Uma Academia de Ciências para o mundo em desenvolvimento

quinta-feira, novembro 26, 2009

JC e-mail 3898, de 26 de Novembro de 2009.

15. Uma Academia de Ciências para o mundo em desenvolvimento, artigo de Wanderley de Souza

"Uma das academias que vem se destacando graças à sua atividade crescente é a Academia do Mundo em Desenvolvimento"

Wanderley de Souza é professor titular da UFRJ, diretor de Programas do Inmetro, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina. Artigo publicado no "Monitor Mercantil":

De um modo geral, as academias de Ciências são de caráter nacional e visam a congregar os pesquisadores mais importantes nas diferentes áreas do conhecimento. Nestas academias, seus membros apresentam os resultados obtidos em suas pesquisas, discutem os temas relevantes da Ciência contemporânea e assessora os governos em temas relacionados com a aplicação da Ciência e da Tecnologia no Desenvolvimento Nacional.

Há também, sobretudo em países como a Rússia e China, academias que estão intimamente ligadas ao Estado. Estas, além de exercerem as atividades mencionadas acima, também contam com laboratórios e instituições científicas, mantendo uma vinculação direta com o Estado.

Uma das academias que vem se destacando graças à sua atividade crescente é a Academia do Mundo em Desenvolvimento. Esta academia surgiu em 1983 em Trieste, Itália, como consequência da atuação de um grupo de pesquisadores de grande prestígio internacional, com destaque para a participação do eminente pesquisador do Paquistão o físico Abdus Salam, Prêmio Nobel de Física em 1979 e que passou a ser seu primeiro presidente, e também de Carlos Chagas Filho, destacado pesquisador brasileiro que assumiu a vice-presidência.

A academia surgiu, inicialmente, com o nome de Academia de Ciências do Terceiro Mundo, com a sigla TWAS (Third World Academy of Sciences), mantida até hoje. Atualmente, vários países que a integram já atingiram um estágio de desenvolvimento inserindo-se entre as grandes economias do mundo, como é o caso do Brasil, China e Índia.

No momento, a TWAS passa por uma fase de grande dinamismo, sob a presidência do matemático brasileiro Jacob Palis. Como membro da TWAS participei da sua última reunião anual, realizada entre 20 e 23 de outubro, na cidade de Durban, África do Sul. A programação desta reunião refletiu o objetivo básico da Academia voltada, sobretudo, para promover a capacidade científica e a excelência acadêmica, visando ao desenvolvimento sustentável dos países do Hemisfério Sul.

No momento, a TWAS conta com cerca de 880 membros de noventa países, sendo o Brasil representado por 85 membros. Apenas a China e a Índia contam com um número maior de representantes.

Os relatórios e as conferências apresentadas durante a reunião deixaram claro a importante contribuição que a TWAS vem dando a programas de cooperação científica entre os vários países do Hemisfério Sul, inclusive com o estabelecimento de grupos de pesquisa, sobretudo em países da África.

Entre os temas de maior relevância que foram discutidos durante o encontro destaco:

a) a reunião entre os ministros de Ciência e Tecnologia da África do Sul, Brasil e Índia, o que certamente levará a uma maior cooperação na área científica entre os três países;

b) uma conferência do acadêmico A. U. Rahman, ex-ministro da Educação Superior do Paquistão, que fez um relato detalhado sobre algumas políticas implantadas e que estão permitindo uma ampliação significativa na atividade científica daquele país, com aumento significativo na remuneração dos professores universitários, tanto de forma direta (aumento do salário mensal) como de forma indireta (redução do imposto de renda para, no máximo, 5% dos rendimentos);

c) ampla discussão, com a participação de representantes de vários países, sobre a necessidade de a Universidade participar de forma mais ativa na melhoria da educação básica.

Todos estes pontos são altamente relevantes e mereceram a atenção de todos os participantes.
(Monitor Mercantil, 25/11)