A Grande Mídia Internacional e Tupiniquim vivem uma relação incestuosa com a Nomenklatura científica quando a questão é Darwin. São portadores em último grau da “síndrome ricuperiana”: o que Darwin tem de bom, a gente mostra; o que Darwin tem de ruim, a gente esconde.
Além disso, eles também sofrem agudamente da “síndrome dos soldadinhos-de-chumbo”: pensamento uniforme — todo mundo pensando a mesma coisa e ninguém pensando em nada. Isso é fatal para o avanço da ciência, especialmente a biologia.
Eu não sabia, mas agora fiquei sabendo: a Grande Mídia Internacional e Tupiniquim agora mostra o “complexo de perseguição” que os portadores da verdade única sobre a origem e evolução da vida vêm heroicamente sofrendo nas mãos dos criacionistas fundamentalistas e da turma perversa do Design Inteligente. A notícia abaixo é uma prova disso.
O bom jornalismo ensina “ouvir o outro lado”, mas hoje a mídia não usa mais isso. “Ouvir o outro lado? Isso não te pertence mais!!!”. Por não se pautar por seus manuais de edição, especialmente em relação aos oponentes e críticos de Darwin, a Grande Mídia Tupiniquim é encontrada em flagrante descompasso com a verdade [Obrigado, Walter Ceneviva, Folha de São Paulo, por esta pérola!]!
Alguém viu o caso de Richard Sternberg, editor de uma publicação científica do Smithsonian Institute foi demitido após publicar um artigo com revisão por pares [peer-review é mais chique] ser noticiado aqui no Brasil?
Você já ouviu falar de Guillermo Gonzalez, renomado astrônomo, que teve a estabilidade de emprego negada como professor de astronomia na Iowa State University por defender teses do Design Inteligente, mas nunca as ensinou naquela universidade?
Maiores informações sobre esses casos aqui, aqui e aqui.
Eu poderia citar outros casos de “perseguição” ao discurso hoje considerado heterodoxo na maior democracia do mundo, os Estados Unidos, mas a Grande Mídia Tupiniquim ficou muda sobre esses casos. Agora vem dar destaque ao caso de Christine Comer como se ela tivesse sido demitida por “favorecer o ensino da evolução”?
Nada mais patentemente falso: a Grande Mídia Internacional e Tupiniquim quiseram fazer de Christine Comer a Joana d’Arc de Darwin do século 21, mas ela foi demitida simplesmente por razões administrativas.
JC E-Mail 3407, de 10 de dezembro de 2007
45. Ensino da evolução termina em demissão nos EUA
“Estou sendo demitida por causa da teoria da evolução?”
Ralph Blumenthal escreve para o “New York Times”:
Depois de 27 anos como professora de ciências e de nove anos como diretora de ciências na Agência de Educação do Texas, Christine Castillo Comer disse que não acreditava que tivesse de se manter "neutra" quanto ao ensino da teoria da evolução. "Não é apenas uma boa idéia; é a lei", disse Christine, mencionando o currículo de ciências do Estado.
Mas ela terminou por perder o emprego, depois de encaminhar a algumas pessoas uma mensagem de email sobre uma palestra quanto à evolução e o chamado criacionismo - "um assunto sobre o qual a agência deve permanecer neutra", de acordo com a carta de demissão que ela recebeu no mês passado, acusando-a de diversos casos de "insubordinação" e "delitos de conduta" e de se opor ao criacionismo, a doutrina de acordo com a qual a vida surgiu de um "criador inteligente".
A decisão, que causou incômodo aos profissionais de ciências desde que foi divulgada, na semana passada, é um prelúdio para a batalha esperada no começo do ano que vem quanto à reforma dos padrões estaduais de educação científica, entre os quais o ensino da teoria da evolução. Debbie Ratcliffe, porta-voz da agência estadual de educação, em Austin, disse que Christine "se demitiu. Ela não foi demitida".
"Nosso trabalho", disse Radcliffe, "é impor as leis e regulamentados aprovados pelo Legislativo e pelo conselho de educação estadual, e não defender nossas opiniões e crenças pessoais".
