Eu disse que iria ‘evoluir’ no meu estilo literário nest blog, mas parece que eu tive uma súbita recaída. Culpado disso é o Richard Dawkins, o apóstolo fundamentalista do neo-ateísmo. Alguém aí se lembra qual foi o último artigo ou pesquisa científica realizada por ele? Ué, o refrão da Nomenklatura científica — ‘publish or perish’ como é que fica? Não se aplica a este ‘cientista’??? Todos são iguais, mas há quem seja mais igual do que os outros...
Nós sabemos que as idéias têm conseqüências, e que seus autores não podem controlar a má utilização ou implicações derivadas de suas idéias ou teorias. É o caso de Darwin, apesar de sua subjetividade extremamente complexa: ele é mais ‘liso’ do que quiabo. Profunda e convenientemente circunspecto.
Dawkins é o antípoda de Darwin. Ele afirmou categoricamente: “... penso igualmente que, antes de Darwin, o ateísmo até poderia ser logicamente sustentável, mas que só depois de Darwin é possível ser um ateu intelectualmente satisfeito”. [1] Quer dizer, derivei a minha subjetividade ateísta nas idéias de Darwin. Talvez Richard Dawkins não saiba, mas o seu ‘ídolo’ Charles Darwin, na sua autobiografia, discorda diametralmente dele nesse sentido:
“O que os meus próprios pontos de vista possam ser é uma questão de nenhuma conseqüência para ninguém a não ser eu mesmo. Mas, como você pergunta, eu posso declarar que o meu juízo flutua freqüentemente… Nas minhas mais extremas flutuações eu nunca fui um ateu no sentido de negar a existência de um Deus. Eu penso que geralmente (e mais à medida que envelheço), mas nem sempre, que agnóstico seria a descrição mais correta de meu estado de espírito.” [2]
Está mais do que na hora de alguém escrever o livro “The Dawkins Delusion” [A ilusão de Dawkins], e chamá-lo à chincha por usar indevidamente a ciência para a defesa e promoção de suas preferências ideológico-subjetivas.
Fui, sem nenhuma ilusão a respeito de Dawkins, profeta fundamentalista do neo-ateísmo chique e perfumado da pós-modernidade.
Vade retro Dawkins! Lá pros quintos do pré-Cambriano!
[1] in O relojoeiro cego. São Paulo, Companhia das Letras, 2001, pp. 24-5.
[2] “What my own views may be is a question of no consequence to any one but myself. But, as you ask, I may state that my judgment often fluctuates… In my most extreme fluctuations I have never been an Atheist in the sense of denying the existence of a God. I think that generally (and more and more as I grow older), but not always, that an Agnostic would be the more correct description of my state of mind.”