Impulso para a inovação
27/10/2009
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – O diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, e o diretor de Inovação da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Eduardo Moreira da Costa, participaram, na última sexta-feira (23 /10), do seminário Open Innovation, em São Paulo.
Ambos participaram da Sessão Especial sobre Políticas Públicas, na qual apresentaram as modalidades e os instrumentos de apoio à inovação das duas instituições.
Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP e Eduardo Costa, diretor de Inovação da Finep, apresentam, durante o seminário Open Innovation, em São Paulo, modalidades de apoio à inovação
Organizado pelo Centro de Open Innovation – Brasil, o seminário, realizado nos dias 22 e 23 de outubro, teve o objetivo de disseminar conceitos e práticas de inovação aberta e conectar profissionais que participam do processo de inovação. Na edição de 2009, o evento teve como foco a discussão da implementação da inovação aberta nas companhias e em diversos países.
O conceito de inovação aberta foi promovido por Henry Chesbrough, diretor executivo no Centro de Open Innovationda Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, e membro do centro brasileiro. Chesbrough participou do primeiro dia do seminário.
De acordo com Brito Cruz, o primeiro programa da FAPESP para o apoiar o financiamento de projetos de pesquisa em cooperação entre instituições acadêmicas e empresas foi o Programa de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE), lançado em 1995.
“Desde então, a FAPESP vem financiando projetos que envolvem a cooperação entre empresas e universidades e criando outros programas além do PITE”, disse Brito Cruz. Em 1997, segundo ele, a Fundação lançou o Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).
Segundo Brito Cruz, o PAPI, atualmente, perpassa todos os outros programas. “Quando o PAPI foi criado, falava-se ainda pouco em inovação e propriedade intelectual. O programa obteve grande êxito em disseminar essa cultura. Agora que todos falam desses temas, vamos dar um passo à frente e implantar uma nova versão do programa, que trará ao debate público outros tópicos que não estão sendo discutidos”, disse.
As atividades dos quatro programas em 2009 deverão chegar a R$ 60 milhões em investimentos, segundo Brito Cruz, sendo R$ 35 milhões referentes ao PIPE. De acordo com ele, desde 1997, foram 1.281 projetos apoiados nesse programa.
“O PIPE estimula a cultura de pesquisa entre as pequenas empresas. Não é voltado para professores licenciados que trabalham poucas horas na empresa como atividade paralela, mas para pesquisadores que se dediquem fundamentalmente a fazer a empresa prosperar com suas ideias”, explicou Brito Cruz.
De acordo com o diretor científico da FAPESP, o PIPE tem seus impactos sistematicamente avaliados. Segundo ele, a Fundação realizou também uma avaliação comparativa do PIPE em relação ao Small Business Innovation Research (SBIR), o programa similar do governo norte-americano.
“Há diversas similaridades entre os dois programas. Uma delas é que 40% dos projetos do PIPE geraram faturamento. Se apresentarmos esse dado isoladamente, ele não adquire a magnitude real. Mas ao constatarmos que é a mesma porcentagem de um programa dos Estados Unidos, percebemos que a tarefa de gerar faturamento por meio do programa não é nada fácil – e que o PIPE está conseguindo uma boa marca”, declarou.
Outra similaridade, segundo Brito Cruz, é que poucos projetos, em ambos os países, conseguem faturamento acima de R$ 25 milhões: apenas 5% do total. “Mas há também diferenças marcantes entre os dois programas. No SBIR, 25% das empresas conseguem alavancar recursos de capital de risco. No PIPE, essa parcela chega a apenas 12%”, disse.
Segundo Brito Cruz, as avaliações mostram também que, nas empresas apoiadas pelo PIPE, a massa de recursos humanos tem um aumento de cerca de 40%. “Isso é uma das propostas do programa, na qual também estamos obtendo um sucesso importante”, disse.
Já o PITE, de acordo com Brito Cruz, tem uma ampla relação com a ideia de inovação aberta. “Em certas situações, empresas podem ter parceiros externos”, disse. No PITE, segundo ele, a FAPESP investe de 20% a 70% dos recursos do projeto a fundo perdido. “A empresa aporta uma contrapartida que é menor quando se trata de uma tecnologia de rotina. Mas se o risco científico e tecnológico for mais alto, chegamos a 70% do investimento”, disse.
