“Evolução e religião”: desviando os holofotes das insuficiências heurísticas da teoria da evolução de Darwin – Parte 3 – Final
“Evolução e religião”: desviando os holofotes das insuficiências heurísticas da teoria da evolução de Darwin – Parte 1
“Evolução e religião”: desviando os holofotes das insuficiências heurísticas da teoria da evolução de Darwin – Parte 2
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Desenho [Design] inteligente (?)
Esta indagação de Pena é ladina: desenho (sic) e inteligente (sic), e desviou novamente os holofotes das insuficiências heurísticas da antiga teoria da evolução de Darwin (150 anos) no contexto de justificação teórica, e centrou toda sua retórica contra a jovem teoria do Design Inteligente (15 anos).
Eu tenho admiração por Pena qua cientista, mas esperava que suas críticas ao DI fossem muito mais contundentes. Elas foram por demais inócuas e fundamentadas em Tyson que, apesar das credenciais acadêmicas, é um crítico considerado inútil.
Pena sabe: as ideias de evolução e design são antigas. Remontam aos filósofos gregos antigos e pagãos. Muito bem antes deles, há 2.500 anos antes de Darwin, os chineses já entreteciam esta ideia: evolução por seleção natural. A maior de todas as ideias que toda a humanidade já teve está registrada numa antiga enciclopédia chinesa.
Pena não situou o contexto cultural dos Estados Unidos para os leitores — lá, sociedade tem voz e decide sobre muitas coisas. Destacou apenas que a Suprema Corte dos Estados Unidos em 1987 declarou a inconstitucionalidade do ensino do criacionismo ao lado da evolução nas escolas públicas porque favorecia o “estabelecimento da religião” violando o preceito constitucional da separação de Estado e Igreja.
Pena e muitos darwinistas não sabem, mas vão ficar sabendo de um detalhe jurídico importante. Naquela ocasião, o juiz Antonin Scalia deu sua opinião dissidente que consta nos autos:
“o povo de Louisiana, incluindo os que são cristãos fundamentalistas, tem o direito, como uma questão secular, de ter qualquer evidência científica que haja contra a evolução apresentada em suas escolas, assim como o senhor Scopes teve o direito de apresentar qualquer evidência favorável que houvesse para ela”. [1]
Pena sabe: o criacionismo é inconstitucional, mas não sabia que apresentar quaisquer evidências científicas contra a teoria da evolução nas escolas não é! E como há evidências contrárias. Por que Pena e os darwinistas ortodoxos se recusam debater publicamente essas questões, e fazem de tudo para impedir a veiculação dessas evidências contrárias? Exemplo mais recente: Bernardo Esteves, editor executivo do Ciência Hoje On-Line alegou que réplica a artigos ali publicados não faz parte da política editorial. Um triste exemplo de ‘mordaça’. Trocado em graúdos: violação da liberdade de expressão.
Eu não consigo entender o por quê dessa ‘blindagem’ contra as críticas de uma teoria científica tão corroborada quanto a lei da gravidade. Maçãs caem e comprovam a lei da gravidade, já um Australopithecus afarensis se transformar em antropólogo...
Apesar de ter lido e relido este parágrafo, eu não consegui identificar onde foi que Pena se baseou para fazer esta afirmação gratuita e infundada:
“Assim, os fundamentalistas americanos tiveram de mudar a sua estratégia contra o ensino da evolução, tirando a ênfase do aspecto religioso e adotando uma argumentação “científica”: o chamado “desenho [sic] inteligente”.
A retórica de Pena soa contundente apenas para os não iniciados na controvérsia evolução-criação-design inteligente. Para os já iniciados, a retórica soa frágil, para não dizer outra coisa, pois Pena não consegue distinguir a mão direita da mão esquerda entre criacionismo e design inteligente.
Longe de ser estratégia de “fundamentalistas americanos” contra o ensino da evolução, os teóricos e proponentes da teoria do Design Inteligente [temos céticos e ateus em nosso meio] somos a favor do ensino objetivo da evolução: ensinem aos alunos do ensino médio a controvérsia sobre a teoria geral da evolução discutida nas publicações científicas. Ensinem as evidências a favor e contra. [2] Pena e a Nomenklatura científica são contra este ensino objetivo da teoria da evolução.
Abro um parêntese para fazer a distinção entre criacionismo e design inteligente. A TDI não é criacionismo, e é uma teoria científica pelas seguintes razões:
1. O criacionismo científico [CC] está comprometido com as seguintes proposições derivadas de textos sagrados:
CC1: Houve uma súbita criação do universo, da energia e da vida ex-nihilo.
CC2: As mutações e a seleção natural são insuficientes para realizar o desenvolvimento de todos os tipos de vida a partir de um único organismo.
CC3: Mudanças dos tipos de animais e plantas originalmente criados ocorrem somente dentro de limites fixados.
CC4: Há uma linhagem ancestral separada para humanos e primatas.
CC5: A geologia pode ser explicada pelo catastrofismo, principalmente pela ocorrência de um dilúvio mundial.
CC6: A Terra e os tipos de vida são relativamente recentes (na ordem de milhares ou dezenas de milhares de anos).
