JC e-mail 3459, de 28 de Fevereiro de 2008.
18. Ártico abrigou o maior réptil marinho do mundo
Apelidado de "O Monstro", animal tinha 15 metros e viveu há 150 milhões de anos. Espécie foi apresentada à imprensa antes de seu estudo ser concluído, o que é anormal; objetivo é obter fundos para mais pesquisas
Um grupo de cientistas noruegueses sem dinheiro para continuar suas pesquisas perdeu o pudor e resolveu divulgar resultados preliminares de uma descoberta literalmente grande: os fósseis de um réptil marinho extinto de 15 metros de comprimento, provavelmente o maior já encontrado.
Antes mesmo de ganhar um nome científico e uma descrição formal numa publicação acadêmica — algo obrigatório para validar uma descoberta —, o animal já tem fotos divulgadas na internet e até um apelido carinhoso: "O Monstro". Ele é um plesiossauro, membro de um grupo de animais que viveu na era dos dinossauros, há 150 milhões de anos.
Os plesiossauros eram os principais predadores oceânicos de seu tempo. Comiam de moluscos gigantes a peixes e outros répteis marinhos. Um subgrupo de plesiossauros em especial, o dos pliossauros (ao qual pertence o novo fóssil), atingiu dimensões colossais. Uma espécie desenterrada na Austrália, o Kronosaurus, tinha 12 metros.
Os cientistas do Museu de História Nacional de Oslo, responsáveis pela nova descoberta, estimam que "O Monstro" tenha sido ainda maior. "Há um espécime encontrado no México que também pode ter chegado a 15 metros. Mas ele ainda não foi publicado, então por enquanto nós somos os maiores", disse à Folha o paleontólogo Jorn Hurum, líder dos cientistas.
Um aluno de Hurum, Espen Knutsen, deve publicar a descrição completa do animal em sua tese de doutorado. Para isso, no entanto, o grupo precisa continuar os trabalhos de escavação no remoto arquipélago de Svalbard, acima do Círculo Polar Ártico. É lá que afloram as rochas com centenas de fósseis desses animais e de vários outros. Foram 40 plesiossauros identificados até agora, sendo dois esqueletos do "Monstro".
Só que a logística de um trabalho de campo no deserto ártico é complicada: exige vôos de helicóptero, acampamentos no meio do nada (sob constante risco de ataque de ursos polares) — e muito, muito dinheiro. "Precisamos de US$ 200 mil para a próxima temporada de campo", afirmou Hurum.
Para amolecer o coração dos financiadores, o cientista e seus colegas passaram os últimos meses vasculhando a literatura científica sobre os plesiossauros à busca de um espécime maior. Como não encontraram, resolveram divulgar à imprensa as fotos do "Monstro".
Outros cientistas torcem o nariz para a estratégia. "Certamente eles têm algo na mão, mas eu sempre espero até ter um estudo publicado", disse Farish Jenkins, da Universidade Harvard, EUA, que também pesquisa no Ártico.
Hurum diz que o fim justifica os meios. "O valor científico de uma jazida fossilífera dessas é simplesmente incrível."
(Folha de SP, 28/2)