Darwin e o apoio das igrejas: indesejável, comprometedor e surrealista

quarta-feira, setembro 17, 2008

Embora a linha editorial deste blog seja estritamente científica, há vários anos eu venho alertando os crentes de concepções religiosas que eles seriam cooptados pelos darwinistas a aceitarem as especulações transmutacionistas de Darwin juntamente com as suas concepções de criação, e que este esdrúxulo samba epistemo-ideológico do crioulo doido não seria considerado paradoxal pela Nomenklatura científica para garantir o monopólio epistêmico de Darwin: enganar os trouxas dos crentes e contrariar, momentaneamente, os darwinistas ortodoxos, fundamentalistas, xiitas como Richard Dawkins, Daniel Dennett, Sam Harris e P. Z. Myers [Os 4 cavaleiros do Apocalipse da pós-modernidade contra os crentes de concepções religiosas].



Eu errei na profecia [e graças a Deus, ou a Darwin, eu nem sei mais a quem agradecer, não se matam mais profetas cujas profecias não se cumprem]. Os darwinistas bem que tentaram, e depois dessa talvez nem tentem mais, pois ganharam a indesejável, comprometedora e surrealista adesão, o beija-mão e beija-pé surrealista dos seus maiores “inimigos” religiosos: as autoridades das igrejas cristãs. Por essa, Darwin, e muito menos seus discípulos e profetas atuais não esperavam. Justamente Darwin, agnóstico [rejeição educada e polida da divindade, mas rejeição consciente e intencional] que está enterrado na Abadia de Westminster próximo ao túmulo de Newton, crente, está a caminho da canonização.

Qualquer historiador de ciência que se preze sabe: as menções feitas sobre a divindade no livro Origem das Espécies foram recursos retóricos pragmáticos utilizados por Darwin para induzir os cientistas de concepções religiosas que dominavam a Nomenklatura científica da época a aceitarem suas especulações transmutacionistas. Em segundo plano o apoio maciço do andar de baixo que Darwin não levava muito em conta no tocante à recepção de suas idéias: os crentes de concepções religiosas.

Em carta a Joseph Hooker discutindo a origem da vida, de 29 de março de 1863, Darwin lamentou ter utilizado este “recurso retórico”:

“Eu lamentei há muito tempo que eu me submeti à opinião pública, e usei o termo do Pentateuco da criação, pelo qual eu realmente quis dizer ‘surgiu’ por algum processo totalmente desconhecido. Isso é mera bobagem, pensando no presente sobre a origem da vida; que alguém possa pensar sobre a origem da matéria.” [1]

Não se engane, conhecendo a natureza humana que somos, Darwin era mais liso do que quiabo quanto à sua subjetividade ideológica, e tinha lá seu lado ‘cinzento’ e podre como qualquer mortal. Todavia, este lado é pouco explorado pelos historiadores de ciência, que ‘sanitizam’ a versão ‘light’ de Darwin para consumo pela turma do andar de baixo, mas que deixa alguns historiadores de ciência não comprometidos com o discurso oficial da Nomenklatura incomodados com este expediente espúrio: nós sabemos que a verdade dos fatos históricos está sendo ‘enterrada’ intencionalmente.

Darwin mencionou que se a sua teoria da evolução através da seleção natural precisasse de ‘ajuda externa’ [a divindade, por exemplo,] a sua teoria estritamente materialista seria ‘rubbish’. Traduzido em miúdos, algo como ‘titica de galinha’.

Bem, o que dizer do suposto pedido de desculpas da Igreja da Inglaterra [Anglicana? Eu já nem mais como nomeá-la]? Aceita a evolução e pede desculpas a Darwin. Até onde eu sei, não é a posição oficial daquela comunidade religiosa, mas a manifestação de uma de suas autoridades.

E o que dizer então da posição ambígua da Igreja Católica? Aceita a evolução, mas não pede desculpas a Darwin.

E o que diz a Nomenklatura científica diante desta situação surrealista? Aceita os pedidos de desculpas dos “infiéis”? Até agora temos apenas um silêncio pétreo mais do que pragmático: é melhor não mexer nesta titica que vai feder muito mais. O silêncio dos conscientes sobre um apoio indesejado, comprometedor e surrealista.

É, mas Andrew Darwin, um dos descendentes de Darwin [fez mestrado em teologia para ser ministro da Igreja Anglicana] já disse que isso tão-somente suaviza a consciência dos que cometeram o pecado epistemológico mortal: não aceitar a seleção natural como vera causa evolutiva da origem e da evolução das espécies.

Fui, cada vez mais cético de alguns líderes de concepções religiosas [por desconhecerem a história da ciência, o atual status epistêmico da teoria da evolução, e por adorarem uma divindade de potência de quinta categoria], e da Nomenklatura científica se aceitar o processo da canonização de Darwin que virá logo em seguida:

“São Darwin, padroeiro dos cientistas. Miserere nobis, ora, ora pro nobis.”

NOTA:

1. “I have long regretted that I truckled to public opinion, and used the Pentateuchal term of creation, by which I really meant ‘appeared’ by some wholly unknown process It is mere rubbish, thinking at present of the origin of life; one might as think of the origin of matter.”