2. A Teoria do Design Inteligente [TDI] está comprometida com as seguintes proposições derivadas da natureza:
TDI1: A complexidade especificada e a complexidade irredutível são indicadores ou marcas seguras de design.
TDI2: Os sistemas biológicos exibem complexidade especificada e empregam subsistemas de complexidade irredutível.
TDI3: Os mecanismos naturalistas ou causas não-dirigidas não são suficientes para explicar a origem da complexidade especificada ou da complexidade irredutível.
TDI4: Por isso, o design inteligente é a melhor explicação para a origem da complexidade especificada e da complexidade irredutível em sistemas biológicos.
Contra Pena e os demais críticos da TDI, o argumento acima é novo e científico, e não tem nada do que foi originalmente proposto pelo filósofo inglês William Paley (1743-1805) no seu livro Teologia natural, que argumentava a favor da existência de Deus:
“[…] imagine que eu pise em uma pedra e que alguém me pergunte como ela foi parar naquele lugar; se eu responder que do meu ponto de vista ela sempre esteve naquele local, não seria possível demonstrar qualquer absurdo na minha resposta. Mas imaginem que eu encontre um relógio no chão e que me perguntem como ele foi parar lá. Eu não pensaria na mesma resposta. […] Deve ter havido, em algum tempo e lugar, um artífice ou artífices que fizeram o relógio [...], que entenderam seu uso e desenharam sua construção.”
A versão moderna do “desenho [sic] inteligente” argumenta a partir de várias estruturas irredutivelmente complexas encontradas em coisas bióticas, compostas de elementos harmônicos e interativos que contribuem para o funcionamento do todo, de forma que a remoção de qualquer das partes faz com que ele cesse de funcionar.
Nós argumentamos: tais estruturas não poderiam evoluir gradualmente, pois sua função só emergiria quando o todo estivesse completo. Diferentemente do caso do relógio de Paley, a existência desses órgãos implica, não na existência de um ser superior que os teria “desenhado” intencionalmente, mas de que sinais de causas de inteligência podem ser empiricamente detectados.
Ao contrário do afirmado por Pena, um dos exemplos favoritos da TDI não é o olho humano, mas o flagelo bacteriano.
Ora, se Darwin não consegue explicar a 'evolução' do flagelo de uma 'simples' bactéria, como sua teoria consegue explicar a origem e evolução da complexidade e diversidade das coisas bióticas??? Eu sou cético localizado desta capacidade heurística da teoria geral da evolução de Darwin. Milhares de cientistas, alguns são membros de Academia de Ciências internacionais também são céticos e pedem que esta afirmação sobre a seleção natural seja considerada cum grano salis!
Pena preferiu não detalhar o conceito de exaptação (o uso de uma estrutura biológica existente para uma nova função) e nem argumentou que, em princípio, a evolução do olho humano é bem entendida, tendo seu início em agrupamento de células fotossensíveis que constituem olhos primitivos em organismos menos complexos. Em princípio é uma coisa, em história evolutiva é outra. Há relação de custo e benefício. Quantas gerações foram necessárias para que o olho evoluísse? Quais foram as etapas evolutivas? Nem o trabalho de Nilsson e Pergel escapa dessas críticas: o gradualismo darwiniano não tem como explicar a evolução da visão. [3]
Em vez disso, Pena saiu pela tangente e preferiu discutir um ponto ressaltado por Neil de Grasse Tyson, de ser enorme presunção, a incrível húbris de alguém afirmar que, “se eu não entendo como o olho humano foi formado pela evolução, isso quer dizer que ninguém mais, agora ou no futuro, será capaz de entender isto”.
A citação original de Tyson é:
“Another practice that isn't science is embracing ignorance. Yet it's fundamental to the philosophy of intelligent design: I don't know what this is. I don't know how it works. It's too complicated for me to figure out. It's too complicated for any human being to figure out. So it must be the product of a higher intelligence.”
Mas quem do DI afirmou ou afirma isso? Pena não disse, mas atribuiu este comportamento absurdo aos teóricos e proponentes do DI: eles são um bando de ignorantes. E como o editor Bernardo Esteves afirmou que não é política editorial do Ciência Hojhe On-Line a réplica de artigos, a afirmação de Pena ficou congelada no texto como sendo a verdade. Todavia, a inferência de Pena está em flagrante descompasso com a verdade.
A lógica da citação de Tyson é sofrível em muitos aspectos. Ao contrário do afirmado por Tyson e Pena, a TDI não tem como filosofia fundamental a ignorância. Pelo contrário. No melhor estilo baconiano de se fazer ciência, nós vamos à natureza, fazemos perguntas e daí depreendemos a existência de possíveis sinais de causas inteligentes empiricamente detectados.
Na prática da ciência normal nós partimos assim: Eu sei o que é isso [o flagelo bacteriano ou o olho]. Eu sei como funciona. Eu posso entender as causas e os efeitos. Os seres humanos podem compreender este sistema biológico. A natureza do sistema apresenta complexidade irredutível e/ou informação complexa especificada.
