O “konsenso” da Nomenklatura científica, ou “me engana que eu gosto”!

sexta-feira, novembro 02, 2007

Qualquer semelhança com o modus operandi da Nomenklatura científica atual em relação a vozes dissidentes descrito aqui neste artigo de meu amigo David J. Tyler, não é mero acaso não, é fato, Fato, FATO!!! Que a Grande Mídia Tupiniquim tome coragem, e ouse um pouco mais em questionar as vacas sagradas da ciência moderna internacional e de Pindorama.

O Eozoön e a construção da credibilidade científica

por David J. Tyler

Logo após Darwin publicar o livro Origem das Espécies, uma afirmação foi feita por dois geólogos canadenses de que tinham descoberto os primeiros sinais de vida na Terra: Eozoon canadense ou o “O aparecimento animal do Canadá”. Eles anunciaram a descoberta numa reunião da Sociedade Britânica para o Avanço da Ciência em 1864. O presidente da SBAC, Sir Charles Lyell, referiu-se ao Eozoon como “uma das maiores descobertas geológicas do seu tempo”.

Os dois canadenses e o “principal aliado deles baseado em Londres, William Benjamin Carpenter, buscaram o apoio de uma comunidade da elite de geólogos para apresentação a sociedades científicas e a publicação de artigos em publicações científicas de prestigio.” Assim, por exemplo, o artigo de Carpenter apareceu nos Proceedings [Anais] da Royal Society em 1864. Charles Darwin deu as boas-vindas à descoberta, e mencionou na 4ª. edição do Origem das Espécies em 1866. Ele escreveu: “Após ler a descrição do Dr. Carpenter deste fóssil extraordinário, é impossível sentir qualquer dúvida concernente à sua natureza orgânica.”

O problema para Darwin era que os fósseis mais antigos conhecidos eram complexos, e a sua teoria exigia algo muito mais simples para preceder as formas da Explosão Cambriana. Foi um alívio quando o Eozoon apareceu fornecendo evidência apoiando o gradualismo.

Na 6ª. edição, Darwin modificou a leitura do texto: “A existência do Eozoon na formação Laurenciana do Canadá é geralmente admitida”. Isso talvez reconheça que havia algumas vozes dissidentes: o Professor William King (um geólogo) e Thomas Rowney (um químico) no Queen's College, Galway. As características da controvérsia que se sucedeu é assunto de um artigo interessante de [Juliana] Adelman.

Ela destaca que os geólogos canadenses adotaram um modelo de comunicação de “difusão”: “os fatos científicos foram confirmados dentro da comunidade científica, e depois apresentados para o público.” Londres foi o foco da atenção deles porque os formadores de opinião estão ali localizados. “Os ‘Eozoonistas’ perceberam que a credibilidade do fóssil esta estabelecida assim que os líderes da comunidade científica em Londres o aceitaram.” Os dissidentes, contudo, escolheram não fazer parte desse jogo.

“King e Rowney, por contraste, não aceitaram o prestígio dos Eozoonistas tinha alguma importância na credibilidade da descoberta. Em vez de procurarem o apoio das elites científicas, eles buscaram o máximo de publicidade para suas afirmações de que o Eozoon não era um fóssil através de uma carta sensacional num jornal popular.”

Os personagens do establishment científico, que endossaram a autenticidade do Eozoon, não gostaram do modo como que a dissensão tinha sido tomada − fora do controle deles. Eles lançaram dúvidas sobre a competência dos dissidentes para contribuir na discussão sobre os fósseis.

“Carpenter respondeu ostentando seu desprezo por King, afirmando que ele aguardava, não a prova de natureza inorgânica do Eozoon, mas a ‘prova de sua competência para avaliar o valor da evidência deste ramos de pesquisa científica’. Segundo Carpenter, os poderes de observação de King eram tão pobres que ele o classificou ‘na mesma categoria com aquelas pessoas sagazes que ainda mantém que os utensílios de sílex tinham sido formados por uma sucessão fortuita de ventos acidentais, e não por obra manual humana’. Além disso, ele não levou Rowney em conta afirmando que um químico não poderia afirmar qualquer autoridade no assunto de fósseis.”

Havia também uma agenda ‘provinciana vs. urbana’. Adelman documenta assim um estudo de caso instrutivo, dando insight nas lutas de poder dentro da ciência, e a maneira como os líderes da ciência têm procurado para estabelecerem sua autoridade dentro da comunidade da ciência, e com o público em geral.

“A maneira como a controvérsia do Eozoon foi conduzida mostra que as tensões atuais entre os cientistas, a mídia, e o público, não são novidades.”

Caso seja necessário dizer, o Eozoon não era um fóssil, e os dissidentes estavam corretos em desafiar o consenso. Há claramente paralelos hoje em dia: o papel das elites científicas, o status de revisão por pares, os protocolos exigidos para serem aceitos como membros da comunidade científica, o modo como questões debatidas podem ser apresentadas como fato para o público, o desdém demonstrado aos dissidentes, a ação de lobby dos editores restringindo o acesso dos críticos do Establishment, e a exploração de modos alternativos de comunicar pontos de vistas minoritários para os pares e o público.

Esta é a própria face humana da ciência. Nós estamos vendo essas características hoje em numerosas áreas onde os cientistas têm chegado a conclusões diferentes. Não há prêmios pela identificação de pelo menos um exemplo!

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Eozoön: debunking the dawn animal
Juliana Adelman
Endeavour, Volume 31, Issue 3, September 2007, Pages 94-98 |
doi:10.1016/j.endeavour.2007.07.002

Abstract: Discovered in the nineteenth century by the Canadian Geological Survey, the Eozoön canadense fossil, or ‘dawn animal of Canada’, created a sensation in the geological community. Only a few initially challenged its status as a fossil organism, including two professors in the remote Irish town of Galway. These men claimed that Eozoön was nothing more than a mineral formation and did not represent the discovery of the primordial organism. Supporters of Eozoön closed ranks and a heated debate soon broke out in a range of periodicals. The story of Eozoön lays bare the construction of scientific credibility, a process that was threatened in the second half of the nineteenth century by the proliferation of popular science.