JC E-Mail 3407, de 10 de dezembro de 2007
6. Só 30% têm mais de 4 horas de aula de ciência, leitura e matemática
Nos países que formam a elite da educação mundial, maioria dos alunos cumpre carga horária semanal superior
Renata Cafardo e Simone Iwasso escrevem para “O Estado de SP”:
A maioria dos estudantes dos países que fazem parte da elite da educação mundial tem mais de quatro horas semanais de aulas de ciência, leitura e matemática. No Brasil, a quantidade de alunos com carga horária semelhante não passa dos 30%. Cruzamento feito pelo Estado a partir das notas e do perfil das escolas na avaliação internacional Pisa mostra que o Brasil fica atrás em vários indicadores que influenciam na aprendizagem.
A lista foi elaborada com base nos rankings de leitura, matemática e ciência de 2006, divulgados na semana passada, e inclui Finlândia, Hong Kong, Coréia, Canadá, Taiwan, Bélgica, Nova Zelândia, Austrália, Holanda e Suíça. Os brasileiros obtiveram cerca de 150 pontos a menos que os estudantes dessas nações. O Pisa foi realizado por 400 mil alunos de 15 anos em 57 países. Ao mesmo tempo, diretores responderam questionários sobre as escolas.
“Há muito que o Brasil precisa enxergar a partir da experiência dos países bem-sucedidos na educação, que alcançaram há muito tempo nível de formação alto e não têm as desigualdades que temos aqui. Muitas das crianças que estão agora na escola são a primeira geração escolarizada de suas famílias”, afirma Maria Auxiliadora Seabra Rezende, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e secretária de Educação do Tocantins. “Nesses lugares, dificilmente você vai encontrar crianças que só ficam de três a quatro horas na escola, como é o normal no país”, diz ela.
Pela legislação brasileira, o ensino fundamental e médio deve ter mínimo de 800 horas anuais, cumpridas em pelo menos 200 dias úteis. Cada dia letivo precisa ser composto por pelo menos quatro horas. Não há carga horária mínima estabelecida para cada disciplina, o que fica a cargo das redes de ensino.
Mesmo assim, muitos gestores não respeitam as normas legais, diz a secretária de Educação de Natal e vice-presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Ensino (Undime), Justina Iva. Pelos dados do Pisa, só 11,3% dos alunos brasileiros têm mais de quatro horas semanais de ciência, por exemplo. “Mesmo com o calendário definido, as escolas às vezes emendam feriados, fazem passeios e dizem que cumpriram a carga horária.”
A baixa carga horária é muitas vezes conseqüência da superlotação das escolas, que faz com que haja até quatro períodos de aulas para turmas diferentes em um só dia. E, ao mesmo tempo, se discute no país o incentivo ao ensino em período integral. “É importante ter as disciplinas específicas e outras como teatro, música, dança”, diz a educadora da Unicamp Maria Márcia Sigrist. “Há uma mentalidade que precisa mudar e que inclui a elite.
Pessoas com alto poder aquisitivo não colocam seus filhos em estudo integral porque acham que seria uma punição. Preferem que eles fiquem em casa assistindo TV”, diz Ilona Becskeházy, diretora executiva da Fundação Lemann.
(O Estado de SP, 9/12)