Francisco M. Salzano e o genoma humano: um aniversário importante para a compreensão do que somos

segunda-feira, junho 28, 2010

JC e-mail 4040, de 28 de Junho de 2010.

4. Um aniversário importante para a compreensão do que somos, artigo de Francisco M. Salzano

"O tamanho total de nosso genoma foi estimado como sendo de dois bilhões e oitocentos milhões de pares de bases"

Francisco M. Salzano é professor emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde atua no Departamento de Genética do Instituto de Biociências. Foi presidente da Sociedade Brasileira de Genética (SBG) no biênio 2004/2006. Artigo publicado no "Jornal da Ciência":

Em 26 de junho de 2000, em cerimônia solene, o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, e o primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, anunciaram a finalização da primeira versão do genoma humano. A data foi escolhida simplesmente porque era uma das poucas que estavam livres nas agendas dos dois estadistas. O material do consórcio público internacional foi publicado em número especial da revista Nature de 15 de fevereiro de 2001 e o da empresa Celera no dia seguinte, na revista "Science".

Neste mês, portanto, estamos comemorando os 10 anos dessa importante conquista científica. Para dar uma ideia da magnitude da tarefa realizada pode-se mencionar que o tamanho total de nosso genoma foi estimado como sendo de 2 bilhões e oitocentos milhões de pares de bases. Dos 23 pares de cromossomos (onde estão situados os genes ou fatores hereditários), o que apresenta o maior número de genes é o Cromossomo 1 (3.141) - e também a maior densidade gênica, 14,2 genes por milhão de bases, a unidade de nosso genoma.

O genoma humano é um depósito elegante mas críptico de informação. [SIC ULTRA PLUS 1: Qual é a origem dessa informação? A teoria da evolução através da seleção natural não tem a mínima ideia da origem desta informação críptica. Quais são as implicações disso para o fato, Fato, FATO da evolução em um contexto de justificação teórica???]O Projeto da Enciclopédia de Elementos de DNA (Encode, na sigla em inglês) tem como proposta fornecer uma representação biologicamente informativa desse genoma através de métodos de alta eficiência. O número total de genes de nossa espécie, após revisão cuidadosa, é de 25.751; e há variação importante dentro e entre populações humanas. Já foram identificados nada menos do que 1,42 milhão de SNPs (single nucleotide polymorphisms ou polimorfismos de base única), variações frequentes em nosso genoma.

O desenvolvimento tecnológico vertiginoso que vem ocorrendo especialmente na última década promete continuar. Com isso, calcula-se que sejam estabelecidos métodos cada vez mais eficientes e baratos de exame do DNA e de análise dos resultados. Em 1985 calculava-se que o sequencimento total do genoma de um indivíduo humano custaria três bilhões de dólares; atualmente este valor situa-se em torno de 20 mil dólares, e a meta para 2014 é de que este baixe para apenas mil dólares.

Não basta identificar o DNA; é necessário desenvolver mecanismos para a identificação da estrutura tridimensional de seu produto, a proteína, e compreender como essas substâncias agem nas células. E já existem projetos em pleno desenvolvimento com esse objetivo.

Ótimo, maravilhoso! Mas para que tais progressos se materializem, proporcionando bem-estar social generalizado, é necessário o combate aos movimentos anticiência que pululam por toda parte. Houve o que denominei a demonização do DNA. A simples menção desta sigla causa arrepios em pessoas ignorantes ou ativistas mal-intencionados. É urgente, portanto, decidida campanha de esclarecimento público sobre o custo/benefício de quaisquer desses programas. O maior adversário para as aplicações sociais da ciência é a ignorância. [SIC ULTRA PLUS 2: o maior adversário da ciência é a sonegação de informações científicas para o público sobre o status epistêmico das teorias darling da Nomenklatura científica, e o que essas informações negativas significam para elas em um contexto de justificação teórica].

Nota da redação: Esta matéria foi publicada na edição 669 do "Jornal da Ciência", que tem conteúdo exclusivo. Informações sobre como assinar a edição impressa pelo fone (21) 2295-5284 ou e-mail jciencia@jornaldaciencia.org.br

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