A evolução e os teoremas NFL
http://www.idnet.com.au
30 de dezembro de 2007
Ronald Meester
“William Dembski (2002) afirmou que os teoremas No Free Lunch [Não há lanche de graça] da teoria de otimização tornam impossível a evolução biológica darwiniana. Eu argumento que os teoremas NFL devem ser interpretados, não no sentido de que os modelos podem ser usados para tirar qualquer conclusão sobre a verdadeira evolução biológica (e certamente sobre nenhuma inferência de design), mas no sentido de que isso nos permite interpretar simulações de processos evolutivos em computadores. Eu irei argumentar que nós aprendemos muito pouco, se na verdade alguma coisa, sobre a evolução biológica a partir de simulações. Está posição está em nítido contraste com certas afirmações na literatura.”
Este artigo está demais! Será publicado? Ele vindica o que o Prof. Dembski vem dizendo o tempo todo embora não pareça.
“Isto não implica que eu defenda o DI de modo algum; eu quero enfatizar isso desde o começo.”
Eu adoro a principal citação útil: é uma pérola!
“Eu irei argumentar agora que as simulações de processos evolutivos demonstram apenas boas capacidades de programação — nada mais que isso. Em particular, as simulações pouco acrescentam, se alguma coisa na verdade, para o nosso entendimento de processos evolutivos “verdadeiros”.
“Se alguém quiser argumentar que não há necessidade de qualquer design na natureza, então é dificilmente convincente que alguém argumente pela demonstração de como um algoritmo bem projetado se porta como a vida real deve fazer.”
Clique aqui para o PDF do artigo.
+++++
Com amigos assim dizendo que a matemática não corrobora suas especulações transformistas, Darwin não precisa de inimigos, muito menos de oponentes e críticos científicos à altura como a turma do Design Inteligente.
Origem da Vida: “Mysterium tremendum” sem solução científica?
sexta-feira, dezembro 28, 2007
A X São Paulo Research Conferences sobre as “Origens da Vida” será realizada na USP de 19-21 de junho de 2008.
Naquele evento de 2008, cientistas e outros pesquisadores, até mitologistas [secularistas/materialistas e metafísicos presumo] vão tentar resolve o maior de todos os problemas científicos até hoje não resolvido: explicar cientificamente a origem da vida procariótica, especialmente do seu aparato de síntese das proteínas baseadas no DNA.
Este blogger vai submeter para aquela Comissão Científica um resumo estruturado de pôster considerando historicamente a dificuldade que os cientistas têm de elaborar teorias científicas das origens da vida tendo como gancho este parágrafo impertinente de Karl Popper:
“O que torna a origem da vida e do código genético um quebra-cabeça incômodo é isto: o código genético é sem nenhuma função biológica a menos que seja traduzido; isto é, a menos que resulte na síntese das proteínas cuja estrutura é estabelecida pelo código. Mas, como destaca [Jacques] Monod, a maquinaria pela qual a célula (pelo menos a célula não-primitiva que é a única que nós conhecemos) traduz o código ‘consiste pelo menos cinqüenta componentes macromoleculares que são eles mesmos codificados no DNA’. Assim, o código não pode ser traduzido a não ser usando certos produtos de sua tradução. Isto se constitui num círculo desconcertante: parece um círculo vicioso para qualquer tentativa de formar um modelo, ou uma teoria, da gênese do código genético.” [1]
O “Mysterium tremendum” continua “Mysterium tremendum”, e com a falência epistêmica, oops, débâcle é mais chique, das teorias de Oparin-Haldane e Urey-Miller e de outras teorias elaboradas no século 20 [acaso, necessidade, mais causas naturais, não guiadas ao longo de bilhões de anos], parece apontar noutra direção — tudo aquilo, mais causas inteligentes empiricamente detectadas na natureza: Design Inteligente!
NOTA:
1. “What makes the origin of life and of the genetic code a disturbing riddle is this: the genetic code is without any biological function unless it is translated; that is, unless it leads to the synthesis of the proteins whose structure is laid down by the code. But as [Jacques] Monod points out, the machinery by which the cell (at least the nonprimitive cell which is the only one we know) translates the code ‘consists of at least fifty macromolecular components which are themselves coded in DNA’. Thus the code cannot be translated except by using certain products of its translation. This constitutes a baffling circle: a vicious circle, it seems for any attempt to form a model, or a theory, of the genesis of the genetic code.” POPPER, Karl. “Scientific Reduction and the Essential Incompletness of All Science”, Studies in the Philosophy of Biology 259 (1974):270 Ênfase no original.
NOTA DESTE BLOGGER:
Este blogger está passando por um tremendo processo “evolutivo”. Aguarde e veja em 2008!!!
Naquele evento de 2008, cientistas e outros pesquisadores, até mitologistas [secularistas/materialistas e metafísicos presumo] vão tentar resolve o maior de todos os problemas científicos até hoje não resolvido: explicar cientificamente a origem da vida procariótica, especialmente do seu aparato de síntese das proteínas baseadas no DNA.
Este blogger vai submeter para aquela Comissão Científica um resumo estruturado de pôster considerando historicamente a dificuldade que os cientistas têm de elaborar teorias científicas das origens da vida tendo como gancho este parágrafo impertinente de Karl Popper:
“O que torna a origem da vida e do código genético um quebra-cabeça incômodo é isto: o código genético é sem nenhuma função biológica a menos que seja traduzido; isto é, a menos que resulte na síntese das proteínas cuja estrutura é estabelecida pelo código. Mas, como destaca [Jacques] Monod, a maquinaria pela qual a célula (pelo menos a célula não-primitiva que é a única que nós conhecemos) traduz o código ‘consiste pelo menos cinqüenta componentes macromoleculares que são eles mesmos codificados no DNA’. Assim, o código não pode ser traduzido a não ser usando certos produtos de sua tradução. Isto se constitui num círculo desconcertante: parece um círculo vicioso para qualquer tentativa de formar um modelo, ou uma teoria, da gênese do código genético.” [1]
O “Mysterium tremendum” continua “Mysterium tremendum”, e com a falência epistêmica, oops, débâcle é mais chique, das teorias de Oparin-Haldane e Urey-Miller e de outras teorias elaboradas no século 20 [acaso, necessidade, mais causas naturais, não guiadas ao longo de bilhões de anos], parece apontar noutra direção — tudo aquilo, mais causas inteligentes empiricamente detectadas na natureza: Design Inteligente!
NOTA:
1. “What makes the origin of life and of the genetic code a disturbing riddle is this: the genetic code is without any biological function unless it is translated; that is, unless it leads to the synthesis of the proteins whose structure is laid down by the code. But as [Jacques] Monod points out, the machinery by which the cell (at least the nonprimitive cell which is the only one we know) translates the code ‘consists of at least fifty macromolecular components which are themselves coded in DNA’. Thus the code cannot be translated except by using certain products of its translation. This constitutes a baffling circle: a vicious circle, it seems for any attempt to form a model, or a theory, of the genesis of the genetic code.” POPPER, Karl. “Scientific Reduction and the Essential Incompletness of All Science”, Studies in the Philosophy of Biology 259 (1974):270 Ênfase no original.
NOTA DESTE BLOGGER:
Este blogger está passando por um tremendo processo “evolutivo”. Aguarde e veja em 2008!!!
O legado de Karl Popper
Aos leitores deste blog interessados no legado de Karl Popper seria interessante assistir às palestras em vídeos de uma conferência realizada no Instituto de Comunicação, Universidade de Lund, Helsingborg, Suécia.
O tópico oficial da conferência foi “The Open Society: the Role of Science, Multiculturalism and the Media” [A sociedade livre: o papel da ciência, multiculturalismo e a mídia].
Melhor visto em Internet de banda larga aqui.
O tópico oficial da conferência foi “The Open Society: the Role of Science, Multiculturalism and the Media” [A sociedade livre: o papel da ciência, multiculturalismo e a mídia].
Melhor visto em Internet de banda larga aqui.
Gerações espontâneas
Os alunos de pós-graduação em História e Filosofia da Ciência na Universidade de Toronto acabaram de lançar a primeira edição de um ‘journal aberto’: SPONTANEOUS GENERATIONS.
Table of contents of the first issue:
Opinions
We Cannot Allow a Wikipedia Gap!
Sage Rogers Ross
On the Ethics of Medical Care under Resource Constraints
Joseph Agassi
Focused Discussion
Scientific Expertise: Epistemological Worries, Political Dilemmas (Focused Discussion Editor's Introduction)
Boaz Miller
Expertise, Skepticism and Cynicism: Lessons from Science & Technology Studies
Michael Lynch
Science Democratised = Expertise Decommissioned
Steve Fuller
Nota deste blogger: Fuller é Professor de Sociologia na Universidade de Warwick, Grã-Bretanha, e simpatizante da teoria do Design Inteligente
Political Epistemology, Experts, and the Aggregation of Knowledge
Stephen Turner
Wild or Farmed? Seeking Effective Science in a Controversial Environment
Stephen Bocking
Experts, Evidence, and Epistemic Independence
Ben Almassi
Managing Public Expectations of Technological Systems: A Case Study of a Problematic Government Project
Aaron K Martin, Edgar A Whitley
Anatomical Expertise and the Hermaphroditic Body
Palmira Fontes da Costa
The Expert Professor: C.R. Young and the Toronto Building Code
James Hull
Articles
An Engineer's View of an Ideal Society: The Economic Reforms of C.H. Douglas, 1916-1920
Janet Martin-Nielsen
Mothers, Babies, and the Colonial State: The Introduction of Maternal and Infant Welfare Services in Nigeria, 1925-1945
Deanne van Tol
Plus Reviews
Table of contents of the first issue:
Opinions
We Cannot Allow a Wikipedia Gap!
Sage Rogers Ross
On the Ethics of Medical Care under Resource Constraints
Joseph Agassi
Focused Discussion
Scientific Expertise: Epistemological Worries, Political Dilemmas (Focused Discussion Editor's Introduction)
Boaz Miller
Expertise, Skepticism and Cynicism: Lessons from Science & Technology Studies
Michael Lynch
Science Democratised = Expertise Decommissioned
Steve Fuller
Nota deste blogger: Fuller é Professor de Sociologia na Universidade de Warwick, Grã-Bretanha, e simpatizante da teoria do Design Inteligente
Political Epistemology, Experts, and the Aggregation of Knowledge
Stephen Turner
Wild or Farmed? Seeking Effective Science in a Controversial Environment
Stephen Bocking
Experts, Evidence, and Epistemic Independence
Ben Almassi
Managing Public Expectations of Technological Systems: A Case Study of a Problematic Government Project
Aaron K Martin, Edgar A Whitley
Anatomical Expertise and the Hermaphroditic Body
Palmira Fontes da Costa
The Expert Professor: C.R. Young and the Toronto Building Code
James Hull
Articles
An Engineer's View of an Ideal Society: The Economic Reforms of C.H. Douglas, 1916-1920
Janet Martin-Nielsen
Mothers, Babies, and the Colonial State: The Introduction of Maternal and Infant Welfare Services in Nigeria, 1925-1945
Deanne van Tol
Plus Reviews
As predições de Darwin que falharam — Parte 1 de 14
terça-feira, dezembro 25, 2007
A série intitulada “As predições de Darwin que falharam” deste blog é baseada nos artigos de Casey Luskin respondendo ao material online do documentário “Judgment Day: Intelligent Design on Trial” [Dia do Juízo: o Design Inteligente no banco dos réus] “Judging PBS.com” da PBS-NOVA [A TV Brasil deles].
“A evolução ocorre, e daí?”
Tanto a Nomenklatura científica, como a Grande Mídia internacional e tupiniquim, e os nossos melhores autores de livros didáticos de Biologia do ensino médio afirmam e ensinam confiantemente o fato, Fato, FATO da evolução como sendo verdade científica inconteste corroborada pela robustez das evidências encontradas na natureza. Mas isso deveria incomodar alguém? Não, de jeito nenhum, pois até os atuais críticos científicos concordam que a “evolução” ocorre.
A Nomenklatura científica, a Grande Mídia internacional e tupiniquim, mais os autores de livros-texto intencional e sub-repticiamente lançam mão da estratégia de equivocação na discussão da controvérsia Darwin vs. Design: eles se recusam terminantemente definir o termo “evolução” para leigos não-especializados e estudantes do ensino médio.
A palavra “evolução” pode se referir a algo tão simples como mudanças mínimas dentro das espécies individuais ocorrendo ao longo de períodos curtos de tempo (Evolução #1). Esta mesma palavra pode ser usada para significar algo de alcance muito mais amplo, como a afirmação de que todos os seres vivos descendem de um único ancestral comum (Evolução #2).
Geralmente eles usam esses dois significados referindo-se à seleção natural [ou a quaisquer outros mecanismos evolutivos de A-Z, ou alfa-numéricos a serem inventados pela Nomenklatura científica] como tendo o poder de produzir toda a complexidade e diversidade da vida ao longo do tempo (Evolução #3).
Parada para ponderarmos juntos. Usada de um modo, a “evolução” não é um assunto controverso (i.e. Evolução #1), mas usada de outra maneira, aí sim, devido às evidências circunstanciais, no contexto de justificação teórica o clima fica quente (i.e. Evolução #2 ou Evolução #3). Mas o que faz a Nomenklatura científica, a Grande Mídia internacional e tupiniquim, e os autores de livros-texto de Biologia do ensino médio? Eles usam equivocadamente o termo “evolução” de modo impreciso demais para ser útil num debate científico.
Quando você ler ou ouvir a palavra “evolução”, pergunte: “Qual das três definições está sendo usada?” Os atuais críticos do neodarwinismo geralmente discordam da validade científica do termo Evolução #2 ou Evolução #3. Mas a discussão fica mais confusa ainda quando os darwinistas pegam a evidência a favor da Evolução #1, e tentam fazer com que ela apóie a Evolução #2 ou Evolução #3.
Os proponentes do darwinismo, que eu chamo aqui neste blog carinhosamente de “darwinistas fundamentalistas” [obrigado, Stephen Jay Gould, por esta pérola lingüística] são useiros e vezeiros em tirar da cartola ou da manga a estratégia “A Isca da Evolução” usando evidências de mudanças de pequena escala, como mudanças nos tamanhos dos bicos de aves (Evolução #1), e depois extrapolam esta modesta evidência para confirmar as especulações transformistas grandiosas de Darwin (Evolução #2 ou Evolução #3).
O gráfico acima se encontra aqui.
Parte desta discussão foi adaptada do novo livro-texto Explore Evolution.
“A evolução ocorre, e daí?”
Tanto a Nomenklatura científica, como a Grande Mídia internacional e tupiniquim, e os nossos melhores autores de livros didáticos de Biologia do ensino médio afirmam e ensinam confiantemente o fato, Fato, FATO da evolução como sendo verdade científica inconteste corroborada pela robustez das evidências encontradas na natureza. Mas isso deveria incomodar alguém? Não, de jeito nenhum, pois até os atuais críticos científicos concordam que a “evolução” ocorre.
A Nomenklatura científica, a Grande Mídia internacional e tupiniquim, mais os autores de livros-texto intencional e sub-repticiamente lançam mão da estratégia de equivocação na discussão da controvérsia Darwin vs. Design: eles se recusam terminantemente definir o termo “evolução” para leigos não-especializados e estudantes do ensino médio.
A palavra “evolução” pode se referir a algo tão simples como mudanças mínimas dentro das espécies individuais ocorrendo ao longo de períodos curtos de tempo (Evolução #1). Esta mesma palavra pode ser usada para significar algo de alcance muito mais amplo, como a afirmação de que todos os seres vivos descendem de um único ancestral comum (Evolução #2).
Geralmente eles usam esses dois significados referindo-se à seleção natural [ou a quaisquer outros mecanismos evolutivos de A-Z, ou alfa-numéricos a serem inventados pela Nomenklatura científica] como tendo o poder de produzir toda a complexidade e diversidade da vida ao longo do tempo (Evolução #3).
Parada para ponderarmos juntos. Usada de um modo, a “evolução” não é um assunto controverso (i.e. Evolução #1), mas usada de outra maneira, aí sim, devido às evidências circunstanciais, no contexto de justificação teórica o clima fica quente (i.e. Evolução #2 ou Evolução #3). Mas o que faz a Nomenklatura científica, a Grande Mídia internacional e tupiniquim, e os autores de livros-texto de Biologia do ensino médio? Eles usam equivocadamente o termo “evolução” de modo impreciso demais para ser útil num debate científico.
Quando você ler ou ouvir a palavra “evolução”, pergunte: “Qual das três definições está sendo usada?” Os atuais críticos do neodarwinismo geralmente discordam da validade científica do termo Evolução #2 ou Evolução #3. Mas a discussão fica mais confusa ainda quando os darwinistas pegam a evidência a favor da Evolução #1, e tentam fazer com que ela apóie a Evolução #2 ou Evolução #3.
Os proponentes do darwinismo, que eu chamo aqui neste blog carinhosamente de “darwinistas fundamentalistas” [obrigado, Stephen Jay Gould, por esta pérola lingüística] são useiros e vezeiros em tirar da cartola ou da manga a estratégia “A Isca da Evolução” usando evidências de mudanças de pequena escala, como mudanças nos tamanhos dos bicos de aves (Evolução #1), e depois extrapolam esta modesta evidência para confirmar as especulações transformistas grandiosas de Darwin (Evolução #2 ou Evolução #3).
O gráfico acima se encontra aqui.
Parte desta discussão foi adaptada do novo livro-texto Explore Evolution.
O manifesto de André Petry, ateu fundamentalista, pós-moderno, chique e perfumado, em reportagem especial de VEJA, Natal de 2007
segunda-feira, dezembro 24, 2007
Eu vou sair um pouco da linha editorial deste blog — apresentar as insuficiências epistêmicas fundamentais das atuais teorias da origem e evolução do universo e da vida, e defender a teoria do Design Inteligente — e fazer mais uma vez o papel de “Advogado do Diabo” em defesa dos crentes de concepções religiosas.
Eu faço esta defesa “ex-cathedra”, pois na condição de ex-ateu, há muito tempo venho percebendo uma ação muito insidiosa e extremamente perigosa da parte da Grande Mídia contra os de concepções religiosas: “perseguição cinzenta”.
Já se tornou padrão midiático em Pindorama: sempre no final do ano, os grandes representantes da GM brasileira como a VEJA, ÉPOCA, Superinteressante e Galileu, aproveitam as crenças das tradições religiosas para em reportagens especiais tipo “uma no cravo, outra na ferradura” executar a sua “perseguição cinzenta” aos crentes que, até o presente momento, vivem pacifica e ordeiramente neste país multicultural. Amando os ateus, agnósticos, céticos e quejandos. Exemplo mais recente desta “perseguição cinzenta” é a reportagem especial de capa da revista VEJA de Natal de 2007, assinado por André Petry.
A característica dessa “perseguição cinzenta” é apresentar os crentes das concepções religiosas como obtusos, mas extremamente perigosos devido a um passado beligerante — são capazes de derramar sangue por causa da divindade que cultuam. Esta divindade inexiste porque os avanços da ciência moderna já demonstraram assim. A ciência é racional, e a fé é irracional. Ciência versus religião, quando a ciência moderna somente ocorreu porque se deu no berço da Europa de civilização cristã.
Formadores de opinião como André Petry, que eu presumo ateu fundamentalista, pós-moderno, perfumado e chique a la Dawkins, exaltam o racionalismo encontrado nos ateus, agnósticos, céticos e quejandos como virtudes a serem seguidas e o ‘ódio’ dos crentes de concepções religiosas contra a subjetividade ideológica deles. Nada mais patentemente falso e extremamente perigoso: o secularismo, como política de Estado, foi responsável pelo genocídio de 100 milhões de morte no século 20 abordado en passant por Petry, o terrible enfant ateu.
Esta ditadura ou mordaça secularista, encastelada nas suas torres de marfim, visa entocar os crentes nas suas catacumbas, guetos e ‘pogroms’ eclesiásticos sem nenhuma participação na cultura da sociedade brasileira. Ela é extremamente perigosa porque as páginas daqueles veículos midiáticos se aproveitam deste período de congraçamento fraterno religioso para destilar seu ódio venenoso contra os de fé religiosa.
Eu acredito que já se faz imperativo uma ação conjunta dos de concepções religiosas apresentar um manifesto aberto à nação endereçado ao Exmo. Sr. Ministro da Justiça sobre esta perigosa cruzada secularista que ainda vai incendiar este país em noites de Krystalnacht.
Se os Srs. nada fizerem, as pedras clamarão. Denegrir a religião, especialmente a fé cristã, como vem fazendo a Grande Mídia tupiniquim, é denegrir toda a civilização ocidental. [1] Sem ela, Petry, você não teria direitos humanos e nem liberdade de expressão, inclusive para elogios à loucura como o seu artigo um no cravo, outro na ferradura.
Petry, por direitos constitucionais, você vai ter que engolir os crentes de concepções religiosas, e vai ter que aprender a conviver numa sociedade democrática e plural.
Vade retro, Petry, Dawkins et caterva!
P.S.: Aos de concepções religiosas um conselho - deixem de assinar e/ou comprar revistas e jornais assim como a VEJA. Uma tungada no bolso deles pode mudar em parte o discurso. Ou escrever para os anunciantes que você não vai mais comprar os produtos anunciados em VEJA.
NOTA:
1. Vide artigo de um ateu sobre a “doença infantil” do ateísmo fundamentalista, pós-moderno, chique e perfumado à la Dawkins: “What the New Atheists Don’t See” [O que os neo-ateus não percebem].
Eu faço esta defesa “ex-cathedra”, pois na condição de ex-ateu, há muito tempo venho percebendo uma ação muito insidiosa e extremamente perigosa da parte da Grande Mídia contra os de concepções religiosas: “perseguição cinzenta”.
Já se tornou padrão midiático em Pindorama: sempre no final do ano, os grandes representantes da GM brasileira como a VEJA, ÉPOCA, Superinteressante e Galileu, aproveitam as crenças das tradições religiosas para em reportagens especiais tipo “uma no cravo, outra na ferradura” executar a sua “perseguição cinzenta” aos crentes que, até o presente momento, vivem pacifica e ordeiramente neste país multicultural. Amando os ateus, agnósticos, céticos e quejandos. Exemplo mais recente desta “perseguição cinzenta” é a reportagem especial de capa da revista VEJA de Natal de 2007, assinado por André Petry.
