JC e-mail 3800, de 08 de Julho de 2009.
18. Brasil, lar do estranho crocodilo-tatu
Animal com carapaça e mania de cavar buracos viveu há 90 milhões de anos. Fóssil está em exposição no Jardim Botânico do Rio
Carlos Albuquerque escreve para “O Globo”:
Um bicho muito esquisito andava pelo interior de São Paulo há 90 milhões de anos. Era o “Armadillosuchus arrudai”, um crocodilo que vivia muito mais na terra do que na água, possuía uma verdadeira armadura que cobria o seu dorso e tinha a estranha mania de escavar a terra para se abrigar.
Por essa inusitada combinação de características, esse fóssil foi apresentado ontem, pela primeira vez, por pesquisadores do Departamento de Geologia da UFRJ, pelo seu nome popular: crocodilo-tatu. A cerimônia se deu na abertura da exposição Visões da Terra, no Museu do Meio Ambiente, no Jardim Botânico, onde o crocodilo-tatu encontra-se em exibição a partir de hoje.
— Trata-se de uma espécie única e totalmente distinta de todos os crocodilos que conhecemos — afirma Ismar de Souza Carvalho, autor de um estudo sobre a descoberta do fóssil, publicado na “Journal of South America Earth Sciences”. — Não há relatos de um animal semelhante em todo o mundo.
Brasileiríssimo, portanto, o “Armadillosuchus arrudai” — nome dado em homenagem ao pesquisador Tadeu Arruda, que o descobriu — é natural da Bacia Bauru, que abrange o interior dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná, uma região rica em fósseis.
— Foram necessários mais de quatro anos até que conseguíssemos reconstruir o seu esqueleto a partir dos restos encontrados em rochas — conta Ismar.
Uma vítima das mudanças climáticas
Pesando cerca de 120 kg e medindo dois metros, dono de um focinho curto e estreito, o animal é um exemplo das estratégias de sobrevivência ao clima e aos predadores durante o Cretáceo, período de intenso calor, causado por um efeito estufa natural, em que as temperaturas durante o dia atingiam os 45 graus Celsius.
— Era um ambiente de clima seco e quente, com chuvas episódicas, mas muito intensas. Esse fóssil mostra a capacidade que os crocodilos tinham de se adaptar àquelas condições inóspitas.
Outra característica inusitada do crocodilo-tatu era a sua capacidade de mastigar, desconhecida em todos os crocodilos existentes hoje.
— Ele tinha uma estrutura dentária diferente dos crocodilos que conhecemos, que mordem e engolem. Isso permitia que consumisse uma variedade maior de alimentos, incluindo moluscos, vegetais e ocasionalmente animais maiores — explica o pesquisador.
Com suas garras potentes, o animal podia também escavar a terra para se abrigar e se proteger de predadores.
— Ele só não conseguiu se proteger das mudanças no clima. Quando este se tornou mais úmido e chuvoso, esse animal ficou fora do seu ambiente e desapareceu.
(O Globo, 8/7)