Outro dia eu mencionei neste blog que Alfred Russel Wallace tinha sido “engabelado” pela camarilha de Down na primazia da teoria da evolução pela seleção natural. Pistas de como Darwin, Lyell e Hooker se articularam “sinistramente” podem ser lidas nas entrelinhas do verbete abaixo:
Alfred Russel Wallace
(Reino Unido, 1823-1913)
No início de 1837, Wallace foi a Londres para viver temporariamente com o irmão John. Enquanto lá esteve, assistiu a palestras no Salão de Ciência e se familiarizou com as idéias socialistas de Robert Owen, bem como com as idéias dos céticos religiosos (seu agnosticismo começou nesse momento e, numa época posterior, o impediu de considerar com seriedade as concepções ortodoxas, primordialmente com conotações religiosas, sobre a formação de novas espécies). No verão seguinte, foi aprendiz de seu irmão William, um topógrafo, com quem trabalhou a maior parte do tempo até meados de dezembro de 1843. [...]
Em 1845, a morte de seu irmão William forçou Wallace a voltar durante um breve período ao trabalho de levantamento topográfico e construção, mas ele continuou a ler, coletar e se corresponder com Bates. Em 1847, sugeriu insolentemente a Bates que transferissem seus esforços de coleta ao continente proibido da América do Sul e ganhassem seus próprios sustentos com a coleta de objetos de história natural. “A Voyage up the River Amazon” [Uma viagem pelo Rio Amazonas] de W. H. Edwards, publicado em 1847, os estimulou a fazer uma jornada à bacia amazônica, que Wallace explorou de 1848 a 1852.
Embora tenha conquistado uma reputação científica por seu excelente trabalho no Amazonas, Wallace perdeu a maior parte de seu material e quase a própria vida quando seu navio pegou fogo e afundou no Atlântico durante a viagem de volta. Depois de seu resgate e chegada à Inglaterra, Wallace decidiu embarcar em outra longa expedição, dessa vez para o Arquipélago Malaio (atualmente Indonésia e Malásia). Durante aquele período de extensa exploração (1854-1862), Wallace formulou o princípio da seleção natural e fez muitas outras descobertas fundamentais em biologia, geologia, geografia, etnografia e outras ciências naturais. [...]
O estímulo imediato para Darwin, contudo, foi um artigo escrito por Wallace intitulado “On the Tendency of Varieties to Depart Indefinitely From the Original Type” [Sobre a Tendência de as Variedades Divergirem Indefinidamente do Tipo Original]. Depois de publicar seu artigo sobre evolução em 1855, Wallace tinha continuado a busca por um mecanismo evolutivo. Muito doente com a malária enquanto esteve na grande ilha de Gilolo [na Indonésia], a cerca de 16 quilômetros de Ternate, ele formulou o princípio da seleção natural, o agora famoso mecanismo de evolução; ao retornar a Ternate, enviou em 9 de março de 1858 um artigo (e uma carta de apresentação) a Darwin expondo sua descoberta há tanto perseguida. As evidências atuais sugerem que a “bomba” chegou à Mansão Down [residência de Darwin] no terceiro (ou quarto) dia de junho de 1858.
Determinados de que seu amigo Darwin deveria receber o reconhecimento de prioridade, Lyell e Hooker decidiram que o artigo de Wallace deveria ser apresentado perante a Sociedade Lineana de Londres juntamente com um excerto de um ensaio de Darwin sobre a seleção natural e uma carta de Darwin a Asa Gray discutindo a divergência (1/7/1858). Comentários introdutórios de Hooker e Lyell enfatizaram que a prioridade da descoberta era de Darwin, e o artigo de Wallace foi apresentado por último. Wallace nem sequer foi consultado sobre essas questões. Ficou sabendo da apresentação somente depois que os artigos já tinham sido publicados em 20 de agosto de 1858. Os textos concentraram-se na seleção natural e na divergência das espécies, e não nos argumentos gerais para a evolução. A “Origem” de Darwin foi publicada em fins de novembro de 1859.
Trecho do verbete escrito por H. Lewis McKinney (Universidade do Kansas, EUA), in
“Dicionário de Biografias Científicas” (publicado pela editora Contraponto, 2.696 págs., R$ 360).
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Quem quiser saber mais detalhes sobre este “imbroglio”, leia o livro “Darwinism: The Refutation of a Myth” por Sören Lovtrup, Londres, Croom Helm, 1987. Lamentavelmente esgotado.
É, quem tem QI [Quem indica] é outra coisa! Rusell não tinha QI, estava muito longe e nada pôde fazer...
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O caderno Mais! da Folha de São Paulo, de 02/12/2007 trouxe um especial intitulado “O bê-á-bá da ciência” sobre a publicação do “Dicionário de Biografias Científicas” pela editora Contraponto. Obra fundamental para historiadores de ciência e outros interessados.