A característica dessa “perseguição cinzenta” é apresentar os crentes das concepções religiosas como obtusos, mas extremamente perigosos devido a um passado beligerante — são capazes de derramar sangue por causa da divindade que cultuam. Esta divindade inexiste porque os avanços da ciência moderna já demonstraram assim. A ciência é racional, e a fé é irracional. Ciência versus religião, quando a ciência moderna somente ocorreu porque se deu no berço da Europa de civilização cristã.
Formadores de opinião como André Petry, que eu presumo ateu fundamentalista, pós-moderno, perfumado e chique a la Dawkins, exaltam o racionalismo encontrado nos ateus, agnósticos, céticos e quejandos como virtudes a serem seguidas e o ‘ódio’ dos crentes de concepções religiosas contra a subjetividade ideológica deles. Nada mais patentemente falso e extremamente perigoso: o secularismo, como política de Estado, foi responsável pelo genocídio de 100 milhões de morte no século 20 abordado en passant por Petry, o terrible enfant ateu.
Esta ditadura ou mordaça secularista, encastelada nas suas torres de marfim, visa entocar os crentes nas suas catacumbas, guetos e ‘pogroms’ eclesiásticos sem nenhuma participação na cultura da sociedade brasileira. Ela é extremamente perigosa porque as páginas daqueles veículos midiáticos se aproveitam deste período de congraçamento fraterno religioso para destilar seu ódio venenoso contra os de fé religiosa.
Eu acredito que já se faz imperativo uma ação conjunta dos de concepções religiosas apresentar um manifesto aberto à nação endereçado ao Exmo. Sr. Ministro da Justiça sobre esta perigosa cruzada secularista que ainda vai incendiar este país em noites de Krystalnacht.
Se os Srs. nada fizerem, as pedras clamarão. Denegrir a religião, especialmente a fé cristã, como vem fazendo a Grande Mídia tupiniquim, é denegrir toda a civilização ocidental. [1] Sem ela, Petry, você não teria direitos humanos e nem liberdade de expressão, inclusive para elogios à loucura como o seu artigo um no cravo, outro na ferradura.
Petry, por direitos constitucionais, você vai ter que engolir os crentes de concepções religiosas, e vai ter que aprender a conviver numa sociedade democrática e plural.
Vade retro, Petry, Dawkins et caterva!
P.S.: Aos de concepções religiosas um conselho - deixem de assinar e/ou comprar revistas e jornais assim como a VEJA. Uma tungada no bolso deles pode mudar em parte o discurso. Ou escrever para os anunciantes que você não vai mais comprar os produtos anunciados em VEJA.
NOTA:
1. Vide artigo de um ateu sobre a “doença infantil” do ateísmo fundamentalista, pós-moderno, chique e perfumado à la Dawkins: “What the New Atheists Don’t See” [O que os neo-ateus não percebem].
Origens da Vida: o “Mysterium tremendum” será debatido na USP em 2008
sexta-feira, dezembro 21, 2007
“Origens da Vida”: X São Paulo Research Conferences — 19-21 de junho de 2008
Apresentação
O objetivo desta X São Paulo Research Conference é reunir especialistas de áreas tão distintas quanto a astronomia, a cosmologia, a astrofísica, a química orgânica e a bioquímica, a biologia celular e molecular, para discutirem os pontos de vistas modernos, bem controversos, sobre as Origens da Vida.
Estarão também presentes filósofos e antropólogos culturais, notadamente assim como mitologistas. O assunto é polêmico, especialmente diante das discussões recentes sobre os aspectos filosóficos do problema, inclusive das definições de vida. A reunião contará também com um curso diário durante os três dias, destinado a rever a história dos conceitos sobre as origens da vida, notadamente a partir do século XVIII até a genética moderna dos séculos XX e XXI.
Como de hábito em nossas conferências, três prêmios serão concedidos aos melhores pôsteres apresentados por jovens pesquisadores. Esta conferência está em linha direta com conferências já realizadas, como “Darwin e a Evolução”, de mesma tendência generalista e será seguida por outras, notadamente particularmente “Darwin 2009”, em comemoração aos 150 anos do livro “A origem das espécies”.
Comitê científico:
B. Boris Vargaftig (ICB-USP), Carlos Winter (ICB-USP), Denise Selivon Scheepmaker (IB-USP), Franklin Rumjanek (ICB-UFRJ), Marcello A. Barcinski (ICB USP e INCa), Marie-Christine Maurel (Université de Paris 6, França).
Temas:
Ascensão e queda da teoria da geração espontânea;
A origem do Universo: Cosmologia, o sistema solar, a terra antes da vida;
Contribuição da bioastronomia;
Origens dos átomos e moléculas da vida;
A evolução pré-biótica, interfaces e evolução molecular;
Coacervados e protocélulas artificiais, a geração espontânea hoje;
O mundo RNA.
Mesa redonda: A mídia e as origens do mundo e da vida.
Curso:
História das origens da vida, de Lamarck a Miller, Antonio Lazcano (Facultad de Ciencias, UNAM, México).
Darwin e a lição de objetividade científica: Ensinem a controvérsia!
quinta-feira, dezembro 20, 2007
Ao longo dos anos elaborando a sua teoria da evolução, Darwin lidou com as objeções da comunidade científica do seu tempo. Lyell, Hooker e Huxley aceitavam o fato, Fato, FATO da evolução, mas não aceitavam a capacidade criativa da seleção natural de Darwin para explicar toda a complexidade e diversidade da vida.
Para rebater essas objeções científicas, algumas delas bem robustas, Darwin se viu obrigado a escrever quatro capítulos, 30% do abstract “Origem das Espécies” [muita gente pensa que é um livro] tentando rebater essas objeções. Ao contrário dos seus atuais discípulos instalados na Nomenklatura científica – nas universidades, centros e institutos de pesquisas, e nas editorias das publicações científicas, e autores de livros-texto de Biologia do ensino médio, Darwin aceitava a possibilidade de existir outras interpretações de suas hipóteses:
“Estou bem a par do fato de existirem neste volume pouquíssimas afirmativas acerca das quais não se possam invocar diversos fatos passíveis de levar a conclusões diametralmente opostas àquelas às quais cheguei. Uma conclusão satisfatória só poderá ser alcançada através do exame e confronto dos fatos e argumentos em prol deste ou daquele ponto de vista, e tal coisa seria impossível de se fazer na presente obra.”
–Charles Darwin, na introdução do Origem das Espécies, [Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Villa Rica, 1994, p. 36]
Com isso Darwin deixou a todos os seus discípulos uma lição de objetividade científica: na abordagem da teoria da evolução ensinem a controvérsia para seus alunos! Não fazer isso, proibir isso nas universidades, impor sanções administrativas aos que são céticos do fato, Fato, FATO da evolução, não é liberdade acadêmica, mas a instituição execrável da censura e da camisa-de-força epistêmicas.
A Nomenklatura científica e a Grande Mídia internacionais e tupiniquins de hoje são os opostos da objetividade científica da Darwin de ontem: o livre exame e confronto dos fatos e argumentos em favor desta ou daquele ponto de vista!
Aguarde neste blog textos sobre algumas “afirmativas” de Darwin que as evidências se recusam em corroborar.
Para rebater essas objeções científicas, algumas delas bem robustas, Darwin se viu obrigado a escrever quatro capítulos, 30% do abstract “Origem das Espécies” [muita gente pensa que é um livro] tentando rebater essas objeções. Ao contrário dos seus atuais discípulos instalados na Nomenklatura científica – nas universidades, centros e institutos de pesquisas, e nas editorias das publicações científicas, e autores de livros-texto de Biologia do ensino médio, Darwin aceitava a possibilidade de existir outras interpretações de suas hipóteses:
“Estou bem a par do fato de existirem neste volume pouquíssimas afirmativas acerca das quais não se possam invocar diversos fatos passíveis de levar a conclusões diametralmente opostas àquelas às quais cheguei. Uma conclusão satisfatória só poderá ser alcançada através do exame e confronto dos fatos e argumentos em prol deste ou daquele ponto de vista, e tal coisa seria impossível de se fazer na presente obra.”
–Charles Darwin, na introdução do Origem das Espécies, [Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Villa Rica, 1994, p. 36]
Com isso Darwin deixou a todos os seus discípulos uma lição de objetividade científica: na abordagem da teoria da evolução ensinem a controvérsia para seus alunos! Não fazer isso, proibir isso nas universidades, impor sanções administrativas aos que são céticos do fato, Fato, FATO da evolução, não é liberdade acadêmica, mas a instituição execrável da censura e da camisa-de-força epistêmicas.
A Nomenklatura científica e a Grande Mídia internacionais e tupiniquins de hoje são os opostos da objetividade científica da Darwin de ontem: o livre exame e confronto dos fatos e argumentos em favor desta ou daquele ponto de vista!
Aguarde neste blog textos sobre algumas “afirmativas” de Darwin que as evidências se recusam em corroborar.
JC E-Mail: a análise cladística de Woese mostra o quê mesmo?
terça-feira, dezembro 18, 2007
Eis um texto bastante interessante sobre um assunto que a Nomenklatura científica e a Grande Mídia tupiniquins são mais ‘lisos do que quiabo’. Eles não abordam cum granum salis a questão do ancestral comum. Por quê? A ciência não é a busca pela verdade? O jornalismo científico não é objetivo? Não são as evidências que corroboram ou solapam uma teoria científica?
Não vou entrar no mérito do texto de Pieczarcka publicado no JC E-Mail por restrições impostas pelo autor: até seu e-mail eu tive que retirar de meu arquivo, no que atendi prontamente a solicitação do eminente professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará.
Assim sendo, vou deixar o Woese falar, sem entrar no mérito do que foi apontado por Pieczarcka no JC E-Mail, e depois vou destilar meu veneno de cobra Naja tripudians em cima dos autores de livros-texto de Biologia do ensino médio.
JC e-mail 3413, de 18 de Dezembro de 2007
29. Leitor comenta artigo “A morte das espécies”, de Marcelo Leite
“A análise cladística utilizando rRNA pelo próprio Woese, ainda nos anos 90, demonstrava claramente que as Archea, nada tinham a ver com as bactérias propriamente, sendo muito mais próximas dos eucariotos”
Mensagem de Julio Cesar Pieczarka, professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará:
No artigo "A morte das espécies", de Marcelo Leite, o grupo chamado Archea é considerado próximo das bactérias ou, como diz o articulista, "suas primas". No entanto, a análise cladística utilizando rRNA pelo próprio Woese, ainda nos anos 90, demonstrava claramente que as Archea, naquele tempo chamadas arqueobactérias, nada tinham a ver com as bactérias propriamente, sendo muito mais próximas dos eucariotos (ou seja, eu e você).
Este é o motivo, aliás, pelo qual elas mudaram de nome de Archeobacterias para simplesmente Archea. Mesmo este nome é impróprio, criado no tempo em que se pensava estes seres como sendo primitivos. Na verdade, eles aparecem na árvore da vida após o grupo das bactérias.
++++
Fala Woese!
22. WOESE, Carl, “The universal ancestor”, Proceedings of the National Academy of Sciences USA 95 (1998): 6854-6859.
Provavelmente nenhum cientista tem mais influenciado nosso atual entendimento da base da Árvore da Vida do que o microbiologista Carl Woese, da Universidade de Illinois. A amplamente aceita divisão tripartida da vida em Arquéia, Bactéria e os Eucariotos, é devido ao trabalho de Woese usando os padrões de RNA ribossômicos (rRNA). Neste artigo provocador, Woese sugere que a única Árvore da Vida de Darwin, terminando em um único ancestral comum (em inglês geralmente abreviado LUCA − Last Universal Common Ancestor - Último Ancestral Comum Universal], pode nunca ter existido. “É hora”, argumenta Woese, “de se questionar suposições justificadoras” (p. 6855).
NOTA BENE 1: O LUCA PODE NUNCA TER EXISTIDO! e chegou a hora de se “questionar suposições justificadoras”. É o que faz este blogger desde 1998 junto aos cientistas e editorias de ciência da Grande Mídia em Pindorama!
O problema se origina da falha das moléculas em fornecerem uma história consistente da história da vida primeva. “Nenhuma filogenia consistente de organismo tem emergido das muitas filogenias de proteínas individuais até aqui produzidas”, Woese escreveu. “As incongruências filogenéticas podem ser vistas em todos os lugares na árvore universal, de sua raiz até aos principais ramos dentro e entre os vários taxons até a composição dos próprios grupos principais” (p. 6854).
NOTA BENE 2: As moléculas não fornecem uma história evolutiva consistente. Há, de cabo a rabo filogenéticos, incongruências. Ué, para onde foram a robustez das evidências da teoria geral da evolução? Tão certa como a lei da gravidade?
Assim, se o LUCA existiu, não foi um organismo como qualquer um que nós pudéssemos reconhecer. “O ancestral universal não é uma entidade, não é uma coisa. É um processo característico de um estágio evolutivo particular” (p. 6858). A Árvore da Vida não tem apenas uma raiz. Antes, Woese enfatiza, “nós ficamos sem nenhum quadro consistente e satisfatório do ancestral universal” (p. 6855), e a biologia precisa tomar uma atitude em lidar com isso.
NOTA BENE 3: Woese, um dos maiores especialistas em cladística, diz que no contexto da justificação teórica da Árvore da Vida, do ancestral comum universal Darwin está sem pai e mãe. Evidência robusta:? Nihil! Zero! Kaput LUCA! Ma non Kaput Darwin, capice?
++++
COMENTÁRIO IMPERTINENTE DESTE BLOGGER:
Fui, indignado, pois se Woese afirma que “nós ficamos sem nenhum quadro consistente e satisfatório do ancestral universal”. QED em análise crítica enviada ao MEC/SEMTEC/PNLEM: Os nossos melhores autores de livros-texto de Biologia do ensino médio estão engabelando nossos alunos apresentando a Árvore da Vida de Darwin como uma entidade apoiada pela robustez das evidências. Nada mais falso!
Alô MEC/SEMTEC/PNLEM, assim não se ensina ciência, mas ideologia!
Ah, me esquecei: o bom naturalismo metodológico foi seqüestrado há muito tempo pelo naturalismo filosófico que posa como se fosse ciência! Ciência qua ciência? Isso não te pertence mais!!!
Não vou entrar no mérito do texto de Pieczarcka publicado no JC E-Mail por restrições impostas pelo autor: até seu e-mail eu tive que retirar de meu arquivo, no que atendi prontamente a solicitação do eminente professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará.
Assim sendo, vou deixar o Woese falar, sem entrar no mérito do que foi apontado por Pieczarcka no JC E-Mail, e depois vou destilar meu veneno de cobra Naja tripudians em cima dos autores de livros-texto de Biologia do ensino médio.
JC e-mail 3413, de 18 de Dezembro de 2007
29. Leitor comenta artigo “A morte das espécies”, de Marcelo Leite
“A análise cladística utilizando rRNA pelo próprio Woese, ainda nos anos 90, demonstrava claramente que as Archea, nada tinham a ver com as bactérias propriamente, sendo muito mais próximas dos eucariotos”
Mensagem de Julio Cesar Pieczarka, professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará:
No artigo "A morte das espécies", de Marcelo Leite, o grupo chamado Archea é considerado próximo das bactérias ou, como diz o articulista, "suas primas". No entanto, a análise cladística utilizando rRNA pelo próprio Woese, ainda nos anos 90, demonstrava claramente que as Archea, naquele tempo chamadas arqueobactérias, nada tinham a ver com as bactérias propriamente, sendo muito mais próximas dos eucariotos (ou seja, eu e você).
Este é o motivo, aliás, pelo qual elas mudaram de nome de Archeobacterias para simplesmente Archea. Mesmo este nome é impróprio, criado no tempo em que se pensava estes seres como sendo primitivos. Na verdade, eles aparecem na árvore da vida após o grupo das bactérias.
++++
Fala Woese!
22. WOESE, Carl, “The universal ancestor”, Proceedings of the National Academy of Sciences USA 95 (1998): 6854-6859.
Provavelmente nenhum cientista tem mais influenciado nosso atual entendimento da base da Árvore da Vida do que o microbiologista Carl Woese, da Universidade de Illinois. A amplamente aceita divisão tripartida da vida em Arquéia, Bactéria e os Eucariotos, é devido ao trabalho de Woese usando os padrões de RNA ribossômicos (rRNA). Neste artigo provocador, Woese sugere que a única Árvore da Vida de Darwin, terminando em um único ancestral comum (em inglês geralmente abreviado LUCA − Last Universal Common Ancestor - Último Ancestral Comum Universal], pode nunca ter existido. “É hora”, argumenta Woese, “de se questionar suposições justificadoras” (p. 6855).
NOTA BENE 1: O LUCA PODE NUNCA TER EXISTIDO! e chegou a hora de se “questionar suposições justificadoras”. É o que faz este blogger desde 1998 junto aos cientistas e editorias de ciência da Grande Mídia em Pindorama!
O problema se origina da falha das moléculas em fornecerem uma história consistente da história da vida primeva. “Nenhuma filogenia consistente de organismo tem emergido das muitas filogenias de proteínas individuais até aqui produzidas”, Woese escreveu. “As incongruências filogenéticas podem ser vistas em todos os lugares na árvore universal, de sua raiz até aos principais ramos dentro e entre os vários taxons até a composição dos próprios grupos principais” (p. 6854).
NOTA BENE 2: As moléculas não fornecem uma história evolutiva consistente. Há, de cabo a rabo filogenéticos, incongruências. Ué, para onde foram a robustez das evidências da teoria geral da evolução? Tão certa como a lei da gravidade?
Assim, se o LUCA existiu, não foi um organismo como qualquer um que nós pudéssemos reconhecer. “O ancestral universal não é uma entidade, não é uma coisa. É um processo característico de um estágio evolutivo particular” (p. 6858). A Árvore da Vida não tem apenas uma raiz. Antes, Woese enfatiza, “nós ficamos sem nenhum quadro consistente e satisfatório do ancestral universal” (p. 6855), e a biologia precisa tomar uma atitude em lidar com isso.
NOTA BENE 3: Woese, um dos maiores especialistas em cladística, diz que no contexto da justificação teórica da Árvore da Vida, do ancestral comum universal Darwin está sem pai e mãe. Evidência robusta:? Nihil! Zero! Kaput LUCA! Ma non Kaput Darwin, capice?
++++
COMENTÁRIO IMPERTINENTE DESTE BLOGGER:
Fui, indignado, pois se Woese afirma que “nós ficamos sem nenhum quadro consistente e satisfatório do ancestral universal”. QED em análise crítica enviada ao MEC/SEMTEC/PNLEM: Os nossos melhores autores de livros-texto de Biologia do ensino médio estão engabelando nossos alunos apresentando a Árvore da Vida de Darwin como uma entidade apoiada pela robustez das evidências. Nada mais falso!
Alô MEC/SEMTEC/PNLEM, assim não se ensina ciência, mas ideologia!
Ah, me esquecei: o bom naturalismo metodológico foi seqüestrado há muito tempo pelo naturalismo filosófico que posa como se fosse ciência! Ciência qua ciência? Isso não te pertence mais!!!
Tirando o racismo de Darwin da reta
No livro The Descent of Man, Darwin esposa idéias racistas baseadas na sua teoria geral da evolução através da seleção natural — povos ‘primitivos’ como os aborígenes australianos seriam ‘suplantados’ pelos povos ‘superiores’ [leia-se os europeus].
Mas você já viu isso nas exposições de louvaminhice a Darwin feitas pela Nomenklatura científica [vide recente Exposição Darwin no MASP]. Na Grande Mídia internacional e tupiniquim prevalece agudamente a ‘síndrome ricuperiana’: o que Darwin tem de bom, a gente mostra; o que Darwin tem de ruim, a gente esconde!
Recentemente James Watson, laureado com o Prêmio Nobel em 1962, afirmou que se sentia “inerentemente pessimista quanto às perspectivas da África” e de seus cidadãos, porque “todas as nossas políticas se baseiam no fato de que a inteligência deles equivale à nossa, enquanto os testes apontam no sentido contrário”.
A afirmação ‘racista’ de Watson foi veementemente condenada pela Nomenklatura científica internacional e tupiniquim, mas ele estava simplesmente sendo um ‘darwinista ortodoxo’. Eu não vi a Nomenklatura científica caindo de pau em cima de Darwin. Você viu?
Sérgio Penna, renomado professor da UFMG, disse que Watson ‘estava gagá e querendo aparecer’. Ué, e Darwin não estava gagá e querendo aparecer quando escreveu The Descent of Man? Dois pesos, duas medidas? Watson é ‘gagá’, mas Darwin não. Darwin locuta, causa finita, oops, evolutio finita.
Parece ser a essência do artigo de Richard Nisbett, professor de psicologia da Universidade de Michigan, autor do livro “The Geography of Thought” (A Geografia do Pensamento), publicado originalmente no jornal "The New York Times", onde as diferenças inatas de inteligência entre raças só apareceriam em testes mal projetados.
JC E-Mail 3412, de 17 de dezembro de 2007
28. O cérebro não tem cor, artigo de Richard Nisbett
Diferenças inatas de inteligência entre raças só aparecem em testes mal projetados, afirma psicólogo norte-americano
Richard Nisbett, professor de psicologia da Universidade de Michigan, é autor do livro "The Geography of Thought" (A Geografia do Pensamento). Artigo publicado originalmente no "New York Times":
James Watson, laureado com o Prêmio Nobel em 1962, recentemente afirmou que se sentia "inerentemente pessimista quanto às perspectivas da África" e de seus cidadãos, porque "todas as nossas políticas se baseiam no fato de que a inteligência deles equivale à nossa, enquanto os testes apontam no sentido contrário".
As declarações de Watson causaram agitação porque implicavam que negros fossem geneticamente inferiores aos brancos, e a controvérsia resultou em sua renúncia ao posto de diretor do Laboratório de Cold Spring Harbor. Mas ele tinha razão? Existe uma diferença genética entre negros e brancos que condene os negros a uma perpétua posição de inferioridade intelectual?
