Quando é OK dizer que Darwin estava errado

sábado, março 22, 2008

18/03/08
por David Tyler 11:37:38 am

Com as celebrações de Darwin ganhando ímpeto, vale a pena destacar um reconhecimento de erro no pensamento do grande homem. O comunicado à imprensa diz: “Pesquisa mostra que Darwin estava errado sobre as origens das galinhas” e isso ecoou em alguns relatos da mídia. Darwin escreveu que ele estava confiante de que a galinha doméstica descendia da espécie Gallus silvestre vermelho, mas isso se revela ser incorreto.

[N. do Blogger 1: Toda a Grande Mídia tupiniquim recebeu, mas eles publicaram alguma coisa? Eu duvido, porque a GMT, especialmente a Folha de São Paulo, “está de rabo preso com Darwin”]


Galinha doméstica
As pernas amarelas das galinhas revelam sua origem híbrida

A pista se encontra na coloração amarela da perna que se conecta a um marcador genético. Este marcador não está presente na espécie Gallus silvestre vermelho, mas é encontrado no Gallus silvestre cinzento. A inferência é que a domesticação envolveu hibridização. Greger Larson, co-autor da pesquisa disse:

“Darwin reconheceu a importância de estudar os animais domésticos como um modelo de evolução, e este insight se mostrou enormemente influente. A coisa irônica é que ele acreditou que os cães fossem híbridos de diversos ancestrais silvestres, mas que as galinhas tinham tido apenas um, e ele estava errado nos dois casos.”

[N. do Blogger 2: Ao contrário da galera dos meninos e meninas de Darwin e de alguns membros da Nomenklatura científica que ‘idolatram’ Darwin e que tudo o que ele disse no “Origem das Espécies” é ex-cathedra, este cientista teve a ousadia de dizer que Darwin errou. E errou duas vezes!]

Por estas questões são dignas de nota? Não é porque Darwin estava errado no seu juízo nesta questão, porque novo conhecimento surgiu com nova evidência. Nós podemos ter certeza de que Darwin teria mudado de opinião à luz desta pesquisa.

Em vez disso, é digna de destaque porque ela se contrasta fortemente com erros muito mais importantes que Darwin cometeu que não são trazidos para atenção do público.

[N. do Blogger 3: Eu faço isso em vão há uma década. Quando a questão é Darwin, a Nomenklatura científica e a GMT sofrem da “síndrome ricuperiana” —o que Darwin tem de bom, a gente mostra; o que Darwin tem de ruim, a gente esconde! E da “síndrome dos soldadinhos-de-chumbo” —todo o mundo pensando igual, e ninguém pensando em nada. Ai de quem ousar pensar diferente do guru epistêmico de Down! Aquele que teve a maior idéia que toda a humanidade já teve — menos Dennett, menos!!!]

Ele confundiu a seleção artificial com a seleção natural; ele exagerou excessivamente no que a seleção natural é capaz de fazer; ele assumiu que a variação não tem limites; ele sugeriu o conceito de ancestral comum a despeito de numerosas evidências de descontinuidade; ele foi diletante com a herança através da pangênese (que nós não ouvimos bastante hoje em dia); e ele tentou apresentar a embriologia e o desenvolvimento inicial como evidência a favor de sua teoria. Nós não estamos confiantes de que Darwin teria mudado de opinião à luz de novas evidências relativas a essas questões, porque Darwin era principalmente dedutivo no seu modo de pensar.

Ele não era um empirista que via a ciência se desenvolvendo através do teste de hipóteses, mas ele trouxe um modelo teórico para as evidências, e explorou os “melhores e adequados” cenários. Esta abordagem ele aprendeu com Charles Lyell, que fez o mesmo com a ciência geológica nos seu livro “Principles of Geology”. Nós já fomos além do lyellismo nas ciências da Terra — já é hora de irmos além do darwinismo nas ciências biológicas. (Para mais informação sobre ir além do darwinismo, clique aqui.)

Identification of the Yellow Skin Gene Reveals a Hybrid Origin of the Domestic Chicken [PDF gratuito: 251 KB]

Eriksson J, Larson G, Gunnarsson U, Bed'hom B, Tixier-Boichard M, et al. (2008)
PLoS Genetics, March 2008, 4(2): e1000010 | doi:10.1371/journal.pgen.1000010

Abstract: Yellow skin is an abundant phenotype among domestic chickens and is caused by a recessive allele (W*Y) that allows deposition of yellow carotenoids in the skin. Here we show that yellow skin is caused by one or more cis-acting and tissue-specific regulatory mutation(s) that inhibit expression of BCDO2 (beta-carotene dioxygenase 2) in skin. Our data imply that carotenoids are taken up from the circulation in both genotypes but are degraded by BCDO2 in skin from animals carrying the white skin allele (W*W). Surprisingly, our results demonstrate that yellow skin does not originate from the red junglefowl (Gallus gallus), the presumed sole wild ancestor of the domestic chicken, but most likely from the closely related grey junglefowl (Gallus sonneratii). This is the first conclusive evidence for a hybrid origin of the domestic chicken, and it has important implications for our views of the domestication process.

Vide também:

Study shows Darwin was wrong about the origins of chickens, EurekAlert, 29-Feb-2008


[N. do Blogger 3: O EurekAlert é enviado para todas as redações da GMT. Quando não publicam coisas assim, eles estão violando a nossa cidadania no direito à informação! Alô, ombudsman da FSP, nós estamos de olho em vocês!!!]

Highfield, R., Darwin was wrong about (chicken) evolution, The Daily Telegraph, 29 February 2008.

Darwin C., 1868. The variation of animals and plants under domestication. London: John Murray. Volume 1, Chapter VII, Fowls, 236-237.

From the extremely close resemblance in colour, general structure, and especially in voice, between Gallus bankiva and the Game fowl; from their fertility, as far as this has been ascertained, when crossed; from the possibility of the wild species being tamed, and from its varying in the wild state, we may confidently look at it as the parent of the most typical of all the domestic breeds, namely, the Game-fowl.