A jornalista free-lance Suzan Marzur não tem jeito não. Depois de botar a boca no trombone sobre uma reunião de eminentes especialistas evolucionistas que irá acontecer em Altenberg, Áustria, em julho de 2008 para discutirem sobre a elaboração da nova teoria da evolução: a SMA [Síntese Moderna Ampliada], ela entrevistou a Richard Dawkins, e fez perguntas que os editores de ciência e jornalistas tupiniquins não têm coragem de fazer porque estão “de rabo preso” com Darwin.
Talvez muitos leitores deste blog não saibam, mas “de rabo preso com o leitor” foi um mote publicitário da Folha de São Paulo. Nada mais falso. A FSP esteve sempre “de rabo preso” com Darwin, apesar deste blogger notificá-los desde 1998 sobre as insuficiências epistêmicas fundamentais no neodarwinismo no contexto da justificação teórica.
O editor de ciências da FSP, através do ombudsman, corrige a este historiador da ciência em formação que “neodarwinismo” tem a ver com “a escola evolucionista fundada por Weismann e há muito ultrapassada”. Usei e uso o termo “neodarwinismo” porque este é o termo acolhido pelos autores dos livros-texto de Biologia, e por muitos cientistas nas publicações científicas. Eu tenho, como disse certa professora, “trocentos” exemplos disso!
Em vez de lidarem com o essencial, e não lidam por razões aqui há muito declinadas, o editor de Ciências da FSP veio com esta pérola de “riguer historique et linguistique”. Uma picuinha lingüística periférica que me tirou o sono...
Com vocês, Suzan Marzur, uma mulher jornalista corajosa que faz perguntas impertinentes quando a questão é Darwin, assim como faz este blogger, mas que ainda não vemos nos editores de ciência e nos jornalistas da Grande Mídia tupiniquim:
17 de março de 2008-03-20 Artigo: Suzan Marzur
Richard Dawkins Renuncia ao Darwinismo como Religião e Adota a Forma
O biólogo evolucionista ateu Richard Dawkins falou para um auditório lotado no Manhattan's Ethical Culture Society sábado à noite sobre o seu livro best seller, “Deus, um delírio”, admitindo na sessão de perguntas e respostas que se seguiu de ser “culpado” em considerar o darwinismo como um tipo de religião e fazendo o voto de se “reformar” (contudo, não permitiram ninguém gravar a confissão de Dawkins, com os organizadores do evento ameaçando mandar os ofensores darem uma volta em torno da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias — igreja dos mórmons).
Eu me encontrei com Richard Dawkins na noite anterior na editora Barnes & Noble em Tribeca (Nova York) onde ele me falou diante de uma audiência de aproximadamente umas 200 pessoas (gravadores foram permitidos) da importância do papel da forma em elaborar uma teoria da evolução adequada. Dawkins está associado há muito tempo com a teoria genocêntrica da seleção natural, e é autor do livro “O Gene Egoísta”. A nossa seção de perguntas e respostas segue abaixo:
Suzan Mazur:
Richard Dawkins.net pegou recentemente a minha história sobre uma reunião em Altenberg (Áustria) em julho, chamada de “Para uma Síntese Evolutiva Ampliada — Altenberg! O Woodstock da Evolução?", que se acredita irá nos mover um pouco além do ponto-de-vista genocêntrico. A seleção natural está sob ataque, e o sentimento é que a coisa realmente interessante da evolução tem a ver com a forma, que atualmente nós não temos uma teoria. Eu fico pensando se você foi convidado a participar do simpósio de Altenberg e quais são os seus pensamentos sobre o remix da Síntese?
Richard Dawkins: A pergunta é sobre um simpósio recente em Altenberg na Áustria.
Suzan Mazur: Não. Vai acontecer em julho. Eu estava pensando se você foi convidado?
Richard Dawkins: Desculpe, ainda não aconteceu e você está me dizendo?
Suzan Mazur: Não, vai acontecer em julho, para remixar essencialmente a teoria da evolução.
Richard Dawkins: Sobre o desenvolvimento também?
Suzan Mazur: Parece ser um distanciamento do ponto-de-vista genocêntrico.
Richard Dawkins: Você está deixando se levar pela retórica.
Suzan Mazur: Você a colocou no seu website — a minha história.
Richard Dawkins: Você me fez a pergunta: Eu fui convidado? Eu sinto muito em dizer, mas eu sou convidado para muitas coisas, e eu literalmente não posso me lembrar se eu fui convidado ou não para este evento particular. [um pouco de gargalhadas].
Suzan Mazur: Mas está sendo considerado como um grande evento.
[N. do Blogger: Menos para a editoria de ciência da Folha de São Paulo que mandou e-mail para o seu ombudsman tentando diminuir a importância do evento].
Richard Dawkins: Considerada importante por quem eu imagino. [algumas gargalhadas].
Suzan Mazur: Você deve ter dado uma olhada na história que eu escrevei.
Richard Dawkins: Não. Eu sinto muito, mas eu tenho que responder agora a pergunta.
Eu acho que isso é um ataque no ponto-de-vista genocêntrico da evolução e uma substituição da teoria da forma.
A teoria da forma, eu imagino, é do tempo de D'Arcy Thompson [N. do Blogger: Como o texto não é meu, o link da Wikipédia fica mantido, mas enciclopédia é uma péssima fonte ideologizada de informações – um lixo cultural], que foi um distinto zoólogo escocês que escreveu um livro chamado “On Growth and Form” [Sobre o crescimento e a forma] e que dava a entender ser antidarwinista. Na verdade, ele nunca falou realmente sobre os problemas reais que o darwinismo resolve, que é o problema da adaptação.
Bem, D'Arcy Thompson e outras pessoas que dão ênfase à palavra “forma”, dão ênfase às leis da Física. Os princípios físicos somente por si mesmos são adequados para explicar a forma dos organismos. Assim, por exemplo, D'Arcy Thompson olharia para a maneira como um tubo de borracha ficava remodelado quando esmagado, e ele achava analogias para isso nos organismos vivos.
Eu vejo bastante valor neste tipo de abordagem. É algo que nós como biólogos não podemos negligenciar. Todavia, isso negligencia absolutamente a questão de onde que vem a ilusão de design? De onde os animais e as plantas ganham esta poderosa impressão de que eles foram brilhantemente planejados para um propósito? De onde que vem isso?
[N. do Blogger: eu pensei que Darwin já tinha resolvido esta questão de design per omnia seculorum...]
Isso não vem somente das leis da física. Isso não pode vir de nada que tem sido até aqui sugerido por quem quer seja a não ser a seleção natural. Dessa maneira, eu não vejo nenhum conflito entre a teoria da seleção natural —a teoria da seleção natural genocêntrica, eu devo dizer —e a teoria da forma. Nós precisamos das duas. Nós precisamos das duas. E é muito desonesto apresentar uma sendo antagônica à outra.
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