A primeira discussão pública notável dessa questão científica surgiu em um artigo publicado em 1969 por Arthur Jenson, psicólogo da Universidade da Califórnia em Berkeley. Ele sustentava que a diferença de 15 pontos nos resultados de testes de QI dos brancos e negros se devia a uma diferença genética incontornável entre as duas raças.
Mas os argumentos que ele expunha tratavam de maneira enganosa as provas científicas. Outros estudiosos usaram esses argumentos depois -Richard Hernnstein e Charles Murray em "The Bell Curve" (A Curva do Sino), publicado em 1994, por exemplo, e recentemente William Saletan, em artigos para a revista "Slate"- e cometeram o mesmo erro.
Ambiente dominante
Na verdade, as provas favorecem fortemente a hipótese de que as diferenças de QI entre as raças têm origem ambiental e não genética.
O argumento hereditarista parte da alegação de que entre 60% e 80% da variação no QI é determinada geneticamente. No entanto, a maioria dos estudos de características herdadas se baseia em pessoas de classe média.
No caso dos pobres -grupo que inclui larga proporção de minorias étnicas-, um estudo recente de Eric Turkheimer, da Universidade da Virgínia, apontou que a influência hereditária é baixa, entre 10% e 20%. Isso significa que, para os pobres, melhoras no ambiente teriam maior potencial de gerar elevação do QI.
De qualquer forma, o grau de hereditariedade de uma característica nada nos informa sobre até que ponto ela pode ser influenciada pelo ambiente. Mesmo nos casos em que um traço é altamente herdável (por exemplo, a altura dos pés de milho), a mutabilidade também pode ser elevada (há diferenças que podem ser geradas pelas condições do cultivo).
Quase todos os indícios que sugerem uma base genética para o diferencial de QI são indiretos. Temos, por exemplo, uma correlação entre tamanho do cérebro e QI, e os negros têm cérebros menores que os brancos; no entanto, homens e mulheres, duas categorias que também possuem essa diferença, obtêm resultados semelhantes em testes de QI.
Por que depender de constatações indiretas e enganosas como essas quando dispomos de dados mais diretos quanto à base do diferencial de QI? Cerca de 25% dos genes da população negra norte-americana são europeus, o que significa que os genes de qualquer indivíduo podem variar de 100% africanos a majoritariamente europeus.
Caso os genes de inteligência europeus fossem superiores, então os negros que apresentam maior proporção de genes europeus deveriam ter QI superior ao dos negros com mais genes africanos.
Mas a cor da pele e os traços "negróides" do rosto -ambos indicadores da proporção de presença européia nos antepassados de um negro- apresentam correlação baixa com os resultados de QI (ainda que fosse possível esperar uma correlação moderadamente elevada devido às vantagens sociais que esses traços físicos conferem).
Diferença irrelevante
Durante a Segunda Guerra Mundial, soldados norte-americanos, tanto negros quanto brancos, tiveram filhos com mulheres alemãs. Assim, algumas dessas crianças tinham herança 100% européia e outras tinham considerável presença de genes africanos. Testados mais tarde em suas infâncias, os filhos alemães de pais norte-americanos brancos apresentavam QI médio de 97, e os de pais negros, de 96,5, uma diferença irrelevante.
Se os genes europeus conferissem vantagem, deveríamos esperar que os negros mais inteligentes apresentassem herança européia em grau substancial. Mas quando um grupo de pesquisadores tentou localizar as mais inteligentes entre as crianças negras no sistema escolar de Chicago e lhes perguntou sobre as origens raciais de seus pais e avós, as crianças como grupo não tinham maior proporção de genes europeus em suas origens do que a média da população negra da cidade.
Um dado ainda mais revelador é que exames de tipo sangüíneo foram usados para avaliar a presença de genes europeus em pessoas negras. Os exames de tipo sangüíneo não demonstraram correlação nenhuma entre o grau de herança européia e o QI. De maneira semelhante, os tipos sangüíneos mais estreitamente associados a um alto desempenho intelectual, entre os negros, não são mais europeus em origem do que outros grupos sangüíneos.
O que defensores do hereditarismo dispõem de mais próximo a uma prova direta é um estudo dos anos 1970, segundo o qual crianças negras adotadas por pais brancos tinham QI mais baixo do que crianças de etnia mista adotadas por pais brancos.
Mas, como reconheceram os pesquisadores, o estudo apresentava muitas falhas; por exemplo, as crianças negras haviam sido adotadas em idade substancialmente mais alta do que as crianças mestiças, e uma adoção em idade mais tardia apresenta correlação com QI mais baixo.
Prova ignorada
Um estudo mais cuidadoso de adoções -que os hereditários preferem ignorar- foi conduzido pela psicóloga Elsie Moore, na Universidade Estadual do Arizona, e envolvia crianças negras e mestiças adotadas por famílias de classe média, negras ou brancas. O estudo não constatou diferença de QI entre as crianças negras e as mestiças.
O mais revelador foi a constatação de Moore de que as crianças adotadas por famílias brancas tinham QI 13 pontos mais alto do que o das adotadas por famílias negras. Ou seja, o ambiente em que até mesmo crianças negras de classe média são criadas tende a favorecer menos o desenvolvimento de QI do que o ambiente da classe média branca.
Importantes pesquisas realizadas nos últimos anos ajudam a identificar com precisão exatamente que fatores determinam as diferenças em resultados de QI. Joseph Fagan, da Universidade Case Western Reserve, e Cynthia Holland, do Cuyahoga Community College, testaram brancos e negros quanto ao seu conhecimento de palavras e conceitos e sua capacidade para aprendê-los e usá-los durante um raciocínio.
Os brancos tinham conhecimento substancialmente maior de diversas palavras e conceitos, mas quando os participantes foram testados para a capacidade de aprender novas palavras, quer por meio de definições de dicionário, quer contextualmente, os negros apresentaram desempenho tão bom quanto o dos brancos.
Os brancos demonstraram melhor compreensão de ditados, mais capacidade de reconhecer similaridades e mais facilidade com analogias quando as soluções requeriam conhecimento de palavras e conceitos que tinham mais probabilidade de serem conhecidos pelos brancos do que pelos negros.
Mas quando essas formas de raciocínio foram testadas com palavras e conceitos conhecidos igualmente bem pelos brancos e negros, não foram constatadas diferenças.
Causa ambiental
Que o ambiente pode ter efeito considerável sobre o QI é um fenômeno demonstrado pelo chamado efeito Flynn. James Flynn, filósofo e pesquisador de QI da Nova Zelândia, estabeleceu que, no mundo ocidental como um todo, o QI subiu consideravelmente entre 1947 e 2002. Nos Estados Unidos apenas, a alta foi de 18 pontos.
Nossos genes não podem ter mudado o suficiente, no período em questão, para responder pela alteração, de modo que ela deve ter surgido em decorrência de poderosos fatores sociais. Essas mudanças, ao longo do tempo, também ocorrem entre as diferentes subpopulações humanas.
De fato, sabemos que a diferença de QI entre crianças brancas e negras de 12 anos de idade caiu de 15 para 9,5 pontos nos últimos 30 anos -período que de muitas maneiras favoreceu mais os negros do que as eras precedentes. O avanço dos negros no teste nacional dos EUA de avaliação de progresso educacional mostra ganhos semelhantes. O progresso em termos de leitura e matemática foi modesto entre os brancos, mas substancial para os negros.
O mais importante é que sabemos que intervenções em todas as faixas etárias, da infância ao ensino superior, podem reduzir a disparidade racial em termos de QI e realizações acadêmicas, às vezes de maneira substancial e em prazos surpreendentemente curtos.
Esta mutabilidade fornece nova prova de que a diferença de QI tem causas ambientais e não genéticas. E deveria nos encorajar, como sociedade, a garantir que todas as crianças recebam amplas oportunidades de desenvolver seus cérebros.
(Folha de SP, 16/12)
Mas você já viu isso nas exposições de louvaminhice a Darwin feitas pela Nomenklatura científica [vide recente Exposição Darwin no MASP]. Na Grande Mídia internacional e tupiniquim prevalece agudamente a ‘síndrome ricuperiana’: o que Darwin tem de bom, a gente mostra; o que Darwin tem de ruim, a gente esconde!
Recentemente James Watson, laureado com o Prêmio Nobel em 1962, afirmou que se sentia “inerentemente pessimista quanto às perspectivas da África” e de seus cidadãos, porque “todas as nossas políticas se baseiam no fato de que a inteligência deles equivale à nossa, enquanto os testes apontam no sentido contrário”.
A afirmação ‘racista’ de Watson foi veementemente condenada pela Nomenklatura científica internacional e tupiniquim, mas ele estava simplesmente sendo um ‘darwinista ortodoxo’. Eu não vi a Nomenklatura científica caindo de pau em cima de Darwin. Você viu?
Sérgio Penna, renomado professor da UFMG, disse que Watson ‘estava gagá e querendo aparecer’. Ué, e Darwin não estava gagá e querendo aparecer quando escreveu The Descent of Man? Dois pesos, duas medidas? Watson é ‘gagá’, mas Darwin não. Darwin locuta, causa finita, oops, evolutio finita.
Parece ser a essência do artigo de Richard Nisbett, professor de psicologia da Universidade de Michigan, autor do livro “The Geography of Thought” (A Geografia do Pensamento), publicado originalmente no jornal "The New York Times", onde as diferenças inatas de inteligência entre raças só apareceriam em testes mal projetados.
JC E-Mail 3412, de 17 de dezembro de 2007
28. O cérebro não tem cor, artigo de Richard Nisbett
Diferenças inatas de inteligência entre raças só aparecem em testes mal projetados, afirma psicólogo norte-americano
Richard Nisbett, professor de psicologia da Universidade de Michigan, é autor do livro "The Geography of Thought" (A Geografia do Pensamento). Artigo publicado originalmente no "New York Times":
James Watson, laureado com o Prêmio Nobel em 1962, recentemente afirmou que se sentia "inerentemente pessimista quanto às perspectivas da África" e de seus cidadãos, porque "todas as nossas políticas se baseiam no fato de que a inteligência deles equivale à nossa, enquanto os testes apontam no sentido contrário".
As declarações de Watson causaram agitação porque implicavam que negros fossem geneticamente inferiores aos brancos, e a controvérsia resultou em sua renúncia ao posto de diretor do Laboratório de Cold Spring Harbor. Mas ele tinha razão? Existe uma diferença genética entre negros e brancos que condene os negros a uma perpétua posição de inferioridade intelectual?
A primeira discussão pública notável dessa questão científica surgiu em um artigo publicado em 1969 por Arthur Jenson, psicólogo da Universidade da Califórnia em Berkeley. Ele sustentava que a diferença de 15 pontos nos resultados de testes de QI dos brancos e negros se devia a uma diferença genética incontornável entre as duas raças.
Mas os argumentos que ele expunha tratavam de maneira enganosa as provas científicas. Outros estudiosos usaram esses argumentos depois -Richard Hernnstein e Charles Murray em "The Bell Curve" (A Curva do Sino), publicado em 1994, por exemplo, e recentemente William Saletan, em artigos para a revista "Slate"- e cometeram o mesmo erro.
Ambiente dominante
Na verdade, as provas favorecem fortemente a hipótese de que as diferenças de QI entre as raças têm origem ambiental e não genética.
O argumento hereditarista parte da alegação de que entre 60% e 80% da variação no QI é determinada geneticamente. No entanto, a maioria dos estudos de características herdadas se baseia em pessoas de classe média.
No caso dos pobres -grupo que inclui larga proporção de minorias étnicas-, um estudo recente de Eric Turkheimer, da Universidade da Virgínia, apontou que a influência hereditária é baixa, entre 10% e 20%. Isso significa que, para os pobres, melhoras no ambiente teriam maior potencial de gerar elevação do QI.
De qualquer forma, o grau de hereditariedade de uma característica nada nos informa sobre até que ponto ela pode ser influenciada pelo ambiente. Mesmo nos casos em que um traço é altamente herdável (por exemplo, a altura dos pés de milho), a mutabilidade também pode ser elevada (há diferenças que podem ser geradas pelas condições do cultivo).
Quase todos os indícios que sugerem uma base genética para o diferencial de QI são indiretos. Temos, por exemplo, uma correlação entre tamanho do cérebro e QI, e os negros têm cérebros menores que os brancos; no entanto, homens e mulheres, duas categorias que também possuem essa diferença, obtêm resultados semelhantes em testes de QI.
Por que depender de constatações indiretas e enganosas como essas quando dispomos de dados mais diretos quanto à base do diferencial de QI? Cerca de 25% dos genes da população negra norte-americana são europeus, o que significa que os genes de qualquer indivíduo podem variar de 100% africanos a majoritariamente europeus.
Caso os genes de inteligência europeus fossem superiores, então os negros que apresentam maior proporção de genes europeus deveriam ter QI superior ao dos negros com mais genes africanos.
Mas a cor da pele e os traços "negróides" do rosto -ambos indicadores da proporção de presença européia nos antepassados de um negro- apresentam correlação baixa com os resultados de QI (ainda que fosse possível esperar uma correlação moderadamente elevada devido às vantagens sociais que esses traços físicos conferem).
Diferença irrelevante
Durante a Segunda Guerra Mundial, soldados norte-americanos, tanto negros quanto brancos, tiveram filhos com mulheres alemãs. Assim, algumas dessas crianças tinham herança 100% européia e outras tinham considerável presença de genes africanos. Testados mais tarde em suas infâncias, os filhos alemães de pais norte-americanos brancos apresentavam QI médio de 97, e os de pais negros, de 96,5, uma diferença irrelevante.
Se os genes europeus conferissem vantagem, deveríamos esperar que os negros mais inteligentes apresentassem herança européia em grau substancial. Mas quando um grupo de pesquisadores tentou localizar as mais inteligentes entre as crianças negras no sistema escolar de Chicago e lhes perguntou sobre as origens raciais de seus pais e avós, as crianças como grupo não tinham maior proporção de genes europeus em suas origens do que a média da população negra da cidade.
Um dado ainda mais revelador é que exames de tipo sangüíneo foram usados para avaliar a presença de genes europeus em pessoas negras. Os exames de tipo sangüíneo não demonstraram correlação nenhuma entre o grau de herança européia e o QI. De maneira semelhante, os tipos sangüíneos mais estreitamente associados a um alto desempenho intelectual, entre os negros, não são mais europeus em origem do que outros grupos sangüíneos.
O que defensores do hereditarismo dispõem de mais próximo a uma prova direta é um estudo dos anos 1970, segundo o qual crianças negras adotadas por pais brancos tinham QI mais baixo do que crianças de etnia mista adotadas por pais brancos.
Mas, como reconheceram os pesquisadores, o estudo apresentava muitas falhas; por exemplo, as crianças negras haviam sido adotadas em idade substancialmente mais alta do que as crianças mestiças, e uma adoção em idade mais tardia apresenta correlação com QI mais baixo.
Prova ignorada
Um estudo mais cuidadoso de adoções -que os hereditários preferem ignorar- foi conduzido pela psicóloga Elsie Moore, na Universidade Estadual do Arizona, e envolvia crianças negras e mestiças adotadas por famílias de classe média, negras ou brancas. O estudo não constatou diferença de QI entre as crianças negras e as mestiças.
O mais revelador foi a constatação de Moore de que as crianças adotadas por famílias brancas tinham QI 13 pontos mais alto do que o das adotadas por famílias negras. Ou seja, o ambiente em que até mesmo crianças negras de classe média são criadas tende a favorecer menos o desenvolvimento de QI do que o ambiente da classe média branca.
Importantes pesquisas realizadas nos últimos anos ajudam a identificar com precisão exatamente que fatores determinam as diferenças em resultados de QI. Joseph Fagan, da Universidade Case Western Reserve, e Cynthia Holland, do Cuyahoga Community College, testaram brancos e negros quanto ao seu conhecimento de palavras e conceitos e sua capacidade para aprendê-los e usá-los durante um raciocínio.
Os brancos tinham conhecimento substancialmente maior de diversas palavras e conceitos, mas quando os participantes foram testados para a capacidade de aprender novas palavras, quer por meio de definições de dicionário, quer contextualmente, os negros apresentaram desempenho tão bom quanto o dos brancos.
Os brancos demonstraram melhor compreensão de ditados, mais capacidade de reconhecer similaridades e mais facilidade com analogias quando as soluções requeriam conhecimento de palavras e conceitos que tinham mais probabilidade de serem conhecidos pelos brancos do que pelos negros.
Mas quando essas formas de raciocínio foram testadas com palavras e conceitos conhecidos igualmente bem pelos brancos e negros, não foram constatadas diferenças.
Causa ambiental
Que o ambiente pode ter efeito considerável sobre o QI é um fenômeno demonstrado pelo chamado efeito Flynn. James Flynn, filósofo e pesquisador de QI da Nova Zelândia, estabeleceu que, no mundo ocidental como um todo, o QI subiu consideravelmente entre 1947 e 2002. Nos Estados Unidos apenas, a alta foi de 18 pontos.
Nossos genes não podem ter mudado o suficiente, no período em questão, para responder pela alteração, de modo que ela deve ter surgido em decorrência de poderosos fatores sociais. Essas mudanças, ao longo do tempo, também ocorrem entre as diferentes subpopulações humanas.
De fato, sabemos que a diferença de QI entre crianças brancas e negras de 12 anos de idade caiu de 15 para 9,5 pontos nos últimos 30 anos -período que de muitas maneiras favoreceu mais os negros do que as eras precedentes. O avanço dos negros no teste nacional dos EUA de avaliação de progresso educacional mostra ganhos semelhantes. O progresso em termos de leitura e matemática foi modesto entre os brancos, mas substancial para os negros.
O mais importante é que sabemos que intervenções em todas as faixas etárias, da infância ao ensino superior, podem reduzir a disparidade racial em termos de QI e realizações acadêmicas, às vezes de maneira substancial e em prazos surpreendentemente curtos.
Esta mutabilidade fornece nova prova de que a diferença de QI tem causas ambientais e não genéticas. E deveria nos encorajar, como sociedade, a garantir que todas as crianças recebam amplas oportunidades de desenvolver seus cérebros.
(Folha de SP, 16/12)
EXTRA! EXTRA! “I Simpósio Internacional – Darwinismo Hoje”, oia nóis na fita em 2008
segunda-feira, dezembro 17, 2007
Este evento será realizado na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, de 08 a 10 de abril de 2008.
O I Simpósio Internacional – Darwinismo Hoje é uma iniciativa da Universidade Presbiteriana Mackenzie e reúne pesquisadores no campo das diferentes áreas do saber, com a finalidade de integrar esforços para promover um amplo debate sobre as interpretações do Darwinismo, Criacionismo e Design Inteligente. Sendo a Academia o lugar propício para o debate, é imprescindível que se apresente o contraditório e, por isso, embora o Darwinismo tenha se tornado um paradigma científico, outras interpretações, movidas por diferentes cosmovisões são aceitas, difundidas e defendidas cientificamente. Visando à integração de um processo de aprimoramento científico, é imperioso que a Universidade Presbiteriana Mackenzie se abra para o estudo do paradigmático ao contraditório, do Evolucionismo ao Criacionismo.
Conferencistas convidados:
Dr. Aldo Mellender de Araújo;
Dr. Paul Nelson (à esquerda);
Dr. Ruy Carlos de Camargo Vieira.
As inscrições de trabalhos científicos estarão abertas de 02/01/2008 a 20/03/2008.
As inscrições para participar do evento continuarão até a data do Congresso.
E-mail: simpósio.darwinismo@mackenzie.com.br
NOTA DESTE BLOGGER:
O Dr. Paul Nelson é o proponente do Design Inteligente
O I Simpósio Internacional – Darwinismo Hoje é uma iniciativa da Universidade Presbiteriana Mackenzie e reúne pesquisadores no campo das diferentes áreas do saber, com a finalidade de integrar esforços para promover um amplo debate sobre as interpretações do Darwinismo, Criacionismo e Design Inteligente. Sendo a Academia o lugar propício para o debate, é imprescindível que se apresente o contraditório e, por isso, embora o Darwinismo tenha se tornado um paradigma científico, outras interpretações, movidas por diferentes cosmovisões são aceitas, difundidas e defendidas cientificamente. Visando à integração de um processo de aprimoramento científico, é imperioso que a Universidade Presbiteriana Mackenzie se abra para o estudo do paradigmático ao contraditório, do Evolucionismo ao Criacionismo.
Conferencistas convidados:
Dr. Aldo Mellender de Araújo;
Dr. Paul Nelson (à esquerda);
Dr. Ruy Carlos de Camargo Vieira.
As inscrições de trabalhos científicos estarão abertas de 02/01/2008 a 20/03/2008.
As inscrições para participar do evento continuarão até a data do Congresso.
E-mail: simpósio.darwinismo@mackenzie.com.br
NOTA DESTE BLOGGER:
O Dr. Paul Nelson é o proponente do Design Inteligente
A teoria geral da evolução de Darwin não passa nos testes, mas ainda assim está certa
O conceito do método científico varia de ciência para ciência. Este ‘demarcacionismo’ é exaltado por alguns, e execrado por outros, pois o método científico é trazido por atacado para exaltar o modo científico de pensar em detrimento a outras formas de conhecimento. Especialmente no caso das teorias de longo alcance histórico como a teoria geral da evolução e sua hipótese de ancestralidade comum: não há como submetê-la a testes!!!
Marcelo Gleiser, como é mesmo a história — “Não adianta uma idéia ser ‘bela’ sem passar nos testes”? A hipótese do ancestral comum passaria nesse teste?
JC E-Mail 3412, de 17 de dezembro de 2007
30. Testando a relatividade, artigo de Marcelo Gleiser
Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA) e autor do livro "A Harmonia do Mundo". Artigo publicado na “Folha de SP”:
Quando perguntaram a Einstein se ele estava preocupado com possíveis erros na teoria da relatividade, ele respondeu: "De modo algum. A teoria é bela demais para estar errada".
Isso é que é confiança! Em 1915, Einstein havia sugerido um novo modo de pensar sobre a gravidade que ficou conhecido como teoria da relatividade geral. Ela substituía a idéia prevalecente na época, sugerida por Isaac Newton em 1686, que dizia que a força gravitacional entre dois objetos com massa agia à distância, sem que os objetos se tocassem. Einstein propôs que a gravidade pode ser interpretada como resultado de uma deformação no espaço devido à presença de um objeto com muita massa.
