A cruzada beligerante e mórbida dos ateus contra os de concepções religiosas – Parte 1/2

terça-feira, novembro 28, 2006

Entendo a ciência qua ciência como um empreendimento humano que descreve a realidade de modo aproximado e que suas teorias, por serem construtos humanos, estão sujeitas à revisão, aprimoramento e descarte fundamentado pelas evidências. A ciência é seguir as evidências aonde elas forem dar.

Como Deus não é objeto passível de demonstração em ciência, não consigo entender esse ódio mórbido de ateus como Dawkins (alguém pode me citar qual foi o último trabalho científico desse indivíduo pernóstico???) , Dennett et caterva contra Deus e os crentes. Dizem que Dawkins foi violentado sexualmente na infância por um cura anglicano. Talvez isso explique o seu ódio contra Deus e os crentes.

Este blog é voltado exclusivamente para assuntos científicos, mas não vou deixar de defender aqui os de concepções religiosas exercerem o seu direito de acreditar em Deus e de os ateus não acreditarem, mas publico aqui o que foi veiculado nos jornais Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo de 27/11/2006. Os links são do JC E-Mail, um jornal eletrônico da SBPC voltado exclusivamente para assuntos científicos e tecnológicos.

Depois eu vou postar um artigo de um amigo nos Estados Unidos – Logan Gage sobre a razão da cruzada desses ‘ateus evangelistas’ peripatéticos .

Aos de concepções religiosas essas solenes perguntas – Quem lhes roubou a coragem de exercerem a sua plena cidadania? Quem lhes remeteu para suas catacumbas e guetos eclesiásticos deixando de participar na ‘pólis’? Quem é Dawkins? Quem é Dennett? Meros mortais como vocês, com direitos e deveres iguais numa sociedade plural. Não se intimidem com esses ateus. Eu já fui um deles. Eles são verdadeiros ‘tigres de papel’! Resistam-nos à la Gandhi e à la Rosa Parks. Exerçam sua cidadania e invoquem a nossa Constituição.

JC e-mail 3150, de 27 de Novembro de 2006.
Cientista cria fundação para combater Deus na escola

A singular fundação também fará suas próprias pesquisas sobre o que torna algumas pessoas mais suscetíveis que outras a idéias religiosas

Sarah Cassidy escreve para “Independent"

Richard Dawkins, geneticista de Oxford, autor de best-sellers e ateísta militante, está para levar sua batalha contra Deus para as escolas, ao criar uma fundação para combater a doutrinação religiosa dos jovens.

A Fundação Richard Dawkins para a Ciência e a Razão mandará livros subsidiados, panfletos e DVDs para as escolas britânicas, a fim de lutar contra o "escândalo educacional" visto naquele país com o crescimento da popularidade das "pseudociências" e das "idéias irracionais".

A singular fundação também fará suas próprias pesquisas sobre o que torna algumas pessoas mais suscetíveis que outras a idéias religiosas.

E tentará "despertar a consciência do público" para tornar inaceitável se referir a uma "criança católica" ou a uma "criança muçulmana". Dawkins acredita que "é imoral marcar crianças pequenas com a religião de seus pais".

O movimento vem na esteira da batalha entre grupos seculares e religiosos sobre o papel da religião na vida pública. Alguns grupos de crentes também intensificaram suas campanhas.

A Verdade na Ciência, grupo cristão que faz campanha para que o "design inteligente" -ideologia segundo a qual a vida foi criada por um ser consciente e não pela seleção natural- seja incluído nas aulas de ciências, recentemente mandou DVDs e outros materiais para todas as escolas secundárias do Reino Unido.

Dawkins lançou neste ano o livro "The God Delusion" ("A Delusão Divina"), que se tornou best-seller.

"Eu sou um desses cientistas que acham que não basta mais só fazer ciência", disse.

"Temos de dedicar uma proporção cada vez maior de tempo e recursos para defendê-la do ataque deliberado. Da ignorância organizada”.
(Independent)
(Folha de SP, 27/11)

JC e-mail 3150, de 27 de Novembro de 2006.
Entre Deus e o compasso, artigo de Sergio Augusto

A guerra entre ciência e religião ganha novos contornos. E saem feridos os que acreditam na tal inteligência superior

Sérgio Augusto é articulista de “O Estado de SP”, onde publicou este texto:

A mais antiga de todas as guerras – e a única, aparentemente, sem vencedor à vista – voltou com peso ao noticiário nas últimas semanas. De um lado, a ciência; do outro, a religião.

Suas novas escaramuças produziram mais feridos, se assim podemos chamá-los, entre os que acreditam que o universo foi criado por uma inteligência superior (Deus, em suma).

Noves fora Garotinho, a direita cristã levou uma surra nas recentes eleições americanas; o movimento criacionista recolheu-se à sua insignificância; vem crescendo a quantidade de filmes, canais a cabo, programas e até videogames de cunho científico;

a grande imprensa passou a dar destaque aos mais ímpios cientistas da atualidade (Richard Dawkins, Daniel Dennett e Sam Harris); firme, na lista dos best sellers, The God Delusion, de Dawkins, prossegue sua implacável blitzkrieg contra os crentes de todos os altares e quadrantes.

Nessa guerra, que remonta aos tempos de São Tomás de Aquino e, só na década de 1920, promoveu duas batalhas históricas (o Processo Macaco, contra um professor do Tennessee que ensinava a teoria evolucionista de Darwin, e a reação ao ensaio “Por que Não Sou um Cristão”, publicado por Bertrand Russell em 1927), os confrontos mais estimulantes e menos “sangrentos” são exatamente aqueles cujos combatentes têm intimidade com genes, moléculas, equações e quasars.

