JC e-mail 3199, de 06 de fevereiro de 2007
RJ comemora o Dia Darwin com palestra sobre evolução
Muito interessante a idéia da Livraria da Travessa do Shopping Leblon trazer o biólogo Diogo Meyer para falar sobre “O que é a Teoria da Evolução” na próxima terça-feira, dia 13, às 20 horas, para a celebração do Dia Darwin pelo terceiro ano consecutivo. A Livraria da Travessa do Shopping Leblon fica na Rua Afrânio de Mello Franco 290 - 2º piso. Fone: (21) 3138-9600.
Esta data celebra em todo o mundo os 198 anos do nascimento de Charles Darwin, naturalista inglês do séc. XIX. Darwin esteve no Brasil em sua viagem a bordo do HSM Beagle e co-autor junto com Alfred Russel Wallace da teoria da seleção natural, a teoria evolutiva. Será que Diogo Meyer vai falar de que há fortes indícios de que Darwin plagiou as idéias de Wallace e de Edward Blyth sobre a seleção natural?
Por que o site http://www.darwinday.org não aborda as dificuldades fundamentais da teoria geral da evolução conforme proposta por Darwin em 1859, e as críticas científicas que vêm sendo feitas desde então? É simplório demais essa polarização de que as únicas objeções à teoria geral da evolução sejam apenas ‘ondas fundamentalistas e criacionistas que ocorrem no mundo’. Nada mais falso. Meyer sabe, mas omitirá isso em sua palestra: Darwin sofre de objeções desde 1859: escreveu 1/3 do seu Origem das Espécies tentando rebater objeções. De religiosos? Não, de cientistas seus pares na Academia.
O parágrafo a seguir eu chamo de ‘tese de conspiração’ e de ‘demonização’ dos oponentes, e da ‘canonização’ da ciência:
“Como se sabe, em pleno século XXI, grupos religiosos ainda consideram a teoria da evolução uma ameaça a seus dogmas. Estes grupos combatem a ampla disseminação das conquistas da ciência, fator de promoção da democracia e da evolução das sociedades, com o discurso pseudo-científico do design inteligente”.
Grupos religiosos consideram sim a teoria da evolução como uma ameaça aos seus dogmas, mas não somente por razões de fé, mas razões científicas: a teoria geral da evolução não fecha a conta epistemicamente. O discurso do Design Inteligente é derivado da natureza: sistemas biológicos de complexidade irredutível (Behe) e informação complexa especificada (Dembski).
Eu sou um iconoclasta, e vou estragar o quanto puder esse ‘culto à personalidade’ a Darwin que se alastra nas tabas tupiniquins, porque este evento organizado pelos biólogos Isabel Landim e Cristiano Moreira, não é ‘uma celebração ao conhecimento científico e à valorização da diversidade’, mas a imposição de uma camisa de força epistemológica, um convite ao suicídio intelectual que leva à ‘síndrome do soldadinho-de-chumbo’: o pensamento uniforme. Ora, se todos estão pensando a mesma coisa, ninguém está pensando em nada!
Eu espero que a palestra “O que é a Teoria da Evolução?” a ser proferida por Diogo Meyer, doutor pela Universidade da Califórnia, UCLA e co-autor dos livros de divulgação científica “O que é vida?” (Relume Dumará) e “Evolução: o sentido da biologia” (Unesp) [Vamos fazer uma resenha deste livro neste blog], aborde as seguintes questões:
Em primeiro lugar, definir o termo ‘evolução’. Razão? Evolução pode significar muitas coisas. Falando amplamente, evolução pode simplesmente significar mudança ao longo do tempo. Isso nenhuma pessoa em sã consciência pode negar. Em biologia pode significar pequenas mudanças dentro das espécies existentes, algo que nós vemos acontecer diante de nossos olhos.
Mas Meyer sabe, e talvez vai abordar justamente isso, a teoria de Darwin afirma muito mais — isto é, que todos os seres vivos descendem de um ancestral comum, e que suas diferenças atuais são devidas a processos naturais não guiados tais como variações randômicas e a sobrevivência do mais apto. Meyer não vai falar sobre a evolução em geral, mas a teoria particular de Darwin (Darwinismo) que será celebrada nesse Dia Darwin.
Sem dúvida que a celebração da teoria da evolução e das idéias de Darwin deve ter acontecido de forma organizada e não organizada muitas vezes desde a publicação do “Origem das Espécies”. A primeira que me vem à mente é a de 1909 quando a teoria geral da evolução de Darwin estava uma bagunça e a seleção natural era questionada por biólogos evolucionistas de peso como William Bateson. Vide RICHMOND, Marsha L., “The 1909 Darwin Celebration” ISIS 2006, 97:447-484.
Quando o folder exalta as idéias de Darwin como tendo extrapolado em muito os limites da biologia, e influenciando várias outras áreas do conhecimento humano, como a psicologia, a filosofia e a antropologia, seus autores estão elevando as especulações transformistas de Darwin em ‘theoria perennis’. Não existe isso em ciência.
O esforço dos atuais discípulos de Darwin para que o seu aniversário seja uma data símbolo, através de atos públicos, beira a ‘idolatria secularista’, e essa ‘adoração ecumênica internacional’ começou na Stanford University em 1995 (EUA), um dos berços da Razão.
A organização “Darwin Day celebration”, deveria sim incentivar, organizar e auxiliar eventos públicos de divulgação da ciência abordando as seguintes questões impertinentes, e que Meyer sabe, mas não abordará em sua palestra:
As experiências têm falhado consistentemente em apoiar com evidências a hipótese de que as variações (inclusive aquelas produzidas pela mutação genética) e a seleção (natural ou artificial) possam produzir novas espécies, órgãos e planos corporais.
Para contrariar a palestra de Meyer sobre o que é evolução, o que antes parecia ser uma sólida evidência de ancestralidade comum universal (fósseis, embriões e comparações moleculares) agora está sendo solapada por crescente inconsistências. Vide o blog Darwin ‘Quixote de la Mancha’ e a Árvore da Vida: um moinho de vento?'
Então cara-pálida, se essas coisas não são divulgadas em eventos assim, quem é que combate ‘a ampla disseminação das conquistas da ciência’? Na verdade, são os darwinistas que varrem essas conclusões para debaixo do tapete epistemológico, e não falam publicamente sobre esses fatos tenebrosos que contrariam a projeção de suas mentes. Quem é que impede realmente o avanço da ciência? Quem é que prefere manter o grande público cientificamente ignorante dessas questões?
Eu espero sinceramente que Meyer não sirva a tão escusos e velados interesses: a manutenção de ‘dogmas científicos’ não baseados na ciência, mas em preferências ideológicas do naturalismo filosófico que posa como ciência.
A maioria dos grupos religiosos rejeita o darwinismo por boas razões: ele não se encaixa com a evidência científica. O Dia Darwin seria melhor celebrado se os pontos fortes e fracos da teoria geral da evolução fossem apresentados objetivamente.
O que vai acontecer dia 14 de fevereiro, e por essa Darwin não esperava, é mais um ‘dia santo de guarda’ no calendário dos crentes em Pindorama. Só que dessa vez é para honrar a Darwin, que apesar de agnóstico, está enterrado na Abadia de Westminster.
Quanta ‘santa’, oops secular ironia...