Quanto mais massa tiver o objeto, maior a curvatura que ele causa no espaço. Como quando nos sentamos num colchão; quanto mais pesados somos, mais o colchão se curva em torno do nosso traseiro.
Em física, idéias novas, especialmente as mais radicais, são sujeitas a inúmeros testes. O que diferencia a ciência é justamente essa insistência em que as hipóteses sejam testadas e verificadas em laboratórios ou, no caso da astronomia, por meio de observações com telescópios e outros instrumentos capazes de colher informação do céu.
Não adianta que uma idéia seja "bela" ou extremamente elegante: sem ser verificada, não é aceita pela comunidade científica. Claro, em alguns casos -especialmente quando a tecnologia é insuficiente-, idéias sobrevivem durante muitos anos sem serem testadas. É o caso da teoria das supercordas nos dias de hoje.
No caso da relatividade geral, o próprio Einstein havia proposto três testes. Um era a explicação para anomalias na órbita do planeta Mercúrio que não eram explicadas pela teoria newtoniana.
Outro, que a luz proveniente de estrelas distantes seriam desviadas ao passar na vizinhança do Sol. Isso porque o Sol, com sua massa gigantesca, deforma a geometria do espaço a sua volta, o que cria um efeito mensurável na Terra.
O terceiro teste, mais complicado, dizia que a luz (ou melhor, a radiação eletromagnética) também era afetada pela gravidade: quanto maior a gravidade, menos energia tem a luz. Como a luz vermelha tem menos energia do que a azul, o efeito ficou conhecido como "desvio para o vermelho gravitacional".
Na década de 60, essa previsão da teoria foi testada com sucesso nos EUA. A teoria explicava também a órbita de Mercúrio, e o desvio da luz de estrelas foi verificado em inúmeras oportunidades, inclusive no Brasil em 1919. Mesmo assim, a teoria continua sendo testada.
A insistência em novos testes vem do fato de nenhuma teoria ser perfeita, existindo sempre dentro de limites de validade. A própria teoria da relatividade explica coisas que a teoria de Newton não explica, como os três testes acima. A esperança é que, ao expor a teoria a testes cada vez mais sensíveis, será possível vislumbrar onde ela falha. Essas falhas, por sua vez, apontam para novas teorias, novas idéias sobre a natureza. É sempre bom lembrar que a ciência é uma narrativa que se aprimora constantemente.
Recentemente, a teoria de Einstein foi sujeita a mais um teste: medindo a distância até a Lua com precisão de um centímetro, cientistas refletiram um raio laser num espelho deixado na superfície lunar por astronautas da missão Apollo 11. (Pondere este feito tecnológico). Mais uma vez, as correções propostas por Einstein passaram pelo teste. Com isso, teorias que tentam generalizar as idéias da relatividade ficam cada vez mais restritas.
Mas como nenhuma teoria é perfeita, nem mesmo a relatividade, a busca continua.
(Folha de SP, 16/12)
COMENTÁRIO IMPERTINENTE DESTE BLOGGER:
Como a teoria geral da evolução de Darwin não é assim uma Brastemp de perfeita, a luta continua companheiro, oops, a busca continua. É, mas só os físicos é que têm coragem de abordar suas dificuldades teóricas publicamente. Que venha logo Darwin 3.0, apesar dessa covardia epistêmica.
Marcelo Gleiser, como é mesmo a história — “Não adianta uma idéia ser ‘bela’ sem passar nos testes”? A hipótese do ancestral comum passaria nesse teste?
JC E-Mail 3412, de 17 de dezembro de 2007
30. Testando a relatividade, artigo de Marcelo Gleiser
Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA) e autor do livro "A Harmonia do Mundo". Artigo publicado na “Folha de SP”:
Quando perguntaram a Einstein se ele estava preocupado com possíveis erros na teoria da relatividade, ele respondeu: "De modo algum. A teoria é bela demais para estar errada".
Isso é que é confiança! Em 1915, Einstein havia sugerido um novo modo de pensar sobre a gravidade que ficou conhecido como teoria da relatividade geral. Ela substituía a idéia prevalecente na época, sugerida por Isaac Newton em 1686, que dizia que a força gravitacional entre dois objetos com massa agia à distância, sem que os objetos se tocassem. Einstein propôs que a gravidade pode ser interpretada como resultado de uma deformação no espaço devido à presença de um objeto com muita massa.
Quanto mais massa tiver o objeto, maior a curvatura que ele causa no espaço. Como quando nos sentamos num colchão; quanto mais pesados somos, mais o colchão se curva em torno do nosso traseiro.
Em física, idéias novas, especialmente as mais radicais, são sujeitas a inúmeros testes. O que diferencia a ciência é justamente essa insistência em que as hipóteses sejam testadas e verificadas em laboratórios ou, no caso da astronomia, por meio de observações com telescópios e outros instrumentos capazes de colher informação do céu.
Não adianta que uma idéia seja "bela" ou extremamente elegante: sem ser verificada, não é aceita pela comunidade científica. Claro, em alguns casos -especialmente quando a tecnologia é insuficiente-, idéias sobrevivem durante muitos anos sem serem testadas. É o caso da teoria das supercordas nos dias de hoje.
No caso da relatividade geral, o próprio Einstein havia proposto três testes. Um era a explicação para anomalias na órbita do planeta Mercúrio que não eram explicadas pela teoria newtoniana.
Outro, que a luz proveniente de estrelas distantes seriam desviadas ao passar na vizinhança do Sol. Isso porque o Sol, com sua massa gigantesca, deforma a geometria do espaço a sua volta, o que cria um efeito mensurável na Terra.
O terceiro teste, mais complicado, dizia que a luz (ou melhor, a radiação eletromagnética) também era afetada pela gravidade: quanto maior a gravidade, menos energia tem a luz. Como a luz vermelha tem menos energia do que a azul, o efeito ficou conhecido como "desvio para o vermelho gravitacional".
Na década de 60, essa previsão da teoria foi testada com sucesso nos EUA. A teoria explicava também a órbita de Mercúrio, e o desvio da luz de estrelas foi verificado em inúmeras oportunidades, inclusive no Brasil em 1919. Mesmo assim, a teoria continua sendo testada.
A insistência em novos testes vem do fato de nenhuma teoria ser perfeita, existindo sempre dentro de limites de validade. A própria teoria da relatividade explica coisas que a teoria de Newton não explica, como os três testes acima. A esperança é que, ao expor a teoria a testes cada vez mais sensíveis, será possível vislumbrar onde ela falha. Essas falhas, por sua vez, apontam para novas teorias, novas idéias sobre a natureza. É sempre bom lembrar que a ciência é uma narrativa que se aprimora constantemente.
Recentemente, a teoria de Einstein foi sujeita a mais um teste: medindo a distância até a Lua com precisão de um centímetro, cientistas refletiram um raio laser num espelho deixado na superfície lunar por astronautas da missão Apollo 11. (Pondere este feito tecnológico). Mais uma vez, as correções propostas por Einstein passaram pelo teste. Com isso, teorias que tentam generalizar as idéias da relatividade ficam cada vez mais restritas.
Mas como nenhuma teoria é perfeita, nem mesmo a relatividade, a busca continua.
(Folha de SP, 16/12)
COMENTÁRIO IMPERTINENTE DESTE BLOGGER:
Como a teoria geral da evolução de Darwin não é assim uma Brastemp de perfeita, a luta continua companheiro, oops, a busca continua. É, mas só os físicos é que têm coragem de abordar suas dificuldades teóricas publicamente. Que venha logo Darwin 3.0, apesar dessa covardia epistêmica.
A face stalinista-maoísta, arrogante, totalitária da ciência pós-moderna
domingo, dezembro 16, 2007
Quando pela primeira vez eu grafei o termo “Nomenklatura” com “K” num artigo publicado no Observatório da Imprensa, Claudio Weber Abramo, então articulista da Folha de São Paulo e hoje presidindo uma ONG cobrando ética dos políticos [engraçado por que ele não cobra ética também na ciência?], escreveu replicando que esta foi a única coisa diferente que eu trouxe para o debate Darwin vs. Design.
Eu escrevi com “K” porque na condição de ex-marxista eu pude vislumbrar a camisa-de-força epistêmica imposta na comunidade acadêmica e os ares de pontífices secularistas arrogantes quando os cientistas emitem e impõem suas opiniões sobre a sociedade: Totalitarismo do pensamento uniforme [a síndrome dos soldadinhos-de-chumbo] onde todo mundo pensa igual e ninguém pensa em mais nada.
Abaixo duas situações que exemplificam muito bem esta inusitada situação que eu chamo de “tentação luciferiana”. Uma, alhures, na Inglaterra. A outra, bem aqui em Pindorama.
13/12/07
A face pós-moderna da ciência
Por David Tyler 07:41:06 am
“A ciência se desenvolve muito rapidamente para a moralidade” é descrito por Mary Warnock como o clichê do século XX. Mas isso pode não estar certo. A moralidade tem a ver com o como nós usamos a ciência e onde nós devemos estar colocando nossos esforços na pesquisa. Na melhor das hipóteses, o clichê pode ser entendido como significando que a pesquisa científica lança novas questões para consideração, mas isto é fazer um ponto diferente (e não controverso). Na pior das hipóteses, isto implica que a moralidade deve ser entendida como uma estrutura inerentemente subjetiva para guiar a conduta humana.
O Committee of Enquiry into Human Fertilization and Embryology [Comitê de Pesquisa na Fertilização e Embriologia Humanas] foi estabelecido pelo governo do Reino Unido para fornecer recomendações antes da legislação relativa à fertilização in vitro (in vitro fertilization, abreviado IVF em inglês). A moralidade se preocupa com o que nós devemos fazer, mas é significante que o Comitê focalizou na legislação sem fazer quaisquer declarações sobre as obrigações morais dos pesquisadores.
“Nós não somos um grupo de ‘especialistas em moral’, com autoridade moral particular derivada de nossa especialidade. Antes, o nosso direito de propor legislação é derivado do fato que nós fomos colocados pelo governo, e que nos deram o tempo e os recursos para realizar isso. A outra única exigência foi que nós todos deveríamos ser capazes de formular e ouvir argumentos.”
Desde quando a possibilidade do IVF surgiu nos anos 1970s, tem tido convites para um debate público sobre as implicações éticas e morais. Alguns grupos com uma agenda moral mais nítida contribuíram para este debate, mas as suas representações foram consideradas ‘partidárias’. Warnock se refere à Igreja Católica Romana e a sua oposição à destruição de embriões humanos na pesquisa. A ICR baseou esta opinião no seu entendimento da santidade da vida humana desde o seu início. A reação do Comitê foi significante:
“A Igreja reclamou para si um direito de regular a ciência nesta área, por causa do seu conhecimento superior da moralidade. Num contraste bem pronunciado, o direito do comitê em emitir conselho moral para os ministros é derivado do fato de ter sido estabelecido para fazê-lo, e de ter um quadro de membros amplo e apartidário.”
O Comitê reconheceu que as afirmações sobre a santidade da vida humana e o status do embrião humano pressupõem uma autoridade. É isso que traz o ‘dever’ à moralidade.
Onde o Comitê achou a sua autoridade? Não em nenhuma das fundações metafísicas, mas na autorização do governo da Grã-Bretanha para dar conselhos. Assim, a autoridade deles foi construída socialmente. A abordagem deles é o tácito reconhecimento de que a moralidade em si mesma não pode ser algo fruindo do método científico.
Como que a equipe de Warnock abordou a questão crucial do status do embrião humano?
“Uma das tarefas mais difíceis que o comitê enfrentou foi fazer com que o Parlamento [inglês] entendesse que o status do embrião in vitro não era uma questão de ciência, mas de decisão moral. A novidade do embrião in vitro significava que não poderia haver apelo à convenção moral precedente ou existente, ou às leis religiosas.”
O que está faltando aqui é o reconhecimento de que, biologicamente, o embrião é um ser humano no seu estágio incipiente de desenvolvimento. Isto deveria ser um ponto de concordância por todos os que contribuem para este debate, e vale a pena destacar isso desde o início. O status do embrião foi considerado pelo Comitê como sendo uma questão de “decisão moral”, e uma decisão que a Sociedade deve fazer através de seus representantes eleitos (e aqueles que ele delega para considerar as questões).
“Ocasionalmente... aqueles na interface entre a ciência e a política são chamados para definir os padrões morais para a sociedade”. Assim, o Parlamento se torna a fonte da autoridade moral — a vontade do governo prevalece.
Dos comentários acima, fica claro que todas as características do pós-modernismo estão presentes no modo que o Comitê tem conduzidos seus afazeres. A obrigação moral é construída socialmente através de representantes e quengos eleitos. As decisões morais são feitas por aqueles em posição de poder em favor da comunidade que eles governam. Essas decisões são, em última instância, subjetivas e elas podem mudar com o contexto social. Apelos para autoridade externa podem ser admitidos no discurso público, mas eles são rapidamente considerados como “partidários” e como assunto de “moralidade privada”. Determinar a moralidade pública é assunto da Sociedade e do Governo, e não de Deus como o Legislador.
Curiosamente, um elemento da ciência positivista tem se infiltrado nesta questão. A descrição do Comitê como “não tendo partidários no seu quadro de membros” é uma que se relaciona aproximadamente do conceito de que o pesquisador é um observador imparcial e objetivo do mundo. Todavia, isto é um engano completo! Ninguém não é apartidário em questões de ética e moralidade. Todo mundo tem uma agenda que trazem para a discussão.
O que nós temos aqui é uma nítida demonstração da fragmentação do conhecimento e da filosofia de pesquisa dentro da ciência materialista. Os humanos, com o nosso sentido de ‘dever’ e ‘obrigação’, simplesmente não encaixamos na cosmovisão materialista. Os problemas identificados pelos românticos do século 18 ainda estão conosco! Os materialistas de hoje tentando abordar a questão da pesquisa de embriões se viram obrigados a adotar a disposição mental do pós-modernismo. Eles tacitamente reconheceram que as respostas não virão da ciência. Eles aceitaram que os nossos dirigentes têm a autoridade para determinar a moralidade pública. A História sugere que isso é uma estratégia perigosa. Nós precisamos de líderes que reconhecem que eles mesmos são responsáveis a uma autoridade superior. Nós necessitamos de uma epistemologia de conhecimento subjacente que unifique as arenas públicas e privadas da vida, e integre as ciências naturais e sociais.
The ethical regulation of science
Mary Warnock
Nature 450, 615 (29 November 2007) | doi:10.1038/450615a
Abstract:
Occasionally science makes procedures possible that are so radical that those at the interface between science and politics are called on to define moral standards for society.
+++++
À luz cristalina do texto acima, leia agora o que está acontecendo em Pindorama: cientistas “pressionam” o Supremo sobre a emissão de uma nota promissória científica.
JC E-Mail 3411, de 14 de dezembro de 2007
1. Células embrionárias: julgamento em fevereiro
Comunidade científica pressiona Supremo a chegar a um veredito sobre uso em pesquisas
Alan Gripp escreve para "O Globo":
Lideranças da comunidade científica brasileira estiveram ontem no Supremo Tribunal Federal (STF) para pressionar a corte a pôr um ponto final na polêmica sobre a proibição do uso de células-tronco embrionárias em pesquisa. Uma ação proposta pelo Ministério Público Federal, em 2005, paralisou os estudos científicos, que podem resultar em tratamentos de doenças degenerativas, como os males de Alzheimer e Parkinson.
O ministro Carlos Ayres Britto, relator do caso, prometeu entregar o seu voto na primeira semana de fevereiro. Depois, os ministros se reunirão para julgar. O uso de células embrionárias em pesquisas foi regulamento pelo Congresso em 2005, com a aprovação da Lei de Biossegurança.
A lei permite a pesquisa com embriões congelados há mais de três anos por clínicas de fertilização. Mas uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, proposta naquele mesmo ano pelo então procurador-geral da República Cláudio Fontelles, pede a proibição das pesquisas.
A coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP, Mayana Zatz, que esteve ontem com os ministros, disse que até a manifestação do tribunal as pesquisas continuarão paradas, em função de restrições impostas pelos conselhos de ética de instituições científicas. Segundo ela, os estudos com células de embriões são mais eficazes do que os realizadas com células adultas.
Mayana diz que não há divisão na comunidade científica sobre o tema [1]:
— É o futuro da regeneração dos órgãos e tecidos. E hoje estamos de mãos atadas.
A polêmica tem como pano de fundo a discussão sobre o momento exato em que se inicia a vida. Fontelles reproduz o argumento da Igreja: os embriões são seres vivos. Para a comunidade científica, são apenas tecidos vivos.
O presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Marco Antônio Raupp, diz que o impasse está retardando as pesquisas:
— Sabe o que vai acontecer? O Brasil tem hoje um bom conhecimento do tema, mas com as pesquisas paradas vamos ter que pagar royalties quando forem descobertas curas para doenças. Nos EUA e na Europa ninguém pára. [2]
(O Globo, 14/12)
NOTA:
1. Mayana Zatz está despudoradamente em descompasso com a verdade na sua defesa apaixonante da utilização de embriões humanos: há sim divisão na comunidade científica sobre o tema.
2. Marco Antonio Raupp fez aqui um exercício de futurologia, e se esqueceu de fazer um exercício do presente: somente os muito, mas os muito ricos é que poderão ter acesso a este tipo de terapia. Só para uma linhagem de células-tronco embrionárias são necessários uns 260 óvulos. Cada custa uns US$ 4.000,00 (quatro mil dólares). A remoção é uma cirurgia invasiva, com danos para as mulheres. Isso totaliza a bagatela de US$ 1.000.000,00 (um milhão de dólares). Fora os salários dos cientistas pesquisadores, despesas do laboratório (água, energia) y otras cositas mais.
A terapia com as células-tronco embrionárias não será democratizada como estão “choramingando” os cientistas tupiniquins pressionando nossos políticos. Do jeito que está o SUS, que não atende direito nem dor de cabeça, querer que o público pague estas pesquisas somente para satisfazer ególatras científicos? Muito mais agora sem a CPMF. Não acredito que os planos de saúde irão contemplar este tipo de terapia para seus associados. Se cobrirem, vai ser uma quebradeira geral neste setor. A lógica do capitalismo ainda é o lucro, mesmo que seja em planos de saúde.
O Congresso Nacional não deve se sentir “pressionado” pelos apelos emocionais dos Drs. Frankensteins da vida, e a sociedade deve ser sim consultada num plebiscito sobre esta complexa e polêmica questão, pois é ela quem paga os salários dessa turma e as suas pesquisas. Algumas até inúteis e desnecessárias, diga-se de passagem.
Cheque em branco pra esta turma já teve conseqüências funestas recentemente para a humanidade. Lembre-se de Hiroshima e Nagasaki. E também de Josef Mengele...
Só pra contrariar os cientistas stalinistas-materialistas de plantão que querem ver os de concepções religiosas como gado enfurnados nos seus guetos e catacumbas dominicais, sem nenhuma participação na polis, vide o artigo abaixo de JOÃO HELIOFAR DE JESUS VILLAR, publicado na Folha de São Paulo:
Discurso religioso, aborto e Estado laico
JOÃO HELIOFAR DE JESUS VILLAR
Talvez, seja de fato, mais conveniente discutir sobre o aborto sem os padres na sala. Mas seria essa uma opção pluralista?
O MINISTRO da Saúde, José Gomes Temporão, ao declarar tempos atrás que o aborto não é uma questão religiosa, e sim de saúde pública, reavivou o debate sobre a questão. A declaração é importante porque, a rigor, estabelece um limite para a invocação de razões religiosas no debate público, tema recorrente nesta Folha. Talvez seja, de fato, mais conveniente discutir sobre o aborto sem os padres na sala. Mas seria essa uma opção pluralista?
Há dois pontos de vista básicos sobre a origem da vida. Ou ela é fruto do acaso e consiste numa força cega, sem significado e propósito, que saiu do nada e vai para lugar nenhum, resultado de infinitas mutações que se desenvolvem a partir de uma forma absolutamente primária etc. etc., ou resulta de um ato de criação de um ser inteligente e, por causa disso, tem significado, propósito etc. etc.
Os dois pontos de vista são indemonstráveis. A vantagem do primeiro -a visão secular- consiste no fato de que sua argumentação, ainda que indemonstrada, é puramente naturalista e se ajusta ao método científico. Uso a expressão naturalista, que me parece melhor do que materialista, para nomear a visão de que a natureza é tudo o que existe, em contraposição àquela que concebe a existência de uma realidade sobrenatural.
Armand M. Nicholi Jr., professor de psiquiatria na Universidade Harvard (EUA), destaca em sua última obra que Freud dividia a humanidade em duas classes: os que crêem em Deus e os que não crêem. As visões de mundo de uns e de outros são radicalmente diferentes.
Entender, por um lado, que a vida é sagrada, por ser dom de Deus, ou, por outro, que é um acidente natural a que o homem empresta valor conforme suas condições culturais, evidentemente, estabelecerá radical distinção nos valores de quem crê numa ou noutra hipótese. E como o Estado laico se posiciona em relação a isso?
Não se posiciona. Deixa ambos com seus pontos de vista e não toma partido. Estado laico não significa uma opção oficial pelo ponto de vista exclusivamente naturalista do mundo, mas uma opção por não se meter na discussão, concedendo liberdade a quem crê e a quem não crê.
Vale lembrar o texto da primeira emenda da Constituição norte-americana, a primeira a regular a questão: "O Congresso não aprovará nenhuma lei relativa ao estabelecimento de religião ou que proíba seu livre exercício". Estado laico é aquele que está proibido de tomar partido em matéria de religião. Isso, obviamente, não impede ninguém de expor sua posição na arena pública fundado em suas convicções (ainda que religiosas). Nenhuma regra impede o religioso de invocar suas razões numa discussão oficial, especialmente se o objeto da controvérsia girar em torno de valores, campo em que a ciência é muda e o naturalismo nada tem a dizer.
Dizer que as razões que se apóiam numa convicção religiosa se contrapõem ao Estado laico é torcer a regra e, a rigor, subordinar a visão de mundo do religioso à secular, arbitrariamente. Se a argumentação de um religioso objetiva proteger um valor tutelado pelo direito, não importa que invoque uma razão espiritual para se definir nessa posição.
