JC e-mail 3765, de 20 de Maio de 2009.
19. Fóssil dá pistas sobre evolução dos primatas
Esqueleto de 47 milhões de anos é o mais completo já encontrado
Um esqueleto quase completo de uma pequena criatura, de 47 milhões de anos, pode dar informações sobre a evolução de macacos e homens. Com o tamanho de um felino pequeno, o animal – uma fêmea, apelidada de Ida – tem quatro pernas e uma longa cauda.
Segundo pesquisadores, do Museu de História Natural da Universidade de Oslo, na Noruega, esse não é o ancestral comum de todos os primatas. Mas pode dar boas pistas de como ele seria. “Ela conta muitas histórias. Apenas começamos a pesquisar esse espécime fabuloso”, disse Jorn Hurum, um dos cientistas ligados à descoberta. Ele deu o nome de sua filha de 6 anos ao fóssil.
A divulgação foi feita com estardalhaço, em coletiva de imprensa no Museu de História Natural de Nova York. Como os dados foram tornados públicos antes de sua publicação em veículo especializado, quando há análise por outros cientistas, surgiram dúvidas em relação à validade científica da descoberta. Para Hurum, não há nada de errado na publicidade feita antes da publicação científica, na revista eletrônica PLoSOne (Public Library of Science, http://www.plos.org) ontem à tarde. “Isso é levar ciência ao público. Não acho que seja errado”, disse.
Ida, oficialmente Darwinius massillae, é uma nova espécie, parecida com os lêmures modernos, que morreu com nove ou dez meses. Ela tinha cerca de um metro de altura e entre 650 e 900 gramas. Herbívora, ela comeu frutas, sementes e folhas antes de morrer. O material foi descoberto na Alemanha em 1983. Esse é talvez o fóssil mais completo de um primata já encontrado, com 95% dos ossos – só uma parte de uma perna se perdeu– e vestígios da pele e do conteúdo estomacal.
Suas características mais distintas são os polegares opositores e a presença de unhas, em vez de garras. Tão importante quanto a presença desses itens é a ausência de outros, como uma garra única no pé e dentes fundidos na mandíbula, marcantes em lêmures modernos. A falta dessas características é típica de primatas como o Homo sapiens.
Os paleontólogos que estudaram Ida defendem que ela está em um ponto da evolução antes da separação entre dois ramos: o que deu origem aos macacos e ao homem e outro, de onde vieram os lêmures. “É uma espécie de Pedra de Rosetta, porque une elementos que antes não tínhamos sido capazes de associar”, disse Philip Gingerich, da Universidade de Michigan, também parte do grupo que estudou o fóssil.
Mas especialistas não liga- dos à descoberta questionam as conclusões da equipe.“Não creio que essa criatura esteja tão próxima do ancestral comum de macacos e humanos”, disse Christopher Beard, do Museu Carnegie de História Natural, em Pittsburgh. “Eu diria que é o mais distante que se pode ir e ainda continuar sendo um primata.”
Para John Fleagle, da Universidade de Nova York, a análise dos cientistas oferece apenas um “elo fraco entre a nova criatura e os grandes primatas, como macacos e humanos”. (AP, AFP e The Times)
(O Estado de SP, 20/5)