Cruzada de ateus evangélicos contra as religiões ‘perniciosas’
Por: Logan Gage
The Examiner
17 de novembro de 2006
WASHINGTON – Quando a questão é ciência e Deus, os americanos querem tudo – “MRIs e milagres” de acordo com a revista Time desta semana. De forma crescente, contudo, os evangélicos estão se postando no caminho. Mas estes religiosos podem não ser quem você está pensando.
Richard Dawkins, darwinista da Universidade Oxford e autor best-seller de “The God Delusion” [A ilusão de Deus, a ser lançado pela Companhia das Letras daqui a 10 meses] diz que não você não pode ter tudo. A religião é perniciosa e sobrevive somente porque ela tem um valor direto ou indireto de sobrevivência darwiniano. A fé é amplamente um efeito colateral da confiança que nós aprendemos quando jovens. Mas para nós felizmente, de acordo com Dawkins, “Darwin tornou possível ser um ateu intelectualmente realizado”.
O filósofo ateu Daniel Dennett, autor do livro recente “Breaking the Spell: Religion as a Natural Phenomenon”, [Quebrando o encanto: a religião como um fenômeno natural] há muito afirmou que o darwinismo é um “ácido universal” que corrói todos as noções tradicionais de Deus e da moralidade. Para Dennett, a religião sobrevive porque os nossos cérebros evoluíram, apesar de irracionalmente, de se apaixonar, o que, é claro, tem vantagens reprodutivas.
E numa edição recente da Newsweek, o neurocientista ateu Sam Harris, autor do livro “The End of Faith” [Fim da fé] e mais recentemente “Letter to a Christian Nation” [Carta à uma nação cristã] apresenta o seu “Caso contra a Fé”. E onde que ele começa? No começo, é claro, debochando do fiel ao sugerir que Deus tem algo a ver com a natureza.
O que está acontecendo? É tudo o fervor do ano de eleições contra a direita religiosa? Eu sugiro outra explicação. Uma revolução silenciosa está a caminho; e não receberá publicidade.
Já faz mais de 80 anos desde que Hubble observou evidência para o Big Bang, desafiando o conhecimento convencional entre os cientistas de que o universo era eterno. Como o físico teórico Stephen Hawking comentou, “Quase todo mundo agora o universo, o próprio tempo, têm um começo no Big Bang”.
Quatro décadas atrás, os cientistas começaram a reparar no “ajuste fino” das leis da física, revelando assim as vastas probabilidades contra um universo que sustentasse a vida. Como somente um exemplo, se a gravidade fosse uma parte em 100 bilhões maior ou menor, a vida não seria possível. O nosso universo teria continuado a se expandir sem formar as galáxias, ou a matéria em nosso universo teria ficado aglomerada sem formar estrelas e planetas.
E já se vão 10 anos desde que o livro “A Caixa Preta de Darwin” [Rio de Janeiro, Zahar, 1997] de Michael Behe despertou primeiro um mundo adormecido para a “complexidade irredutível” de muitos sistemas moleculares, demonstrando que um processo gradual darwiniano não poderia ter produzido-os e que, em vez disso, uma intenção inicial inteligente era necessária.
Nós estamos em meio não de uma, mas de duas revoluções de informação. Na última metade do século XX, os cientistas registraram grandes quantidades de informação genética bem como um sistema intrincado para gravar, copiar e editar esta informação, fazendo com que Bill Gates comentasse que “o DNA é como um programa de computador, mas muito, muito mais avançado do que qualquer software que já foi criado”. A célula é muito mais daquilo que os cientistas do tempo de Darwin pensaram fosse algo como um simples pedaço de gelatina.
Alguns intelectuais estão reparando nisso. Provavelmente o filósofo ateu mais citado na última metade do século XX é Antony Flew. Na Universidade Oxford, Flew debateu no Clube Socrático de C. S. Lewis. Mas, caso você tenha perdido, devido à evidência científica crescente, Flew se tornou um teísta. “Eu acho que o argumento do design inteligente é muito mais forte do que era quando eu o encontrei pela primeira vez”, disse Flew numa entrevista. [1]
Ele insiste que não acredita no céu, inferno ou no Deus da Bíblia, mas que agora ele vê a origem da vida como uma forte evidência para o design inteligente, comentando que “as descobertas de mais de 50 anos de pesquisa de DNA têm fornecido materiais para um novo e poderoso argumento de design".
Livros sobre ateísmo costumavam citar Flew abundantemente e com autoridade. Agora não o citam mais, embora Dawkins mencione com zombaria a conversão de Flew “na sua idade senil”.
Assim como nós temos confiança de que os buracos negros existem, não por observação direta, mas por causa do movimento de corpos em torno da área escura, assim também, alguém pode ter certeza de que uma revolução intelectual está a caminho quando nós encontramos amiúde na lista de livros best-seller do jornal The New York Times por ateus evangélicos como Richard Dawkins.
Certamente esses autores estão reagindo a algo. Esse algo é a poderosa evidência científica desafiando a cosmovisão deles. O jornal The New York Times acertou: “Este debate precede a Darwin, mas a posição anti-religiosa está sendo promovida com crescente insistência por cientistas irritados com o design inteligente”.
Logan Paul Gage é analista político do Discovery Institute em Washington.
[1] Dezembro de 2004. Na minha correspondência com as editorias da Grande Mídia Tupiniquim, especialmente a Folha de São Paulo reclamei de que nenhum deles veiculou uma linha sequer sobre o que tinha acontecido com Antony Flew. Desculpa esfarrapada apresentada - o autor é desconhecido do público brasileiro e não merecia destaque. Mal sabiam que eu estava falando do ateu mais conhecido depois de Bertrand Russell, e autor de vários livros e artigo na Enciclopédia de Filosofia.
Mas o que eu poderia esperar de uma Grande Mídia controlada por ateus e agnósticos???