Não importa por quê? Porque o tema é levado ao debate e pode ser contestado por quem pensa de modo diferente. Não há obscurantismo quando se tem a honestidade de defender um valor protegido pelo direito com base numa visão de mundo não secular e se está aberto ao dissenso. O que gera o obscurantismo não é a fé, mas a proibição do dissenso, falha na qual incorrem muitos ao invocar o Estado laico para, em discussões oficiais, fechar a boca de quem crê em Deus. A imposição de silêncio ao religioso significa que o Estado o estaria obrigando a se posicionar sempre -e exclusivamente- a partir de postulados materialistas -tão metafísicos quanto os não materialistas- que violam sua convicção. O materialismo filosófico não é a única linguagem autorizada pelo Estado.
No fundo, o problema é outro: há no pensamento secular, ainda que não assumida, a convicção de que a fé é um perigo obscurantista que devemos banir do nosso meio o quanto antes, sob pena de restaurarmos a idade das trevas. Bobagem.
A história mostra que, para ser fanático, não é preciso ser religioso e que o obscurantismo não é fruto do fato de o sujeito crer em Deus e na existência de uma realidade sobrenatural. Hitler, Mao, Stálin etc. não criam em nada disso. Obscurantismo é a proibição do dissenso.
JOÃO HELIOFAR DE JESUS VILLAR , 44, é procurador da República da 4ª Região.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
Eu escrevi com “K” porque na condição de ex-marxista eu pude vislumbrar a camisa-de-força epistêmica imposta na comunidade acadêmica e os ares de pontífices secularistas arrogantes quando os cientistas emitem e impõem suas opiniões sobre a sociedade: Totalitarismo do pensamento uniforme [a síndrome dos soldadinhos-de-chumbo] onde todo mundo pensa igual e ninguém pensa em mais nada.
Abaixo duas situações que exemplificam muito bem esta inusitada situação que eu chamo de “tentação luciferiana”. Uma, alhures, na Inglaterra. A outra, bem aqui em Pindorama.
13/12/07
A face pós-moderna da ciência
Por David Tyler 07:41:06 am
“A ciência se desenvolve muito rapidamente para a moralidade” é descrito por Mary Warnock como o clichê do século XX. Mas isso pode não estar certo. A moralidade tem a ver com o como nós usamos a ciência e onde nós devemos estar colocando nossos esforços na pesquisa. Na melhor das hipóteses, o clichê pode ser entendido como significando que a pesquisa científica lança novas questões para consideração, mas isto é fazer um ponto diferente (e não controverso). Na pior das hipóteses, isto implica que a moralidade deve ser entendida como uma estrutura inerentemente subjetiva para guiar a conduta humana.
O Committee of Enquiry into Human Fertilization and Embryology [Comitê de Pesquisa na Fertilização e Embriologia Humanas] foi estabelecido pelo governo do Reino Unido para fornecer recomendações antes da legislação relativa à fertilização in vitro (in vitro fertilization, abreviado IVF em inglês). A moralidade se preocupa com o que nós devemos fazer, mas é significante que o Comitê focalizou na legislação sem fazer quaisquer declarações sobre as obrigações morais dos pesquisadores.
“Nós não somos um grupo de ‘especialistas em moral’, com autoridade moral particular derivada de nossa especialidade. Antes, o nosso direito de propor legislação é derivado do fato que nós fomos colocados pelo governo, e que nos deram o tempo e os recursos para realizar isso. A outra única exigência foi que nós todos deveríamos ser capazes de formular e ouvir argumentos.”
Desde quando a possibilidade do IVF surgiu nos anos 1970s, tem tido convites para um debate público sobre as implicações éticas e morais. Alguns grupos com uma agenda moral mais nítida contribuíram para este debate, mas as suas representações foram consideradas ‘partidárias’. Warnock se refere à Igreja Católica Romana e a sua oposição à destruição de embriões humanos na pesquisa. A ICR baseou esta opinião no seu entendimento da santidade da vida humana desde o seu início. A reação do Comitê foi significante:
“A Igreja reclamou para si um direito de regular a ciência nesta área, por causa do seu conhecimento superior da moralidade. Num contraste bem pronunciado, o direito do comitê em emitir conselho moral para os ministros é derivado do fato de ter sido estabelecido para fazê-lo, e de ter um quadro de membros amplo e apartidário.”
O Comitê reconheceu que as afirmações sobre a santidade da vida humana e o status do embrião humano pressupõem uma autoridade. É isso que traz o ‘dever’ à moralidade.
Onde o Comitê achou a sua autoridade? Não em nenhuma das fundações metafísicas, mas na autorização do governo da Grã-Bretanha para dar conselhos. Assim, a autoridade deles foi construída socialmente. A abordagem deles é o tácito reconhecimento de que a moralidade em si mesma não pode ser algo fruindo do método científico.
Como que a equipe de Warnock abordou a questão crucial do status do embrião humano?
“Uma das tarefas mais difíceis que o comitê enfrentou foi fazer com que o Parlamento [inglês] entendesse que o status do embrião in vitro não era uma questão de ciência, mas de decisão moral. A novidade do embrião in vitro significava que não poderia haver apelo à convenção moral precedente ou existente, ou às leis religiosas.”
O que está faltando aqui é o reconhecimento de que, biologicamente, o embrião é um ser humano no seu estágio incipiente de desenvolvimento. Isto deveria ser um ponto de concordância por todos os que contribuem para este debate, e vale a pena destacar isso desde o início. O status do embrião foi considerado pelo Comitê como sendo uma questão de “decisão moral”, e uma decisão que a Sociedade deve fazer através de seus representantes eleitos (e aqueles que ele delega para considerar as questões).
“Ocasionalmente... aqueles na interface entre a ciência e a política são chamados para definir os padrões morais para a sociedade”. Assim, o Parlamento se torna a fonte da autoridade moral — a vontade do governo prevalece.
Dos comentários acima, fica claro que todas as características do pós-modernismo estão presentes no modo que o Comitê tem conduzidos seus afazeres. A obrigação moral é construída socialmente através de representantes e quengos eleitos. As decisões morais são feitas por aqueles em posição de poder em favor da comunidade que eles governam. Essas decisões são, em última instância, subjetivas e elas podem mudar com o contexto social. Apelos para autoridade externa podem ser admitidos no discurso público, mas eles são rapidamente considerados como “partidários” e como assunto de “moralidade privada”. Determinar a moralidade pública é assunto da Sociedade e do Governo, e não de Deus como o Legislador.
Curiosamente, um elemento da ciência positivista tem se infiltrado nesta questão. A descrição do Comitê como “não tendo partidários no seu quadro de membros” é uma que se relaciona aproximadamente do conceito de que o pesquisador é um observador imparcial e objetivo do mundo. Todavia, isto é um engano completo! Ninguém não é apartidário em questões de ética e moralidade. Todo mundo tem uma agenda que trazem para a discussão.
O que nós temos aqui é uma nítida demonstração da fragmentação do conhecimento e da filosofia de pesquisa dentro da ciência materialista. Os humanos, com o nosso sentido de ‘dever’ e ‘obrigação’, simplesmente não encaixamos na cosmovisão materialista. Os problemas identificados pelos românticos do século 18 ainda estão conosco! Os materialistas de hoje tentando abordar a questão da pesquisa de embriões se viram obrigados a adotar a disposição mental do pós-modernismo. Eles tacitamente reconheceram que as respostas não virão da ciência. Eles aceitaram que os nossos dirigentes têm a autoridade para determinar a moralidade pública. A História sugere que isso é uma estratégia perigosa. Nós precisamos de líderes que reconhecem que eles mesmos são responsáveis a uma autoridade superior. Nós necessitamos de uma epistemologia de conhecimento subjacente que unifique as arenas públicas e privadas da vida, e integre as ciências naturais e sociais.
The ethical regulation of science
Mary Warnock
Nature 450, 615 (29 November 2007) | doi:10.1038/450615a
Abstract:
Occasionally science makes procedures possible that are so radical that those at the interface between science and politics are called on to define moral standards for society.
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À luz cristalina do texto acima, leia agora o que está acontecendo em Pindorama: cientistas “pressionam” o Supremo sobre a emissão de uma nota promissória científica.
JC E-Mail 3411, de 14 de dezembro de 2007
1. Células embrionárias: julgamento em fevereiro
Comunidade científica pressiona Supremo a chegar a um veredito sobre uso em pesquisas
Alan Gripp escreve para "O Globo":
Lideranças da comunidade científica brasileira estiveram ontem no Supremo Tribunal Federal (STF) para pressionar a corte a pôr um ponto final na polêmica sobre a proibição do uso de células-tronco embrionárias em pesquisa. Uma ação proposta pelo Ministério Público Federal, em 2005, paralisou os estudos científicos, que podem resultar em tratamentos de doenças degenerativas, como os males de Alzheimer e Parkinson.
O ministro Carlos Ayres Britto, relator do caso, prometeu entregar o seu voto na primeira semana de fevereiro. Depois, os ministros se reunirão para julgar. O uso de células embrionárias em pesquisas foi regulamento pelo Congresso em 2005, com a aprovação da Lei de Biossegurança.
A lei permite a pesquisa com embriões congelados há mais de três anos por clínicas de fertilização. Mas uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, proposta naquele mesmo ano pelo então procurador-geral da República Cláudio Fontelles, pede a proibição das pesquisas.
A coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP, Mayana Zatz, que esteve ontem com os ministros, disse que até a manifestação do tribunal as pesquisas continuarão paradas, em função de restrições impostas pelos conselhos de ética de instituições científicas. Segundo ela, os estudos com células de embriões são mais eficazes do que os realizadas com células adultas.
Mayana diz que não há divisão na comunidade científica sobre o tema [1]:
— É o futuro da regeneração dos órgãos e tecidos. E hoje estamos de mãos atadas.
A polêmica tem como pano de fundo a discussão sobre o momento exato em que se inicia a vida. Fontelles reproduz o argumento da Igreja: os embriões são seres vivos. Para a comunidade científica, são apenas tecidos vivos.
O presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Marco Antônio Raupp, diz que o impasse está retardando as pesquisas:
— Sabe o que vai acontecer? O Brasil tem hoje um bom conhecimento do tema, mas com as pesquisas paradas vamos ter que pagar royalties quando forem descobertas curas para doenças. Nos EUA e na Europa ninguém pára. [2]
(O Globo, 14/12)
NOTA:
1. Mayana Zatz está despudoradamente em descompasso com a verdade na sua defesa apaixonante da utilização de embriões humanos: há sim divisão na comunidade científica sobre o tema.
2. Marco Antonio Raupp fez aqui um exercício de futurologia, e se esqueceu de fazer um exercício do presente: somente os muito, mas os muito ricos é que poderão ter acesso a este tipo de terapia. Só para uma linhagem de células-tronco embrionárias são necessários uns 260 óvulos. Cada custa uns US$ 4.000,00 (quatro mil dólares). A remoção é uma cirurgia invasiva, com danos para as mulheres. Isso totaliza a bagatela de US$ 1.000.000,00 (um milhão de dólares). Fora os salários dos cientistas pesquisadores, despesas do laboratório (água, energia) y otras cositas mais.
A terapia com as células-tronco embrionárias não será democratizada como estão “choramingando” os cientistas tupiniquins pressionando nossos políticos. Do jeito que está o SUS, que não atende direito nem dor de cabeça, querer que o público pague estas pesquisas somente para satisfazer ególatras científicos? Muito mais agora sem a CPMF. Não acredito que os planos de saúde irão contemplar este tipo de terapia para seus associados. Se cobrirem, vai ser uma quebradeira geral neste setor. A lógica do capitalismo ainda é o lucro, mesmo que seja em planos de saúde.
O Congresso Nacional não deve se sentir “pressionado” pelos apelos emocionais dos Drs. Frankensteins da vida, e a sociedade deve ser sim consultada num plebiscito sobre esta complexa e polêmica questão, pois é ela quem paga os salários dessa turma e as suas pesquisas. Algumas até inúteis e desnecessárias, diga-se de passagem.
Cheque em branco pra esta turma já teve conseqüências funestas recentemente para a humanidade. Lembre-se de Hiroshima e Nagasaki. E também de Josef Mengele...
Só pra contrariar os cientistas stalinistas-materialistas de plantão que querem ver os de concepções religiosas como gado enfurnados nos seus guetos e catacumbas dominicais, sem nenhuma participação na polis, vide o artigo abaixo de JOÃO HELIOFAR DE JESUS VILLAR, publicado na Folha de São Paulo:
Discurso religioso, aborto e Estado laico
JOÃO HELIOFAR DE JESUS VILLAR
Talvez, seja de fato, mais conveniente discutir sobre o aborto sem os padres na sala. Mas seria essa uma opção pluralista?
O MINISTRO da Saúde, José Gomes Temporão, ao declarar tempos atrás que o aborto não é uma questão religiosa, e sim de saúde pública, reavivou o debate sobre a questão. A declaração é importante porque, a rigor, estabelece um limite para a invocação de razões religiosas no debate público, tema recorrente nesta Folha. Talvez seja, de fato, mais conveniente discutir sobre o aborto sem os padres na sala. Mas seria essa uma opção pluralista?
Há dois pontos de vista básicos sobre a origem da vida. Ou ela é fruto do acaso e consiste numa força cega, sem significado e propósito, que saiu do nada e vai para lugar nenhum, resultado de infinitas mutações que se desenvolvem a partir de uma forma absolutamente primária etc. etc., ou resulta de um ato de criação de um ser inteligente e, por causa disso, tem significado, propósito etc. etc.
Os dois pontos de vista são indemonstráveis. A vantagem do primeiro -a visão secular- consiste no fato de que sua argumentação, ainda que indemonstrada, é puramente naturalista e se ajusta ao método científico. Uso a expressão naturalista, que me parece melhor do que materialista, para nomear a visão de que a natureza é tudo o que existe, em contraposição àquela que concebe a existência de uma realidade sobrenatural.
Armand M. Nicholi Jr., professor de psiquiatria na Universidade Harvard (EUA), destaca em sua última obra que Freud dividia a humanidade em duas classes: os que crêem em Deus e os que não crêem. As visões de mundo de uns e de outros são radicalmente diferentes.
Entender, por um lado, que a vida é sagrada, por ser dom de Deus, ou, por outro, que é um acidente natural a que o homem empresta valor conforme suas condições culturais, evidentemente, estabelecerá radical distinção nos valores de quem crê numa ou noutra hipótese. E como o Estado laico se posiciona em relação a isso?
Não se posiciona. Deixa ambos com seus pontos de vista e não toma partido. Estado laico não significa uma opção oficial pelo ponto de vista exclusivamente naturalista do mundo, mas uma opção por não se meter na discussão, concedendo liberdade a quem crê e a quem não crê.
Vale lembrar o texto da primeira emenda da Constituição norte-americana, a primeira a regular a questão: "O Congresso não aprovará nenhuma lei relativa ao estabelecimento de religião ou que proíba seu livre exercício". Estado laico é aquele que está proibido de tomar partido em matéria de religião. Isso, obviamente, não impede ninguém de expor sua posição na arena pública fundado em suas convicções (ainda que religiosas). Nenhuma regra impede o religioso de invocar suas razões numa discussão oficial, especialmente se o objeto da controvérsia girar em torno de valores, campo em que a ciência é muda e o naturalismo nada tem a dizer.
Dizer que as razões que se apóiam numa convicção religiosa se contrapõem ao Estado laico é torcer a regra e, a rigor, subordinar a visão de mundo do religioso à secular, arbitrariamente. Se a argumentação de um religioso objetiva proteger um valor tutelado pelo direito, não importa que invoque uma razão espiritual para se definir nessa posição.
Não importa por quê? Porque o tema é levado ao debate e pode ser contestado por quem pensa de modo diferente. Não há obscurantismo quando se tem a honestidade de defender um valor protegido pelo direito com base numa visão de mundo não secular e se está aberto ao dissenso. O que gera o obscurantismo não é a fé, mas a proibição do dissenso, falha na qual incorrem muitos ao invocar o Estado laico para, em discussões oficiais, fechar a boca de quem crê em Deus. A imposição de silêncio ao religioso significa que o Estado o estaria obrigando a se posicionar sempre -e exclusivamente- a partir de postulados materialistas -tão metafísicos quanto os não materialistas- que violam sua convicção. O materialismo filosófico não é a única linguagem autorizada pelo Estado.
No fundo, o problema é outro: há no pensamento secular, ainda que não assumida, a convicção de que a fé é um perigo obscurantista que devemos banir do nosso meio o quanto antes, sob pena de restaurarmos a idade das trevas. Bobagem.
A história mostra que, para ser fanático, não é preciso ser religioso e que o obscurantismo não é fruto do fato de o sujeito crer em Deus e na existência de uma realidade sobrenatural. Hitler, Mao, Stálin etc. não criam em nada disso. Obscurantismo é a proibição do dissenso.
JOÃO HELIOFAR DE JESUS VILLAR , 44, é procurador da República da 4ª Região.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
A vergonhosa relação incestuosa da Grande Mídia Tupiniquim e a Nomenklatura científica
quarta-feira, dezembro 12, 2007
Em 1998 eu abordei no Observatório da Imprensa a relação incestuosa da Grande Mídia Tupiniquim e a Nomenklatura científica na cobertura das atuais teorias da origem e evolução do universo e da vida. Contatei diversos editores de ciência, jornalistas científicos e, pasmem, até ombudsman, mencionando as insuficiências epistêmicas fundamentais dessas teorias, e o debate interno entre os especialistas sobre essas questões de contexto de justificação teórica.
Reação da Grande Mídia e da Nomenklatura científica tupiniquins? Silêncio pétreo e o ignorar por ignorar das questões levantadas por este “simples professorzinho do ensino médio” [será???]. Como se essas questões não interessassem ao grande público leitor não-especializado, e à própria ciência.
Popper, Kuhn, Lakatos e Feyerabend, nós precisamos urgentemente de vocês.
É, mas nem tudo está perdido. Entre 2006 e 2007 foram publicados no Observatório da Imprensa três artigos importantes sobre a questão do jornalismo científico tupiniquim:
1. Da analogia imperfeita às distorções
Por Rubens Pazza em 19/9/2006
“A mim ensinou-me tudo” (Fernando Pessoa); “Papai vai lhe ninar” (Dorival Caymmi); “Você foste ou não foste?”(Chico Buarque). Os trechos citados contêm erros de português propositais, melhorando a sonoridade dos textos e a clareza das idéias dos autores. No entanto, tais erros propositais são considerados “licenças poéticas”, não erros, e são bastante utilizados em poesias e músicas. Tais erros, embora firam a norma culta, não dificultam a compreensão do texto, pelo contrário: em muitos casos facilitam sua compreensão. É fato que atualmente é complicado identificar o que é licença poética e o que é falta de cultura e desconhecimento da língua portuguesa, como observado em letras de várias músicas da moda.
Utilizando este artifício, podemos identificar na literatura de divulgação científica muitas “licenças científicas”. Explicar como a ciência funciona a leigos realmente não é tarefa fácil. É comum que cientistas divulgadores se utilizem de analogias imperfeitas para demonstrar o que querem explicar, como Richard Dawkins costuma fazer muito bem, especialmente em sua analogia dos genes com uma biblioteca vasta em volumes (em O gene egoísta). Na maioria destes casos, as analogias e outras licenças científicas são muito produtivas em sua finalidade. No entanto, seria interessante uma discussão sobre outros tipos de licenças científicas. Há um constante uso de termos que, embora pareçam facilitar o entendimento da população em geral, podem confundir ainda mais, especialmente quando tais pessoas buscam mais esclarecimentos sobre o assunto. Em outros casos, os termos utilizados nos textos fazem alusão a situações que distorcem completamente o sentido da notícia científica.
Podemos analisar alguns exemplos. O estudo do genoma mitocondrial de populações humanas ao redor do mundo permitiu estimar o ancestral comum mais recente entre a maioria dos humanos viventes. Os cientistas, por algum motivo, a chamaram de “Eva mitocondrial”. Não demorou muito para que religiosos usassem a notícia como prova científica da existência da Eva bíblica. Ou seja, a tentativa de popularizar uma notícia científica com uma licença científica, uma vez que não há nenhuma evidência de que tal ancestral comum realmente seja a Eva bíblica, serviu como arma contra a própria ciência.
Erro de código
Certamente discussões de bastidores subseqüentes podem ter esclarecido a questão; no entanto, para uma pessoa que está alheia aos bastidores da discussão científica, a Eva mitocondrial pode muito bem ser a Eva bíblica. Uma analogia bíblica também foi feita em relação ao fato de uma determinada espécie que antes era considerada extinta ser encontrada com vida na natureza – efeito Lázaro. Embora menos polêmica em relação à questão religião/ciência, este termo amplamente empregado inclusive em meios acadêmicos é equivocado, pois não encontrar uma determinada espécie na natureza não significa que ela não exista. O efeito realmente foi o de uma melhoria nas verbas que permitiram ampliar os estudos.
Para o público em geral, tal termo pode induzir à idéia de que a espécie estava extinta e, de repente, voltou a aparecer ou tenha sido recriada. É claro que se pode dizer que o Lázaro citado na Bíblia poderia não estar morto, mas aparentemente morto, como as espécies que poderiam estar aparentemente extintas. Infelizmente, este não é o pensamento da grande maioria da população ocidental, o que certamente gera confusão. A “licença científica” normalmente não explica, apenas confunde. Ainda, na paleontologia, temos a freqüente expressão “fóssil vivo”. Como pode existir um fóssil vivo?
Outra expressão que freqüentemente aparece no noticiário é que os “cientistas descobriram o código genético” de determinada espécie. Na realidade, o que eles queriam dizer é que os cientistas descobriram a seqüência de nucleotídeos do DNA de uma espécie. Por mais difícil que possa ser dar uma notícia como esta, a expressão “código genético” jamais deveria ser empregada. O código genético é um mecanismo, um tipo de dicionário (usando licença científica), que informa de que maneira uma seqüência de nucleotídeos de uma molécula de RNA determina a seqüência de aminoácidos da proteína que ele produz. Por acaso alguém diz que, na interceptação de uma mensagem de Cuba pelo governo norte-americano, por exemplo, “os norte-americanos identificaram o código Morse que vinha de Cuba”?
