A teoria geral da evolução de Darwin não passa nos testes, mas ainda assim está certa

segunda-feira, dezembro 17, 2007

O conceito do método científico varia de ciência para ciência. Este ‘demarcacionismo’ é exaltado por alguns, e execrado por outros, pois o método científico é trazido por atacado para exaltar o modo científico de pensar em detrimento a outras formas de conhecimento. Especialmente no caso das teorias de longo alcance histórico como a teoria geral da evolução e sua hipótese de ancestralidade comum: não há como submetê-la a testes!!!

Marcelo Gleiser, como é mesmo a história — “Não adianta uma idéia ser ‘bela’ sem passar nos testes”? A hipótese do ancestral comum passaria nesse teste?

JC E-Mail 3412, de 17 de dezembro de 2007

30. Testando a relatividade, artigo de Marcelo Gleiser

Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA) e autor do livro "A Harmonia do Mundo". Artigo publicado na “Folha de SP”:

Quando perguntaram a Einstein se ele estava preocupado com possíveis erros na teoria da relatividade, ele respondeu: "De modo algum. A teoria é bela demais para estar errada".

Isso é que é confiança! Em 1915, Einstein havia sugerido um novo modo de pensar sobre a gravidade que ficou conhecido como teoria da relatividade geral. Ela substituía a idéia prevalecente na época, sugerida por Isaac Newton em 1686, que dizia que a força gravitacional entre dois objetos com massa agia à distância, sem que os objetos se tocassem. Einstein propôs que a gravidade pode ser interpretada como resultado de uma deformação no espaço devido à presença de um objeto com muita massa.

Quanto mais massa tiver o objeto, maior a curvatura que ele causa no espaço. Como quando nos sentamos num colchão; quanto mais pesados somos, mais o colchão se curva em torno do nosso traseiro.

Em física, idéias novas, especialmente as mais radicais, são sujeitas a inúmeros testes. O que diferencia a ciência é justamente essa insistência em que as hipóteses sejam testadas e verificadas em laboratórios ou, no caso da astronomia, por meio de observações com telescópios e outros instrumentos capazes de colher informação do céu.

Não adianta que uma idéia seja "bela" ou extremamente elegante: sem ser verificada, não é aceita pela comunidade científica. Claro, em alguns casos -especialmente quando a tecnologia é insuficiente-, idéias sobrevivem durante muitos anos sem serem testadas. É o caso da teoria das supercordas nos dias de hoje.

No caso da relatividade geral, o próprio Einstein havia proposto três testes. Um era a explicação para anomalias na órbita do planeta Mercúrio que não eram explicadas pela teoria newtoniana.

Outro, que a luz proveniente de estrelas distantes seriam desviadas ao passar na vizinhança do Sol. Isso porque o Sol, com sua massa gigantesca, deforma a geometria do espaço a sua volta, o que cria um efeito mensurável na Terra.

O terceiro teste, mais complicado, dizia que a luz (ou melhor, a radiação eletromagnética) também era afetada pela gravidade: quanto maior a gravidade, menos energia tem a luz. Como a luz vermelha tem menos energia do que a azul, o efeito ficou conhecido como "desvio para o vermelho gravitacional".

Na década de 60, essa previsão da teoria foi testada com sucesso nos EUA. A teoria explicava também a órbita de Mercúrio, e o desvio da luz de estrelas foi verificado em inúmeras oportunidades, inclusive no Brasil em 1919. Mesmo assim, a teoria continua sendo testada.

A insistência em novos testes vem do fato de nenhuma teoria ser perfeita, existindo sempre dentro de limites de validade. A própria teoria da relatividade explica coisas que a teoria de Newton não explica, como os três testes acima. A esperança é que, ao expor a teoria a testes cada vez mais sensíveis, será possível vislumbrar onde ela falha. Essas falhas, por sua vez, apontam para novas teorias, novas idéias sobre a natureza. É sempre bom lembrar que a ciência é uma narrativa que se aprimora constantemente.

Recentemente, a teoria de Einstein foi sujeita a mais um teste: medindo a distância até a Lua com precisão de um centímetro, cientistas refletiram um raio laser num espelho deixado na superfície lunar por astronautas da missão Apollo 11. (Pondere este feito tecnológico). Mais uma vez, as correções propostas por Einstein passaram pelo teste. Com isso, teorias que tentam generalizar as idéias da relatividade ficam cada vez mais restritas.

Mas como nenhuma teoria é perfeita, nem mesmo a relatividade, a busca continua.
(Folha de SP, 16/12)

COMENTÁRIO IMPERTINENTE DESTE BLOGGER:

Como a teoria geral da evolução de Darwin não é assim uma Brastemp de perfeita, a luta continua companheiro, oops, a busca continua. É, mas só os físicos é que têm coragem de abordar suas dificuldades teóricas publicamente. Que venha logo Darwin 3.0, apesar dessa covardia epistêmica.