Um duplo olhar para a ciência
O filósofo e físico francês Michel Paty examina as implicações epistemológicas de uma eventual unificação das teorias quântica e da relatividade
Mariluce Moura e Fabrício Marques
Edição Impressa 165 - Novembro 2009
Pesquisa FAPESP - Dificilmente outra personagem pareceria tão ilustrativa do diá logo intelectual possível entre duas nações quanto Michel Paty, no colóquio “Racionalidades franco-brasileiras de ontem e de hoje”, realizado de 14 a 16 de setembro na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), dentro das atividades Ano da França no Brasil. O filósofo e físico francês de 71 anos tem visto sua trajetória profissional, seu trabalho acadêmico e a própria vida pessoal se impregnarem fortemente de experiências brasileiras, desde que aqui aportou pela primeira vez em 1965, para um período de um ano no Departamento de Física da jovem Universidade de Brasília (UnB). Terminou ficando na instituição, assaltada pela violência da ditadura militar naquele ano, por apenas seis meses e preferiu cumprir o resto do período acertado para sua cooperação no país no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro. Depois disso, Paty esperou a democracia voltar aos poucos à cena política brasileira e seus amigos cientistas retornarem ao Brasil nos voos da anistia, para recomeçar seus trajetos franco-brasileiros, de variadas formas. Ser professor visitante na USP tem sido uma delas.
© EDUARDO CESAR
Michel Paty: "É a conexão entre o pensamento abstrato e os sentidos que cria uma linha de interação capaz de explicar a correspondência entre o mundo do pensamento e o mundo real"
Ao longo desses anos, marcados de forma sensível pelo trânsito do investigador dos domínios da física de partículas para a filosofia da ciência, as reflexões de Paty sobre o conhecimento científico e, em especial, sobre o presente e o futuro da física ganharam, além de consistência, uma evidente facilidade de expressão. O que se mostra, aliás, num livro acessível a não especialistas como A física do século XX, publicado no Brasil agora em 2009 pela editora Ideias e Letras, com tradução do também fílósofo e professor da USP Pablo Mariconda. Para os que quiserem se aventurar mais pelo olhar crítico de Michel Paty, há um outro livro seu traduzido para o português, A matéria roubada, publicado pela Edusp em 1995, com tradução de Mary Amazonas Leite de Barros. Os originais franceses das duas obras são respectivamente, de 2003 e de 1988.
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