JC e-mail 3876, de 26 de Outubro de 2009.
23. Pesquisadores refazem Estrada Real das plantas medicinais
Caravana da UFMG refaz trajeto que o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire percorreu na Estrada Real de 1816 a 1822 e divulga importância das espécies para chás e remédios
Gustavo Werneck escreve para "O Estado de Minas":
Uma viagem pela Estrada Real (ER) para divulgar as plantas medicinais brasileiras e semear informações produtivas sobre a necessidade de sua preservação, uso e estudos científicos. O histórico distrito de Ipoema, em Itabira, na Região Central de Minas, recebeu, na tarde de ontem, com festa e ações educativas, uma caravana que refaz o caminho do naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), que de 1816 a 1822 percorreu o interior do estado e outras localidades do país.
À frente do grupo, a professora de fitoterapia da Escola de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Maria das Graças Lins Brandão disse que a maior parte das plantas medicinais conhecidas, caso das usadas para chás caseiros e remédios - hortelã, capim-santo, manjericão, babosa e outras, - foi introduzida pelos colonizadores, portanto, não é da biodiveresidade nacional.
"É preciso pesquisá-las, conhecê-las e parar de destruí-las, pois o próprio Saint-Hilaire já se mostrava preocupado com a devastação", disse a professora e coordenadora da caravana. Entre as brasileiras pouco aproveitadas estão o barbatimão, a sambaíba e a carqueja.
Na Escola Estadual Professor Manoel Soares, os mais de 500 alunos do ensino fundamental e médio estavam com tudo na ponta da língua, pois fizeram uma série de atividades sobre o assunto, na semana passada, como confecção de painéis, plantio de vasos e montagem de viveiros de mudas, informou a vice-diretora Maria Lúcia Gonçalves Figueiredo.
A estudante Raniere Carolina Costa Oliveira, de 10 anos, contou que a mãe tem em casa um canteiro de plantas para chás. "Precisamos zelar pelos vegetais e saber mais sobre os que são brasileiros", disse. Ao lado dos colegas Pedro Henrique Quintão, de 10, e Wenderson Anselmo dos Santos, de 11, ela leu os painéis e prestou atenção às explicações dos monitores da caravana. "Nas nossas pesquisas, aprendemos que as plantas são muito importantes para nossa saúde", revelou Pedro Henrique, com total aprovação do colega.
Mesmo com a chuva forte, os moradores de Ipoema - ponto da Estrada Real que, nos séculos 18 e 19, interligava a passagem do caminho do Antigo Tijuco (Diamantina) à capital da província, Vila Rica, atual Ouro Preto - mostraram seu interesse. E brindaram os visitantes com o melhor de suas tradições, que remontam aos tempos coloniais. "Água do céu, na medida certa, é sempre bem-vinda. E, no caso de plantas medicinais, fica melhor ainda", disse a diretora do Museu do Tropeiro, Eleni Cássia Vieira, responsável pela recepção ao grupo.
Logo na chegada da caravana, as Lavadeiras de Ipoema dançaram e cantaram música cujo tema se encaixa com a proposta do grupo. "A camisa do Zezé, não se lava com sabão, lava com raminho verde, água do meu coração", entoaram as mulheres do grupo que existe desde a inauguração do Museu do Tropeiro, há seis anos.
Os meninos "estaladores de chicotes", coordenados pelo tropeiro Maurílio Ferreira, de 70 anos, receberam aplausos ao repetir o ritual feito para saudar e despedir das tropas que seguiam pela ER.
"Saint-Hilaire sempre foi acompanhado de um tropeiro nas suas viagens, preferencialmente de Minas, para garantir a rota certa e a segurança. Ipoema é importante nesse projeto, pois os tropeiros sempre fizeram uso da medicina caseira", destacou Eleni.
O programa ainda incluiu a apresentação dos "meninos do berrante", que, com o som característico do instrumento, trouxe um pouco da história dos boiadeiros, que sempre foram personagens na trajetória do naturalista francês Brasil adentro.
(Estado de Minas, 24/10)