Engajamento e preparo
A genética é uma área cheia de licenças científicas como esta, talvez por ser uma área de difícil compreensão por sua complexidade. Um outro exemplo comum é encontrar o termo “carga genética” aplicado como sinônimo de genoma. Carga genética é uma medida dos alelos deletérios para o organismo, que significa literalmente uma carga, um peso, algo que um organismo pode suportar até certo ponto. Genoma é um termo mais adequado para se referir ao conteúdo genético de um organismo. É um termo bastante conhecido, não há motivos para não utilizá-lo.
Enquanto estas licenças científicas vão aumentando em variação e quantidade na mídia em geral, a população em geral pode ser prejudicada. Certamente, em muitos casos a pessoa não está interessada em se o termo é certo ou nem quer ter mais informações sobre um assunto. Basta este mínimo de informação. Entretanto, um número menor de pessoas pode estar interessado. Como o objetivo do jornalismo é o de levar a informação, é esperado que este papel seja desempenhado com o máximo de acuidade. As pessoas respeitam o que lêem ou ouvem no noticiário. A mídia é formadora de opinião. Como podemos pensar em um debate sério na sociedade sobre assuntos polêmicos, como o uso terapêutico de células-tronco, por exemplo, se as pessoas em geral desconhecem ou confundem o assunto?
O que precisamos é de cientistas mais engajados na divulgação científica e jornalistas mais bem preparados. Certamente a linguagem dos textos de divulgação científica deve atingir todas as camadas populacionais, mas é preciso ter muito cuidado em não vulgarizar, não deturpar o fato científico. Mais do que isso, a divulgação científica deve instigar a pessoa a buscar mais, aprender mais, conhecer mais. Um excesso de vulgarização leva à conformação com o material pronto, útil muitas vezes, mas que, definitivamente, não instiga o leitor.
2. Imprecisão e licença científica, o retorno
Por Rubens Pazza e Karine Frehner Kavalco em 27/11/2007
"Quando eu uso uma palavra, ela significa exatamente o que eu quis que ela significasse, nada mais, nada menos." (Lewis Carroll, em Alice no país das maravilhas).
Imagine se cada um utilizasse, no cotidiano, palavras conhecidas, mas com significados próprios. Como seria possível manter um diálogo, discutir as ações dos políticos, os acontecimentos diários, as próprias relações humanas, ou simplesmente comprar um pãozinho na padaria da esquina? Há uma vertente da lingüística que afirma que o importante na comunicação não é a exatidão, mas a capacidade de compreensão do ouvinte. Se o ouvinte entendeu a mensagem, não importa que palavras o interlocutor utilizou. A intenção, aqui, não é discutir se esta ou aquela vertente da lingüística é mais adequada ou correta, mas insistir na questão de que a divulgação científica requer responsabilidade e informação correta.
As notícias científicas veiculadas pela mídia, tanto impressa quanto em hipertexto, freqüentemente apresentam problemas de imprecisão, em especial nos termos utilizados, o que já foi abordado como uma "licença científica" (ver, neste Observatório, “Da analogia imperfeita às distorções”). Um caso extremamente recorrente e que desejamos discutir no presente texto é o da utilização do termo "código genético". Um rápido levantamento das notícias veiculadas em websites de grandes jornais do país, como a Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, entre outros, demonstrou que, em absolutamente todos os casos em que o termo "código genético" foi utilizado, seu emprego foi incorreto. Embora em menor grau, até revistas especializadas como a Scientific American Brasil já tiveram seu momento de licença científica em relação ao código genético.
A língua da hereditariedade
Antes de discutir os empregos adotados pelos jornalistas para o termo "código genético", vamos relembrar de onde ele surgiu e seu verdadeiro significado. O início do século 20 foi marcado, dentro da área da biologia, pela elucidação dos mecanismos de herança das características e pelo papel do DNA (ácido desoxirribonucléico) no processo. Em meados da década de 1950, mais precisamente em 1953, Watson e Crick desvendaram a estrutura do DNA (sobre os ombros de gigantes, que descobriram outras informações pertinentes) e seu mecanismo de replicação, ou seja, como uma molécula de DNA serve de molde para a construção de outra molécula de DNA. A partir daí, soubemos que o DNA é composto por unidades repetidas de moléculas menores, os nucleotídeos, e que estes podem ser de quatro tipos – adenina, timina, citosina e guanina, representados pelas letras A, T, C e G, respectivamente.
Detalhes maiores sobre a estrutura do DNA são irrelevantes, no momento. Uma analogia freqüentemente utilizada por autores de divulgação científica, como Richard Dawkins, é a de que o genoma humano, por exemplo, seria formado por uma biblioteca composta por 23 volumes (cromossomos). Cada volume tem diversas páginas com palavras escritas pela disposição seqüencial de letras (nucleotídeos).
Semelhantemente ao DNA, as proteínas são formadas por unidades menores, os aminoácidos, que são unidos uns aos outros de forma linear (mais uma vez, detalhes são irrelevantes). Isso significa que a informação hereditária (DNA) contida em cada volume está escrita em uma língua, enquanto as características (proteínas) estão escritas em outra língua, ou seja, a informação está codificada. A dificuldade da empreitada de se decifrar a codificação utilizada pelos organismos vivos era a de que a língua da hereditariedade era composta por seqüências de quatro letras (nucleotídeos), enquanto a língua das características era formada por 20 letras (aminoácidos). Tornou-se necessário, então, desvendar qual seria o dicionário que traduz a informação de uma língua para outra, ou seja, qual seria o código da hereditariedade, ou código genético.
Uma nova seqüência
O astrônomo Gamow, com importante contribuição na teoria do Big Bang, foi um dos primeiros a dedicar-se à empreitada de desvendar o código genético. A conclusão relatada posteriormente é a de que cada grupo de três nucleotídeos (denominado um códon) no DNA significa um aminoácido na proteína. Por exemplo, o códon ATG significa o aminoácido metionina. O que é mais importante nesta descoberta (sem entrar em detalhes) é que este código é o mesmo para a imensa maioria dos organismos vivos, de modo que o código genético é considerado universal. Ou seja, o mesmo dicionário traduz a informação que está nas plantas, nos animais, nas bactérias. O código genético é uma das mais fortes evidências de ancestralidade comum entre todos os organismos vivos.
Assim, quando lemos nos jornais, revistas e websites que um grupo de pesquisadores desvendou o código genético de determinado organismo vivo, o que se espera é que eles tenham descoberto um novo dicionário, não um novo livro. No entanto, o que vemos na leitura da íntegra da notícia ou do artigo originário publicado pelos pesquisadores, na imensa maioria destas notícias, é que a pesquisa, na verdade, trata do seqüenciamento do genoma, o que nada mais é que a descoberta da seqüência dos nucleotídeos do DNA do organismo, ou seja, a leitura de outro livro. Os cientistas decifraram as palavras do livro, e não um novo dicionário. O caso mais recente foi o do fungo da caspa. O que foi descoberto é qual a seqüência de nucleotídeos do DNA do fungo, e não de que forma o fungo traduz a informação de seu DNA em proteína; afinal, isso já está devidamente conhecido.
Para ilustrar este erro comum, voltemos ao códon exemplificado anteriormente. ATG significa o aminoácido metionina. Um novo código seria a descoberta de um organismo onde a seqüência ATG signifique o aminoácido leucina, por exemplo. Isto é um novo código.
Morse e a mensagem
Para se observar a imensa quantidade de notícias com uso incorreto do termo, seria de se esperar que fosse um termo muito restrito e difícil de ser encontrado. Mas não é. Qualquer livro de Genética ou Biologia Molecular traz a explicação sobre o código genético nos capítulos que tratam da síntese das proteínas. O processo é chamado, não por acaso, de "tradução". E também não é um termo novo, mas com pelo menos 50 anos de uso. Por que então a insistência na inexatidão?
Poderia se pensar que, como acontece com outros termos que foram incorporados pelos cientistas após uma ampla utilização pela população, os jornalistas estivessem apenas utilizando-se da terminologia já existente e aplicando-a às novidades publicadas pelos cientistas. Então precisamos recorrer aos dicionários e verificar o significado de código. De acordo com o dicionário eletrônico Michaelis, código é "um sistema lingüístico, pelo qual se transcreve ou traduz uma mensagem". O dicionário não informa que cada nova mensagem é um novo código, mas que código é um sistema pelo qual uma mensagem é traduzida. Podemos ilustrar.
Imagine uma situação de guerra. A inteligência de um determinado país intercepta uma seqüência de bips curtos e longos. Percebe-se logo que não se trata de bips aleatórios, mas de uma mensagem codificada. Por sorte, a inteligência reconhece que o código utilizado pelos inimigos é o código Morse. Assim, é possível traduzir a mensagem codificada para a língua do inimigo e, com um intérprete, traduzi-la para a língua nativa. A mensagem poderia dizer a que horas, por exemplo, haverá um ataque. Algumas horas depois, a inteligência recebe outra seqüência de bips. É outra mensagem codificada em código Morse. Será que nesta situação o jornal publicaria que a inteligência decifrou um novo código Morse vindo do inimigo? Ou a manchete diria que a inteligência decifrou uma nova mensagem vinda do inimigo?
Divulgação de qualidade
Pois bem. Cada seqüência de nucleotídeos do DNA de uma espécie é uma nova mensagem a ser decifrada, não um novo código. O código genético é universal, ou seja, é o mesmo para quase todas as espécies. Sendo assim, é adequado escrever que "as vítimas do acidente da TAM serão identificadas pelo código genético", como está escrito em uma notícia da época do acidente, em julho deste ano?
Nunca é demais repetir: a divulgação científica requer responsabilidade. É ela quem fornece ao público o embasamento que será utilizado em momentos de decisões importantes, como discussões sobre o aborto, organismos geneticamente modificados, uso de células-tronco, clonagem etc. São de responsabilidade do editor da área não somente os artigos escritos por seus jornalistas, mas também os traduzidos a partir de notícias do exterior, pois tais erros não são exclusividade de brasileiros.
É claro que não se pode esperar que um jornalista tenha conhecimento absoluto de todas as áreas científicas. Uma das soluções para minimizar tais erros é que os cientistas tenham um engajamento maior na divulgação científica de qualidade; outra opção seria a utilização mais acentuada de consultores especializados por parte da grande mídia. De qualquer forma, devemos continuar lutando por uma divulgação científica de qualidade, que forneça informações coerentes e corretas à população.
3. Divagação científica vs. divulgação científica
Por Moisés Viana em 11/12/2007
Li, neste Observatório, o artigo "Imprecisão e licença científica, o retorno”, dos professores e cientistas Rubens Pazza e Karine Frehner Kavalco – um texto interessante, atual e questionador.
Ao participar do I Seminário da Pesquisa em Comunicação da Região Sudoeste (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, em Vitória da Conquista, BA), fiz uma reflexão sobre o discurso científico e a divulgação científica, incluindo o papel do jornalista como inter-mediador de discursos e, por isso mesmo, divulgador científico. Entende-se que os dois discursos estão em esferas diferentes e apresentam caracteres próprios a serem estudados profundamente. Para tanto, segui os passos teórico e prático do filólogo russo Mikhail Bakhtin e da pesquisadora Lilian Zamboni.
O primeiro aponta para necessidade de olharmos o discurso como espaço de interação social que se subdivide em gêneros, tipologias, universos que se inter-relacionam de maneira dinâmica e conflitante (incluindo assunto abordado, sujeito, público, composição léxica do discurso). E Zamboni esclarece, inteligente, sobre os discursos, científico e de divulgação científica.
Vive-se num tempo em que a ciência tem precedência e valor de verdade, um poder quase onipotente. Na atual conjuntura, ela determina ações e hábitos, justificando processo e dinâmicas humanas e os cientistas têm muito a dizer sobre seus estudos. Segundo Lilian Zamboni [Cientistas, Jornalistas e a Divulgação Científica: subjetividade e heterogeneidade no discurso da divulgação científica. Campinas: Fapesp/Editora Autores Associados, 2001], os cientistas constroem e vivem, comunicam-se no exercício de suas atividades sob um gênero de discurso, o científico.
Instrumento eficaz
Essa tipologia discursiva possui características próprias, dinâmicas e termos específicos acessíveis à comunidade científica (discurso do biólogo, discurso do físico, discurso do sociólogo, por exemplo). Eles se comunicam num processo discursivo sisudo, por jargões elaborados segundo regras rígidas e após exaustivos testes, exames, observações e práticas laboratoriais constantes. Ao se comunicarem fora do cotidiano para seus pares, eles, em geral, constroem um discurso bem calçado, com conceitos previamente discutidos e em consenso. Tudo para assim serem aceitos ou rejeitados, de acordo com a tendência ideológica da comunidade em que estão inseridos. Criam-se novos conceitos, rejeitam-se outros, reelaborando-se constantemente no interior desse gênero discursivo.
O discurso científico pertence à comunidade científica e para adentrá-la é preciso as provas de título, envolver-se e entrelaçar-se em suas dinâmica, em outras palavras, tornar-se cientista. Como salienta o filósofo Michel Foucault [FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: edições Loyola, 2003.], eles compõem um grupo privilegiado, instituído de qualificação para tal procedimento: criar um enunciado verbal e competente no assunto.
A fala científica se restringe nessa área e só entra quem for qualificado. Entretanto, eles não compõem um gênero de discurso fechado incomunicável, mas dialogam com outros discursos que se interconectam com os cientistas. Daí, a necessidade de haver uma divulgação científica, o instrumento eficaz dos cientistas para serem ouvidos fora de seus laboratórios, havendo assim progresso da ciência, subsídios financeiros e justificação ideológica das práticas de pesquisa.
Entre o céu e o inferno
Diferente desse gênero discursivo científico, o discurso de divulgação científica em seus diversos níveis (desde cientistas falando a outros cientistas em áreas distintas, cientistas falando para leigos, e leigos falando de ciência para outros leigos) assume-se num universo distinto; nele não se apresentam as falhas, as práticas cotidianas, mas apenas os resultados das pesquisas. Ele é uma nova reestruturação sofisticada para o público heterogêneo da sociedade, onde se diluem jargões, desaparecem conceitos, resumem-se resultados. Tal gênero apresenta e transforma o discurso científico em conteúdo divulgador, isto é, clareia as hipóteses e teorias da pesquisa científica para o público, aproximando-se lexicamente e simplificando, visando ao entendimento da população.
A descoberta de um novo medicamento, os avanços da genética, as novas aplicações do eletromagnetismo tornam-se parte do discurso social através da divulgação científica. Falar sobre ciência é, antes de tudo, colocá-la a serviço da sociedade, juntamente com sua aplicação prática, abrangendo temas que alcançam o cotidiano.
O discurso de divulgação é um discurso midiático, torna-se mediação entre os enunciados científicos e o público, mantendo um caráter universal e seus enunciados acessíveis a uma miríade de sujeitos discursivos. Ideologicamente, atua sobre a sociedade, a mente e os hábitos e cultura, escolhas econômicas e opções políticas.
Em resumo, a divulgação científica possui uma função legitimadora e explicadora do discurso científico, reformulando a ciência divulgada. Para tanto, o desafio é grande para o inter-mediador, que fica entre o céu e o inferno, ou seja, na terra, tramitando entre a divulgação e a divagação científica.
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NOTA DESTE BLOGGER:
Estamos de olho em vocês jornalistas científicos e a Nomenklatura científica atualmente mesmerizados pelas inconsistências paradigmáticas, e seguindo a máxima de Dobzhansky: As evidências, ora, que se danem as evidências, o que vale é a teoria!
Haja objetividade jornalística e científica. O nome disso é o que mesmo? Segundo Walter Ceneviva, articulista em jurisprudência da Folha de São Paulo, é descompasso com a verdade. Trocado em graúdos — desonestidade acadêmica e jornalística. Em nome do que? Da ciência? Ou da ideologia?
Reação da Grande Mídia e da Nomenklatura científica tupiniquins? Silêncio pétreo e o ignorar por ignorar das questões levantadas por este “simples professorzinho do ensino médio” [será???]. Como se essas questões não interessassem ao grande público leitor não-especializado, e à própria ciência.
Popper, Kuhn, Lakatos e Feyerabend, nós precisamos urgentemente de vocês.
É, mas nem tudo está perdido. Entre 2006 e 2007 foram publicados no Observatório da Imprensa três artigos importantes sobre a questão do jornalismo científico tupiniquim:
1. Da analogia imperfeita às distorções
Por Rubens Pazza em 19/9/2006
“A mim ensinou-me tudo” (Fernando Pessoa); “Papai vai lhe ninar” (Dorival Caymmi); “Você foste ou não foste?”(Chico Buarque). Os trechos citados contêm erros de português propositais, melhorando a sonoridade dos textos e a clareza das idéias dos autores. No entanto, tais erros propositais são considerados “licenças poéticas”, não erros, e são bastante utilizados em poesias e músicas. Tais erros, embora firam a norma culta, não dificultam a compreensão do texto, pelo contrário: em muitos casos facilitam sua compreensão. É fato que atualmente é complicado identificar o que é licença poética e o que é falta de cultura e desconhecimento da língua portuguesa, como observado em letras de várias músicas da moda.
Utilizando este artifício, podemos identificar na literatura de divulgação científica muitas “licenças científicas”. Explicar como a ciência funciona a leigos realmente não é tarefa fácil. É comum que cientistas divulgadores se utilizem de analogias imperfeitas para demonstrar o que querem explicar, como Richard Dawkins costuma fazer muito bem, especialmente em sua analogia dos genes com uma biblioteca vasta em volumes (em O gene egoísta). Na maioria destes casos, as analogias e outras licenças científicas são muito produtivas em sua finalidade. No entanto, seria interessante uma discussão sobre outros tipos de licenças científicas. Há um constante uso de termos que, embora pareçam facilitar o entendimento da população em geral, podem confundir ainda mais, especialmente quando tais pessoas buscam mais esclarecimentos sobre o assunto. Em outros casos, os termos utilizados nos textos fazem alusão a situações que distorcem completamente o sentido da notícia científica.
Podemos analisar alguns exemplos. O estudo do genoma mitocondrial de populações humanas ao redor do mundo permitiu estimar o ancestral comum mais recente entre a maioria dos humanos viventes. Os cientistas, por algum motivo, a chamaram de “Eva mitocondrial”. Não demorou muito para que religiosos usassem a notícia como prova científica da existência da Eva bíblica. Ou seja, a tentativa de popularizar uma notícia científica com uma licença científica, uma vez que não há nenhuma evidência de que tal ancestral comum realmente seja a Eva bíblica, serviu como arma contra a própria ciência.
Erro de código
Certamente discussões de bastidores subseqüentes podem ter esclarecido a questão; no entanto, para uma pessoa que está alheia aos bastidores da discussão científica, a Eva mitocondrial pode muito bem ser a Eva bíblica. Uma analogia bíblica também foi feita em relação ao fato de uma determinada espécie que antes era considerada extinta ser encontrada com vida na natureza – efeito Lázaro. Embora menos polêmica em relação à questão religião/ciência, este termo amplamente empregado inclusive em meios acadêmicos é equivocado, pois não encontrar uma determinada espécie na natureza não significa que ela não exista. O efeito realmente foi o de uma melhoria nas verbas que permitiram ampliar os estudos.
Para o público em geral, tal termo pode induzir à idéia de que a espécie estava extinta e, de repente, voltou a aparecer ou tenha sido recriada. É claro que se pode dizer que o Lázaro citado na Bíblia poderia não estar morto, mas aparentemente morto, como as espécies que poderiam estar aparentemente extintas. Infelizmente, este não é o pensamento da grande maioria da população ocidental, o que certamente gera confusão. A “licença científica” normalmente não explica, apenas confunde. Ainda, na paleontologia, temos a freqüente expressão “fóssil vivo”. Como pode existir um fóssil vivo?
Outra expressão que freqüentemente aparece no noticiário é que os “cientistas descobriram o código genético” de determinada espécie. Na realidade, o que eles queriam dizer é que os cientistas descobriram a seqüência de nucleotídeos do DNA de uma espécie. Por mais difícil que possa ser dar uma notícia como esta, a expressão “código genético” jamais deveria ser empregada. O código genético é um mecanismo, um tipo de dicionário (usando licença científica), que informa de que maneira uma seqüência de nucleotídeos de uma molécula de RNA determina a seqüência de aminoácidos da proteína que ele produz. Por acaso alguém diz que, na interceptação de uma mensagem de Cuba pelo governo norte-americano, por exemplo, “os norte-americanos identificaram o código Morse que vinha de Cuba”?
Engajamento e preparo
A genética é uma área cheia de licenças científicas como esta, talvez por ser uma área de difícil compreensão por sua complexidade. Um outro exemplo comum é encontrar o termo “carga genética” aplicado como sinônimo de genoma. Carga genética é uma medida dos alelos deletérios para o organismo, que significa literalmente uma carga, um peso, algo que um organismo pode suportar até certo ponto. Genoma é um termo mais adequado para se referir ao conteúdo genético de um organismo. É um termo bastante conhecido, não há motivos para não utilizá-lo.
Enquanto estas licenças científicas vão aumentando em variação e quantidade na mídia em geral, a população em geral pode ser prejudicada. Certamente, em muitos casos a pessoa não está interessada em se o termo é certo ou nem quer ter mais informações sobre um assunto. Basta este mínimo de informação. Entretanto, um número menor de pessoas pode estar interessado. Como o objetivo do jornalismo é o de levar a informação, é esperado que este papel seja desempenhado com o máximo de acuidade. As pessoas respeitam o que lêem ou ouvem no noticiário. A mídia é formadora de opinião. Como podemos pensar em um debate sério na sociedade sobre assuntos polêmicos, como o uso terapêutico de células-tronco, por exemplo, se as pessoas em geral desconhecem ou confundem o assunto?
O que precisamos é de cientistas mais engajados na divulgação científica e jornalistas mais bem preparados. Certamente a linguagem dos textos de divulgação científica deve atingir todas as camadas populacionais, mas é preciso ter muito cuidado em não vulgarizar, não deturpar o fato científico. Mais do que isso, a divulgação científica deve instigar a pessoa a buscar mais, aprender mais, conhecer mais. Um excesso de vulgarização leva à conformação com o material pronto, útil muitas vezes, mas que, definitivamente, não instiga o leitor.