Em anos recentes, de acordo com Brito Cruz, foi observada uma queda da demanda espontânea pelos recursos do PITE. “Pela experiência, achamos que a maior restrição é que no Brasil há ainda número limitado de produção de ciência nas empresas. Com isso, é difícil achar a contraparte na empresa para dialogar. Por isso, a partir de 2006, lançamos a modalidade Convênio do PITE”, explicou.
Nessa modalidade, a FAPESP passa a buscar uma associação com empresas para convidar propostas por editais, segundo o diretor científico. “Nesse caso, trata-se sempre de temas relevantes para a empresa, para que ela queira investir. Mas exige-se que esses temas sejam tratados de forma mais exploratória e menos rotineira”, disse.
Segundo Brito Cruz, a ideia dos convênios não é nova: um discurso do governador Carvalho Pinto, em 13 de março de 1962, na ocasião da fundação da FAPESP, indicava que a Fundação deveria estabelecer sistemas de investimentos para trabalhar em convênios com empresas. “A criação da modalidade de convênios reverteu a queda de demanda pelo PITE, aumentando-a em pelo menos cinco vezes”, declarou.
Em 2008, segundo Brito Cruz, o PITE mobilizou recursos de cerca de R$ 100 milhões, sendo cerca de R$ 60 milhões das empresas e R$ 40 milhões da FAPESP. “O dinheiro do contribuinte deve mobilizar o dinheiro das empresas para que tenhamos uma estratégia de interesse público. Tudo indica que fomos bem-sucedidos nisso”, afirmou.
Eduardo Costa explicou que a Finep oferece recursos para inovação em três linhas: crédito, subvenção e capital de risco. Segundo ele, no entanto, a terminologia utilizada para fazer referência a recursos financeiros na área de ciência e tecnologia causa certa aversão nos investidores.
“Temos dificuldade em falar em dinheiro, por questão cultural. Tivemos que criar o termo 'subvenção' para fazer referência aos investimentos a fundo perdido, pois o termo espanta os investidores. Do mesmo modo, o termo ‘capital de risco’, para se referir a venture capital, atrapalhou os investimentos no Brasil. Trata-se, no entanto, de investimento a longo prazo, com maior risco e maior retorno. Todo investimento é uma relação direta entre risco e retorno”, explicou.
Na linha de subvenção, segundo Costa, o maior programa da Finep é o Prime, implementado em 17 incubadoras. “São 5.400 empresas apoiadas em quatro anos. O programa envolve R$ 1,3 bilhão nesse período. Os projetos são submetidos a inteligência externa, com avaliação rigorosa. Cada empresa pode receber R$ 120 mil a fundo perdido nos dois primeiros anos, e depois mais R$ 120 mil como empréstimo subsidiado”, disse Costa.
O Programa Subvenção, segundo ele, oferece de R$ 1 milhão a R$ 10 milhões não reembolsáveis. Nessa linha, em 2008, 2.600 empresas pleitearam os recursos e 10% delas foram contempladas. Foram investidos R$ 450 milhões, sendo 40% em microempresas.
“Na linha de venture capital e capital semente, a Finep não investe diretamente na empresa , mas em fundos de investidores que colocam os recursos nelas. Alocamos R$ 200 milhões em capital de risco e conseguimos obter seis vezes esse valor. Muitas vezes nesses investimentos entram recursos dos fundos de pensão que, com 0,5% de seu faturamento inundam o mercado de dinheiro”, disse.
Segundo Costa, a Finep, na linha de crédito, possui dois programas para pequenas empresas. O programa Juro Zero, para empresas de faturamento de R$ 100 mil a R$ 900 mil, oferece recursos desburocratizados. O dinheiro sai em 30 dias, sem necessidade de garantias reais.
“Para empresas com R$ 1 milhão a R$ 100 milhões, temos o Programa Inova Brasil, que oferece juros fixos de 4% a 4,5%. Uma característica importante desse programa é que ele paga metade da conta de mestres e doutores, com o objetivo de aumentar sua presença nas empresas”, disse.
Segundo Costa, atualmente empresários estão investindo em inovação por necessidade. “A cultura empresarial de investimentos em pesquisa inovativa está mudando para melhor. Mas temos certa ansiedade, porque o sitema de ciência e tecnologia brasileiro começou a existir há 50 anos e essa necessidade premente de inovar só surgiu com a abertura dos mercados, por isso ainda falta muito a avançar”, declarou.