Cooperação no horizonte
25/11/2009
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – Representantes da comunidade científica paulista participaram nesta terça-feira (24/11), na sede da FAPESP, do Workshop sobre Leishmaniose Visceral e Feromônios.
Iniciativa conjunta da FAPESP e do Consulado Britânico em São Paulo, o encontro colocou pesquisadores brasileiros em contato com avanços científicos alcançados no Reino Unido tendo em vista o controle da leishmaniose visceral e pôs em discussão futuras parcerias em pesquisas na área.
De acordo com uma das responsáveis pela organização do evento, Marie Anne Van Sluys, professora do Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP), o eixo central do debate foi uma palestra apresentada por Gordon Hamilton sobre pesquisas realizadas por seu grupo na Universidade de Keele, no Reino Unido.
“Tivemos a participação de representantes da comunidade científica do Estado de São Paulo que trabalham com todos os aspectos que envolvem a leishmaniose. Eles entraram em contato com o trabalho desenvolvido pelo grupo de Hamilton, cuja proposta específica consiste em estudar os feromônios e utilizá-los como controle biológico do parasita”, disse Marie Anne à Agência FAPESP.
Participaram do workshop cientistas que coordenam projetos apoiados pela FAPESP nas modalidades Auxílio à Pesquisa – Regular e Projetos Temáticos, entre outros.
Os feromônios são substâncias químicas emitidas por animais de uma mesma espécie para permitir o reconhecimento sexual. A proposta do grupo de Keele consiste em utilizar feromônios produzidos pelo vetor da leishmânia, o mosquito-palha (Lutzomyia longipalpis), a fim de combater a proliferação da doença.
Dados do Ministério da Saúde mostram que a leishmaniose – considerada uma doença negligenciada – teve sua letalidade aumentada em 85% entre 1994 e 2003. Houve ainda um aumento de 61% nos casos entre 2001 e 2006.
Segundo Marie Anne, que é coordenadora adjunta da área de ciências da vida da FAPESP, o workshop permitiu o estabelecimento de um primeiro contato entre os cientistas paulistas e as pesquisas de Hamilton apoiadas pela Wellcome Trust – principal fonte não-governamental britânica de investimentos para a pesquisa biomédica.
“Em paralelo a essa iniciativa, estamos fazendo um esforço para estreitar os laços entre a FAPESP e a Wellcome Trust, no intuito de estabelecer futuras parcerias, como a que foi desenvolvida pela Fundação com o King’s College London, por exemplo”, disse.
A Wellcome Trust demonstrou interesse, por meio do Consulado Britânico, em futuras parcerias. A pesquisa em leishmaniose foi o primeiro ponto de contato, uma vez que os estudos coordenados por Hamilton, realizados há três anos e meio, estão avançados.
“Eles estão na reta final e pretendem apresentar nova proposta à Wellcome Trust, com possível participação brasileira. Para isso, precisavam de uma demonstração de que existe em São Paulo uma comunidade científica instalada, competente, atuando sistematicamente na área”, explicou.
Marie Anne ressalta que o workshop se mostrou efetivo para articular a comunidade científica em torno do tema. “O resultado imediato é a identificação de três grupos que podem contribuir com a proposta apresentada pelo professor Hamilton. Além disso, a comunidade demonstrou interesse em se organizar e formar uma rede que eventualmente pode vir a ter uma parceria com a Wellcome Trust”, disse.
Doenças negligenciadas
De acordo com o vice-cônsul de ciência e inovação do Consulado Britânico de São Paulo, Demian Popolo, o Brasil e o Reino Unido têm um número considerável de projetos conjuntos, mas essa cooperação poderia ser levada a um nível mais alto com a perspectiva de uma parceria entre instituições como a FAPESP e a Wellcome Trust.
“Depois dos Estados Unidos, o Reino Unido é hoje o maior parceiro do Brasil em pesquisa científica, considerando-se as publicações conjuntas entre os dois países. Essa relação funciona bem, mas seria interessante internacionalizar também o financiamento à pesquisa, além da produção científica propriamente dita”, disse à Agência FAPESP.
Para Popolo, o workshop mostra como o papel da FAPESP será fundamental para que as instituições britânicas tenham acesso à comunidade científica brasileira. “Os cientistas entram em contato em congressos internacionais de forma um tanto individualizada. Mas aqui na FAPESP temos a oportunidade rara de reunir toda a comunidade científica em torno de um tema, envolvendo diferentes disciplinas”, destacou.
Segundo ele, o workshop foi uma oportunidade para confirmar que a qualidade e quantidade da pesquisa em São Paulo abrem realmente perspectivas para projetos conjuntos.
“Queríamos ter certeza de que há potencial para que nossos cientistas ajudem os pesquisadores brasileiros e vice-versa, a fim de que possamos pensar em algo mais robusto que parcerias fundamentadas em bolsas, como, por exemplo, programas específicos”, afirmou.
A escolha do tema da leishmaniose, segundo ele, é a resposta do governo britânico a uma demanda da comunidade científica, e por consequência da sociedade.
“A ciência britânica é muito independente e temos muita gente trabalhando em doenças tropicais. Por várias razões, nossa comunidade científica é a segunda maior do mundo na área de doenças negligenciadas. Estabelecer parcerias é importante porque aumenta a chance de implementação efetiva de inovações geradas pelo conhecimento que acumulamos na área”, disse.