Ferramentas fundamentais

sexta-feira, novembro 27, 2009

Ferramentas fundamentais
27/11/2009

Por Fábio Reynol

Agência FAPESP – Todos os dias, em diversas áreas da ciência, acumulam-se quantidades gigantescas de dados resultantes de pesquisas nas diversas áreas do conhecimento. Um importante problema é que grande parte dessa informação acaba perdida ou subaproveitada por falta de integração com a área de computação.

Foi pensando nessa demanda e em ampliar a pesquisa em computação no Estado de São Paulo que a professora Claudia Bauzer Medeiros, do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), reuniu nesta quarta-feira (26/11) vários professores e pesquisadores da área no Workshop Programa FAPESP de Computação, realizado na sede da Fundação.


Pesquisadores em computação se reúnem na FAPESP para debater os desafios da área e elaborar um programa para ampliar o apoio às outras disciplinas (foto: Eduardo Cesar)

O evento teve por meta elaborar um projeto para a criação de um programa de pesquisa em computação apoiado pela FAPESP. A ideia é organizar e otimizar o apoio às diversas áreas do conhecimento que dependem de auxílio computacional em seus trabalhos.

“A proposta seguirá o conceito de e-science, que prega a computação como ferramenta para cooperação, comunicação e aprimoramento de atividades científicas. O projeto deverá ser submetido no início do ano que vem à FAPESP, que analisará a viabilidade do novo programa”, disse Claudia.

Segundo ela, a ideia é fornecer um apoio importante aos demais programas da FAPESP, entre os quais o Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (Biota), o Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) e o Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG)

Após uma exposição de Claudia sobre aplicações da computação em diversas áreas no Brasil e no mundo, os pesquisadores presentes listaram os principais desafios enfrentados em suas unidades, entre os quais a multidisciplinaridade.

“É fundamental ter um mínimo de conhecimento da área com a qual você está colaborando”, disse Roberto Marcondes César, professor do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da Universidade de São Paulo (USP). Para fazer um estudo de imagens de borboletas, por exemplo, o especialista em computação precisaria saber que são necessárias fotos de frente e verso dos insetos.

Para os pesquisadores presentes, o conhecimento da área alheia deve ser recíproco, uma vez que o pesquisador auxiliado também necessita saber um mínimo sobre computação para que o trabalho saia com qualidade.

A maneira como esse conhecimento multidisciplinar deve entrar na formação do profissional de computação foi bastante debatida no workshop. Entre as sugestões levantadas está a criação de programas de iniciação científica e de pós-graduação que incentivem o cumprimento de matérias eletivas em outras unidades acadêmicas.

Foram tratados também problemas de ordem organizacional e administrativa, como modelos de bolsas e de incentivos necessários para atrair à pesquisa bons profissionais de computação.

“Outras áreas dependem de equipamentos caros, nós não temos esse problema. Por outro lado, precisamos de mais investimentos em recursos humanos”, salientou a professora Maria da Graça Campos Pimentel, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP.

Transferência de tecnologia

Os participantes do Workshop Programa FAPESP de Computação delinearam os desafios dos quatro níveis de atuação da e-science: infraestrutura, coleta de dados, softwares e visualização dos resultados.

Para Claudia Bauzer Medeiros, por falta de apoio computacional muitos pesquisadores não aproveitam dados coletados, não reusam informações levantadas em outras pesquisas e, por desconhecer algoritmos, acabam perdendo tempo criando programas que têm versões similares já prontas. “Eles reinventam a roda”, lamenta a professora, que enxerga na subutilização da computação um prejuízo considerável para a ciência.

José Carlos Maldonado, professor do ICMC-USP, alertou para que esse problema não ocorra com o novo programa a ser criado pela FAPESP. “Precisamos ver o que já está pronto e só precisa ser adaptado e o que precisa ser criado”, afirmou.

Marcondes César destacou áreas no Brasil que devem demandar muito da computação nos próximos anos, como as pesquisas voltadas à exploração de óleo e gás da região do pré-sal e as ciências relacionadas ao esporte, com vistas à Copa do Mundo de 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016, eventos que serão realizados no Brasil. Para Marcondes, além de gerar demandas de longo prazo, esses setores podem criar oportunidades de transferências de tecnologia.

De acordo com o professor Cylon Gonçalves, coordenador adjunto de Programas Especiais da FAPESP, que também participou do workshop, o foco do programa deve ultrapassar fronteiras. “Não limitem a sua área de atuação ao Brasil”, disse.