Tivemos um, dos bons, no início do mês: o fórum “Além da Fé: Ciência, Religião, Razão e Sobrevivência”.

Poderia ter sido, mas não foi, em Oxford, tida como a “Jerusalém da razão”, onde Dawkins ensina e mora, Robert Boyle formulou sua lei sobre os gases, Robert Hooke usou pela primeira vez um microscópio para examinar uma célula viva, e de onde, há 200 anos, Percy Bysshe Shelley foi expulso por ser ateu (hoje, a universidade exibe, orgulhosa, uma estátua do poeta, nu em pelo).

O Instituto Salk para Estudos Biológicos, em La Jolla (Califórnia), hospedeiro do fórum, não pode ser considerado campo neutro, até porque isso talvez não exista mais.

Patrocinado pela Science Network, organização educacional bancada por um agnóstico ricaço de San Diego, Robert Zeps, o simpósio reuniu a nata da comunidade científica de fala inglesa e já está na internet (beyondbelief2006.org).

No cartaz do evento, nada de Darwin ou Einstein. Deus levou a melhor, mas teve de empunhar um compasso.

O prometido “diálogo polido” entre fé e razão, afinal descambou para algo próximo a uma convenção partidária ou a um concílio laico, com blasfêmias de variada gradação.

“O mundo precisa despertar do longo pesadelo da crença religiosa”, exortou Steven Weinberg, Nobel de Física de 1979, estabelecendo o tom dos debates.

Neil de Grasse Tyson, diretor do Planetário Hayden, em Nova York, e conselheiro do Governo Bush para assuntos espaciais, exibiu uma foto de recém-nascidos com defeitos físicos como prova, a seu ver irrefutável, de que é a “natureza cega” e não “um supervisor inteligente” quem controla o universo.

O químico Peter Atkins até admitiu que um cientista tenha crenças religiosas.

“Mas não creio que ele possa ser um cientista no verdadeiro sentido da palavra se, de algum modo, levar em consideração categorias tão alheias ao conhecimento científico como as utilizadas pelas religiões”, arrematou, deixando bem claro que a ciência e a religião são dois navios que se cruzam no meio da noite, em direções opostas.

Se o outro chocar-se num iceberg, Dawkins, suponho, dormirá feliz. Para ele, ser ateu é uma brava e grandiosa aspiração.

“Não posso assegurar que Deus não existe, mas levo minha vida, feliz e frutífera, sem cogitar de sua existência”, gaba-se o biólogo evolucionista, que terá seu atual best seller traduzido pela Companhia das Letras (lançamento previsto para daqui a 10 meses).

Deus, acredita, não é apenas uma desilusão, mas uma desilusão perniciosa, que, ao longo dos séculos, por obra de seus fanáticos seguidores, produziu mais malefícios que benefícios.

Segundo Dawkins, idéias religiosas são “memes viróticos”, genes ideológicos, digamos assim, que se multiplicam e infectam as pessoas desde a mais tenra idade.

Outros biólogos evolucionistas ao menos as respeitam; Dawkins, não: “Enquanto aceitarmos o princípio de que a fé religiosa deve ser respeitada por ser fé religiosa, não teremos como repudiar a fé de Osama bin Laden e os homens-bomba”.

Na abertura do fórum, Sir Harold Kroto, Nobel de Química de 1996, sugeriu que a Fundação Templeton entregasse a Dawkins o seu próximo prêmio de US$ 1,5 milhão.

De brincadeira, é claro. A fundação criada por Sir John Marks Templeton, bilionário presbiteriano de 93 anos, sintetiza, em nível institucional, o que Dawkins mais despreza no campo dos embates científicos.

Templeton dedicou a vida a aplainar as diferenças entre a ciência e a religião, a superar, conforme suas palavras, “o prosaísmo de uma visão da realidade puramente naturalista e secularizada”.

Todo ano, sua fundação premia regiamente quem mais tenha contribuído para “o progresso de descobertas espirituais”. Em “The God Delusion”, Dawkins acusa os colegas que aceitaram esse “Nobel da acochambração” de intelectualmente desonestos e venais.

Carolyn Porco, pesquisadora do Instituto de Ciência Espacial de Boulder (Colorado), propôs, meio na galhofa, que se criasse uma igreja alternativa, com o dr. Neil Tyson como seu papa ou pastor.

Ao detalhar sua proposta (“Deveríamos nos guiar pelo sucesso da fórmula religiosa, ensinando desde cedo às crianças a origem do universo e a beleza dessa história, muito mais gloriosa e deslumbrante que a de qualquer escritura ou concepção divina”), arrancou aplausos e apupos do auditório.

Aplausos de quem considera absurdo uma criança aprender antes o “folclore bíblico” e, depois, as “verdades científicas” sobre a criação do mundo e a evolução da espécie.

Apupos de quem recusa qualquer proximidade da ciência com dogmas religiosos.

Dawkins, porém, reservou sua indignação para a bióloga Joan Roughgarden, autora de recente ensaio sobre o evolucionismo e a fé cristã.

Pegou-a no contrapé de uma metáfora bíblica (a parábola da semente de mostarda), com que pretendia facilitar a aceitação da teoria de Darwin por seus colegas cristãos.

“Má poesia”, resmungou o feliz ateu de Oxford. Para em seguida retomar a palavra e explicar por que define a religião como “lavagem cerebral” e abuso de inocentes (“child abuse”). Sem jamais perder o bom humor.

A certa altura, observou que não haveria banda larga suficientemente larga para Deus monitorar o pensamento dos seis bilhões de habitantes da Terra e receber todas as preces que Lhe são dirigidas.

Se Dawkins estiver errado, o inferno ficará bem mais divertido com a sua presença.
(O Estado de SP, 26/11)