2. Imprecisão e licença científica, o retorno
Por Rubens Pazza e Karine Frehner Kavalco em 27/11/2007
"Quando eu uso uma palavra, ela significa exatamente o que eu quis que ela significasse, nada mais, nada menos." (Lewis Carroll, em Alice no país das maravilhas).
Imagine se cada um utilizasse, no cotidiano, palavras conhecidas, mas com significados próprios. Como seria possível manter um diálogo, discutir as ações dos políticos, os acontecimentos diários, as próprias relações humanas, ou simplesmente comprar um pãozinho na padaria da esquina? Há uma vertente da lingüística que afirma que o importante na comunicação não é a exatidão, mas a capacidade de compreensão do ouvinte. Se o ouvinte entendeu a mensagem, não importa que palavras o interlocutor utilizou. A intenção, aqui, não é discutir se esta ou aquela vertente da lingüística é mais adequada ou correta, mas insistir na questão de que a divulgação científica requer responsabilidade e informação correta.
As notícias científicas veiculadas pela mídia, tanto impressa quanto em hipertexto, freqüentemente apresentam problemas de imprecisão, em especial nos termos utilizados, o que já foi abordado como uma "licença científica" (ver, neste Observatório, “Da analogia imperfeita às distorções”). Um caso extremamente recorrente e que desejamos discutir no presente texto é o da utilização do termo "código genético". Um rápido levantamento das notícias veiculadas em websites de grandes jornais do país, como a Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, entre outros, demonstrou que, em absolutamente todos os casos em que o termo "código genético" foi utilizado, seu emprego foi incorreto. Embora em menor grau, até revistas especializadas como a Scientific American Brasil já tiveram seu momento de licença científica em relação ao código genético.
A língua da hereditariedade
Antes de discutir os empregos adotados pelos jornalistas para o termo "código genético", vamos relembrar de onde ele surgiu e seu verdadeiro significado. O início do século 20 foi marcado, dentro da área da biologia, pela elucidação dos mecanismos de herança das características e pelo papel do DNA (ácido desoxirribonucléico) no processo. Em meados da década de 1950, mais precisamente em 1953, Watson e Crick desvendaram a estrutura do DNA (sobre os ombros de gigantes, que descobriram outras informações pertinentes) e seu mecanismo de replicação, ou seja, como uma molécula de DNA serve de molde para a construção de outra molécula de DNA. A partir daí, soubemos que o DNA é composto por unidades repetidas de moléculas menores, os nucleotídeos, e que estes podem ser de quatro tipos – adenina, timina, citosina e guanina, representados pelas letras A, T, C e G, respectivamente.
Detalhes maiores sobre a estrutura do DNA são irrelevantes, no momento. Uma analogia freqüentemente utilizada por autores de divulgação científica, como Richard Dawkins, é a de que o genoma humano, por exemplo, seria formado por uma biblioteca composta por 23 volumes (cromossomos). Cada volume tem diversas páginas com palavras escritas pela disposição seqüencial de letras (nucleotídeos).
Semelhantemente ao DNA, as proteínas são formadas por unidades menores, os aminoácidos, que são unidos uns aos outros de forma linear (mais uma vez, detalhes são irrelevantes). Isso significa que a informação hereditária (DNA) contida em cada volume está escrita em uma língua, enquanto as características (proteínas) estão escritas em outra língua, ou seja, a informação está codificada. A dificuldade da empreitada de se decifrar a codificação utilizada pelos organismos vivos era a de que a língua da hereditariedade era composta por seqüências de quatro letras (nucleotídeos), enquanto a língua das características era formada por 20 letras (aminoácidos). Tornou-se necessário, então, desvendar qual seria o dicionário que traduz a informação de uma língua para outra, ou seja, qual seria o código da hereditariedade, ou código genético.
Uma nova seqüência
O astrônomo Gamow, com importante contribuição na teoria do Big Bang, foi um dos primeiros a dedicar-se à empreitada de desvendar o código genético. A conclusão relatada posteriormente é a de que cada grupo de três nucleotídeos (denominado um códon) no DNA significa um aminoácido na proteína. Por exemplo, o códon ATG significa o aminoácido metionina. O que é mais importante nesta descoberta (sem entrar em detalhes) é que este código é o mesmo para a imensa maioria dos organismos vivos, de modo que o código genético é considerado universal. Ou seja, o mesmo dicionário traduz a informação que está nas plantas, nos animais, nas bactérias. O código genético é uma das mais fortes evidências de ancestralidade comum entre todos os organismos vivos.
Assim, quando lemos nos jornais, revistas e websites que um grupo de pesquisadores desvendou o código genético de determinado organismo vivo, o que se espera é que eles tenham descoberto um novo dicionário, não um novo livro. No entanto, o que vemos na leitura da íntegra da notícia ou do artigo originário publicado pelos pesquisadores, na imensa maioria destas notícias, é que a pesquisa, na verdade, trata do seqüenciamento do genoma, o que nada mais é que a descoberta da seqüência dos nucleotídeos do DNA do organismo, ou seja, a leitura de outro livro. Os cientistas decifraram as palavras do livro, e não um novo dicionário. O caso mais recente foi o do fungo da caspa. O que foi descoberto é qual a seqüência de nucleotídeos do DNA do fungo, e não de que forma o fungo traduz a informação de seu DNA em proteína; afinal, isso já está devidamente conhecido.
Para ilustrar este erro comum, voltemos ao códon exemplificado anteriormente. ATG significa o aminoácido metionina. Um novo código seria a descoberta de um organismo onde a seqüência ATG signifique o aminoácido leucina, por exemplo. Isto é um novo código.
Morse e a mensagem
Para se observar a imensa quantidade de notícias com uso incorreto do termo, seria de se esperar que fosse um termo muito restrito e difícil de ser encontrado. Mas não é. Qualquer livro de Genética ou Biologia Molecular traz a explicação sobre o código genético nos capítulos que tratam da síntese das proteínas. O processo é chamado, não por acaso, de "tradução". E também não é um termo novo, mas com pelo menos 50 anos de uso. Por que então a insistência na inexatidão?
Poderia se pensar que, como acontece com outros termos que foram incorporados pelos cientistas após uma ampla utilização pela população, os jornalistas estivessem apenas utilizando-se da terminologia já existente e aplicando-a às novidades publicadas pelos cientistas. Então precisamos recorrer aos dicionários e verificar o significado de código. De acordo com o dicionário eletrônico Michaelis, código é "um sistema lingüístico, pelo qual se transcreve ou traduz uma mensagem". O dicionário não informa que cada nova mensagem é um novo código, mas que código é um sistema pelo qual uma mensagem é traduzida. Podemos ilustrar.
Imagine uma situação de guerra. A inteligência de um determinado país intercepta uma seqüência de bips curtos e longos. Percebe-se logo que não se trata de bips aleatórios, mas de uma mensagem codificada. Por sorte, a inteligência reconhece que o código utilizado pelos inimigos é o código Morse. Assim, é possível traduzir a mensagem codificada para a língua do inimigo e, com um intérprete, traduzi-la para a língua nativa. A mensagem poderia dizer a que horas, por exemplo, haverá um ataque. Algumas horas depois, a inteligência recebe outra seqüência de bips. É outra mensagem codificada em código Morse. Será que nesta situação o jornal publicaria que a inteligência decifrou um novo código Morse vindo do inimigo? Ou a manchete diria que a inteligência decifrou uma nova mensagem vinda do inimigo?
Divulgação de qualidade
Pois bem. Cada seqüência de nucleotídeos do DNA de uma espécie é uma nova mensagem a ser decifrada, não um novo código. O código genético é universal, ou seja, é o mesmo para quase todas as espécies. Sendo assim, é adequado escrever que "as vítimas do acidente da TAM serão identificadas pelo código genético", como está escrito em uma notícia da época do acidente, em julho deste ano?
Nunca é demais repetir: a divulgação científica requer responsabilidade. É ela quem fornece ao público o embasamento que será utilizado em momentos de decisões importantes, como discussões sobre o aborto, organismos geneticamente modificados, uso de células-tronco, clonagem etc. São de responsabilidade do editor da área não somente os artigos escritos por seus jornalistas, mas também os traduzidos a partir de notícias do exterior, pois tais erros não são exclusividade de brasileiros.
É claro que não se pode esperar que um jornalista tenha conhecimento absoluto de todas as áreas científicas. Uma das soluções para minimizar tais erros é que os cientistas tenham um engajamento maior na divulgação científica de qualidade; outra opção seria a utilização mais acentuada de consultores especializados por parte da grande mídia. De qualquer forma, devemos continuar lutando por uma divulgação científica de qualidade, que forneça informações coerentes e corretas à população.
3. Divagação científica vs. divulgação científica
Por Moisés Viana em 11/12/2007
Li, neste Observatório, o artigo "Imprecisão e licença científica, o retorno”, dos professores e cientistas Rubens Pazza e Karine Frehner Kavalco – um texto interessante, atual e questionador.
Ao participar do I Seminário da Pesquisa em Comunicação da Região Sudoeste (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, em Vitória da Conquista, BA), fiz uma reflexão sobre o discurso científico e a divulgação científica, incluindo o papel do jornalista como inter-mediador de discursos e, por isso mesmo, divulgador científico. Entende-se que os dois discursos estão em esferas diferentes e apresentam caracteres próprios a serem estudados profundamente. Para tanto, segui os passos teórico e prático do filólogo russo Mikhail Bakhtin e da pesquisadora Lilian Zamboni.
O primeiro aponta para necessidade de olharmos o discurso como espaço de interação social que se subdivide em gêneros, tipologias, universos que se inter-relacionam de maneira dinâmica e conflitante (incluindo assunto abordado, sujeito, público, composição léxica do discurso). E Zamboni esclarece, inteligente, sobre os discursos, científico e de divulgação científica.
Vive-se num tempo em que a ciência tem precedência e valor de verdade, um poder quase onipotente. Na atual conjuntura, ela determina ações e hábitos, justificando processo e dinâmicas humanas e os cientistas têm muito a dizer sobre seus estudos. Segundo Lilian Zamboni [Cientistas, Jornalistas e a Divulgação Científica: subjetividade e heterogeneidade no discurso da divulgação científica. Campinas: Fapesp/Editora Autores Associados, 2001], os cientistas constroem e vivem, comunicam-se no exercício de suas atividades sob um gênero de discurso, o científico.
Instrumento eficaz
Essa tipologia discursiva possui características próprias, dinâmicas e termos específicos acessíveis à comunidade científica (discurso do biólogo, discurso do físico, discurso do sociólogo, por exemplo). Eles se comunicam num processo discursivo sisudo, por jargões elaborados segundo regras rígidas e após exaustivos testes, exames, observações e práticas laboratoriais constantes. Ao se comunicarem fora do cotidiano para seus pares, eles, em geral, constroem um discurso bem calçado, com conceitos previamente discutidos e em consenso. Tudo para assim serem aceitos ou rejeitados, de acordo com a tendência ideológica da comunidade em que estão inseridos. Criam-se novos conceitos, rejeitam-se outros, reelaborando-se constantemente no interior desse gênero discursivo.
O discurso científico pertence à comunidade científica e para adentrá-la é preciso as provas de título, envolver-se e entrelaçar-se em suas dinâmica, em outras palavras, tornar-se cientista. Como salienta o filósofo Michel Foucault [FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: edições Loyola, 2003.], eles compõem um grupo privilegiado, instituído de qualificação para tal procedimento: criar um enunciado verbal e competente no assunto.
A fala científica se restringe nessa área e só entra quem for qualificado. Entretanto, eles não compõem um gênero de discurso fechado incomunicável, mas dialogam com outros discursos que se interconectam com os cientistas. Daí, a necessidade de haver uma divulgação científica, o instrumento eficaz dos cientistas para serem ouvidos fora de seus laboratórios, havendo assim progresso da ciência, subsídios financeiros e justificação ideológica das práticas de pesquisa.
Entre o céu e o inferno
Diferente desse gênero discursivo científico, o discurso de divulgação científica em seus diversos níveis (desde cientistas falando a outros cientistas em áreas distintas, cientistas falando para leigos, e leigos falando de ciência para outros leigos) assume-se num universo distinto; nele não se apresentam as falhas, as práticas cotidianas, mas apenas os resultados das pesquisas. Ele é uma nova reestruturação sofisticada para o público heterogêneo da sociedade, onde se diluem jargões, desaparecem conceitos, resumem-se resultados. Tal gênero apresenta e transforma o discurso científico em conteúdo divulgador, isto é, clareia as hipóteses e teorias da pesquisa científica para o público, aproximando-se lexicamente e simplificando, visando ao entendimento da população.
A descoberta de um novo medicamento, os avanços da genética, as novas aplicações do eletromagnetismo tornam-se parte do discurso social através da divulgação científica. Falar sobre ciência é, antes de tudo, colocá-la a serviço da sociedade, juntamente com sua aplicação prática, abrangendo temas que alcançam o cotidiano.
O discurso de divulgação é um discurso midiático, torna-se mediação entre os enunciados científicos e o público, mantendo um caráter universal e seus enunciados acessíveis a uma miríade de sujeitos discursivos. Ideologicamente, atua sobre a sociedade, a mente e os hábitos e cultura, escolhas econômicas e opções políticas.
Em resumo, a divulgação científica possui uma função legitimadora e explicadora do discurso científico, reformulando a ciência divulgada. Para tanto, o desafio é grande para o inter-mediador, que fica entre o céu e o inferno, ou seja, na terra, tramitando entre a divulgação e a divagação científica.
+++++
NOTA DESTE BLOGGER:
Estamos de olho em vocês jornalistas científicos e a Nomenklatura científica atualmente mesmerizados pelas inconsistências paradigmáticas, e seguindo a máxima de Dobzhansky: As evidências, ora, que se danem as evidências, o que vale é a teoria!
Haja objetividade jornalística e científica. O nome disso é o que mesmo? Segundo Walter Ceneviva, articulista em jurisprudência da Folha de São Paulo, é descompasso com a verdade. Trocado em graúdos — desonestidade acadêmica e jornalística. Em nome do que? Da ciência? Ou da ideologia?
A evolução humana moderna foi acelerada?
O blog “Desafiando a Nomenklatura científica” está quase atingindo a marca de 100.000 visitantes, mas nada de o caderno Mais! da Folha de São Paulo me entrevistar sobre este fenômeno. Por que será? Deve ser intriga interna, não é Claudio Ângelo?
Como é bom ver na mídia um pouco do seu trabalho ser um pouco reconhecido. Esclareço: John Hawks é um antropólogo da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, cujo blog foi listado logo no início do nosso blog como um dos preferidos pela qualidade de seus textos e de sua pesquisa científica: a evolução humana, um assunto que muito me fascina.
A newsletter Agência FAPESP trouxe um pequeno artigo na seção de divulgação científica deste blogger científico, quase que dizendo “não é que o anta do Enézio”, “não é que o Jeguézio sabe das coisas” e tem razão em destacar o John Hawks no seu blog?
O “Huxley” da USP “carinhosamente” me chama assim nas suas buscas por mim no Google, deve ter ficado corado de vergonha ao ler neste blog que eu descobri o IP do computador que ele acessa na USP. Mais adiante eu descubro o nome desse covarde que se abriga por detrás de um pseudônimo. Se for quem eu estou pensando, que vergonha para a Academia!
Evolução moderna e acelerada
Destacado no JC E-Mail 3408, de 11 de dezembro de 2007
Agência FAPESP – Uma conhecida teoria sugere que a evolução humana foi drasticamente freada – ou que até mesmo parou no homem moderno. Mas um novo estudo descreve os últimos 40 mil anos como um período de intensa mudança evolucionária, resultado do crescimento exponencial da população e das mudanças culturais.
O trabalho, descrito na edição desta segunda-feira (10/12) da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), foi liderado pelo antropólogo John Hawks, da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos. A análise foi feita a partir de dados obtidos pelo Consórcio Internacional HapMap, que reúne mais de 200 cientistas de diversos países.
Segundo os autores, nos últimos 5 mil anos ocorreu seleção positiva em uma taxa aproximadamente 100 vezes mais alta do que em qualquer outro período da evolução humana. Além disso, 7% dos genes humanos estão em meio a um processo de evolução recente e acelerada.
Muitos dos novos ajustes genéticos teriam relação com mudanças na dieta decorrentes do advento da agricultura. E, também, com a resistência às doenças epidêmicas que se tornaram a principal causa de mortes depois do crescimento das civilizações.
A descoberta pode levar a ciência a repensar a evolução humana, de acordo com Hawks, especialmente em relação à visão de que a cultura moderna amenizou as necessidades de mudanças genéticas em humanos a fim de garantir a sobrevivência. “Geneticamente, nossa diferença em relação às pessoas que viveram há 5 mil anos é maior do que a diferença entre elas e os neandertais”, disse.
A correlação entre tamanho populacional e seleção natural não é nova – é uma das principais premissas nas teorias de Charles Darwin. O que é novo, segundo Hawks, é a capacidade para levantar evidências quantificáveis, possibilitada pelo Projeto Genoma Humano.
Em parceria com o antropólogo Gregory Cochran, da Universidade de Utah, e Eric Wang, da empresa Affymetrix, Hawks catalogou semelhanças e diferenças genéticas em humanos a partir de estudos de amostras de genes de populações distintas. Enquanto mais de 99% do genoma humano é comum a todas as pessoas, o HapMap está catalogando as diferenças individuais no DNA, conhecidas como polimorfismos de nucleotídeo único
Para buscar variações genéticas recentes, a equipe enfocou regiões do genoma nas quais variações genéticas ocorrem com maior freqüência do que seria possível por mero acaso. Geralmente essas mudanças indicam algum tipo de vantagem seletiva. Os cientistas encontraram evidências de seleção recente em cerca de 1,8 mil genes – o equivalente a 7% dos genes humanos.
De acordo com Hawks, o estudo ressaltou importantes mudanças esqueléticas, que indicam que as pessoas ficaram menores, com cérebros e dentes também menores que os ancestrais, contrariando o conhecimento convencional. Isso é visto como sinal de um relaxamento seletivo – o tamanho e a força não seriam mais fundamentais para a sobrevivência.
Mas outros caminhos foram abertos para a evolução. As mudanças genéticas seriam agoras direcionadas por mudanças impactantes na cultura humana. Um bom exemplo é a lactase, enzima que ajuda a digerir o leite. A lactase geralmente declina e cessa sua atividade na adolescência, mas populações no norte da Europa desenvolveram uma variação que evitou a diminuição na produção da enzima, diferentemente do que ocorre na África ou na China.
O principal novo caminho para a seleção, segundo Hawks, está ligado à resistência a doenças. Quando o homem começou a viver em grupos maiores, concentrando-se em assentamentos há cerca de 10 mil anos, as doenças epidêmicas como malária, varíola e cólera começaram a mudar dramaticamente os padrões de mortalidade.
A malária é um dos mais claros exemplos, uma vez que hoje há mais de duas dúzias de adaptações genéticas ligadas à resistência à doença, incluindo até mesmo um tipo de sangue inteiramente novo, conhecido como sangue do tipo duffy.
Outro gene descoberto recentemente, o CCR5, teve origem há cerca de 4 mil anos e agora existe em cerca de 10% dos europeus. Ele foi descoberto recentemente por tornar indivíduos resistentes ao HIV. “Há muitos fatores na seleção que tornam cada vez mais difícil para os patógenos nos matarem”, disse Hawks.
O artigo Recent acceleration of human adaptive evolution, de John Hawks e outros, pode ser lido por assinantes da Pnas.
Leia no blog do John Hawks:
Why human evolution accelerated
NOTA IMPERTINENTE DESTE BLOGGER: Já mencionei aqui o porquê de o meu blog não permitir comentários, mas vou relembrar: a galera dos meninos e meninas de Darwin é mal-educada desde o berço, não disponho de tempo para me engajar em debates, família, trabalho, estudos, etc. Neste sentido, eu sigo literalmente ao John Hawks — ele também não permite comentários no seu blog. Eu estou em boa companhia!!!
NOTA-COMENTÁRIO DE UM GIGANTE: [Aguardando autorização]
Como é bom ver na mídia um pouco do seu trabalho ser um pouco reconhecido. Esclareço: John Hawks é um antropólogo da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, cujo blog foi listado logo no início do nosso blog como um dos preferidos pela qualidade de seus textos e de sua pesquisa científica: a evolução humana, um assunto que muito me fascina.
A newsletter Agência FAPESP trouxe um pequeno artigo na seção de divulgação científica deste blogger científico, quase que dizendo “não é que o anta do Enézio”, “não é que o Jeguézio sabe das coisas” e tem razão em destacar o John Hawks no seu blog?
O “Huxley” da USP “carinhosamente” me chama assim nas suas buscas por mim no Google, deve ter ficado corado de vergonha ao ler neste blog que eu descobri o IP do computador que ele acessa na USP. Mais adiante eu descubro o nome desse covarde que se abriga por detrás de um pseudônimo. Se for quem eu estou pensando, que vergonha para a Academia!
Evolução moderna e acelerada
Destacado no JC E-Mail 3408, de 11 de dezembro de 2007
Agência FAPESP – Uma conhecida teoria sugere que a evolução humana foi drasticamente freada – ou que até mesmo parou no homem moderno. Mas um novo estudo descreve os últimos 40 mil anos como um período de intensa mudança evolucionária, resultado do crescimento exponencial da população e das mudanças culturais.
O trabalho, descrito na edição desta segunda-feira (10/12) da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), foi liderado pelo antropólogo John Hawks, da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos. A análise foi feita a partir de dados obtidos pelo Consórcio Internacional HapMap, que reúne mais de 200 cientistas de diversos países.
Segundo os autores, nos últimos 5 mil anos ocorreu seleção positiva em uma taxa aproximadamente 100 vezes mais alta do que em qualquer outro período da evolução humana. Além disso, 7% dos genes humanos estão em meio a um processo de evolução recente e acelerada.
Muitos dos novos ajustes genéticos teriam relação com mudanças na dieta decorrentes do advento da agricultura. E, também, com a resistência às doenças epidêmicas que se tornaram a principal causa de mortes depois do crescimento das civilizações.
