A imagem do cientista no imaginário coletivo é a de um mortal acima de todos os mortais, frio, objetivo, e o único portador da verdade da descrição da realidade. Nada mais falso. O cientista é humano, e como todo ser humano sujeito a paixões, e até de preferências ideológicas que interferem na sua descrição das evidências encontradas na natureza. Lembre-se de Dobzhansky no Brasil: “As evidências, ora que se danem as evidências. O que vale é a teoria”
NOTA DESTE BLOGGER: Não estou aqui desconsiderando a grande contribuição que Dobzhansky deu ao avanço da ciência no Brasil e na USP, mas cientistas brasileiros que trabalharam com Dobzhansky há quase meio século ainda são reticentes sobre esta e outras afirmações dobzhanskyanas, bem como de sua participação e dos verdadeiros resultados das pesquisas. Por quê? Sabotaram as pesquisas de Dobzhansky no Brasil? Ou as evidências encontradas pelos colegas brasileiros não corroboraram o enunciado teórico evolutivo anunciado e esperado por Dobzhansky?
Os pesquisadores interessados neste episódio — não se esqueçam: quem patrocinou Dobzhansky no Brasil e na América Latina foi a Rockfeller Foundation — vão ter que esperar que estes cientistas brasileiros morram para poderem abrir finalmente este baú da História da Ciência. Havia outros interesses “não científicos” da Fundação Rockfeller por trás da presença de Dobzhansky na América Latina???
Contudo, e felizmente, na ciência há meios de se apontar e corrigir a influência de vieses/subjetividades nos relatórios, pesquisas e artigos científicos. Uma navalha de Occam [instrumento muito mal utilizado pela galera de meninos e meninas de Darwin] mais contextualizada, atualizada e eficaz.
Interessante este pequeno texto do meu amigo David J. Tyler sobre a promoção da percepção de preconceitos pessoais no fazer ciência normal.
Um exercício para documentar a “incerteza conceitual” na interpretação de imagens sísmicas está merecendo discussão mais ampla. Poucos leitores deste blog saberão alguma coisa sobre seções sísmicas, mas a pesquisa reportada aborda princípios que são relevantes para todos nós.
Dados sísmicos podem ser usados para fornecerem modelos tridimensionais de rochas e estruturas geológicas abaixo do solo. A imagem sísmica é uma ferramenta padrão de geólogos petrolíferos, mas muitos outros geocientistas acham a técnica inapreciável. Há uma limitação importante:
“Todas as séries de dados geológicos são limitados espacialmente e têm resoluções limitadas. Os geocientistas que interpretam tais dados devem, portanto, confiar em sua prévia experiência e aplicar uma série de conceitos geológicos limitados.”
Os pesquisadores partiram para o entendimento maior sobre os fatores humanos envolvidos no processo de interpretação. Leitores geologicamente alertas podem consultar a pesquisa original e ler sobre as descobertas e a sua significância. Nós focalizaremos em questões mais genéricas levantadas na seção de discussão.
Três fontes principais de vieses/preconceitos foram identificadas nos participantes (todos eram geocientistas com alguma especialização em seções sísmicas, mas com tempos variantes de experiência). Deve ser enfatizado que o “viés/preconceito” não tem conotações de comportamento não-professional ou prática aética. Ela se relaciona com as influenciais identificáveis de julgamento humano.
As três categorias são as seguintes:
1. O viés/preconceito da disponibilidade. Isto se refere às recentes experiências feitas pelos sujeitos [pesquisadores] que tendem a empregar modelos que têm aplicação contemporânea no seu pensamento.
2. O viés/preconceito da ancoragem. Os sujeitos [pesquisadores] foram relutantes em se afastarem de uma formulação inicial do problema onde as opiniões dos especialistas forneciam contextualização e reafirmação.
3. O viés/preconceito da confirmação. Este “envolve procurar ativamente opiniões e fatos que apóiem as crenças ou as hipóteses de alguém” (isto é, o reverso da busca da falsificação).
Estes três tipos de vieses/preconceitos não são de todo raros. “Exemplos de viés/preconceito baseado no ambiente especialista tectônico dominante podem ser encontrados em todos os níveis de experiência. Os indivíduos participantes com mais de 15 anos de experiência curiosamente mostram evidência dos vieses/preconceitos da disponibilidade e da ancoragem do mesmo modo que os estudantes fazem.” “Muitos” participantes foram considerados como exibindo o viés/preconceito da confirmação.
Por que isso é relevante? É porque estes geocientistas são representantes da comunidade científica como um todo, onde quer que o juízo e interpretação humanas estiverem envolvidas no seu trabalho. Muitas das questões ventiladas neste blog se relacionam com modelos biológicos populares (reducionismo genético, ancestral comum, darwinismo, etc.) que envolvem a interpretação de dados, e que podem ser influenciados devido ao viés/preconceito da disponibilidade. A influência dos formadores de opiniões vai muito além do conteúdo de suas palavras. Este é o viés/preconceito da ancoragem. E a tendência de se buscar apoio das opiniões pessoais de alguém (em vez de desafiá-las) é ampla (talvez exemplificada do modo como os darwinistas se deleitam no contar de estórias imaginárias). NOTA IMPERTINENTE DESTE BLOGGER: é o que eu chamo aqui de “síndrome-do-soldadinho-de-chumbo” — todo mundo pensando a mesma coisa, e ninguém pensando em nada!
Este é o viés/preconceito da confirmação.
Há muita “incerteza conceitual” em todas as matérias relativas às origens. Seria saudável se alguns pesquisadores fizessem para a comunidade biológica o que a equipe de modelagem sísmica fez para a geociência.
What do you think this is? “Conceptual uncertainty” in geoscience interpretation C.E. Bond, A.D. Gibbs, Z.K. Shipton, S. Jones GSA Today, 17(11), (November 2007), 4-10 | DOI: 10.1130/GSAT01711A.1
PDF de 4.72MB aqui.
Interpretations of seismic images are used to analyze sub-surface geology and form the basis for many exploration and extraction decisions, but the uncertainty that arises from human bias in seismic data interpretation has not previously been quantified. [...] We have documented the range of interpretations to a single data set, and in doquantified the “conceptual uncertainty” inherent in seismic interpretation. In this experiment, 412 interpretations of a synthetic seismic image were analyzed. Only 21% of the participants interpreted the “correct” tectonic setting of the original model, and only 23% highlighted the three main fault strands in the image. [...] [O]ur results demonstrate that conceptual uncertainty has a critical influence on resource exploration and other areas of geoscience. Practices should be developed to minimize the effects of conceptual uncertainty, and it should be accounted for in risk analysis.
Fui, pensando: e se esta abordagem fosse aplicada rigorosamente ao fato, Fato, FATO da teoria geral da evolução? Nós teríamos mais ciência e menos subjetividades ideológicas posando como ciência na Nomenklatura científica e na Grande Mídia Tupiniquim, para o desespero escatológico da galera dos meninos e meninas de Darwin que, de uma vez por todas, ficaria ciente de que é epistemicamente órfã. Que venha logo Darwin 3.0.
Não se esqueçam: a teoria geral da evolução é um teoria de longo alcance histórico!!!