Darwin [objetivamente] na sala de aula

terça-feira, novembro 24, 2009

JC e-mail 3896, de 24 de Novembro de 2009.

23. Darwin na sala de aula, artigo de Marcos Nobre

"A discussão pública sobre a origem da vida pode e deve comportar todo tipo de posição, sem dúvida. (...) Mas isso não deve ser confundido com o ensino, regulado pelo mesmo Estado que recebe da sociedade o mandato democrático de garantir a autonomia das instituições modernas"

Marcos Nobre é professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Artigo publicado na "Folha de SP":

"A Origem das Espécies" foi o último grande livro científico acessível a uma pessoa simplesmente culta. Está ao final de uma longa linhagem que, desde a baixa Idade Média, procurou estabelecer a autonomia e a independência da ciência em relação à política, à religião e à moral.

Ao contrário de Galileu, Darwin não foi obrigado a abjurar seus escritos. Não por acaso, "Origem" foi produzido e publicado no único país liberal o suficiente para não expulsar Karl Marx de seu território. Pela primeira vez, a disputa sobre a "verdade" de um livro não foi decidida por instituições políticas, econômicas, religiosas ou judiciárias, mas foi travada em grande medida na arena pública.

Cinquenta anos depois da publicação de "Origem", a ciência já tinha se consolidado institucionalmente como conhecimento acadêmico e como aplicação tecnológica. Mas Einstein já não falava uma linguagem acessível a qualquer pessoa culta. A ciência ganhou autonomia. Mas também se especializou. A especialização sempre foi um obstáculo importante para seguir o modelo duradouro de "Origem", em que a ciência deve justificar no debate público sua autonomia e sua independência.

A ciência institucionalizada procura vencer esse obstáculo fazendo divulgação científica, mostrando os avanços tecnológicos do dia a dia como seus feitos, usando figuras como Einstein como emblemas do gênio.

Mas o fato é que a ciência só conseguiu conquistar de fato sua autonomia porque se instalou no currículo escolar. Tendo como matriz a Europa das últimas décadas do século 19, espalhou-se gradualmente a prática da obrigatoriedade e da universalização do ensino até a adolescência. E, não menos importante, esse movimento foi concomitante à implantação progressiva das democracias de massa.

A discussão pública sobre a origem da vida pode e deve comportar todo tipo de posição, sem dúvida. O essencial é que seja preservada e fomentada a tolerância e, se possível, que se alcance uma melhoria da qualidade do próprio debate.

Mas isso não deve ser confundido com o ensino, regulado pelo mesmo Estado que recebe da sociedade o mandato democrático de garantir a autonomia das instituições modernas. Não deve ser confundido com a introdução no currículo escolar de teses criacionistas de qualquer tipo.

Se isso acontecer, desaparece a autonomia da ciência e põe-se em risco o próprio debate público e, no limite, a própria democracia. Antes de tudo, é isso o que está em jogo hoje na comemoração de 150 anos desse livro extraordinário.
(Folha de SP, 24/11)

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NOTA DESTE BLOGGER:

Muito bemvindas as colocações do Prof. Marcos Nobre, mas Darwin já está nas salas de aulas de ciência há muito tempo. O que falta ocorrer nas salas de aulas de ciência é Darwin ser ensinado objetivamente e de forma academicamente honesta.

O livro de Darwin, Origem das Espécies, não entrega o que título se propôs: a origem das espécies. Que o livro sofreu 6 edições. Na sexta edição Darwin se mostra mais lamarckista do que o próprio Lamarck. Nossos alunos não são informados disso.

Do jeito que está é doutrinação ideológica descarada, e violenta violação da cidadania dos alunos: o direito à informação do status epistêmico da teoria da evolução por meio da seleção natural, se robusto ou frágil. As evidências apontam para a fragilidade, pois brevemente teremos uma nova teoria da evolução: a Síntese Evolutiva Ampliada, que não deverá ser selecionista.

As dificuldades fundamentais da teoria da evolução de Darwin num contexto de justificação teórica não são passadas para os alunos. O nome disso é desonestidade acadêmica, pois a Academia sabe desde 1980 que a Síntese Evolutiva Moderna é uma teoria científica morta que teima ser ortodoxia apenas nos livros didáticos.

Que tal o Prof. Nobre encampar a ideia do ensino objetivo da teoria da evolução, com suas evidências a favor e contra, em nossas salas de aulas de ciência???

Alô pais de alunos: acho que chegou a hora de os Srs. pressionarem politicamente o Ministro da Educação para que Darwin seja ensinado objetivamente na sala de aula. Um editorial da Folha de São Paulo sobre o direito à informação sugere esta ação política. [Requer assinatura do UOL ou FSP].

Alô Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados e do Senado: está na hora de convocar uma audiência pública com o MEC/SEMTEC/PNLEM para explicar o por que de nossos autores de livros-texto de Biologia do ensino médio utilizarem duas fraudes e evidências científicas distorcidas a favor do fato, Fato, FATO da evolução. Qualquer cidadão brasileiro pode pedir isso.

Aí, sim, Prof. Nobre, Darwin na sala de aula será cientificamente bemvindo: Não deve ser mais confundido com a atual apresentação no currículo escolar de teses materialistas de qualquer tipo.

Hay que endurecerse, pero con ternura!