A descoberta pode levar a ciência a repensar a evolução humana, de acordo com Hawks, especialmente em relação à visão de que a cultura moderna amenizou as necessidades de mudanças genéticas em humanos a fim de garantir a sobrevivência. “Geneticamente, nossa diferença em relação às pessoas que viveram há 5 mil anos é maior do que a diferença entre elas e os neandertais”, disse.
A correlação entre tamanho populacional e seleção natural não é nova – é uma das principais premissas nas teorias de Charles Darwin. O que é novo, segundo Hawks, é a capacidade para levantar evidências quantificáveis, possibilitada pelo Projeto Genoma Humano.
Em parceria com o antropólogo Gregory Cochran, da Universidade de Utah, e Eric Wang, da empresa Affymetrix, Hawks catalogou semelhanças e diferenças genéticas em humanos a partir de estudos de amostras de genes de populações distintas. Enquanto mais de 99% do genoma humano é comum a todas as pessoas, o HapMap está catalogando as diferenças individuais no DNA, conhecidas como polimorfismos de nucleotídeo único
Para buscar variações genéticas recentes, a equipe enfocou regiões do genoma nas quais variações genéticas ocorrem com maior freqüência do que seria possível por mero acaso. Geralmente essas mudanças indicam algum tipo de vantagem seletiva. Os cientistas encontraram evidências de seleção recente em cerca de 1,8 mil genes – o equivalente a 7% dos genes humanos.
De acordo com Hawks, o estudo ressaltou importantes mudanças esqueléticas, que indicam que as pessoas ficaram menores, com cérebros e dentes também menores que os ancestrais, contrariando o conhecimento convencional. Isso é visto como sinal de um relaxamento seletivo – o tamanho e a força não seriam mais fundamentais para a sobrevivência.
Mas outros caminhos foram abertos para a evolução. As mudanças genéticas seriam agoras direcionadas por mudanças impactantes na cultura humana. Um bom exemplo é a lactase, enzima que ajuda a digerir o leite. A lactase geralmente declina e cessa sua atividade na adolescência, mas populações no norte da Europa desenvolveram uma variação que evitou a diminuição na produção da enzima, diferentemente do que ocorre na África ou na China.
O principal novo caminho para a seleção, segundo Hawks, está ligado à resistência a doenças. Quando o homem começou a viver em grupos maiores, concentrando-se em assentamentos há cerca de 10 mil anos, as doenças epidêmicas como malária, varíola e cólera começaram a mudar dramaticamente os padrões de mortalidade.
A malária é um dos mais claros exemplos, uma vez que hoje há mais de duas dúzias de adaptações genéticas ligadas à resistência à doença, incluindo até mesmo um tipo de sangue inteiramente novo, conhecido como sangue do tipo duffy.
Outro gene descoberto recentemente, o CCR5, teve origem há cerca de 4 mil anos e agora existe em cerca de 10% dos europeus. Ele foi descoberto recentemente por tornar indivíduos resistentes ao HIV. “Há muitos fatores na seleção que tornam cada vez mais difícil para os patógenos nos matarem”, disse Hawks.
O artigo Recent acceleration of human adaptive evolution, de John Hawks e outros, pode ser lido por assinantes da Pnas.
Leia no blog do John Hawks:
Why human evolution accelerated
NOTA IMPERTINENTE DESTE BLOGGER: Já mencionei aqui o porquê de o meu blog não permitir comentários, mas vou relembrar: a galera dos meninos e meninas de Darwin é mal-educada desde o berço, não disponho de tempo para me engajar em debates, família, trabalho, estudos, etc. Neste sentido, eu sigo literalmente ao John Hawks — ele também não permite comentários no seu blog. Eu estou em boa companhia!!!
NOTA-COMENTÁRIO DE UM GIGANTE: [Aguardando autorização]
As dores de parto do desespero da Nomenklatura científica americana
terça-feira, dezembro 11, 2007
No dia 4 de janeiro de 2008, às 11:00 AM (Horário da Costa Leste), a National Academy of Sciences (NAS – Academia Nacional de Ciências) e o Institute of Medicine (IOM – Instituto de Medicina) fará o lançamento da publicação “Science, Evolution, and Creationism” [Ciência, Evolução e Criacionismo]. Um anúncio público de lançamento, que será feito no prédio da NAS, na 2100 C Street, NW, Washington, DC, após o que cópias do livro serão distribuídas e tornada disponível online no seguinte link: http://www.nap.edu/catalog.php?record_id=11876
Esta edição do livreto “Science and Creationism” [Ciência e Criacionismo] completamente atualizada é escrita para quem quiser aprender mais sobre a ciência da evolução. Ele fornece uma sucinta visão de muitos avanços recentes do registro fóssil, biologia molecular, e uma nova área conhecida como biologia evolutiva de desenvolvimento [evo-devo] que têm trazido importante, nova e esmagadora evidência a favor da evolução. Ele mostra nitidamente que o estudo da evolução permanece uma das áreas mais ativa, robusta, e de amplo alcance em toda a ciência moderna.
Contudo, controvérsias sobre o ensino da evolução continuam nos Estados Unidos. Recentemente alguns oponentes da evolução têm apoiado a introdução de uma forma de criacionismo conhecida como “design inteligente” nas salas de aulas das escolas públicas ou têm argumentado que os professores de ciência devem encorajar o “pensamento crítico” ao discutirem “as controvérsias” em torno da evolução.
Este livro fornece explicações claras e exemplos intrigantes que enfatizam a robustez da ciência da evolução e a falta de controvérsia ao redor de se a evolução tem ocorrido e continua ocorrendo. É uma excelente fonte para entender como a evolução é central a muitas outras áreas da ciência e porque a evolução e não o criacionismo deve ser ensinado na sala de aula de ciência.”
+++++
Comentário impertinente deste blogger: Parece que o pessoal da NAS está no mundo da Lua, e nunca leu o que nós teóricos e proponentes da teoria do Design Inteligente propomos - o ensino objetivo da teoria da evolução, e que sinais de inteligência são empiricamente detectados na natureza.
Além disso, parece que os cientistas da NAS nunca leram “Contra o método” de Paul Feyerabend.
Para lançar um livreco desses aí, a Nomenklatura científica americana deve estar muito desesperada, e preocupada com os avanços do Design Inteligente na cultura americana, daí identificar o DI como criacionismo.
Senhores, a ciência nos remete às evidências, o resto é retórica.
Darwin foi muito mais liberal do que esses ditadores epistemológicos orwellianos: ele acreditava no livre exame das idéias e que as evidências é que deveriam dizer se uma teoria é cientificamente robusta ou não.
Christine Comer, a Joana d’Arc de Darwin, foi demitida por justa causa
A Grande Mídia Internacional e Tupiniquim vivem uma relação incestuosa com a Nomenklatura científica quando a questão é Darwin. São portadores em último grau da “síndrome ricuperiana”: o que Darwin tem de bom, a gente mostra; o que Darwin tem de ruim, a gente esconde.
Além disso, eles também sofrem agudamente da “síndrome dos soldadinhos-de-chumbo”: pensamento uniforme — todo mundo pensando a mesma coisa e ninguém pensando em nada. Isso é fatal para o avanço da ciência, especialmente a biologia.
Eu não sabia, mas agora fiquei sabendo: a Grande Mídia Internacional e Tupiniquim agora mostra o “complexo de perseguição” que os portadores da verdade única sobre a origem e evolução da vida vêm heroicamente sofrendo nas mãos dos criacionistas fundamentalistas e da turma perversa do Design Inteligente. A notícia abaixo é uma prova disso.
O bom jornalismo ensina “ouvir o outro lado”, mas hoje a mídia não usa mais isso. “Ouvir o outro lado? Isso não te pertence mais!!!”. Por não se pautar por seus manuais de edição, especialmente em relação aos oponentes e críticos de Darwin, a Grande Mídia Tupiniquim é encontrada em flagrante descompasso com a verdade [Obrigado, Walter Ceneviva, Folha de São Paulo, por esta pérola!]!
Alguém viu o caso de Richard Sternberg, editor de uma publicação científica do Smithsonian Institute foi demitido após publicar um artigo com revisão por pares [peer-review é mais chique] ser noticiado aqui no Brasil?
Você já ouviu falar de Guillermo Gonzalez, renomado astrônomo, que teve a estabilidade de emprego negada como professor de astronomia na Iowa State University por defender teses do Design Inteligente, mas nunca as ensinou naquela universidade?
Maiores informações sobre esses casos aqui, aqui e aqui.
Eu poderia citar outros casos de “perseguição” ao discurso hoje considerado heterodoxo na maior democracia do mundo, os Estados Unidos, mas a Grande Mídia Tupiniquim ficou muda sobre esses casos. Agora vem dar destaque ao caso de Christine Comer como se ela tivesse sido demitida por “favorecer o ensino da evolução”?
Nada mais patentemente falso: a Grande Mídia Internacional e Tupiniquim quiseram fazer de Christine Comer a Joana d’Arc de Darwin do século 21, mas ela foi demitida simplesmente por razões administrativas.
JC E-Mail 3407, de 10 de dezembro de 2007
45. Ensino da evolução termina em demissão nos EUA
“Estou sendo demitida por causa da teoria da evolução?”
Ralph Blumenthal escreve para o “New York Times”:
Depois de 27 anos como professora de ciências e de nove anos como diretora de ciências na Agência de Educação do Texas, Christine Castillo Comer disse que não acreditava que tivesse de se manter "neutra" quanto ao ensino da teoria da evolução. "Não é apenas uma boa idéia; é a lei", disse Christine, mencionando o currículo de ciências do Estado.
Mas ela terminou por perder o emprego, depois de encaminhar a algumas pessoas uma mensagem de email sobre uma palestra quanto à evolução e o chamado criacionismo - "um assunto sobre o qual a agência deve permanecer neutra", de acordo com a carta de demissão que ela recebeu no mês passado, acusando-a de diversos casos de "insubordinação" e "delitos de conduta" e de se opor ao criacionismo, a doutrina de acordo com a qual a vida surgiu de um "criador inteligente".
A decisão, que causou incômodo aos profissionais de ciências desde que foi divulgada, na semana passada, é um prelúdio para a batalha esperada no começo do ano que vem quanto à reforma dos padrões estaduais de educação científica, entre os quais o ensino da teoria da evolução. Debbie Ratcliffe, porta-voz da agência estadual de educação, em Austin, disse que Christine "se demitiu. Ela não foi demitida".
"Nosso trabalho", disse Radcliffe, "é impor as leis e regulamentados aprovados pelo Legislativo e pelo conselho de educação estadual, e não defender nossas opiniões e crenças pessoais".
Christine contestou essa descrição do caso, em diversas entrevistas, seus primeiros comentários mais extensos sobre a situação. Ela reconheceu ter encaminhado a um fórum científico local um email do Centro Nacional de Educação Científica sobre uma palestra, em Austin, de Barbara Forrest, professora de filosofia na Universidade do Sudeste da Louisiana, sobre "o cavalo de tróia do criacionismo". Forrest serviu como testemunha especializada em um caso judicial decidido em 2005, que terminou com a proibição do ensino da teoria da criação inteligente nas escolas de Dover, Pensilvânia.
"Não sei de que maneira se pode afirmar que assumi uma posição ao encaminhar um convite para uma palestra, da mesma forma que encaminharia um aviso sobre aquecimento global ou pesquisas de células-tronco", ela afirma. "Eu envio toda espécie de mensagem e nunca fui acusada de endossar o conteúdo que elas portam".
Mas Christine declarou que, como profissional do ensino de ciências, ela "defende a boa ciência", e, no que tange ao ensino da teoria da evolução, "não creio que seja preciso muito esforço de imaginação para saber minha posição".
Christine disse que os funcionários do departamento estadual de educação parecem incertos, recentemente, quanto ao currículo obrigatório quanto à evolução. Seu trabalho sempre envolveu responder a dúvidas sobre o ensino da teoria da evolução, disse a educadora, que acrescenta sempre ter respondido que o conselho estadual de educação apóia o ensino da teoria da evolução nas escolas texanas.
Mas alguns meses atrás, em resposta a uma carta, Christine disse que foi instruída a remover sua formulação habitual quanto ao apoio do conselho ao ensino da evolução, e a citar textualmente, em lugar disso, a linguagem exata dos padrões escolares de biologia, tais como formulados para o teste geral de conhecimento educacional do Estado.
O padrão afirma que "o estudante conhece a teoria da evolução biológica", e deve "identificar provas de mudança em espécies usando fósseis, seqüências de DNA, similaridades anatômicas e fisiológicas, e embriologia", bem como "ilustrar resultados da seleção natural na especiação, diversidade, filogenia, adaptação, comportamento e extinção".
Os padrões adotados em 1998 devem passar por revisão decenal e possível reformulação no ano que vem, depois que o conselho estadual de educação, um órgão eletivo formado por 15 pessoas, começar sua sessão anual, em fevereiro. A possível reforma terá implicações sérias para o setor de livros didáticos que movimenta bilhões de dólares anuais nos Estados Unidos. O presidente do conselho, Don McLeroy, dentista e professor de religião em uma escola dominical em College Station, já fez palestras defendendo a teoria da criação inteligente.
Ratcliffe, a porta-voz da agência de educação, disse que McLeroy não esteve envolvido na demissão de Christine. Christine afirma que, pouco mais de uma hora depois de encaminhar a terceiros o e-mail enviado sobre a palestra de Forrester, ela foi chamada à sala de Lizzette Reynolds, comissária assistente de política educacional, que havia visto a mensagem e a considerava como "delito passível de demissão". Christine diz que não faz idéia de como Reynolds, que trabalhou no setor federal de educação e foi assessora de George W. Bush quando este foi governador do Texas, recebeu tão rápido a mensagem, e se lembra de ter pensando "o que é isso, a polícia do pensamento?"
Pressionada, diz Christine, ela enviou uma retratação, pedindo que os destinatários desconsiderassem sua mensagem anterior. Mas Christine, divorciada, mãe de uma filha e filho adultos e responsável pelo sustento de um pai adoecido, teve de deixar o emprego, que lhe rendia US$ 60 mil ao ano. Ela apresentou sua demissão em 7 de novembro. Nem Christine nem a agência haviam comentado o caso antes que o jornal Austin American - Statesman obtivesse uma cópia dos documentos, na semana passada.
Christine disse que Tom Shindell, diretor de desenvolvimento organizacional, a havia informado que devia se demitir ou seria demitida por uma série de apresentação não autorizadas em reuniões profissionais, e outras transgressões. Christine conta que perguntou: "Tom, estou sendo demitida por causa da teoria da evolução?"
(The New York Times)
(Portal Terra, 4/12)
Além disso, eles também sofrem agudamente da “síndrome dos soldadinhos-de-chumbo”: pensamento uniforme — todo mundo pensando a mesma coisa e ninguém pensando em nada. Isso é fatal para o avanço da ciência, especialmente a biologia.
Eu não sabia, mas agora fiquei sabendo: a Grande Mídia Internacional e Tupiniquim agora mostra o “complexo de perseguição” que os portadores da verdade única sobre a origem e evolução da vida vêm heroicamente sofrendo nas mãos dos criacionistas fundamentalistas e da turma perversa do Design Inteligente. A notícia abaixo é uma prova disso.
O bom jornalismo ensina “ouvir o outro lado”, mas hoje a mídia não usa mais isso. “Ouvir o outro lado? Isso não te pertence mais!!!”. Por não se pautar por seus manuais de edição, especialmente em relação aos oponentes e críticos de Darwin, a Grande Mídia Tupiniquim é encontrada em flagrante descompasso com a verdade [Obrigado, Walter Ceneviva, Folha de São Paulo, por esta pérola!]!
Alguém viu o caso de Richard Sternberg, editor de uma publicação científica do Smithsonian Institute foi demitido após publicar um artigo com revisão por pares [peer-review é mais chique] ser noticiado aqui no Brasil?
Você já ouviu falar de Guillermo Gonzalez, renomado astrônomo, que teve a estabilidade de emprego negada como professor de astronomia na Iowa State University por defender teses do Design Inteligente, mas nunca as ensinou naquela universidade?
Maiores informações sobre esses casos aqui, aqui e aqui.
Eu poderia citar outros casos de “perseguição” ao discurso hoje considerado heterodoxo na maior democracia do mundo, os Estados Unidos, mas a Grande Mídia Tupiniquim ficou muda sobre esses casos. Agora vem dar destaque ao caso de Christine Comer como se ela tivesse sido demitida por “favorecer o ensino da evolução”?
Nada mais patentemente falso: a Grande Mídia Internacional e Tupiniquim quiseram fazer de Christine Comer a Joana d’Arc de Darwin do século 21, mas ela foi demitida simplesmente por razões administrativas.
JC E-Mail 3407, de 10 de dezembro de 2007
45. Ensino da evolução termina em demissão nos EUA
“Estou sendo demitida por causa da teoria da evolução?”
Ralph Blumenthal escreve para o “New York Times”:
Depois de 27 anos como professora de ciências e de nove anos como diretora de ciências na Agência de Educação do Texas, Christine Castillo Comer disse que não acreditava que tivesse de se manter "neutra" quanto ao ensino da teoria da evolução. "Não é apenas uma boa idéia; é a lei", disse Christine, mencionando o currículo de ciências do Estado.
Mas ela terminou por perder o emprego, depois de encaminhar a algumas pessoas uma mensagem de email sobre uma palestra quanto à evolução e o chamado criacionismo - "um assunto sobre o qual a agência deve permanecer neutra", de acordo com a carta de demissão que ela recebeu no mês passado, acusando-a de diversos casos de "insubordinação" e "delitos de conduta" e de se opor ao criacionismo, a doutrina de acordo com a qual a vida surgiu de um "criador inteligente".
A decisão, que causou incômodo aos profissionais de ciências desde que foi divulgada, na semana passada, é um prelúdio para a batalha esperada no começo do ano que vem quanto à reforma dos padrões estaduais de educação científica, entre os quais o ensino da teoria da evolução. Debbie Ratcliffe, porta-voz da agência estadual de educação, em Austin, disse que Christine "se demitiu. Ela não foi demitida".
"Nosso trabalho", disse Radcliffe, "é impor as leis e regulamentados aprovados pelo Legislativo e pelo conselho de educação estadual, e não defender nossas opiniões e crenças pessoais".
Christine contestou essa descrição do caso, em diversas entrevistas, seus primeiros comentários mais extensos sobre a situação. Ela reconheceu ter encaminhado a um fórum científico local um email do Centro Nacional de Educação Científica sobre uma palestra, em Austin, de Barbara Forrest, professora de filosofia na Universidade do Sudeste da Louisiana, sobre "o cavalo de tróia do criacionismo". Forrest serviu como testemunha especializada em um caso judicial decidido em 2005, que terminou com a proibição do ensino da teoria da criação inteligente nas escolas de Dover, Pensilvânia.
"Não sei de que maneira se pode afirmar que assumi uma posição ao encaminhar um convite para uma palestra, da mesma forma que encaminharia um aviso sobre aquecimento global ou pesquisas de células-tronco", ela afirma. "Eu envio toda espécie de mensagem e nunca fui acusada de endossar o conteúdo que elas portam".
Mas Christine declarou que, como profissional do ensino de ciências, ela "defende a boa ciência", e, no que tange ao ensino da teoria da evolução, "não creio que seja preciso muito esforço de imaginação para saber minha posição".
Christine disse que os funcionários do departamento estadual de educação parecem incertos, recentemente, quanto ao currículo obrigatório quanto à evolução. Seu trabalho sempre envolveu responder a dúvidas sobre o ensino da teoria da evolução, disse a educadora, que acrescenta sempre ter respondido que o conselho estadual de educação apóia o ensino da teoria da evolução nas escolas texanas.
Mas alguns meses atrás, em resposta a uma carta, Christine disse que foi instruída a remover sua formulação habitual quanto ao apoio do conselho ao ensino da evolução, e a citar textualmente, em lugar disso, a linguagem exata dos padrões escolares de biologia, tais como formulados para o teste geral de conhecimento educacional do Estado.
O padrão afirma que "o estudante conhece a teoria da evolução biológica", e deve "identificar provas de mudança em espécies usando fósseis, seqüências de DNA, similaridades anatômicas e fisiológicas, e embriologia", bem como "ilustrar resultados da seleção natural na especiação, diversidade, filogenia, adaptação, comportamento e extinção".
Os padrões adotados em 1998 devem passar por revisão decenal e possível reformulação no ano que vem, depois que o conselho estadual de educação, um órgão eletivo formado por 15 pessoas, começar sua sessão anual, em fevereiro. A possível reforma terá implicações sérias para o setor de livros didáticos que movimenta bilhões de dólares anuais nos Estados Unidos. O presidente do conselho, Don McLeroy, dentista e professor de religião em uma escola dominical em College Station, já fez palestras defendendo a teoria da criação inteligente.
Ratcliffe, a porta-voz da agência de educação, disse que McLeroy não esteve envolvido na demissão de Christine. Christine afirma que, pouco mais de uma hora depois de encaminhar a terceiros o e-mail enviado sobre a palestra de Forrester, ela foi chamada à sala de Lizzette Reynolds, comissária assistente de política educacional, que havia visto a mensagem e a considerava como "delito passível de demissão". Christine diz que não faz idéia de como Reynolds, que trabalhou no setor federal de educação e foi assessora de George W. Bush quando este foi governador do Texas, recebeu tão rápido a mensagem, e se lembra de ter pensando "o que é isso, a polícia do pensamento?"
Pressionada, diz Christine, ela enviou uma retratação, pedindo que os destinatários desconsiderassem sua mensagem anterior. Mas Christine, divorciada, mãe de uma filha e filho adultos e responsável pelo sustento de um pai adoecido, teve de deixar o emprego, que lhe rendia US$ 60 mil ao ano. Ela apresentou sua demissão em 7 de novembro. Nem Christine nem a agência haviam comentado o caso antes que o jornal Austin American - Statesman obtivesse uma cópia dos documentos, na semana passada.
Christine disse que Tom Shindell, diretor de desenvolvimento organizacional, a havia informado que devia se demitir ou seria demitida por uma série de apresentação não autorizadas em reuniões profissionais, e outras transgressões. Christine conta que perguntou: "Tom, estou sendo demitida por causa da teoria da evolução?"
(The New York Times)
(Portal Terra, 4/12)
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