos e outros objetos ali encontrados tivessem entre 600 e 700 anos, por conta de suas excelentes condições. Somente quando o material foi datado por radiocarbono e espectrometria em dois laboratórios – em Oxford (Reino Unido) e na Califórnia (Estados Unidos) – é que soubemos que eles eram mais antigos até do que o Ötzi, o Homem de Gelo”, disse Ron Pinhasi, da Universidade de Cork, primeiro autor do artigo.
Ötzi é uma múmia masculina bem conservada, com cerca de 5,3 mil anos, encontrada em 1991 em uma geleira dos Alpes de Ötztal perto do monte Similaun, na fronteira da Áustria com a Itália.
Os sapatos foram encontrados em 2008 por Diana Zardaryan, do Instituto de Arqueologia e Etnologia da Armênia, quando fazia seu pós-doutorado. “Fiquei impressionada por ver como até mesmo os laços estavam tão bem preservados”, disse Diana, outra autora do artigo.
Outro detalhe interessante, segundo os cientistas, é que os calçados de couro se assemelham bastante aos modelos que eram usados comumente até a década de 1950 nas ilhas Aran, no oeste da Irlanda.
“Há enormes semelhanças entre a técnica de manufatura dos sapatos encontrados na caverna na Armênia com outros usados por toda a Europa posteriormente, o que indica que esse tipo de calçado foi usado por milhares de anos em regiões de climas e ambientes bem distintos”, disse Pinhasi.
O artigo First Direct Evidence of Chalcolithic Footwear from the Near Eastern Highlands, de Ron Pinhasi e outros, publicado na PLoS ONE (5(6): e10984. doi:10.1371/journal.pone.0010984), pode ser lido em http://dx.plos.org/10.1371/journal.pone.0010984.
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Ron Pinhasi1*, Boris Gasparian2, Gregory Areshian3, Diana Zardaryan2, Alexia Smith4, Guy Bar-Oz5, Thomas Higham6
1 Department of Archaeology, University College Cork, Cork, Ireland, 2Institute of Archaeology and Ethnology, National Academy of Sciences, Yerevan, Armenia, 3 Cotsen Institute of Archaeology, University of California Los Angeles, Los Angeles, California, United States of America, 4 Department of Anthropology, University of Connecticut, Storrs, Connecticut, United States of America, 5 Zinman Institute of Archaeology, University of Haifa, Haifa, Israel, 6 Oxford Radiocarbon Accelerator Unit, University of Oxford, Oxford, United Kingdom
Abstract
In 2008, a well preserved and complete shoe was recovered at the base of a Chalcolithic pit in the cave of Areni-1, Armenia. Here, we discuss the chronology of this find, its archaeological context and its relevance to the study of the evolution of footwear. Two leather samples and one grass sample from the shoe were dated at the Oxford Radiocarbon Accelerator Unit (ORAU). A third leather sample was dated at the University of California-Irvine Accelerator Mass Spectrometry Facility (UCIAMS). The R_Combine function for the three leather samples provides a date range of 3627–3377 Cal BC (95.4% confidence interval) and the calibrated range for the straw is contemporaneous (3627–3377 Cal BC). The shoe was stuffed with loose, unfastened grass (Poaceae) without clear orientation which was more than likely used to maintain the shape of the shoe and/or prepare it for storage. The shoe is 24.5 cm long (European size 37), 7.6 to 10 cm wide, and was made from a single piece of leather that wrapped around the foot. It was worn and shaped to the wearer's right foot, particularly around the heel and hallux where the highest pressure is exerted in normal gait. The Chalcolithic shoe provides solid evidence for the use of footwear among Old World populations at least since the Chalcolithic. Other 4th millennium discoveries of shoes (Italian and Swiss Alps), and sandals (Southern Israel) indicate that more than one type of footwear existed during the 4thmillennium BC, and that we should expect to discover more regional variations in the manufacturing and style of shoes where preservation conditions permit.
Citation: Pinhasi R, Gasparian B, Areshian G, Zardaryan D, Smith A, et al. (2010) First Direct Evidence of Chalcolithic Footwear from the Near Eastern Highlands. PLoS ONE 5(6): e10984. doi:10.1371/journal.pone.0010984
Editor: Michael D. Petraglia, University of Oxford, United Kingdom
Received: April 1, 2010; Accepted: May 18, 2010; Published: June 9, 2010
Copyright: © 2010 Pinhasi et al. This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License, which permits unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original author and source are credited.
Funding: The work has been supported by the Armenian Branch of the Gfoeller Fund of America Corporation, the National Geographic Society, the British Academy, the Cotsen Institute of Archaeology at UCLA, the Steinmetz Foundation, the Chitjian Trust, and the Boochever Foundation for funding the research at Areni-1 cave. The funders had no role in study design, data collection and analysis, decision to publish, or preparation of the manuscript.
Competing interests: The authors have declared that no competing interests exist.
* E-mail: r.pinhasi@ucc.ie
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