Christine contestou essa descrição do caso, em diversas entrevistas, seus primeiros comentários mais extensos sobre a situação. Ela reconheceu ter encaminhado a um fórum científico local um email do Centro Nacional de Educação Científica sobre uma palestra, em Austin, de Barbara Forrest, professora de filosofia na Universidade do Sudeste da Louisiana, sobre "o cavalo de tróia do criacionismo". Forrest serviu como testemunha especializada em um caso judicial decidido em 2005, que terminou com a proibição do ensino da teoria da criação inteligente nas escolas de Dover, Pensilvânia.
"Não sei de que maneira se pode afirmar que assumi uma posição ao encaminhar um convite para uma palestra, da mesma forma que encaminharia um aviso sobre aquecimento global ou pesquisas de células-tronco", ela afirma. "Eu envio toda espécie de mensagem e nunca fui acusada de endossar o conteúdo que elas portam".
Mas Christine declarou que, como profissional do ensino de ciências, ela "defende a boa ciência", e, no que tange ao ensino da teoria da evolução, "não creio que seja preciso muito esforço de imaginação para saber minha posição".
Christine disse que os funcionários do departamento estadual de educação parecem incertos, recentemente, quanto ao currículo obrigatório quanto à evolução. Seu trabalho sempre envolveu responder a dúvidas sobre o ensino da teoria da evolução, disse a educadora, que acrescenta sempre ter respondido que o conselho estadual de educação apóia o ensino da teoria da evolução nas escolas texanas.
Mas alguns meses atrás, em resposta a uma carta, Christine disse que foi instruída a remover sua formulação habitual quanto ao apoio do conselho ao ensino da evolução, e a citar textualmente, em lugar disso, a linguagem exata dos padrões escolares de biologia, tais como formulados para o teste geral de conhecimento educacional do Estado.
O padrão afirma que "o estudante conhece a teoria da evolução biológica", e deve "identificar provas de mudança em espécies usando fósseis, seqüências de DNA, similaridades anatômicas e fisiológicas, e embriologia", bem como "ilustrar resultados da seleção natural na especiação, diversidade, filogenia, adaptação, comportamento e extinção".
Os padrões adotados em 1998 devem passar por revisão decenal e possível reformulação no ano que vem, depois que o conselho estadual de educação, um órgão eletivo formado por 15 pessoas, começar sua sessão anual, em fevereiro. A possível reforma terá implicações sérias para o setor de livros didáticos que movimenta bilhões de dólares anuais nos Estados Unidos. O presidente do conselho, Don McLeroy, dentista e professor de religião em uma escola dominical em College Station, já fez palestras defendendo a teoria da criação inteligente.
Ratcliffe, a porta-voz da agência de educação, disse que McLeroy não esteve envolvido na demissão de Christine. Christine afirma que, pouco mais de uma hora depois de encaminhar a terceiros o e-mail enviado sobre a palestra de Forrester, ela foi chamada à sala de Lizzette Reynolds, comissária assistente de política educacional, que havia visto a mensagem e a considerava como "delito passível de demissão". Christine diz que não faz idéia de como Reynolds, que trabalhou no setor federal de educação e foi assessora de George W. Bush quando este foi governador do Texas, recebeu tão rápido a mensagem, e se lembra de ter pensando "o que é isso, a polícia do pensamento?"
Pressionada, diz Christine, ela enviou uma retratação, pedindo que os destinatários desconsiderassem sua mensagem anterior. Mas Christine, divorciada, mãe de uma filha e filho adultos e responsável pelo sustento de um pai adoecido, teve de deixar o emprego, que lhe rendia US$ 60 mil ao ano. Ela apresentou sua demissão em 7 de novembro. Nem Christine nem a agência haviam comentado o caso antes que o jornal Austin American - Statesman obtivesse uma cópia dos documentos, na semana passada.
Christine disse que Tom Shindell, diretor de desenvolvimento organizacional, a havia informado que devia se demitir ou seria demitida por uma série de apresentação não autorizadas em reuniões profissionais, e outras transgressões. Christine conta que perguntou: "Tom, estou sendo demitida por causa da teoria da evolução?"
(The New York Times)
(Portal Terra, 4/12)