É somente na última parte que os fatos ganham interpretações diferentes. Os darwinistas dizem: foi o acaso, a necessidade, mais mutações filtradas pela seleção natural ao longo do tempo. Nós do DI afirmamos: tudo isso, mais causas inteligentes.
Nós do DI também sabemos que a ciência não funciona daquele jeito descrito por Tyson e Pena. Nós sabemos que o nosso conhecimento científico atual é finito e circundado por um perímetro de ignorância. Quando ponderando sobre um problema, e esbarramos nesse perímetro, nós tentamos empurrá-lo, aumentá-lo, alargá-lo, e não simplesmente cruzamos os braços e dizemos (como foi imputado por Tyson-Pena) de que se “eu não entendo aquilo, não sei como funciona, é complicado demais para qualquer humano entender, logo deve ser o produto de uma inteligência superior”.
Quem do DI diz ou disse isso? Ninguém. Nós dizemos que a complexidade irredutível e a informação complexa especificada são melhor explicadas como sendo produto de causas inteligentes.
Pena terminou seu artigo com um parágrafo de Tyson com o qual concordamos [C]e discordamos [D]:
“A ciência é uma filosofia de descoberta. [C] O desenho inteligente é uma filosofia de ignorância. [D pelas razões já expostas] Não é possível construir um programa de descoberta baseado na premissa que ninguém é inteligente o suficiente para encontrar a resposta a um problema. [C] Tempos atrás, as pessoas apontavam o deus Netuno como a fonte das tempestades no mar. Hoje, sabemos quando e onde elas começam. [C e D, pois não temos o conhecimento universal sobre quando e onde começam essas tempestades] Sabemos o que as alimenta. [C] Sabemos o que pode mitigar seu poder destrutivo. [C] E qualquer pessoa que já estudou o aquecimento global pode contar o que as faz se agravarem. [C e D, pois a ciência não é capaz de nos dar a previsão do tempo confiável para hoje, amanhã, daqui a uma semana, etc., quanto mais sobre o aquecimento global ser antropogenicamente provocado] As únicas pessoas que ainda chamam furacões de ‘atos de Deus’ são as que escrevem as apólices das companhias de seguro.” [C]
O darwinismo reinou até uma década atrás, soberano e sem questionadores científicos à altura. A história é bem diferente hoje. Pena, cientista que é, deveria saber que não é mais crível confundir a crítica cientificamente embasada como sendo ignorância, estupidez, ou insanidade.
Os mitos darwinianos estão bem entrincheirados que é difícil apontar nas publicações científicas que Darwin está nu e que há algo de podre na Nomenklatura científica para manter as pretensões grandiosas da teoria geral da evolução em explicar a origem e evolução da complexidade e diversidade das coisas bióticas. Todavia, um novo dia está raiando, e fica cada vez mais difícil para darwinistas ortodoxos como Pena, tapar o Sol das evidências contrárias às especulações transformistas de Darwin com uma peneira furada de teorias ad hoc e críticas infundadas facilmente desmontadas.
Não publicar a réplica de um artigo numa publicação científica on-line foi a pior coisa que poderia ter acontecido à SBPC em toda a sua existência: a maior organização acadêmica brasileira impede a livre circulação de ideias.
Ao mestre Dr. Sérgio Danilo Junho Pena, com carinho!
Enézio E. de Almeida Filho
Mestre e Doutorando em História da Ciência
Pontifícia Universidade Católica - SP
NOTAS
1. SCALIA, Antonin, citado por Phillip E. Johnson in Darwin no banco dos réus, São Paulo, Cultura Cristã, 2008, p. 18.
2. Discovery Institute Top Questions - QUESTIONS ABOUT SCIENCE EDUCATION POLICY
3. O neuro-anatomista Bernd Fritzsch, embora evolucionista, critica as explicações muito simplórias da evolução do olho de vertebrados neste artigo “Ontogenetic Clues to the Phylogeny of the Visual System,” in The Changing Visual System, editado por P. Bagnoli e W. Hodos (Nova York, Plenum Press, 1991), p. 33- 49. Mais recentemente, Behe discutiu a falta de explicação darwiniana para a origem das células fotossensíveis, no seu livro A Caixa Preta de Darwin, cap. 1, Rio de Janeiro, Zahar, 1997.
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A. Para outras pesquisas e artigos assim, vide ALMEIDA FILHO, E. E. “A sugestão de Edgar Morin para o ensino das incertezas das ciências da evolução química e biológica — uma bibliografia brevemente comentada”, in Anais do II Congresso Nacional de Licenciaturas 2009, Universidade Presbiteriana Mackenzie. Neste trabalho, mais de 100 pesquisas e artigos abordam as ‘zonas de incertezas’ das ciências da evolução química e biológica que Edgar Morin sugeriu em 1999 à UNESCO fossem ensinadas para a educação do futuro.
B. Solicitamos ao jovem editor executivo do Ciência Hoje On-Line, Bernardo Esteves, a publicação desta réplica. Segundo Esteves, réplica a artigos ali publicados “não se alinha com a orientação editorial das publicações do Instituto Ciência Hoje”. Como que a ciência avança ali, eu não sei...