JC E-Mail 3400, de 29 de novembro de 2007
3. Reunião Regional do Vale do São Francisco: O que Darwin viu no Brasil?
Segundo Ildeu de Castro Moreira, Darwin e muitos outros observaram a fauna e flora brasileiras e aprenderam muito com os nativos brasileiros e sul-americanos em geral sobre o assunto
O físico, professor da UFRJ e diretor do Depto. de Difusão e Popularização da Ciência do MCT, Ildeu de Castro Moreira, traçou uma panorama da ciência do século 19, mostrando diversas informações da viagem feita por Charles Robert Darwin, de 1832 até 1837, a bordo o navio Beagle e também que ele, e outros naturalistas, utilizaram muito dos conhecimentos tradicionais para realizarem suas descobertas e teorias.
Ildeu mostrou passo a passo a viagem do cientista britânico em terras brasileiras. Darwin chegou em 20 de fevereiro de 1832 a Fernando de Noronha; depois eles vão a Salvador (28 de fevereiro), Abrolhos (29 de março), Rio de Janeiro (4 de abril), e partem para Montevidéu em 5 de julho. Depois, em agosto de 1836, o Beagle retorna ao Brasil e pára mais cinco dias em Salvador e mais cinco em Recife.
Vendedoras de aluá, de manuê e de sonhos no Rio de Janeiro, por volta de 1830, em estampa de Jean Baptiste Debret
Segundo ele, tanto no Brasil como em outros países da América do Sul, como a Argentina, Darwin estudou uma rica variedade de características geológicas, fósseis, organismos vivos e coletou um enorme número de espécimes, muitos deles novos para a ciência. Porém, diz Ildeu, Darwin e outros cientistas sempre tiveram a ajuda das populações locais. “Não quero diminuir o papel importantíssimo que tiveram os naturalistas do século XIX, mas ninguém é gênio isolado. O conhecimento local dos nativos foi importante, o conhecimento é uma construção coletiva”, disse.
Para defender essa idéia, que segundo ele não é tão bem aceita por diversos historiadores, ele cita uma passagem do diário de viagem de Darwin, em que o cientista diz que um menino que o acompanhou numa expedição no RJ tinha tamanha facilidade em encontrar os animais que mesmo se ele, Darwin, tivesse a ajuda de algum animal traidor ele não teria tanto sucesso quanto o menino.
O co-descobridor da Teoria da Evolução e muitas vezes diminuído em sua importância história, Alfred Russel Wallace, que passou quatro anos na Amazônia, diz Ildeu, também cita em suas anotações, pelo nome, mais de 130 pessoas que o ajudaram aqui. “Ele também diz que ao chegar não conseguia distinguir a diferença entre as palmeiras da Amazônia, mas que os seus guias distinguiam cada uma. Ele diz que depois de quatro anos estava quase tão bom como os nativos”.
[NOTA IMPERTINENTE DESTE BLOGGER: Há fortes suspeitas de plágio das idéias de Wallace rondando Darwin, um episódio sombrio até hoje mal abordado e mal explicado pela historiografia “mainstream”. Darwin, Lyell e Hooker levaram para o túmulo a artimanha que fizeram para garantir a “primazia” da descoberta da Teoria da Evolução para Darwin. Wallace, não tinha QI (Quem Indica). Um dia desses eu conto sobre esta insidiosa “armação” da Camarilha de Down. Huxley ficou de fora. Por quê?].
Wallace diz também em seu diário de viagem que “durante minha estada na região Amazônica, aproveitei cada oportunidade para determinar os limites de espécies, e logo descobri que o Amazonas, o Rio Negro e o Madeira formam limites além dos quais certas espécies nunca passam. Os caçadores nativos estão perfeitamente a par deste fato, e sempre cruzam o rio quando desejam procurar animais particulares que são achados já na margem do outro lado do rio, mas nunca do lado anterior. Aproximando-nos das cabeceiras dos rios eles cessam de ser uma fronteira, e a maioria das espécies são achadas em ambos os lados”.
Ele também cita um guia, em especial: “O velho guia [Isidoro] (...) labutara outrora na floresta, estando a par não só dos nomes de todas as árvores, como também de suas propriedades e empregos. Era um homem de temperamento quase taciturno, exceto quando se irritava com nossa incrível incapacidade de compreender suas explicações. (...) O fato é que ele realmente gostava de exibir seus conhecimentos sobre assuntos acerca dos quais ainda nos encontrávamos no estágio da mais completa ignorância, mas cuja aprendizagem queríamos efetivamente alcançar. Seu método de ensino constava de uma série de rápidas observações sobre as árvores à medida que íamos passando por elas.”
Outra declaração, retirada do livro "Reise in Brasilien”, de 1983, de Spix e Martius, ajuda na tese de Ildeu: “Eles podem distinguir as partes externas e internas do corpo e os diferentes animais e plantas com grande precisão e, não raro, indicam as relações das coisas da natureza umas com as outras. Assim, por exemplo, a denominação indígena de vários macacos e de certas palmeiras foram para nós um guia na investigação de espécies, porque quase cada espécie tem seu nome indígena."
O físico e historiador da ciência também cita que era muito comum na época quadros, como os de Debret, que mostravam cientistas acompanhados de escravos ou nativos em suas pesquisas. Um deles, chamado “Os escravos do naturalista”, mostra escravos caçando borboletas, levando pássaros e outros animais.
Em outro, hilário, chamado “Bates captura um jacaré na Amazônia”, a pintura mostra o cientista fora da água e uns dez índios tentando pegar o jacaré. Ildeu brinca: “Não fui eu quem deu o nome desse quadro, mas dá pra perceber que os nativos tinham bastante importância nas expedições na floresta”.
(Luís Henrique Amorim)