Papel político e intelectual
2/10/2009
Por Alex Sander Alcântara
Agência FAPESP – Espaço de autonomia crítica, campo de estudos e de atividade profissional, o Núcleo de Estudos da Violência (NEV) – desde 2000 um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da FAPESP, com o nome de Centro de Estudos da Violência – teve uma importância fundamental na formulação de programas nacionais de direitos humanos.
Pesquisa analisa construção político-intelectual do Núcleo de Estudos da Violência da USP e mostra importância do centro na luta por uma política nacional de direitos humanos
É o que destaca uma pesquisa de mestrado, defendida na Universidade Federal do Ceará (UFC), intitulada “Violência e Academia: a construção político-intelectual do Núcleo de Estudos da Violência”. O NEV, da Universidade de São Paulo (USP), foi pioneiro no país na pesquisa, denúncia e fiscalização das instituições de justiça e segurança pública no combate aos crimes de direitos humanos no país.
A dissertação, defendida no Departamento de Sociologia da UFC por Francisco Thiago Rocha Vasconcelos, destaca o papel do NEV como espaço de autonomia crítica, em um campo de estudos e de atividade profissional bastante disputado por demandas políticas, seja por parte da militância ou do Estado.
“Meu objetivo foi analisar a construção político-intelectual da instituição no campo do saber da Sociologia da Violência e a sua influência no desenvolvimento de temas, posicionamentos teórico-metodológicos e políticos”, disse Vasconcelos à Agência FAPESP.
Segundo Vasconcelos, a ideia de pesquisar um núcleo externo à UFC surgiu a partir da própria experiência do autor, na iniciação científica, dentro do laboratório de estudos da violência na instituição.
“O NEV foi o primeiro núcleo de estudos da violência surgido dentro de uma universidade. E me chamou a atenção o crescimento desses centros de pesquisa. Minha ideia foi tentar entender o papel político e intelectual como resposta à segurança pública”, disse.
O NEV-USP é um dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) que, no Estado de São Paulo, são apoiados pela FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Projeto Temático.
Segundo o pesquisador, o núcleo apresenta algumas características que chamam a atenção. “Foi o primeiro centro que se constituiu dentro de uma universidade para pesquisar os direitos humanos numa época conturbada, de transição democrática”, diz.
O surgimento do NEV se destaca também, segundo o pesquisador da UFC, porque conciliou “militância com a pesquisa”.
“O núcleo está ligado à militância em torno da denúncia e da fiscalização das instituições de justiça e segurança pública. E teve uma importância fundamental, ao longo dos anos de 1990, na parceria com o governo federal na formulação do programa nacional de direitos humanos”, destaca.
O NEV nasceu vinculado ao trabalho desenvolvido pela Comissão Teotônio Vilela, surgida em 1982, a partir de um grupo criado pelo senador Severo Gomes, para investigação de um massacre que ocorreu no hospital psiquiátrico em Franco da Rocha, em São Paulo.
Entre seus fundadores, além do senador Teotônio Vilela, destacam-se nomes como Antonio Candido, Fernando Gabeira, entre outros. Tornou-se Núcleo de Estudos da Violência em 1987, vinculado à Pró-Reitoria de Pesquisa da USP, graças em parte à parceria com Sérgio Adorno, professor titular do Departamento de Sociologia da USP e, atualmente, coordenador científico do NEV.
O trabalho mostra como o NEV construiu uma proposta político-intelectual diferenciada, unindo militância à pesquisa, e como ajudou a formatar uma “sociologia da violência” dentro do contexto brasileiro.
“Como casar produção do conhecimento com a atuação em torno dos direitos humanos? Pela fala dos entrevistados, foi interessante perceber que destacavam a ideia de sempre separar o que é o papel do pesquisador e do cientista do papel do militante”, reforça Thiago Vasconcelos.
Segundo ele, ao longo de sua história o NEV aumenta a aliança com a sociedade civil organizada e também com o Estado, alternando momentos de tensão e acomodação.
“É importante destacar que o NEV ocupa um papel importante, principalmente em São Paulo, mas também em nível federal, levando em conta as políticas nacionais de direitos humanos”, reforça.
Para ler a dissertação Violência e Academia: a construção político-intelectual do Núcleo de Estudos da Violência (NEV/USP), de Francisco Thiago Rocha Vasconcelos, defendida em 2009 pelo ao programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), clique aqui.